Na verdade, já não existia qualquer urgência em termos de tempo. Agora, o primordial era descer em segurança, independentemente das horas necessárias.
Os rapeis foram-se sucedendo, geralmente com instalações em “Abalakovs” (pontes de gelo) e algum que outro piton de rocha, apesar da dificuldade em encontrar bons locais onde montar reuniões.
A meio da via, realizamos alguns destrepes assegurados e, finalmente, ao anoitecer, alcançamos as rampas menos inclinadas da base da vertente.
A neve encontrava-se agora nas piores condições e enterravamo-nos até ao joelho e ás vezes até à cintura. De qualquer modo, já não importava, pois já nos encontravamos a salvo.
Ás 21.30, chegámos à tenda, cerca de 20 horas depois de iniciar a aventura.
O dia seguinte foi de descanso e programámos para o outro dia uma subida ao campo II do GII, para melhorar a nossa aclimatação. Mas, uma hora depois de sair da tenda, as nossas pernas não pareciam concordar com a nossa vontade e retornámos pelos nossos passos. Pelo visto, ainda estavamos muito cansados da nossa tentativa.
Descemos até ao campo base, sob um nevão e nevoeiro, apenas guiados pelos vestigios do trilho no glaciar. A hora da descida não foi a melhor, pelo que de vez em quando, as nossas pernas descobriam novas crevasses!
Até à data, ninguém, com a excepção de Ueli Steck, atingiu algum cume por aqui. O tempo não tem estado muito famoso, as montanhas estão bastante carregadas de neve e as ultimas previsões apontam para ventos da ordem dos 120 km em altitude para os próximos dias.
Quanto a nós, para já, apontamos em direcção à via normal do GII. A quantidade de neve não nos permite realizar uma tentativa de confiança ao “Esporão dos Franceses”, por isso, somos forçados a mudar de objectivo.
Depois, com sorte, talvez ainda nos sobre tempo para uma nova tentativa ao GVI… talvez…
Daniela Teixeira, colunista do Altamontanha é escaladora e montanhista de Portugal. Conta com o apoio de Rab, Pod sacs, Faders, Edelweiss, Princeton Tec e Espaços Naturais.