Gasherbrum GVI – A DESCIDA

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Com o Sol agora a bater de chofre na face, a retirada do GVI prometia ser dificil. Teriamos de descer precisamente pela mesma linha, o que significava rapelar quase toda a via.


Na verdade, já não existia qualquer urgência em termos de tempo. Agora, o primordial era descer em segurança, independentemente das horas necessárias.

Os rapeis foram-se sucedendo, geralmente com instalações em “Abalakovs” (pontes de gelo) e algum que outro piton de rocha, apesar da dificuldade em encontrar bons locais onde montar reuniões.

A meio da via, realizamos alguns destrepes assegurados e, finalmente, ao anoitecer, alcançamos as rampas menos inclinadas da base da vertente.

A neve encontrava-se agora nas piores condições e enterravamo-nos até ao joelho e ás vezes até à cintura. De qualquer modo, já não importava, pois já nos encontravamos a salvo.

Ás 21.30, chegámos à tenda, cerca de 20 horas depois de iniciar a aventura.

O dia seguinte foi de descanso e programámos para o outro dia uma subida ao campo II do GII, para melhorar a nossa aclimatação. Mas, uma hora depois de sair da tenda, as nossas pernas não pareciam concordar com a nossa vontade e retornámos pelos nossos passos. Pelo visto, ainda estavamos muito cansados da nossa tentativa.

Descemos até ao campo base, sob um nevão e nevoeiro, apenas guiados pelos vestigios do trilho no glaciar. A hora da descida não foi a melhor, pelo que de vez em quando, as nossas pernas descobriam novas crevasses!

Até à data, ninguém, com a excepção de Ueli Steck, atingiu algum cume por aqui. O tempo não tem estado muito famoso, as montanhas estão bastante carregadas de neve e as ultimas previsões apontam para ventos da ordem dos 120 km em altitude para os próximos dias.

Quanto a nós, para já, apontamos em direcção à via normal do GII. A quantidade de neve não nos permite realizar uma tentativa de confiança ao “Esporão dos Franceses”, por isso, somos forçados a mudar de objectivo.

Depois, com sorte, talvez ainda nos sobre tempo para uma nova tentativa ao GVI… talvez…

Daniela Teixeira, colunista do Altamontanha é escaladora e montanhista de Portugal. Conta com o apoio de Rab, Pod sacs, Faders, Edelweiss, Princeton Tec e Espaços Naturais.

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Sobre o autor

Daniela Teixeira e Paulo Roxo é uma dupla portuguesa que pratica escalada (rocha, gelo e mista) e alpinismo. O que mais gostam? Explorar, abrir vias! A Daniela tem cerca de 10 anos de experiência nestas andanças e o Paulo cerca de 25. A sua melhor aventura juntos foi em 2010, onde na cordilheira de Garhwal (India - Himalaias), abriram uma via nova em estilo alpino puro na face norte da montanha Ekdante (6100m) e escalaram uma montanha virgem que nomearam de Kartik (5115m), também em estilo alpino puro. Daniela foi a primeira e única portuguesa a escalar um 8000 (Cho Oyu). O Paulo é o português com mais vias abertas (mais de 600 vias abertas, entre rocha, gelo e mistas). Daniela é geóloga e Paulo faz trabalhos verticais. Eles compartilham suas experiências do velho mundo e dos Himalaias no AltaMontanha.com desde 2008. Ambos também editam o blog Rocha Podre, Pedra Dura (rppd.blogspot.com.br)

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