Homem sai direto da montanha para realizar transplante de rim

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O montanhista e guia Ricardo Medeiros de Oliveira foi protagonista de uma história surpreendente e com final feliz neste último final de semana, em Petrópolis. Com 48 anos de idade, ele esperava há nove anos na fila de transplante de rim. Coincidentemente, no último sábado, ele estava guiando um grupo por uma trilha no Parque Nacional da Serra dos Órgãos quando recebeu a notícia de que havia sido encontrado um órgão compatível com ele.

Ricardo após o resgate na montanha. Foto: divulgação.

Ricardo contou em uma entrevista ao site Nova Friburgo em Foco que tentaram fazer uma primeira ligação mas não conseguiram falar com ele. Em seguida, a clínica onde ele realiza diálise ligou novamente informando sobre o transplante. ” Falei que infelizmente eu não ia conseguir, pois seriam necessárias 4 horas para descer. Meu psicológico na hora ficou abalado, pois a gente espera tanto e acontece num lugar daquele”, contou o guia de montanha.

No entanto, uma operação de resgate e transporte foi realizada as pressas e 40 minutos depois Ricardo saiu direto da Pedra do Sino para o centro cirúrgico. Ricardo contou que no começou chegou a duvidar do resgate, mas ficou lá no cume da montanha esperando até que o helicoptero chegasse. “Não levei muita fé, pois nunca vi isso acontecer, mas fiquei lá em cima esperando a chegada dos Bombeiros. Foi uma mistura de emoção muito grande: não sabia se eu ria, se chorava, se acreditava, se desconfiava, se realmente ia acontecer. Foi uma euforia só”, contou ao Nova Friburgo em Foco.

O resgate

“O paciente estava em uma área remota e precisava chegar no hospital em, no máximo, três horas. Não daria para retornar a pé. Assim que fomos acionados em apoio, mobilizamos todos os esforços para cumprir a missão”, revelou o coronel Leandro Monteiro, secretário estadual de Defesa Civil e comandante do Corpo de Bombeiros.

De acordo com o comandante do Grupamento de Operações Aéreas dos Bombeiros, Rachel Lopes o resgate foi um grande desafio uma vez que as condições climáticas estavam instáveis na região na hora do sobrevoo. Um vídeo mostra a hora em que o helicóptero chega ao cume da Pedra do Sino para resgatar Ricardo ainda com roupas de montanha e mochila nas costas. Dez militares e duas aeronaves participaram da operação.

O encontro no topo da montanha.

“Foi um caso atípico, até porque a pessoa que espera 9 anos para realizar esse tipo de procedimento sério, ser informada durante a travessia na Serra dos Órgãos que tinha sido contemplada, é uma situação que a gente tem que comemorar”, completou Monteiro.

Após o resgate, Ricardo foi levado para a Santa Casa de Juiz de Fora em Minas Gerais, a cerca de 120 quilômetros de distância, onde passou por uma cirurgia e recebeu o novo órgão.

A corrida contra o tempo

Após quase uma década de espera, Ricardo enfrentou uma verdadeira corrida contra o tempo uma vez que após o órgão ser retirado do doador há um prazo curto para ser implantado no paciente. Segundo o Ministério da Saúde, um rim deve ser transplantado em no máximo 48 horas, já o fígado e pâncreas em 12 horas, pulmão em 6 horas e o coração em apenas 4 horas. No entanto, quanto menor o tempo, mais chances de sucesso.

Caso Ricardo se deslocasse de carro até a cidade mineira levaria cerca de 2 horas de carro mais o tempo e esforço necessário para descer da montanha. O Corpo de Bombeiros não informou como soube do caso e quem solicitou a operação. No entanto o transporte por via aérea garantiu o sucesso do transplante.

Após a cirugia, Ricardo agradeceu a ajuda que recebeu. ” Uma gratidão imensa a todo mundo que fez parte para que isso acontecesse, ao empenho dos bombeiros, à disponibilidade, à agilidade. Sou muito grato a Deus por tudo que aconteceu, por mais uma oportunidade de viver completamente de novo”, contou.

Helicóptero usado para resgatar o montanhista. Foto: divulgação.

A fila de transplante

A fila de transplante é única para pacientes da rede pública e particular, e é controlada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ainda segundo o ministério da Saúde mais de 60 mil pacientes esperam por um órgão no Brasil, sendo o transplante de rim o maior número casos com 37 mil pacientes esperando. Pacientes com problemas renais podem sobreviver com tratamentos de diálise ou hemodiálise.

O tempo de espera por um rim é em média de 3 a 4 anos, todavia esse tempo pode ser maior dependendo dos fatores de compatibilidade necessários.

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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