Los Gigantes descansam em Córdoba

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Quando soube que passaria alguns meses trabalhando na Argentina, imediatamente me veio em mente o Cerro Aconcágua. Mas a euforia inicial logo passou quando me lembrei que para subir esta montanha ia precisar mais que um final de semana prolongado e, por questões de trabalho, eu não disporia de tal tempo. De qualquer maneira eu poderia fazer algumas montanhas mais baixas na região de Mendoza.

Mas a grande surpresa foi descobrir que na região de Córdoba, onde estou vivendo, existe várias montanhas mais “chicas”. É a ascensão de uma delas que venho relatar.

Los Gigantes é um complexo de montanhas cujo pico mais alto tem 2.375 metros. Logo que cheguei estava mais focado no Cerro Champaqui, a montanha mais alta da região com cerca de 2.900 metros. Mas depois de ver a empolgação de alguns montanhistas locais ao falarem de Los Gigantes, decidi visitá-la primeiro.

Olhei a previsão do tempo (perfeita) e no sábado bem cedo me joguei de carro na estrada rumo ao oeste juntamente com um amigo francês. O caminho para chegar à montanha é relativamente curto e rápido: 60 km de asfalto até a cidadezinha de Tanti, e mais 30 km de terra até chegar ao refúgio La Rotonda (onde se deve pagar 8 pesos por carro e 2 por pessoa).

Pois é, previsão do tempo é igual em todo mundo. Chegamos ao pé da montanha com um chuvisco bem fino e um vento frio. Esta era na verdade minha segunda incursão ao complexo, já que havia tentado chegar, sem sucesso, ao pico mais alto (Cerro Mogote) com um grupo de amigos não exatamente adeptos ao montanhismo.

Comparado com outras montanhas locais, Los Gigantes impressiona pela sua verticalidade. Lembra um pouco o Marumbi apesar de não ser tão vertical. Em minha primeira visita havia um pico que me chamou a atenção por seu formato de torre arredondada nos últimos 150 metros. A impressão que tive é que sua face leste era menos íngreme e mais fácil. E era por esta via que eu e Christophe íamos subir o Cerro de La Cruz (2.180 m).

Pegamos as mochilas – como chuviscava, eu deixei minhas sapatilhas de escalada no carro. Pagamos as taxas, tiramos algumas fotos e começamos a subir por volta de 11:00. O ritmo no primeiro trecho estava razoavelmente forte e fizemos uma pequena parada para tomar água. Antes de retomarmos a subida, cruzamos com um casal de Argentinos muito simpáticos que desciam do acampamento.

A partir daquele ponto a trilha praticamente sumiu. Para aqueles que estão acostumados com as montanhas brasileiras localizadas na Mata Atlântica, as montanhas desta região da Argentina apresentam uma dificuldade extra: ausência de vegetação e, portanto, de trilhas marcadas. Mas com alguma prática se aprende a identificar os pequenos montículos de pedra (nem sempre) deixados para marcar o caminho. É verdade que a visibilidade é maior (ausência de árvores) e se pode ver onde está o cume, o que possibilita um bom senso de orientação. Mas durante a noite fica muito difícil progredir (salvo se você tiver um GPS).

Prosseguimos subindo e contornando o Cerro de La Cruz pela face leste, buscando o caminho que nos levaria ao cume. Como nada encontramos, continuamos dando a volta e ao atingir a face sul tinha uma grande subida que unia esta montanha a sua vizinha. O vento ali estava muito forte. Encontramos uma chaminé, mas devido à umidade na parede era impossível subir sem equipamento adequado.

Restava-nos continuar contornando a montanha. Descemos um vale e finalmente encontramos uma rota colada no paredão da face sudoeste. Era bem vertical (quase uma escalada) e teríamos que prestar muita atenção.

Finalmente, às 12:50, chegamos a “la cima”. E para nos receber e brindar conosco esta conquista – não muito difícil, é verdade, mas muito gratificante – estavam alguns raios de sol a leste confrontando uma camada de nuvens trazida por um vento frio e úmido que se chocava com a parte mais alta da face oeste da montanha.

Depois de um verdadeiro “banquete” no cume (sanduíche) e de um pequeno descanso começamos o regresso pelo lado oeste. Ali encontramos um francês (que morava em Córdoba) e um americano (da Califórnia) que começavam uma escalada para alcançar o cume por uma via que, segundo me disseram, era um 5c+. Conversamos um pouco, peguei algumas dicas sobre lojas, muros e locais de escalada, e continuamos a descida.

Um pouco mais abaixo, encontramos 2 espanhóis escalando uma via que devia ser um 5 brasileiro. Novamente paramos para conversar, e o espanhol “gente boa” que dava segurança na base (o Mario) me perguntou se eu gostaria de escalar também. Se arrependimento matasse… Não devia ter tirado minhas sapatilhas da mochila. É, ia ter que ficar pra próxima!

Depois de voltar à base e tirar as últimas fotos, pegamos o carro e empreendemos nosso regresso a casa pela sinuosa estrada de terra, inspirados no Rally Mundial que ocorre na no fim de Março aqui em Córdoba.

Havíamos rodado uns 10 km e eis que encontramos, caminhando, o casal com o qual cruzamos anteriormente na montanha. Por algum motivo não tinha ônibus naquele dia e eles estavam voltando a pé os 30 km até a cidade mais próxima. Obviamente não podia deixá-los ali e dei uma carona para eles. E assim terminou mais uma prazerosa visita às montanhas argentinas.

Direto da Argentina,
Márcio Carvalho.

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