A equipe privada de guias contratada pela família de Marcelo Delvaux enfim conseguiu chegar ao ponto onde estava indicando o ultimo sinal de GPS do guia de montanha mineiro.
Marcelo Motta Delvaux, experiente montanhista mineiro, um dos primeiros guias de montanha titulados pela EPGAMT de Mendoza, Argentina, desapareceu no ultimo domingo dia 30 de junho. Ele possuía um aparelho de GPS com rastreador e através deste equipamento pudemos saber os passos do montanhista na ascensão da quarta montanha mais alta do Peru, o Coropuna, de 6434m de altitude.
A cronologia dos fatos
Marcelo chegou no Coropuna no dia 25 de junho e após cerca de 4 horas de caminhada ele estabeleceu um acampamento a 4880m de altitude. Ele permaneceu no local por mais dois dias, provavelmente esperando uma melhora nas condições de tempo. No dia 28 empreendeu uma tentativa de chegar ao cume, mas alcançou apenas a altitude de 6300 metros, onde retornou, no fim da tarde, para o acampamento. Ele descansou um dia mais e tentou uma segunda ascensão no dia 30.
Neste dia ele saiu às 3 da manhã e chegou ao cume próximo das 3 da tarde, numa longa e extenuante jornada. Ele permaneceu muito pouco tempo no cume e cerca de 30 minutos mais tarde, 100 metros abaixo do cume, seu sinal ficou estagnado e não se moveu mais.
A namorada de Marcela, a guia de montanha argentina Julieta Ferreri, não se atentou a este fato de principio, achando ser um problema no GPS. Marcelo não apertou o botão de SOS e nem enviou mensagem pedindo ajuda. Entretanto, ao entender que não se tratava de um erro do GPS, Julieta iniciou as investigações por conta própria e ao ligar ao hotel onde eles costumavam ficar em Arequipa, a cidade grande mais próxima do Coropuna, descobriu que ele havia feito uma reserva e não havia retornado da montanha. Foi então que a polícia foi acionada e o alerta do desaparecimento se tornou oficial.
Buscas
As buscas se iniciaram no dia 4 de julho pela manhã, com uma viatura indo até o Coropuna e fazendo varredura nos povoados próximos à montanha. Havia uma hipótese de que Marcelo pudesse ter apenas perdido o GPS e ficado sem ter como pedir para que seu transporte fosse busca-lo na montanha, porém ele não se encontrava perto da base.
Como a polícia não é especializada em buscas em montanhas e o Coropuna é muito alto, exigindo uma aclimatação de cerca de uma semana a dez dias para se alcançar os 6300 metros, a família contratou uma equipe de 4 guias de montanhas já aclimatados para fazer a busca na parte alta da montanha.
Esta equipe chegou na base do Coropuna no dia 5 de julho e no fim de tarde daquele dia já alcançou o acampamento de Delvaux, onde se depararam com a barraca do guia mineiro. Este fato reduziu as chances de que Marcelo houvesse apenas perdido o GPS e já apontava que o montanhista não havia descido do cume.
No dia seguinte, hoje dia 6, os 4 guias peruanos ascenderam a rota realizada por Delvaux, que ascende um glaciar de inclinação mediana pela face sudoeste do Coropuna, porém, distante da rota normal da montanha. A equipe chegou no meio da tarde no local indicado do GPS. No local, eles encontraram uma greta aberta, os bastões de Marcelo e sinais de que ele caiu no interior desta greta.
Queda na greta
A greta encontrada pela equipe de resgate estava em toda sua extensão tapada por uma camada de neve branda em pó bem pouco densa, mas em um determinado ponto, ela estava totalmente aberta, contrastando com os demais. Ao lado, um par de bastões estava fincado na neve. A greta era muito profunda, e não foi possível observar Marcelo no interior.
Vídeo realizado pelo guia Julver Eguiluz onde é possível ver as pegadas de Marcelo indo em direção à abertura na greta e seus bastões na parte inferior da fenda.
O cenário nos mostra que Marcelo chegou à greta, procurou um local para salta-la durante sua ascensão e deixou ali seus bastões para sinalizar o caminho na volta. Ele regressou usando suas próprias pegadas da dia. Acercou-se da greta e quando ele se preparava para saltar na descida, a borda colapsou e ele caiu em seu interior.
Os resgatistas não puderam rapelar no interior da greta, pois toda sua borda estava repleta de neve em pó instável, que não permitia a fixação de uma ancoragem segura para realizar tal procedimento. Após a constatação dos fatos, os guias foram até o cume e desceram pela rota normal. Eles ainda não chegaram em Arequipa para dar mais detalhes.
Sem esperanças
Dado a profundidade da greta, os resgatistas acreditam que Marcelo Delvaux não deve ter sobrevivido à queda. Isso explicaria o fato do montanhista não ter solicitado resgate por seu GPS, que permaneceu ligado e com bateria por 5 dias.
Mesmo que Marcelo tenha sobrevivido à queda, o frio negativo das noites na altitude de 6300 metros poderia ter levado o guia de montanha brasileiro a óbito já na primeira noite ou no máximo na segunda. Passado 6 dias desde seu acidente, não há chance de que Marcelo tenha sobrevivido.
Não se sabe o que acontecerá daqui para frente. De acordo com os resgatistas privados, a Polícia tem a responsabilidade pelo resgate. Entretanto, levando em consideração a dificuldade de acesso no interior da greta, a altitude onde ela está localizada e o perigo em realizar tal procedimento, não é certo quando e nem se o corpo de Marcelo Delvaux será removido.
Quem era Marcelo Delvaux
Marcelo Motta Delvaux era montanhista há cerca de 25 anos. No montanhismo de altitude ele era um dos mais experientes e destacados montanhistas brasileiros da atualidade, tendo escalado mais de 150 montanhas de altitude extrema nos Andes e no Himalaia. Marcelo era guia de montanha profissional formado pela EPGAMT de Mendoza na Argentina.
Natural de Juiz de Fora, ele vivia em Belo Horizonte, mas passava boa parte dos meses do ano escalando e guiando montanhas nos Andes.
15 Comentários
Montanhismo brasileiro em luto. Sentimentos às famílias. Raineri e Delvaux, Deus os receba nos Campos Elísios.
Que Deus conforte o coração dos familiares 🙁
Coitado, tenho pena, mais essas aventuras são cruciais, esse povo já deviam ter colocado um ponto final nisso, porque só acontece esse tipo de coisas, q muitas vezes esse tipo de escalada não resultam em nada, condolências a família e q conseguem resgatar o corpo para amenizar o sofrimento da família
Lamentável a morte do montanhista aqui das nossas Minas Gerais! Eu já estou fazendo Alta Montanha há mais de 13 anos e aprendi que transitar “solo” em glaciar, sem encordamento, em glaciar desconhecido, é extremamente perigoso! Uma verdadeira “roleta-russa”! Eu já transitei solo pelo Tarija e Charquini que são bem menos complexos, mas não deveria. Nossos sinceros sentimentos aos familiares e amigos!
Tristeza, infelizmente os amantes das montanhas perderam um grande representante. Gigante, descanse em paz. Toda solidariedade à família que com certeza se orgulha desse aventureiro. Só sabe quem vive.
Só se vive uma vez, morreu fazendo o que gostava, meus sentimentos aos amigos e familiares enlutados.
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Tristeza profunda, 😢😢😢😢😢 pois amo a natureza montanhas me fascinam, aos familiares e amigos meus sinceros sentimentos, Deus abençoe vcs com as bençãos da aceitação e a nós amantes da natureza.
É muito triste o que aconteceu com ele. A montanha que tanto buscou o levou. Foi para o paraíso. Descanse em paz.
Descanse em paz. Que Deus conborte coracao dos familiares e amigos.
O resgate é dificil.
Mas, Uma camera gopro com iluminação e uma corda na greta tem como ser feito para ver ele.
So para tranquilizar a familia.
Descanse em Paz.
Uma perda de grande montanhismo.. Triste 🙏
Marcelo fazia montanhismo raiz de mínimo impacto, com muita consciência ambiental e tinha expertise na atividade em alta montanha, era um amigo querido, uma pena que não fui para montanha com ele quando tinha saúde. Que Deus possa consolar a todos que o amavam como eu, amor fraterno e de admiração.
O fascínio pela aventura e solidão, nos leva aos extremos.
Vá em paz, meu irmão!
Parece que a segurança ficou um pouco de lado, ele não deveria estar sozinho, Meus sentimentos