MEIA-TRAVESSIA C/ PERRENGUE TOTAL NO QUIRIRI – Final

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Retomando a pernada, num piscar de olhos nos vimos no colo da montanha sgte, a qual começamos lenta e arduamente galgar suas íngremes encostas, ora no aberto, ora protegidos por densas copas de pinus. Ainda bem, pois meu rosto já tava bem tostado do sol. Emergimos então num ombro de serra coberto de pasto pelo qual acompanhamos a crista durante um tempão, sempre sentido leste (esquerda), pois o trajeto pelas estradas nos havia desviado relativamente um tanto da rota traçada. Uma brisa forte soprava esporadicamente, remexendo tanto enormes paineiras q dançavam ao vento, como o capim q parecia um mar agitado onde podíamos ver suas &ldquo,ondas&ldquo, nos contrafortes da serra no entorno. À leste, a imponente Pda Branca de Araraquara parecia nos vigiar permanentemente durante td a pernada, sendo nosso referencial o tempo todo.


Qdo já nos vimos num terreno isento de qq obstáculo q obstruísse nosso avanço, foi q resolvemos subir de vez ao alto da serra p/ ver o q nos aguardava, c/ ansiedade, o outro lado. Trecho este c/ gde declividade feito vagarosamente, mas q olhando por sobre o ombro, nos brindou c/ uma das vistas + espetaculares do dia, q pareceu saída de alguma paisagem selvagem norte-canadense: bucólicas florestas de pinus forrando td encosta de serra, emoldurado por um fundo e verdejante vale, e atrás silhuetado por boa parte das montanhas percorridas ate então! No entanto, as 15:30, ao chegar no alto da serra tivemos outro visu q contrastava c/ a anterior: um largo e enorme vale de pinus se abria, parcialmente destruído e dominado por uma rede labiríntica de estradas nos separava do sopé da Serra do Imbira, continuidade pernada pelos altos descampados do Quiriri ate a divisa estadual e o morro homônimo.

Pois bem, o topo largo desta serra se estende sentido leste-oeste e decidimos tomar p/ esquerda, rumo a outra encosta plana de pasto afim de avaliar um pto favorável p/ descer às tais estradas. Isto pq tb havia uma larga faixa intransponível de mata fechada q ainda nos separava do nosso destino. Foi ai q seguimos o gps do Ângelo, q supostamente apontaria o local exato onde evitaríamos ralações desnecessárias de mato. No entanto, o mesmo nos levou ao mato(?!), s/ trilha alguma.

Daí eu e o Ângelo, preocupados já c/ o progresso geral da pernada, nos separamos p/ buscar feito cães farejadores a entrada da picada (se é q ela existia) por td aquela faixa de densa mata. E nada. Putaqueopariu, e agora? Foi ai q comecei a ter duvidas qto conclusão da pernada dentro do prazo, pois deveríamos naquele dia, no mínimo, chegar à divisa estadual, já no Imbira. E c/ + esse mato como obstáculo víamos isso tecnicamente impossível. Teríamos q correr no dia sgte, isso se o bom tempo perdurasse.

Nessa busca perdemos um tempo considerável e, c/ o dia findando rapidamente e a gente exausto de tanto sobe-desce, resolvemos pernoitar naquele mesmo platô, as 17:30, onde ao menos havia um riozinho próximo q nos garantiria uma janta quente. Montei minha barraca e desabei nela, cansado. Os d+ ainda tiveram massagem do sempre prestativo Danilo e prepararam a janta assim q a luz se foi, sob fachos de headlamps.

A Vivi depois até me trouxe um delicioso prato de macarrão c/ lingüiça picada, q mandei ver s/ dó, alem de um leite c/ um dedo de pinga q tava tudibão! O “Dá Nilo”, por sua vez, já ficou meio zuretinha c/ uma mesma dose da “marvada”. Assim, lembro q desfaleci antes das 20hrs apenas p/ levantar durante a madruga p/ ajeitar o sobre teto, pois meu maior temor havia tomado forma: a nefasta frente fria havia chegado sob forma de um espesso nevoeiro – q aqui atende pelo nome de “tapume” -&nbsp, alem de uma chuva q durou td noite e provocou infiltrações e alagamento geral, c/ exceção da Lu.

Bem, eu tava nem ai, apenas me ajeitei fora das poças no interior, tentei evitar as partes do saco-de-dormir umedecidas e tornei a dormir td torto. Minha canção de ninar foram os pingos tamborilando o sobre teto, a Vivi cantarolando alguma coisa, e o Danilo e Ângelo amaldiçoando a água dentro de suas respectivas barracas.

VARA-MATO PUNK E FUGA P/ TIJUCAS DO SUL
A segunda-feira amanheceu sob fina garoa, gélida e envolta em densas brumas q não permitiam enxergar 3 passos à frente. A frente fria havia literalmente congelado nossos planos de travessia. Mesmo q quiséssemos insistir não a concluiríamos dentro do prazo. Não s/ visibilidade. Diferente da Serra Fina e da Peterê – nas quais se caminha por crista única – a pernada aqui era feita através de vastos e largos campos, entremeados de fundos vales, eventuais cânions e largas faixas de mata fechada, q demandam bom senso e tempo favorável p/ avaliar qual melhor lugar p/ contornar tais obstáculos. E assim sucessivamente p/ avançar à serra ou crista sgte. Não era o caso. Ai decidimos retornar descendo à base do Imbira e tomar alguma das estradas avistadas sentido Tijucas.

Dessa forma, enrolamos um tanto nas barracas na vã esperança q o tempo melhorasse. Mas nada. Paciência. Levantamos então acampamento as 9hrs, sob finos respingos q ricocheteavam nossos anoraques e deixaram nossas mochilas c/ o dobro do peso. Assim, buscamos um lugar favorável p/ descer os quase 300m de desnível de vara-mato q tínhamos pela frente e, c/ Ângelo na dianteira bravamente abrindo passagem, começamos aos poucos a perder altitude em meio ao denso taquaral. E tome vara-mato, no qual demorávamos uma eternidade p/ avançar poucos metros, s/ falar q a ralação nos deixava totalmente sujos, arranhados, molhados e cheios de espinhos na mão!

No processo, ganhei um corte fundo num dos dedos ao tentar forçar d+ o avanço na raça na maldita mata. Mesmo norteados pela bússola e eventualmente pelos sons de caminhões e serras, logo deixamos o taquaral p/ acompanhar o leito pedregoso (e seco) de um curso d´água, onde era mto + fácil andar. Porém isto nos desviou um pouco da rota, coisa q só percebemos depois de nem completar 1/3 do desnível em quase 3hrs. Percebendo q quiçá levaríamos o dia td pra varar td aquele mato e do risco real de termos de pernoitar na vertical, decidimos retornar ao platô e dali à ultima estrada, onde pelo menos a pernada -&nbsp, livre e desimpedida – ao menos rendia +.

Dito e feito, a volta foi feita em bem menos tempo através da “avenida” q deixamos aberta no mato, ate o platô de nosso pernoite e dali rumamos ate o nosso pto de água, onde fizemos um pit-stop básico, as 13hrs. Alguns ânimos estavam exaltados, mas nada q beliscar o marrom-glacê q o Danilo disponibilizou p/ acalmar o stresse e desentendimentos generalizado. O tempo continuava encoberto e s/ visu algum, embora já não chovesse e o sol ameaçasse dar as caras. Dali apenas nos resignamos a voltar pelo mesmo caminho, favorecidos pela mesma trilha de mato amassado q havíamos deixado a tarde anterior.

Na crista da montanha ate a encosta oposta perdemos brevemente a picada, mas logo depois a reencontramos próxima das florestas de pinus. Visu q é bom, nada. Apenas o branco total radiante do tal “tapume”. Desta vez a Lu e o Danilo foram na dianteira farejando a trilha, pois estavam ansiosos em alcançar a estrada e, conseqüentemente, alguém p/ nos informar de como voltar à algum canto civilizado. Caímos novamente na ultima estrada q percorrêramos as 15:45, no mesmo momento em q a garoa voltava a cair fria e brevemente sobre a serra, nos obrigando a trajar anoraques.

E assim se seguiu um bom trecho por entediantes sobe-desces por estradas de terra, buscando encontrar a origem dos sons de moto-serras q ouvíamos. Após uma placa de “propriedade particular” e uma nova piramba, eis q esbarramos c/ uma dupla de peões empilhando toras à beira da estrada, as 17hrs. E melhor, c/ uma picape!! Vendo q aquilo poderia render alem de infos, numa oportuna carona, seguimos as indicações de continuar pela estrada principal ate sair da propriedade pela entrada (e guarita) principal. De lá os mesmos peões poderiam nos dar carona p/ alojamento deles ou algum posto, e dali tomar condução p/ Tijucas do Sul, cidade + próxima, distante ainda a 40km. Isto pq eles não podiam nos dar carona dentro da propriedade.

E tome + uns 8km de estrada de terra interminável q&nbsp, serpenteava sinuosamente os morrotes sgtes, sentido oeste. O consolo de td aquilo era a probabilidade de carona pra algum canto civilizado, no final. Ninguém falava nada, claro, e esta pernada foi feita quase q em absoluto silencio, rompido pelas tiradas infames do Ângelo, o q dava na mesma. “Pô, não concluímos a pernada, mas ´inventamos´ outra, a Araçatuba-Tijucas do Sul”, comentei p/ modo a animar o povo, q depois percebi tava + cansado e exaurido q propriamente desanimado pela meia-travessia.

Mas o melhor àquela altura tava por vir, e felizmente resultou numa seqüência de coincidências q agilizaram nosso retorno à civilização. Mal chegamos na tal entrada, conseguimos carona num microônibus q levava peões de volta à seu respectivo alojamento, seguindo ainda uns 10km por tortuosas estradas em meio à serra. Os peões, humildes ate dizer chega, não acreditavam q percorríamos a serra q eles derrubavam e mto menos acreditavam q fazíamos questão de carregar td aqueles pesados “trambolhos” nas costas. Mal chegamos no alojamento, embarcamos imediatamente num busão escolar vazio q vinha logo atrás e se dirigia a Tijucas do Sul, ainda uns 20km de onde estávamos. E o melhor, “di grátis”! Era bom d+ pra ser verdade!

Chegamos na pacata Tijucas do Sul as 19:20. A cidade é um ovo e guarda aquele típico ar interiorano sulista. Suas diversões eram tão simplórias qto pitorescas e giravam em torno da apresentação de um grupo chamado “Fala Tché!”, e a empolgação local em torno de “Moto-Vaca”, q nada + é um rodeio onde substituem a mimosa por um motoqueiro c/ chifres. Assim, o busão nos deixou na frente da “FaF”, única pousada-pizzaria-restaurante dali onde conseguimos um aconchegante quarto pela bagatela de R$35 (total), c/ direito a farto café! Se bem q a dona deve ter reconsiderado o valor após nosso pernoite dado o estrago que deixamos na toallete depois.

Banho tomado, mandamos ver 1 pizza, 4 pf´s, 1 coca, 2 Skol, 1 porção de fritas e 4 sorvetes q traçamos c/ gosto. Eu e a Vivi ainda bebericamos uma pinga local à disposição, cujo tonelzinho literalmente virei sozinho e me deu uma dor-de-cabeca no dia sgte. Na seqüência capotamos feito bebês em nossos beliches, à exceção do Ângelo, q ficou batendo fotos da gente dormindo. A noite fora fria e choveu novamente, cobrindo de razão nossa decisão de ter retornado, do contrario terminaríamos a travessia apenas na quinta ou sexta-feira naquelas condições adversas. No way.
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A VOLTA PRA SAMPA
A terça-feira de feriado de Tiradentes amanheceu fria e nublada, pra variar. Tomamos nosso farto desjejum regado a leite fresco, pasta de nata, marmelada de cana e outras gostosuras +, p/ depois rumar pra pequena rodoviária local, bem ao lado. La tomamos o busão p/ Curitiba pontualmente as 7:15, onde chegamos após muitas paradas as 9hrs.

Lá, devidamente avisado pelo celular, o Julio Fiori nos aguardava p/ em seguida nos “seqüestrar” outra vez em seu Palio Adventure p/ gentilmente sua família nos receber c/ td hospitalidade possível (e impossível) em sua residência, onde alem de jogar mta conversa fora degustamos um delicioso risoto no almoço. Cortesia da Solange, sua esposa, claro! E assim, as 13:30, o gde colunista e editor do altamontanha nos levou de volta à rodoviária, onde tomamos impreterivelmente o busão p/ sampa, as 14hrs.
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Concluindo, a travessia em questão mostrou-se extremamente técnica pois depende de bom tempo p/ ser concluída dentro do prazo determinado. Noutras, a pernada derradeira apenas foi adiada. Mas de qq maneira, este perrengue de feriado nos deixou bastante satisfeitos, pois nos introduziu à Serra do Quiriri c/ estilo! Alem de nos deixar c/ água na boca das inúmeras possibilidades de travessias na região – tanto pro lado da Pda Branca de Araraquara, Torre Prata e Morro dos Perdidos, como à Pda da Tartaruga, Morro Garuva, do Quiriri e o próprio Monte Crista – em programas de 2 até 5 dias!!!

Portanto não é de se espantar q o pessoal de Joinville e Curitiba não arrede pé daqui durante o inverno! E esse é o Quiriri, uma serra pouco conhecida e bem preservada, um mix peculiar das gdes desníveis do Ibitiraquire c/ os largos descampados da Serra Geral. Reunindo panoramas monumentais a detalhes pitorescos, esta serra foi uma grata e encantadora surpresa q certamente merecerá novas investidas futuramente. E quem sabe, se vc tiver tempo de conhecê-la melhor descobrirá outras novas atrações ou rotas por lá.

Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
Com fotos de Luciana Barreiro
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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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