Travessia Quiriri (SC): do Monte Crista até a Pedra da Tartaruga – Parte 2

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Continuando nossa epopeia pelos Campos do Quiriri, essa segunda e última parte se resume em dois percursos distintos: pela vegetação campestre até a Pedra da Tartaruga; e a descida pela muito comentada “Trilha do Queijo”… Confere aí:

 
Dia 02: Pelos campos até a Pedra da Tartaruga
 
O objetivo do segundo dia era claro: acampar próximo a pedra da tartaruga. Preparamos o café da manhã e as 07:45 já estávamos caminhando novamente, dessa vez, somente pelos campos de altitude – uma sequência de sobe e desce suaves entre os morros. Ainda que o sol tenha se feito presente o dia inteiro, a temperatura nestas regiões mais altas se manteve bem agradável.
Levamos cerca de três horas para atingir a Pedra do Lagarto (aprox. 1354 m.s.n.m.). Nas proximidades da pedra há um rio, um ótimo local para acampar e, um pouco antes, uma pedra onde o bivaque é uma boa opção, especialmente se você quiser dar uma esticada no primeiro dia de travessia ou planeja descer pelo Pico Garuva. Aproveitamos o céu azul para fazer umas fotos e assinar o livro de cume. Pra quem está planejando ir para a Pedra do Lagarto, por favor, leve tampas novas para o tubo de PVC que guarda o caderno de cume e um caderno novo para deixar lá! Abrimos o PVC onde o caderno deveria estar e existia somente um bloco de notas totalmente amassado, umedecido e com a tinta borrada. Enrolamos estes papéis em um plástico (se colocássemos nas mochilas ia se despedaçar) e deixamos uma pequena caderneta como livro provisório…
 
Seguimos adiante e, após contornar uma elevação avistamos pela primeira vez a Pedra da Tartaruga, que faz totalmente jus ao nome que recebeu. Parecia relativamente perto, mas sabíamos que ainda estava distante, pois, para chegar até lá, tomaríamos primeiro o rumo noroeste, nos aproximando da Fazenda Alto Quiriri. Chegando numa parte deste trajeto tínhamos a opção de seguir o caminho normal ou pegar uma baixada/subida íngreme e economizar cerca de um quilômetro. Optamos pela segunda opção, o que acabou não saindo como o esperado. Descemos a baixada até o rio e ali almoçamos, porém, na hora de tomar o caminho morro acima a trilha não estava tão marcada quanto aparentava e, para evitar qualquer problema, decidimos por tomar a esquerda e alcançar novamente a rota normal.
 
Após cerca de 01:40 hora chegamos no topo do Morro da Antena, ponto culminante da travessia, onde ventava absurdamente forte – fui obrigado a tirar o boné para não perdê-lo. As 16:45 horas chegamos na Pedra da Tartaruga, onde montamos acampamento. Ah, aqui vale acrescentar que há pouca água disponível entre a Antena e a Tartaruga – encontramos um ponto de captação de qualidade duvidosa que tivemos que ferver para evitar problemas. Portanto, fica a sugestão de seguir um pouco adiante da Tartaruga onde há um vale com um córrego para abastecimento.
Se na noite anterior parecia haver alguém caminhando ao redor das barracas, neste segundo acampamento a impressão que se tinha era de que se jogavam sobre as barracas, tamanha a força do vento. Podíamos escutá-lo se aproximar feito cavalaria, ao longe, com um barulho cortante, aí primeiro uma leve brisa balançava a tenda, depois, uma rajada forte fazia toda a estrutura da barraca se inclinar. Por conta disso, mesmo estando esgotados, a noite de sono não foi das melhores…
 
Dia 03: BR-101, Coca-Cola e ChocoLeite
 
Cansado e sem conseguir dormir boa parte da noite, fiquei horas no saco de dormir com uma vontade louca de tomar coca-cola e chocoleite – por conta da amigdalite não comi muito e acho que o corpo precisava de energia de fácil absorção (açúcar). O vento continuou na manhã seguinte, mas não nos impediu de preparar um baita café, com direito a salame frito e queijo gorgonzola, mas não tirou meu foco das bebidas doces e, com esse objetivo em mente, seguimos em direção a famosa trilha do queijo, por onde desceríamos.
 
Já tinha lido a respeito do trajeto e praticamente todos os relatos diziam tratar-se de um caminho fechado e mal sinalizado, mas ninguém falou que o caminho é irritante! Por vezes você se sente em um zigue-zague, sem avançar em distância ou baixar a altitude, sem falar que praticamente não há água!
 
Perdemos a trilha em dois momentos, mas usando do bom senso de direção conseguimos alcançá-la novamente. Todavia, a mata cobrou o seu preço! Enroscando em taquaras e galhos acabamos perdendo uma lanterna, um óculos de sol, um boné e um bastão de caminhada! Se alguém for percorrer a trilha nos próximos fins de semana e encontrar algum dos itens, agradecemos se puder entrar em contato para combinarmos a devolução… Não bastasse isso, em um dado momento um galho ou folha raspou no meu olho direito, causando um ferimento que resultou em dois dias de atestado com um tampão. É assim, fantasiado de pirata, que neste momento escrevo o presente relato.
 
A caminhada nesse dia (sem parar para almoçar) foi mais ou menos das 08:15 da manhã até as 14:45 da tarde, quando alcançamos a rodovia BR 101, ponto de encontro onde ligamos para a Railene, nossa resgatista/motorista de empilhadeira que veio nos buscar. Ao chegar na base do Crista novamente a primeira coisa que fiz o pedir uma coca-cola de dois litros e, ainda antes de chegar em casa, parei em uma lanchonete para tomar mais uns 700 mL de Chocoleite para brindar a conquista.
 
E foi isso, um total de cerca de 32 km percorridos nestes três dias, com ganho de elevação total de aproximadamente 1900 metros… Como em outras vezes, a travessia sempre traz ótimas sensações durante todos os momentos: a empolgação de começar, as paisagens de encher os olhos e alimentar a alma durante o caminho e, depois de tudo, a super valorização das coisas simples de casa – o banho, a cama e as torneiras de água. É como já disse Amyr Klink “O homem precisa sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto”.
 
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