Todos sabem como é difícil viver do esporte no Brasil. Se em esportes olímpicos, há dinheiro envolvido, plateia e televisão já é complicado, imagine um esporte sem competição e que é praticado em lugares onde não tem ninguém. Como fica?
E de fato, as montanhas que tenho escalado são quase nada frequentadas, muitas delas tiveram pouquíssimas pessoas em seus cumes, que foram escalados pela primeira vez há muito pouco tempo também. Foi o caso do Vulcão Condor, de 6414 metros, escalado pela primeira vez somente em 2003, Vulcão Vallecitos, de 2006 e Cerro Colorados, da década de 1990. Nos últimos anos fiz um grande volume de montanhas que não tinha trilha, acampamentos definidos e sequer uma estrada para chegar lá, sendo necessário andar centenas de quilômetros abrindo trilhas 4×4.
Explorando os Andes em 2016. Foto de Gabriel Tarso
E foram muitos os nomes desconhecidos que ajudei a desvendar. Já ouviu falar de
Cerro Baboso? Majadita, El Toro,
Sierra Nevada de Lagunas Bravas,
Nevado Patos? Pois bem, estes são alguns exemplos de montanhas que haviam sido escaladas pouquíssimas vezes na história que pude ter o prazer de escalar e mostrar para o mundo que elas existem.
Também pude ter o prazer de ter conquistado, ou seja, de ter realizado a primeira ascensão em 4 montanhas:
Cerro Lomas Coloradas, El Morado,
Paso Cerrado e
Parofes. As duas últimas pude ter o privilégio de batizar, pois sequer nome tinham. O
Vulcão Parofes, uma homenagem a meu falecido amigo Paulo Roberto Felipe Schmidt, tinha quase a mesma altitude do Kilimanjaro, o que mostra a importância que foi ter chego a seu cume, a mais alta montanha virgem de todos os Andes naquele ano.
Claro que não fiz isso tudo sozinho, no ano de 2016 escalei com muitos amigos: Vinicius Vieira, Greyssi Caminski, Paula Kapp, MK, Mauricio Anchovas, Pieter Clays, Alex Bonifácio, Marcelo do Valle, Marcelo Figueiredo, Tiago Mello, Joair Bertola, Tatiana Batalha, Alexander Ignatov, Frances Toney, Christiane Hemmericx, Lucas Delfino, Angel Arnesto, Alex Tinta, Don Carlos, Suzie Imber, Jovani Blume, Gabriel Tarso e claro, Maria Tereza Ulbrich, que acompanhou em vários cumes e também no dia a dia.
Escalando o Sajama, montanha mais alta da Bolívia com clientes. Foto Angel Arnesto.
Falando em dia a dia, em 2016 fiquei metade do ano fora escalando nos Andes. Isso dá uma dimensão do significado de dedicação e também mostra o quão difícil é estar longe da família, mulher e amigos e o sacrifício financeiro, uma vez que isso custa muito. Sou feliz por ter marcas que me apoiam, porém não recebo ajuda financeira para escalar. O dinheiro que gasto nas montanhas é o que eu ganho trabalhando na
loja AltaMontanha e como guia de montanha.
Também não poderia falar sobre estilo. Gosto de escalar montanhas no meu jeito, num estilo que sigo desde que comecei no montanhismo há 19 anos atrás. Sempre prezei pela independência e autonomia. Ou seja, sempre escalei por conta própria sem depender de terceiros. Para resumir, meu estilo é pegar o carro e jogar-me na estrada. Em 2016 fui 3 vezes aos Andes, 2 dirigindo desde o Brasil. É assim que consigo chegar na base das montanhas e voltar. Para aproveitar o tempo, a aclimatação e a viagem, sempre faço várias montanhas numa única expedição e este é meu estilo há muito tempo. Tanto que muitos acham que as montanhas que escalo são fáceis, pelo grande volume de cumes que acabo fazendo numa única viagem. Mas não é bem assim não!
Bom, agora vamos deixar de falar de passado e contar um pouco de futuro. Para mim o Mosquetão de Ouro é importante para me ajudar nos próximos projetos. Ano que vem completarei 20 anos de montanhismo e quero que isso ocorra em grande estilo. Este ano realizei um sonho de conhecer o Himalaia e no ano que vem quero ser seus picos numa altitude acima de 8 mil metros.
Não sou de comemorar aniversário e nenhuma data, porém não vou deixar meu vigésimo ano de dedicação ao montanhismo passar em branco. Ano que vem pretendo escalar o
Manaslu, a oitava montanha mais alta do mundo. Escalar uma montanha de 8 mil metros é um sonho que sempre tive e tenho certeza que o reconhecimento que tive este ano através de meu segundo Mosquetão de Ouro me ajudará a conquistar mais este sonho. Um sonho muito mais alto, desafiador e que sua dificuldade começará pela arrecadação de dinheiro para a expedição.
Gostaria de agradecer a todos que me ajudaram até aqui. Meus já citados companheiros de cordada, meus amigos landeiros que me ajudam tanto com o carro é que meu meio de transporte às montanhas, ao
WAS,
AltaMontanha,
CBME,
Projeto Dharma e a toda a comunidade de montanhistas de meu país que me ajudou tanto a trilhar estas montanhas e a brincar com as pedras que haviam no caminho. A todos, muito obrigado!