MST na Montanha

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Sou meio lerdo no aprendizado, mas aprendo e cheguei a conclusão que a internet não leva a conclusão nenhuma. Pouco importa o que se discuta.
Fotos: Elcio Douglas


Esperei receber alguma idéia inteligente com a discussão das escadas no PP e só apareceu baixaria. Ninguém mudou a opinião de ninguém. Não apareceu nem alguém se propondo a pensar no assunto antes de emitir opinião e cada um se agarra as próprias convicções num ato de fé, no entanto, se discutia um assunto bastante prático e não um dogma religioso. Não estou falando de problemas na travessia Petrópolis-Teresópolis, na Serra Fina ou na Pedra da Boca que também tem suas mazelas. Sou específico ao Pico do Paraná que acompanho desde os idos de 1980 quando ainda era uma aventura caminhar por aquelas bandas e a farofagem se concentrava no Marumbi, incomodando os donos do pedaço. O PP não é o Marumbi e a soluções encontradas para um não se aplicam ao outro nem com toda boa vontade do mundo.

Neste feriado de páscoa havia 400 pessoas acampadas nas proximidades do cume no Monte Crista, nas imediações de Joinvile e lá estavam também o pessoal da AJM – Associação Joinvilense de Montanhismo e alguns guardas florestais tentando ordenar aquela muvuca toda. Subir o Monte Crista com cargueira, apesar das escadarias calçadas, não é um passeio no parque, imagine levando isopor com cerveja para três dias. Para eles é muito mais fácil e barato encher a cara a beira mar em Enseada ou Itapoá, mas estavam lá em cima fazendo fogueira.

No entender da AJM estava tranqüilo porque em outro feriado já haviam cadastrado 800 pessoas subindo a montanha e o pessoal dos clubes acabam se transformando naqueles chatos que ficam aos pés da montanha preenchendo fichas e distribuindo sacos de lixo que serão abandonados já na primeira curva da trilha. No caminho tinha de tudo, de sapatos, calças e meias até caixas de bombons. Mais trabalho para os clubes que depois vão recolher todo este lixo. A verdade é que não existe qualquer controle que resista a uma invasão destas e quem resolver apertar o cerco acaba apanhando da tigrada. Só chamando o Capitão Nascimento.

O PP não assim, diriam muitos, mas vai ficar. Isto eu afirmo com todas as letras. O Monte Crista não era assim há dez anos e Joinvile não é um terço de Curitiba. Joinvile nunca teve a tradição de Curitiba no montanhismo e tem inúmeras opções melhores para a farofagem do que carregar todo este peso nas costas até o alto daquela montanha.

Nosso eterno prefeito Jaime Lerner tem uma frase perfeita que pode ser transplantada para este caso: ” se quiser um projeto criativo é só tirar um zero do orçamento”. Isto nos obriga a pensar.

Hoje as encostas ao sul do Caratuva, o Fio de Ligação, o A2 e o cume estão mais necessitados de ajuda do que as caratuvas ao lado das pedras guarnecidas de degraus. Drenando a trilha e contendo a erosão mais gente vai acampar no cume, mais erosão, mais atoleiros, mais clareiras e mais fezes.

Não podemos esquecer que não somos inimigos e estamos todos do mesmo lado. O que nos interessa é preservar a paisagem e não apenas as caratuvas, o Fio de Ligação ou o cume. A pergunta é qual a solução (ou soluções) que mais se aproxima da preservação da paisagem como um todo?

Segurança não é problema de clube, segurança é problema de quem se aventura e montanhismo é esporte de risco. Farofagem boa é na praia e turismo bom é em Foz do Iguaçu.
Não respondam com opiniões aqui, a internet não leva a conclusão nenhuma mesmo. É pura perda de tempo. Só pensem a respeito e se possível façam a coisa certa para que nunca tenhamos este problema nas mãos.

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Sobre o autor

Julio Cesar Fiori é Arquiteto e Urbanista formado pela PUC-PR em 1982 e pratica montanhismo desde 1980. Autor do livro "Caminhos Coloniais da Serra do Mar", é grande conhecedor das histórias e das montanhas do Paraná.

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