Nicola Martinez ou apenas Nick

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Olá! Meu nome é Nicola Martinez e é com muito orgulho que escrevo meu primeiro artigo pro site Alta Montanha.

Minha história com a escalada começou no ano de 1997 quando ainda não havia muita informação nem vias para a prática da escalada na região. Foi quando um grupo de amigos resolveu investir na abertura de vias na pedreira local… Abrimos vias também na região da Serra do Cadeado (localizada há 100 km da cidade de Londrina).

Desde o começo fui sempre muito curioso por tudo que se tratava de montanhas, mas minha principal curiosidade e atração vinham de um lugar chamado Yosemite Valley. Comprava revistas, procurava na internet, pedia catálogos e literalmente pirava com aqueles escaladores mandando tudo por lá, sem saber que anos mais tarde receberia o respeito dos mesmos pelas escaladas que realizei por ali.

Ainda no Brasil tive a oportunidade de conhecer Eliseu Frechou e Marcio Bruno, pessoas que foram de grande importância na minha vida como escalador. Lembro-me de ter visto uma matéria sobre a escalada deles mais o Sergio Tartari na primeira ascensão da via Solução Suicida na parede do Kaga Tondo na África e também da segunda repetição da via Terra de Gigantes, tudo aquilo parecia tão distante, mas sabia que dentro de mim este sonho despertaria naturalmente…

Anos de correria e trabalho na Itália e Inglaterra me deixaram distantes da escalada, juntei o dinheiro necessário para compra do equipamento básico necessário para a escalada tradicional, a passagem e um dinheiro para me manter na estrada por algum tempo e ali minha história com Yosemite começaria.

Parti de Londres em fevereiro de 2004 com destino a Boston (costa leste dos Estados Unidos), porque Boston? Nem eu saberia responder, mas ali fui. Chegando à imigração tive minha primeira experiência com oficiais federais americanos, perguntas e um pouco de humilhação, mas depois de duas horas fui liberado pra entrar na terra do Tio Sam.

Fiquei por ali por alguns dias e peguei um ônibus com destino a Toronto no Canadá para visitar um amigo de infância que há anos não o via. Fiquei por ali por um mês e meio e decido cruzar o Canadá em mais uma viagem de ônibus (tinha tempo e não muito dinheiro, então disse por que não passar três dias dentro do ônibus viajando), permaneci por duas semanas na Região das Rockie Mountains no estado de Alberta e mais uma vez subi no ônibus em mais dois dias de viagem com destino a Yosemite.

Cheguei à estação de Merced (cidade que fica à 1 hora do Vale ), eram 11 da noite e o próximo ônibus partia as 7:30 da manha do outro dia, sem muito poder escolher, ali fiquei, lugarzinho macabro aquele, escuro e sem muita vigilância. Acordei muitas vezes aquela noite, estava dormindo em cima do meu haul bag, enfim o dia amanheceu e faltavam poucas horas pro sonho enfim virar realidade. Entrei no ônibus e ali fomos.

Curvas um pouco de sobe e desce e ali estávamos, sem ao menos perceber, o gigante El Capitain tão sonhado a minha frente, todo aquele Vale me fazendo flutuar, tudo muito grande… Na chegada, procurei informação de como chegar ao famoso CAMP 4, ali estava eu, em frente ao que se pode chamar de MECA da escalada mundial, fiquei meio bobo, zanzando de um lado pro outro mais uma vez sem saber muito pra onde ir…

Foi quando me deparei com um escalador sentado em uma bear box (caixas de ferro utilizadas para o armazenamento de alimentos evitando assim o ataque de ursos e outros animais), me aproximei pra trocar uma idéia, ele me falou de como eram as coisas por ali, bom este cara chamado Dave Turner, casca grossa de Sacramento e local no Vale de Yosemite, viria se tornar meu grande irmão e companheiro de aventuras.

Este cara me ensinou quase tudo do que sei sobre grandes paredes, agradeço a Deus por ter tido a oportunidade de cruzar o seu caminho. Esta temporada na Patagônia chilena Dave impressionou o mundo abrindo uma via em solitário na parece do Cerro Escudo com mais de 1.300 metros de parede sem o uso de cordas fixas em 34 dias non stop…

Sua via se chama “Taste the Paine” VII 5.10 A4. Enfim tive a oportunidade de escalar paredes de grau A2 pra aprender as técnicas e minha terceira parede, quem diria, estava ali à base dos meus pés, o tal gigante El Capitain, 1.000 metros de parede e muita história pra contar…

Fizemos também ascensões em estilo “speed climb”, das vias Zodiac em 17 horas, 16 cordadas e North América Wall, 32 horas, 33 cordadas. Nesta temporada tive o prazer de conhecer e dividir a ponta da corda e escalar o El Capitain em três dias com direito a uma tempestade patagônica assustadora.


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