O Pantanal Sul é repartido em muitas regiões, até mesmo por ter o dobro da área do Norte.
Paiaguás: Este é o maior dos Pantanais, com quase 1/5 da área total brasileira. Assim como para a Nhecolandia, sua situação interior e radical torna complicado o acesso, ocorrendo pelo leste a partir de Coxim.
Junto com o Nabileque, compartilha as baixas altitudes e as longas inundações. É curioso como essa região tão grande não tem nenhum conhecido local de hospedagem, nem estradas de conexão entre os dois pantanais, aliás como acontece também no extremo sul com o Nabileque.
O Paiaguás parece semelhante à Nhecolândia, porém com baías (lagoas) menores e corixos (córregos) maiores, tornando seu visual menos variado. A vegetação é de savana e cerrado, com bastante presença de campos, pois as árvores não chegam a se adensar em matas fechadas.
Abrange o maior criatório bovino de todo o Pantanal. É importante a presença dos Rios Taquari e Piquiri, que o separam da Nhecolândia a sul e de Barão de Melgaço a norte – apesar disto, parece ser um tanto seco.
É grande a presença de animais. Eles costumam afluir na seca para as regiões úmidas, facilitando portanto seu avistamento. Nas demais estações, os frequentes carrascais costumam ocultá-los.
Paraguai: Você atravessará esta região pela Estrada Parque, quando poderá notar o solo arenoso e a presença de savanas e bosques, principalmente das palmeiras carandá. Ela pareceu-me mais arbustiva e lenhosa do que os Pantanais próximos. Novamente, é uma região baixa, abaixo dos 100m, funcionando como área de inundação do Rio Paraguai – chega a submergir por meio ano.
Ela permite a observação de grande variedade de fauna, incluindo mesmo onças – infelizmente não por mim, nas duas vezes em que passei por lá. É local de piracema de peixes nobres.
Essa região confina a sul com o estranho Maciço do Urucum (onde existem atividades de mineração) e a norte com a bela, misteriosa e desconhecida Serra do Amolar.
Considerado isolado e estranho, o Amolar abriga as lagoas a norte de Corumbá. A seu lado ficam grandes parques naturais, no Brasil e na Bolívia, bem como destacamentos militares de fronteira. Alguns chamam esta região fascinante e remota de Pantanal Profundo.
Junto com o Porto da Manga e o Fecho dos Morros, esta é uma das três principais soleiras rochosas do rio, que represam suas águas e controlam sua velocidade, tornando-o ainda mais lento. É uma área permanentemente inundada, onde o Rio Paraguai percorre meandros de grande beleza.
As águas dos rios da região se unem em coalescência, formando várias lagoas, onde existe um PE de 103 mil ha. Mesmo depois das chuvas, eles ficam emendadas: as águas das lagoas a sul se ligam às do PN a leste, formando um enorme mar de água doce, que é emocionante avistar de cima, na sua placidez colorida e iluminada.
Além destas, existe mais ao sul outras lagoas. Houve nas cercanias uma antiga atividade de arte rupestre na Lagoa Jacadigo já no rumo de Corumbá, que comento depois.
Nhecolândia: Deve este nome ao apelido do fazendeiro cujo pai fundou a Fazenda Firme, assim chamada por estar livre das águas – tinha inacreditáveis 380 mil ha e sua colonização feita pelo filho foi um trabalho heroico e pioneiro. Devido à posição interior da Nhecolandia, o acesso é difícil. Este é para mim o mais belo dos Pantanais, pela presença de várzeas ao longo da planície, ligadas por corixos que desembocam eventualmente em baías. Recoberto por fina areia branca, tem uma provável altitude de 140m, e por isso submerge menos.
Devido à presença das águas no fim da seca à semelhança de oásis, os animais afluem para um mesmo local, quando se podem vê-los convivendo pacificamente com o gado. As várzeas são circundadas por capins e samambaias e os corixos, por camalotes coloridos. Mas existem também baías salobras, suas águas verdes rodeadas por areia sem vegetação.
Além delas, aparecem os campos limpos e os bosques – estes farão mais tarde parte das cordilheiras e dos capões, quando as águas encherem o campo. Estes pequenos bosques me parecem arcas de Noé vegetais, preservando variadas espécies para a estação seguinte.
Aquidauana: Aquidauana abriga um Pantanal de cerrado. Separado da Nhecolândia pelo Rio Negro, apresenta campos, savanas e bosques semelhantes. Entretanto sua altitude mais elevada de 150m limita as inundações e facilita o manejo do gado. Seu solo arenoso recebe as águas calcárias da Bodoquena.
O visual de Aquidauana é plano, com o horizonte fechado por bosques de árvores mais elevadas. Isto cria um interessante contraste entre espaço e limite. As palmeiras são muito presentes, garantindo a alimentação de variadas espécies.
Mas existem também baías, extensas e profundas, em alguns casos com comunicação com os rios. Na época certa, são decoradas pelas flores das piúvas pantaneiras. Elas são abrigo para aves, que vigiam de cima o trajeto aquático das antas, sucuris e jacarés. Visitá-las à tardinha permite esplêndidos visuais do pôr do sol, quando as águas são iluminadas pela luz do dia que termina.
Miranda: Foi aqui o meu primeiro contato com o Pantanal – quando retornei lá, revi as características comuns: trata-se da borda sul da região, ocupada por cerrados de altas árvores. Foi uma surpresa encontrar lá grandes jatobás e aroeiras. Mas sua savana assemelha-se à das outras áreas, com forte presença das palmeiras do chaco boliviano.
Situado em terrenos mais elevados, de talvez 160m, não é tão facilmente inundável, deixando de apresentar as baías rasas das regiões mais ao norte. Isto me pareceu associado ao solo algo argiloso, uma exceção no Pantanal. As pastagens podem ser plantadas com capins de alto rendimento, fazendo as fazendas parecidas com as do Centro Oeste.
Embora não seja tão cênica como as regiões inundáveis, Miranda apresenta lindas baías de águas profundas e permite a visualização de grande variedade de animais. Contém também cinco aldeias dos índios terena, porém já descaracterizadas pelo progresso.
Abobral: Junto com Nabileque, é a mais baixa região do Pantanal, com apenas 90m, ou seja, uma planície de inundação. É também a menor das divisões, limitando-se ao vale do Rio Abobral e, parcialmente, do Rio Negro. O Abobral é assim chamado devido à cor alaranjada das águas. Existe algo de especial nesse enclave tão pequeno, talvez na sua vegetação delicada ou na sua topografia indefesa.
A rigor, ele é antes um corixo do que um rio, pois chega a secar, apesar de sua extensão de 80 km (corixos são córregos temporários). Mas, inversamente, na época das cheias o tráfego por terra se mostra impraticável e ele se torna o único meio de acesso – de tão largo, fica difícil encontrar sua calha. É curioso observar as fotos nas duas estações, pois os pastos viram lagoas e as sedes das fazendas parecem ilhas.
Seus solos são arenosos, porém com manchas argilosas, recebendo uma vegetação de campo e savana semelhante à de Aquidauana. Ao descer o rio, você encontrará ariranhas e iguanas. Nos campos e matas, poderá avistar catetos, bugios e veados.
Nabileque/Porto Murtinho: Com altitude de 80m, é inundável por metade do ano, à semelhança de Abobral. Corresponde à ponta sul onde enfim termina o Pantanal brasileiro, em Porto Murtinho. A cidade é cercada por um dique para protegê-la das enchentes do Rio Paraguai. O solo argiloso e impermeável torna a drenagem ainda mais difícil. Os Rios Nabileque e Paraguai tornam-se então os únicos meios confiáveis de transporte.
Sua vegetação é entendida como uma extensão do chaco boliviano, com sua alta concentração de palmeiras carandá. Possui também árvores frondosas como os jacarandás. Os camalotes costumam navegar pelos rios, simulando grandes ilhas verdejantes. É local de pesca, sendo quase que apenas visitado por pescadores.
Convém lembrar dois acidentes geográficos: a Lagoa Jacadigo a sul de Corumbá e o Fecho dos Morros, a norte de Porto Murtinho. Jacadigo é uma formação rasa e intermitente, onde foram encontradas inscrições de petrogrifos em lajedos planos, com belos padrões abstratos. O Fecho dos Morros é uma serra transversal ao Rio Paraguai, com uma grande elevação central, funcionando como uma soleira rochosa responsável por seu represamento.
Pois é este represamento que cria a quieta mansidão do seu principal rio e, com ele, de todo o Pantanal.
1 comentário
Bom dia!
não conhecia seus textos, gostei bastante.
obrigado pelas informações.