Localizado a 5kms do centro histórico de Ouro Preto, o Parque Natural Municipal das Andorinhas (PNMA) faz parte da Área de Proteção Ambiental da Cachoeira das Andorinhas que por sinal está numa região que abriga as cabeceiras do Rio das Velhas, importante afluente do São Francisco. Além de importante papel na preservação de seus recursos naturais, o Parque das Andorinhas possui enorme potencial turístico, oferecendo muitas opções de lazer aos visitantes.
Além da cachoeira que dá nome ao parque, há várias outras quedas com piscinas naturais, muitas trilhas para caminhadas e incontáveis mirantes. Desnecessário dizer que este lugar pouco conhecido revelou-se uma grata surpresa durante nossa breve passagem pela charmosa cidade mineira, conhecida principalmente por destilar história a céu aberto.
Nossa passagem por Ouro Preto expirava rapidamente e, sendo assim, buscamos aproveitar ao máximo em termos naturebas os dois últimos dias que nos restavam já adiantando que o segundo seria reservado á descanso (e compras básicas).
Bem, fuçando previamente informações da região acabei encontrando algo que poderia ser bem interessante: se ao sul tínhamos o Pico do Itacolomi ao norte surgia o Parque das Andorinhas, área de preservação da qual nunca ouvira falar. Como apreciamos conhecer qualquer coisa pouco divulgada por não criar muitas expectativas, batemos então o martelo de que aquele parque seria objeto de nossa visita em nosso penúltimo dia na charmosa cidade mineira. E vamos que vamos.
Levantamos cedinho naquele dia que prometia ser de bom tempo e céu azul, enquanto os raios do Astro-Rei debruçavam-se rapidamente sobre telhados do bairro universitário do Bauxita.
Após arrumações de praxe e rápido desjejum, eu e a Lau tomamos condução na frente da entrada principal da UFOP, que num piscar de olhos nos largou nas proximidades do Centro Histórico. Assim, ás 9hrs pisávamos na Praça Tiradentes, local onde a cabeça do mártir da Independência foi exposta em 1792, e local onde reencontramos velhos amigos muitas aventuras passadas, a Vivi e o Fábio.
Acompanhados do sobrinho da primeira, o simpático casal recém chegava de Sampa afim de aproveitar alguns dias em cicloviagem pela Estrada Real. “A gente tinha um roteiro de 300km pra fazer mas acho que vamos fazer 350 pra não traumatizar o moleque, já que é sua primeira cicloviagem!”, brincou a Vivi.
Depois de rapidamente conversar sentados na base do Monumento ao Mártir, nos despedimos do trio aventureiro que logo sumiu em meio ás estreitas ladeiras ao lado do Museu da Inconfidência. Indo no sentido oposto, as 9:15hr, eu e a Lau tomamos as pirambas calçadas de pedras pra nordeste, sempre acompanhando a boa sinalização pro parque.
O altímetro marca exatos 1130m ao tangenciar a bonita Igreja Nossa Sra das Mercês e não tardou pra abandonar a urbe pela íngreme Ladeira João de Paiva, que passou a ziguezaguear aquele contraforte sul da Serra do Veloso. No caminho, uma breve pausa pra retomada de fôlego (e muitos cliques) nos 1250m do Mirante do Morro São Sebastião, onde se observa Ouro Preto como se fosse uma maquete com todos seus detalhes, emoldurada pelas escarpas da Serra do Itacolomi ao fundo. Horário? Apenas 10hrs!
A chinelada prossegue lenta e morosa pelo alto desnível que se seguiu, sempre em íngremes ziguezagues cercados de muita mata ciliar, até que as 10:10hr pisamos nos 1400m do alto da serra, mais precisamente no pacato bairro de São Sebastião, marcado por residências bem simples e algum comércio.
Dali a pernada suaviza, ainda na direção nordeste, mas agora se dá por estrada de chão e em terreno aberto, do outro lado da serra. Caminhada tranquila que se mostra bem mais amigável que hora atrás, e que descortina os largos e verdejantes horizontes dos vales encravados no sopé da Serra de Ouro Preto, recortando ao norte o chão do firmamento.
E assim, após quase 2kms de estrada de chão chegamos finalmente no Parque Natural Municipal das Andorinhas, as 11hrs, que possui uma aparência bem simples mas detém a infra necessária pra família passar o dia, como sanitários, quiosques, churrasqueiras, etc.
No Centro de Informações tomamos conhecimento da história do lugar, da parceria da Fundação Gorceix e da prefeitura na gerência do parque e o melhor, das trilhas, todas auto-guiadas! Não sabíamos que o lugar tinha tantas opções, mas tentamos aproveitar o máximo delas no tempo que dispúnhamos naquele início de tarde.
Muito bem sinalizado, ali perto estão o “Poço das Crianças” e o “Pocinho do Baú”, balneários naturais rasos, ideais pros pequenos e situados perto das churrasqueiras, cercado de grama e ideal pra piqueniques. Noutras, perfeito pra famílias e quem não pretende caminhar longos percursos.
Não era o nosso caso, e andando um pouco mais adiante tropeçamos na beirada da serra, onde trocentos afloramentos rochosos serviam de belvedere natural, que aqui atende pelo nome de “Mirante da Pedra do Jacaré”. A vista é espetacular e abrange todo quadrante norte, ou seja, o verdejante vale do Rio das Velhas espremido entre as Serras de Ouro Preto e os espigões remanescentes da Serra do Veloso. Pausa pras primeiras fotos, claro.
Do mirante não se percebe o porque do nome de “Pedra do Jacaré”, uma vez que isso só se torna mais claro tomando uma vereda logo ao lado, que percorre um breve e estreito caminho pela encosta direita e desce um nível abaixo o mirante. Ali se avista a tal “Pedra do Jacaré”, que nada mais é um enorme afloramento rochoso espichado e de coloração esbranquiçada, cujo formato se assemelha ao do perfil do bicho em questão.
Nesse mirante menor é possível observar também a deslumbrante paisagem composta por serras e da Mata Atlântica em volta, que serve como plano de fundo para a ilustríssima pedra-réptil.
Dali também parte o caminho pra queda que dá nome ao parque, e este se dá em meio ás pedras do enorme desfiladeiro onde está situado o mirante. Pra isso é preciso se contorcer, agachar e andar no meio de enormes blocos de rochas, apenas se guiando pelo som ruidoso despencando nalgum lugar do cânion, bem próximo. Mas num piscar de olhos o chão de pedra termina e á frente se revela a tal “Cachu das Andorinhas”, que nada mais é por onde as cabeceiras dos Rio das Velhas penetram nas rochas (após abastecer as piscininhas infantis, lembra?) e ressurgem no alto pra então despencar de mais de 10m numa piscininha rasa, no interior daquele grotão enorme. O lugar tem uma beleza singular e não será mera coincidência de ter visto muita semelhança dele com a “Garganta do Diabo”, em Paranapiacaba.
Mas não acaba por ai, pois dali tem uma escada com um sinistro aviso (“Perigo – Risco de Enchente”) que se embrenha num buraco e leva á base da queda, onde já é preciso chapinhar na água. Esta mini-aventurinha eu não fiz questão de perder, claro, mas a Lau já declinou dela por não se sentir á vontade em locais muito estreitos e fechados, como cavernas e grutas, quanto mais uma com água! Pausa pra fotos desta cachu dentro duma gruta! Ah, sim. O nome da queda se deve ao fato das andorinhas ter costume de buscar abrigo nas fendas ao redor da cachu, durante a primavera e o verão.
Retornamos então ao alto do “Mirante da Pedra do Jacaré” onde tomamos outra vereda que parte por sua encosta esquerda, que é a que leva á “Mirante da Cachu Véu das Noivas”, lá no fundo do vale. A trilha então desce bem forte, em curtos ziguezagues, aquela suave e florestada encosta do vale.
Eventualmente existem trechos abertos que permitem visibilidade dos íngremes e alaranjados contrafortes dos mirantes supracitados, agora vistos sob outra perspectiva. A trilha, por sua vez, alterna trechos tranquilos de chão firme com outros mais íngremes e escorregadios, onde não basta apenas ter cautela em saber bem onde pisar como preciso se firmar no arvoredo em volta.
Após chinelar coisa de 650m e ter um desnível de 170m, surge uma bifurcação á direita que, em picada bem mais íngreme e repleta de cascalhos soltos, nos leva á uma tal de “Cachu dos Pelados”. A queda é onde o Rio das Velhas (resultado da somatória de cabeceiras do vale) despencam dum conjunto de duas quedas consecutivas duma altura de quase 5m cada, pra depois cair numa piscininha estreita de coloração esverdeada, espremida pelas laterais da queda.
Quanto a razão do nome não sei dizer o motivo, mas decerto não é pela prática de naturismo. O lugar é simpático mas era muito fechado, já havia gente e havia pouco espaço, portanto ficamos ali o suficiente apenas pra fotos até porque não seríamos nós que faríamos jus ao nome da queda.
Voltamos então ao caminho principal e continuamos descendo pela vereda, cada vez mais íngreme. Mas isso não durou muito pois logo o caminho tornou-se mais ameno, cruzou uma minúscula pontezinha e emparelhou com o rumorejo agradável do Rio das Velhas, agora andando em nível, na cota dos 1150m.
Abandonamos a mata fechada pra então palmilhar os lajedos a margem do rio que num piscar de olhos findou no “Mirante da Cachu Véu das Noivas”. Ali, no alto dos mais de 50m da cachu do mesmo nome, se tem uma linda vista da continuidade do vale, emparedado por muralhas de quartzito e muita Mata Atlântica.
Andando um pouco pelo alto da queda, á esquerda, se alcança no que parece ser um rústico mirante improvisado, de onde se aprecia a queda quase por completo. É possível também se debruçar na beira da cachu e ter uma noção da altura respeitável do atrativo, mas como o celular marcava 13hrs e o calor fritava nossos miolos, eu e a Lau nos brindamos com um merecido pit-stop de descanso, lanche e tchibum nas várias piscinas esverdeadas formadas no alto da queda.
Revigorados e bem mais dispostos, retomamos nossa chinelada pouco depois das 14:30hr voltando todo caminho feito até vencer os quase 100m de desnível até dar no “Mirante da Pedra do Jacaré” novamente. Dali retrocedemos até as proximidades do Centro de Informações, onde tomamos a trilha que leva ao “Poço da Folhinha”.
O caminho basicamente adentra o mesmo vale da cachu, porém percorrendo em nível as altas encostas situadas a noroeste do mesmo. A trilha se alterna entre chão de terra, carreiro de quartzito e pedregulhos soltos no trechos eventualmente com desnível. A vegetação inicial, por sua vez, é tipicamente de cerrado onde predominam arbustos de galhos retorcidos, canelas-de-ema e até pequenos cactos, mas conforme se desce o vale ela muda e torna-se cada vez mais densa, onde voçorocas de samambáias atestam a presença de umidade a cada passo dado.
A pernada segue nesse ritmo durante um bom tempo, mas após quase 2km a vereda tropeça numa bifurcação onde abandonamos a vereda que se mantém na encosta (ainda tocando pra noroeste) em prol da sua ramificação, que começa a descer pro fundo do vale, agora pra nordeste.
A perda de quase 180m de desnível se dá inicialmente de forma suave em meio a agrestes chaparrais de samambaias no aberto, mas não demora pra vereda despencar de vez e penetrar na espessa e densa floresta, onde troncos de árvores servem de corrimão auxiliando nos trechos de desescalaminhada que ali se seguiram.
Antes de chegar no fundo do vale, uma janela na vegetação serve de mirante que permite apreciar o verdejante e sinuoso vale do Rio das Velhas se estendendo pra noroeste. Mas depois, em curtos ziguezagues pela íngreme encosta, ás 15:20hrs pisamos finalmente nas margens do tal “Poção da Folhinha”, que é um enorme lago esverdeado encravado no fundo dum grande buraco onde o Rio das Velhas se represa cercado de vegetação.
Seu nome se deve pelo fato do fundo do lago estar forrado de folhas, fato que pude comprovar quando me brindei com um belo e refrescante mergulho no lugar, tchibum que a Lau desta vez dispensou. Nova e breve pausa pra descanso e curtição do local.
Renovados, nos despedimos daquela maravilha natureba e retomamos nossa árdua e penosa ascensão vale acima, devagar e quase parando, pelo mesmo caminho. Respiramos aliviados ao abandonar a floresta e chegar no trecho nivelado, onde até reparamos numa rústica capelinha feita de pedras, a margem da vereda, que nos passara despercebida durante a ida.
Mas firmes e fortes finalmente pisamos no Centro de Informações por volta das 16:45hrs. Cansados, decidimos que já era hora de retornar uma vez que o parque fechava as 18hrs. Infelizmente não deu pra conhecer outra vereda extensa, a do “Mirante do Vermelhão”, com vista de toda extensão do parque pois está situado em seu ponto mais alto, a 1400m de altitude, e que tem esse nome pelo fato do local já ter sido uma antiga cava de bauxita. Paciência, mas ainda assim nossa visita tinha já valido muito a pena.
Bem que tentamos conseguir carona até o bairro de São Sebastião, sem sucesso, o que nos fez chinelar mais 2kms até o bairro supracitado. Lá garanti um bom latão de cerveja e a Lau seu delicioso sorvete de limão antes de embarcar num coletivo que nos deixasse novamente em Ouro Preto.
Cansados pelos 13kms percorridos naquele dia, sem contar o desnível acumulado, mas extremamente contentes por conhecer aquela grata surpresa natureba da qual não esperávamos nada. Coisas que só visitas descompromissadas e sem muita expectativa conseguem.
Finalizando, o Parque Natural Municipal das Andorinhas – fora tudo que já foi mencionado neste relato – ainda oferece atividades variadas em sua programação, basta se informar, mais nada. Isso sem contar espaços reservados á escalada e downhill. Noutras, é uma preciosidade de parque, uma joia rara de unidade de conservação que revela que parcerias podem sim dar certo, beneficiando todo mundo. Quem sabe assim Ouro Preto sirva de exemplo e deixe de ser apenas uma cidade conhecida por suas relíquias históricas, passando a ser valorizada também por sua rica biodiversidade de fauna e flora e cachoeiras de águas cristalinas.
3 Comentários
Olá , uma pergunta vc teve que pagar para entrar ??
Então existe um ônibus aue sai de ouro preto e te deixa no bairro São Sebastião e de la tu tem que caminhar até o parque??
Ja tive neste parque realmente e um lugar maravilhoso muito gostoso
Bom dia, lá tem transporte que leva até a reserva? E consigo guias facilmente ou posso ir sem guia? Quanto paga para entrar no parque?