O que é uma Montanha?

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Esta coluna continua a série iniciada com o tema da proeminência. É a primeira coluna onde comento sobre acidentes geográficos. Claro que tinha de começar pelas montanhas.

Cordilheira do Himalaia na Ásia (Fonte -Divulgação)

As montanhas são em geral formadas por acontecimentos geológicos singulares. Normalmente, resultam do movimento de placas tectônicas, que comprimem o material interno da crosta terrestre, forçando-o para fora e para cima. São as chamadas montanhas de dobramento, inexistentes no Brasil, mas bastante comuns e presentes por exemplo nas jovens formações do Himalaia.

Há também as montanhas vulcânicas, formadas pelas erupções de lava, como aquelas dos Andes no Equador ou do Kilimanjaro na África. E as decorrentes de blocos de falhamento, em que falhas geológicas transformam terrenos antes planos em perfis escarpados, que ganham depois contornos montanhosos – como são os casos da Serra Nevada nos Estados Unidos e da Mantiqueira no Brasil.

Kilimanjaro na Tanzânia (Fonte – Divulgação)

Porém nem sempre sua origem é catastrófica. Existem as humildes montanhas de erosão, criadas pelo desgaste do gelo, água ou vento nas rochas do relevo. Às vezes este é erodido à volta da montanha, constituída por material mais duro e resistente, deixando-a como uma formação remanescente, a exemplo do Monte Roraima. Outras vezes são sedimentares, formadas pelo acúmulo de detritos oriundos de áreas erodidas, bastante comuns nos arenitos brasileiros e norte-americanos.

O que existe de comum em todos os exemplos acima é que as montanhas são elevações. Normalmente são assim chamadas quando estas situam-se pelo menos 300 metros acima do relevo ao redor. Abaixo desta medida são apenas referidas como morros ou colinas.

Portanto, o que caracteriza uma montanha é sua altura relativa, não sua altitude. A altura é medida na maior vertente da montanha, entre o cume e a base. Já a altitude é calculada pela elevação do cume em relação ao nível do mar (veja a figura ilustrativa).

Figura Ilustrativa Altura vs. Altitude

Só numa situação a altura coincide com a altitude. É quando a montanha está ao nível (ou muito próximo) do mar. Por exemplo, o Corcovado de Ubatuba ou o Pão de Açúcar do Rio.

Pico da Neblina, Serra do Imeri, AM (Fonte – wikimapia.org)

Lembro-me de um artigo onde se comentava a enorme queda que sofreria alguém que caísse do cume do Neblina, a praticamente 3.000m de altitude. O autor ignorava que lá a altura da montanha, que definiria a queda, seria apenas um terço de sua altitude, por emergir de um platô elevado.

Mas observe que nem sempre a altura é relevante para a ascensão de uma montanha. Considere o exemplo do Pico dos Marins, que é escalado pelo seu lado interior, nas terras altas mineiras, com uma ascensão de menos de 1.000m. Porém sua altura, medida pela maior vertente voltada para o Vale do Paraíba, tem praticamente 2.000m. Nunca ouvi nenhum relato de sua subida por Piquete (SP), apenas por Marmelópolis (MG).

Essa situação é aliás bastante comum – o elevado Morro do Couto, no PN Itatiaia, é alcançado por uma curta ascensão pouco além de 200m, mas sua enorme vertente tem mais de 1.500m. Situação que se reproduz em todo nosso relevo, da Serra da Capivara à Serra do Mar, dos Órgãos ao Espinhaço, da Serra dos Pirineus à Serra das Almas.

O Pão de Açúcar de Mamanguá – Altura igual a Altitude (Fonte – Divulgação)

Porém não basta haver uma elevação acima de 300m para definir uma montanha. É necessário também que suas vertentes sejam suficientemente inclinadas. Caso contrário, aquela forma típica que associamos a uma montanha não ocorreria.

Acredito que haja o limite inferior do ângulo de 35 para a vertente de uma montanha. Isto corresponde a um aclive de aproximadamente 70%. Por exemplo, o familiar ângulo de 45 produz um aclive de 100%, ou seja, neste caso sua elevação igualaria o seu avanço.

Mas então, porque as paredes íngremes não são chamadas de montanhas? Estes são os casos das escarpas, encostas ou vertentes. Elas podem formar as faces das serras, como por exemplo acontece na Serra do Mar.

Mas só integram a de uma montanha quando existe aquela elevação mínima acima do relevo circundante. Pois, de outra forma, não teríamos o formato ou morfologia de uma montanha.

Elas podem assumir as mais variadas formas: pontões, pirâmides, agulhas, castelos, torres, domos ou mesas (ver fotos). Como quer que seja, estão lá, esperando pacientemente por sua visita.

Zhangye Danxia Landform Geological Park, Gansu Province, China

Domo – Half Dome no Parque de Yosemite na Califórnia

Mesas em Utah, nos Estados Unidos (Fonte – Divulgação)

Pedra dos Cinco Pontões no Espírito Santo (Fonte – Divulgação)

Pirâmide do Matterhorn nos Alpes Suíços (Fonte – Divulgação)

Serra Nevada na Califórnia (Fonte – Divulgação)

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Sobre o autor

Nasci no Rio, vivo em São Paulo, mas meu lugar é em Minas. Fui casado algumas vezes e quase nunca fiquei solteiro. Meus três filhos vieram do primeiro casamento. Estudei engenharia e depois administração, e percebi que nenhuma delas seria o meu destino. Mas esta segunda carreira trouxe boa recompensa, então não a abandonei. Até que um dia, resultado do acaso e da curiosidade, encontrei na natureza a minha vocação. E, nela, de início principalmente as montanhas. Hoje, elas são acompanhadas por um grande interesse pelos ambientes naturais. Então, acho que me transformei naquela figura antiga e genérica do naturalista.

2 Comentários

  1. Nelson Brügger em

    Alberto, ótimo artigo! Só uma pequena correção. A imagem não é do Pico da Neblina (Yaripo), mas da Serra do Padre, que fica do outro lado do rio Cauaburis……

  2. Pingback: IPÊ : Montanhas

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