:: O que é uma montanha – Coluna Alberto Ortenblad
O conceito de serra é intuitivo: relevos acidentados com uma sucessão de picos, à semelhança da ferramenta dentada de mesmo nome.
Uma serra é diferente de um maciço, pois neste as montanhas estão agrupadas. Por exemplo, fala-se do Maciço dos Marins na Serra da Mantiqueira ou do Marumbi na Serra do Mar. Em ambos, os picos se compactam numa extensão menor das longas serras que os contêm.
Da mesma forma que as serras reúnem várias montanhas, as cordilheiras englobam cadeias de serras. Assim como as serras têm um desenho linear, sendo bem mais compridas do que largas, as cordilheiras apresentam uma certa orientação, resultante do alinhamento das serras que as compõem. Exemplos são as direções norte-sul dos Andes e leste-oeste dos Himalaias ou dos Alpes.
Existe uma hierarquia nestes conjuntos. Uma serra geral compreende muitas serras secundárias, que se dispõem como sequências ou como ramificações. Vou dar dois exemplos disso.
No sul de Minas, você encontrará um sistema de serras em sucessão: Gomeira, Nogueira, Ouro Fala, Condado, Paiol, Alambari – de norte a sul, parecem um conjunto de ondas que convergem na formação dominante da Mantiqueira no Agulhas Negras. Outro exemplo seriam as três serras do espigão mestre da Mantiqueira, alinhadas em sucessão ao longo do Vale do Paraíba: Marins, Fina e Itatiaia.
Assim também aparecem cordilheiras secundárias, que ocorrem como ramificações de um sistema principal. A Cordilheira dos Apalaches norte-americanos compreende serras secundárias como as White Mountains e as Blue Ridge.
As cordilheiras costumam ser imensas – a maior delas, os Andes, estende-se por 7.500 km; as Montanhas Rochosas chegam a quase 5.000 km desde o Alasca até o México e os Himalaias, a 2.500 km da China à Índia (ver mapas anexos).
Geralmente, as cordilheiras resultam da colisão das chamadas placas tectônicas. No passado, havia um único continente gigantesco chamado Pangeia, que reunia toda a massa terrestre, cercada pelos oceanos. Mas ele se fragmentou em muitas placas, que iniciaram seus movimentos em diferentes direções. Embora muito lento, este movimento é incessante, fazendo as placas eventualmente se afastarem ou aproximarem.
Quando uma placa oceânica colide com uma continental, ela soergue esta que é mais leve, como ocorreu na formação dos Andes. Quando duas placas continentais se chocam de frente, ambas são deformadas, a exemplo dos Alpes e dos Himalaias. E quando duas placas oceânicas se afastam ao invés de colidirem, o magma submerso emerge gerando novas formações. É a deformação ou enrugamento das placas que cria o relevo acidentado.
As colisões costumam gerar falhas continentais e fossas submarinas, bem como vulcanismos e terremotos (ver figuras). Algumas vezes são também criados arcos de ilhas, como nas Antilhas, e não apenas cordilheiras, como nos Andes.
Nenhum destes fenômenos ocorreu no Brasil, pois ocupamos o meio da placa sul-americana, sem possibilidade de colisão. É por isso que se diz não possuirmos cordilheiras – porém o Espinhaço é assim chamado por ter um traçado longo e reto.
Mas as cordilheiras podem ser causadas por meios menos dramáticos do que a orogênese acima descrita. Existem outros processos, também ligados á movimentação da crosta terrestre, porém de forma muito lenta. Eles elevam ou rebaixam o relevo continental, em suaves ações de soerguimento ou subsidência, formando arqueamentos, proeminências ou abaciamentos.
A Serra do Mar é um conhecido exemplo. Ocorrem com frequência à beira mar, ocasionando recuos ou avanços do mar. São chamados de epirogênese (ver figuras ao lado).
A orogênese costuma ocorrer em formações geológicas recentes e instáveis, sendo de duração comparativamente breve. Já a epirogênese afeta terrenos estáveis e geologicamente antigos, ou seja, mais planos e menos acidentados.
Por não apresentar dobras e falhas, não cria terremotos ou vulcões, além de abranger áreas de maiores dimensões nos continentes. Depois de movimentos orogênicos antiquíssimos, o Brasil foi grandemente modelado pela tranquila epirogênese, seguida pela humilde erosão. É por essa razão que não temos grandes escarpas ou montanhas elevadas.
5 Comentários
Obrigado pelo artigo Alberto! Gostei bastante e lerei outros seus. Pelo que vi nos arquivos aqui vc é um escritor bastante prolífico. Um abraço!
Thank you
muito grande
Ótimo!
O livro que estou escrevendo agora tem muitos acidentes geográficos, principalmente montanhas. Seus artigos estão me ajudando muito na criação do mapa. Muito obrigada.
uma merda