O Retorno ao Cordon Del Plata – Parte 2

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Antes de mais nada, prometi a algumas pessoas deixar aqui o telefone de contato de um transporte de Potrerillos até a estação de ski, o nome dele e Jorge Orduna, um renomado escritor de Mendoza. O telefone e (0261) 156125921. Cobra 40 pesos por pessoa para subir de 4×4. Aqui segue um link pra saber quem é e ver a obra mais conhecida do autor: Jorge Orduna.


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Como eu disse, partimos no segundo dia pro acampamento El Salto De Água, a 4290 metros de altitude, com intenção de subir mais ainda. Pulamos o Piedras Grandes pra aproveitar mais o tempo e a boa aclimatação.

Chegamos lá a tarde e montamos acampamento. Muita gente descia com medo de tempo ruim, incrível como as pessoas as vezes desistem só em escutar rumores de vento forte e desistem da investida.

Conhecemos um rapaz de Córdoba (eu acho) muito gente boa, Matias. Estava lá para a sua segunda tentativa de cume no Plata. Na primeira vez desistiu por exaustão a 100 metros verticais do cume. Nosso amigo austríaco, Rainner, estava sempre um dia a frente e seguíamos rapidamente para alcançá-lo e fazer algum ataque juntos, talvez o Vallecitos, meu sonho e único objetivo.

Apos uma noite no El Salto, seguimos para o camping alto, quarto camping, pouquíssimo utilizado por causa da constante mudança de pressão, chamado La Hoyada. Sequer sei se a altitude que medi esta correta, mas esperei monitorando no GPS uma pressão mais estável e quando ela parou por algumas horas, gravei a posição a 4662 metros de altitude. Isso nos deixava a uma confortável distancia de menos de mil metros verticais do meu objetivo, Vallecitos. Edson já havia feito cume em todos eles quinze dias antes e foi só pra me acompanhar e é obvio, preparar-se melhor para seu próximo ataque.

Quase ninguém fica em La Hoyada por causa desta constante mudança de pressão, as vezes a sensação e de se estar bem mais alto do que realmente esta. Eu já não vinha dormindo quase nada pelo desconforto das pedras sob a barraca, o ronco da onça pintada…e ainda isso, fiquei inacreditáveis 5 noites praticamente sem dormir. A noite que dormi mais foram somente umas 2 horas e meia.

Enfim encontramos o Rainner que no dia que chegamos fez cume no Vallecitos. Estava feliz, batemos um papo legal e como sempre divertido com ele depois de abraços firmes como de uma longa amizade (ele ficou super feliz de nos reencontrar!) e, depois da janta, eu e Edson fomos dormir para o ataque do dia seguinte ao Vallecitos.

Acordamos tarde, preguiçosos, frio dentro da barraca de 2 graus, do lado de fora cinco ou seis negativos, pouquíssimo vento. Dia perfeito e límpido. Começamos a subida completamente sem pressa as 9 da matina.

Fazíamos paradas longas para fotos, quinze minutos em media. Estávamos muito bem, curtindo cada minuto, fotografando fartamente…Nenhuma falta de oxigênio…Alias, havia um grupo subindo com um guia e ele tinha um oxímetro. Pedimos para checar e do Edson deu 83/ 84 de saturação, boa, suficiente. Quando o cara colocou no meu dedo o pequeno aparelho disse: Muy bueno! 90! Perfecto chico! ahahahaha

Continuamos calmamente, avançando numa boa, ate que chegamos ao portuzuelo, a divisa das rotas de subida para o Cerro Plata (5938m) e Pico Plata (5827m) a esquerda, a direita só o meu sonho, Cerro Vallecitos.

Ali ficamos fotografando por uns 30 minutos! Fizemos panorâmicas, poses variadas com o Aconcagua de fundo, Cordon Del Mercedario de fundo, Quebrada de La Jaula também (que linda!!!!! Uns quinze cumes acima de cinco mil metros em formato de torres…Sensacional). Deixei a mochila no chão, cacarecos, coloquei o abrigo porque o vento e super gelado e a sensação caiu pra uns dez negativos.

Continuamos. Quando olhei o caminho rumo ao Vallecitos me emocionei, Edson foi a frente e eu fiquei um pouco mais atrás fazendo fotos, caminhando e chorando feito um bebe…Pouco depois pudemos ver o enorme vulcão Tupungato todo nevado logo atrás do Plata, fotos. Nessa hora notei a falta do gps, de novo??? Sim de novo. Larguei ele em algum lugar. Dane-se, continuamos. De Portuzuelo até o cume levamos apenas 45 minutos. Quando lá chegamos fiquei mais impressionado ainda, o cume é minúsculo, uns 4 metros quadrados no maximo, todas as rochas praticamente são soltas o que o torna um cume perigoso pra se movimentar.

Fizemos nossas fotos, ficamos lá no topo cerca de 50 minutos, não sei ao certo, mas curtimos o maximo possível. Depois disso, começamos nossa descida também lentamente, curtindo mais ainda o mágico momento pra mim, primeira vez nesta montanha que pra mim e a mais bela de todo o Cordon del Plata. Edson fizera cume no Vallecitos quinze dias antes, quando viemos pela primeira vez.

Durante a descida encontramos um argentino que fez o cume no Plata sozinho neste dia, único a culminar a montanha assim como nos fomos os únicos do dia a culminar o Vallecitos. Perguntei se ele havia visto o gps, resposta negativa, continuamos.

Mais abaixo, pouco mais abaixo de Portuzuelo, encontrei o gps na trilha em um local de fizemos uma parada pra fotos. Incrível não? Segunda vez ahahahah, espero que na próxima vez que eu o perca, seja em uma bela montanha. Se ele ficar lá será justo, não me preocupo com isso. (risos)

Durante a descida os pés começaram a doer, bota nova é uma desgraça, ainda mais uma bota que pesa 1.1kg cada pé. Boreal Super Latok, par novinho que comprei na Andes Gear em Santiago semanas atrás. Alias, atendimento de merda, não recomendo a ninguém. Gastei 600 dólares em equipamento, paguei em dinheiro e o cara de pau não queria sequer me dar um mapa (adoro mapas) da região do El Plomo. O cara cagou e teve a cara larga de dizer “só lamento, se vc quiser o mapa terá que pagar”. Fiquei puto e prometi falar da loja, aqui esta. Quando disse que contaria minha experiência no Brasil sobre o péssimo atendimento o puto me deu de ombros! Da pra acreditar?????

Enfim, usar a bota pela primeira vez me causou bolhas e as pontas dos dedos dos pés quase intocáveis. Dormir quase nada só veio a contribuir para que o ataque ao Plata que seria no próximo dia para mim fosse cancelado. Edson foi com o Austríaco e culminou o pico de novo, segunda vez em menos de 20 dias, terceira vez dele. Como meu sonho estava concluído, caguei pro fato de subir o Plata ou não.

Mais um sonho realizado, um cume belíssimo, fotos que comprovam a beleza da vista que se tem em Portuzuelo, nunca vi uma vista de montanha tão completa, tão linda…Indescritível.

No dia seguinte quando o Edson se foi para o Plata fiquei no acampamento fazendo fotos do glaciar, andei aquela região toda, fiz fotos bem legais e em seguida postarei uma continuação, parte 3, detalhando este dia e a descida.

Continua…

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Sobre o autor

Parofes, Paulo Roberto Felipe Schmidt (In Memorian) era nascido no Rio, mas morava em São Paulo desde 2007, Historiador por formação. Praticava montanhismo há 8 anos e sua predileção é por montanhas nacionais e montanhas de altitude pouco visitadas, remotas e de difícil acesso. A maior experiência é em montanhas de 5000 metros a 6000 metros nos andes atacameños, norte do Chile, cuja ascensão é realizada por trekking de altitude. Dentre as conquistas pessoais se destaca a primeira escalada brasileira ao vulcão Aucanquilcha de 6.176 metros e a primeira escalada brasileira em solitário do vulcão ativo San Pedro de 6.145 metros, próximo a vila de Ollague. Também se destaca a escalada do vulcão Licancabur de 5.920 metros e vulcão Sairecabur de 6000 metros. Parofes nos deixou no dia 10 de maio de 2014.

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