Os segredos da chaminé do Caiguava

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A partir da foto de uma casa de bomba, atualmente submersa, pesquisador resgata um pedaço da história do abastecimento de água da RMC

 

 

19/09/2010 18:55:30   
BRISA TEIXEIRA, ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO

Quem passeia de trem pela Serra do Mar, rumo a Paranaguá, já deve ter visto a comprida chaminé de tijolos que emerge do lago da Represa Caiguava (Piraquara I – foto 1, ao lado), logo depois do Túnel Roça Nova. O misterioso monumento sempre despertou a curiosidade do pesquisador e montanhista paranaense Nelson Luiz Penteado Alves (foto 2), 63 anos, conhecido como Farofa, que até pouco tempo atrás desconhecia a verdadeira história da tal chaminé.

Porém, uma série de coincidências acabou levando este apaixonado pelas montanhas a desvendar um pedacinho da história do abastecimento de água da região metropolitana de Curitiba. Segundo Penteado, muitos ainda acreditam que a chaminé é remanescente de uma antiga olaria ou serraria que teria ficado submersa quando a represa foi criada, em 1978.

Em maio de 2008, porém, o engenheiro agrônomo e professor Roberto Cobbe, sobrinho do lendário aventureiro Rudolf Stamm (1910 – 1959), teve acesso ao livro As Montanhas do Marumbi, de autoria de Penteado, e entrou em contato com o autor. No fim de 2009, Cobbe veio a Curitiba e trouxe uma série de fotografias feitas por seu pai, Pedro Vicente Cobbe, em suas andanças com Stamm pela Serra do Mar no final da década de 1930. Uma das fotos tinha uma anotação esclarecedora: casa de bomba.

Naquele momento, Penteado – que é sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (IHGPR) – recordou de uma de suas aventuras ao lado dos colegas montanhistas pela região do Caiguava nos idos de 1967 – antes da criação da represa, portanto. “Partindo da Serra do Emboque, na tentativa de alcançar o Pico Marumbi seguindo pelas cumeadas (linha formada pelos cumes das montanhas), fomos surpreendidos pelo mau tempo. À noite, batemos em retirada do Pico do Canal rumo à Estação Roça Nova, onde pernoitamos. No caminho, passamos ao pé daquela imensa chaminé, solitária no meio do vale”, lembra Penteado.

Lembrança

Foi a partir desta lembrança que e o pesquisador associou a chaminé ao que restava da antiga casa de bomba, cuja função era elevar as águas do Rio Caiguava, reforçando o abastecimento da Represa do Carvalho, que, por sua vez, armazenava a água consumida em Curitiba até meados do século 20. “Foi um achado e tanto e o ponto de partida para uma entusiasmada pesquisa”, revela Penteado.

De certa forma, a busca para comprovar sua teoria fez o montanhista viajar no tempo e mergulhar em sua própria história, desde os tempos de garoto, quando fazia piqueniques na serra com a família. Além do acervo do IHGPR, ele pesquisou sobre a casa de bombas no Arquivo Público, na Biblioteca Pública do Paraná e, finalmente, na Sanepar – empresa que sucedeu o antigo Departamento de Águas e Esgotos (DAE), então responsável pelo abastecimento da RMC.

Ao todo, foram seis meses de uma intensa busca e o resultado foi além da simples satisfação pelo dever cumprido. “O fato de ter frequentado por mais de 50 anos a Serra do Mar, de ter passado ao pé daquela chaminé e depois ter em mãos as fotos da antiga casa de bomba foi uma descoberta fantástica, que os caminhos do destino colocaram em minhas mãos”, emociona-se.

?1930

Nelson Penteado Alves/Arquivo pessoal (Pedro Vicente Cobbe)

Foto da década de 1930 mostra as instalações da casa de bomba que reforçava o abastecimento da Represa do Carvalho com as águas do Rio Caiguava

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Sobre o autor

Julio Cesar Fiori é Arquiteto e Urbanista formado pela PUC-PR em 1982 e pratica montanhismo desde 1980. Autor do livro "Caminhos Coloniais da Serra do Mar", é grande conhecedor das histórias e das montanhas do Paraná.

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