Páscoa 2009 no Monte Crista

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Planejar caminhadas com amigos…
Arrumar uma mochila…
Andar por florestas, campos, vales, cristas, cumes…
Observar cenas raras, paisagens incríveis…
Sentir uma paz indescritível…
E foi assim que decorreu a maior parte da travessia realizada entre a Pedra da Tartaruga e o Monte Crista (Quiriri), mas prefiro enfatizar aqui o que é preciso saber para refletir, parar de falar e quem sabe, agir.
Por Bárbara Pereira com fotos de Elcio Douglas


Quando finalmente avistamos o Monte Crista e sua respectiva área de acampamento, confesso que olhei diversas vezes para ter certeza do que estava vendo. Um povoado? Um camping? Uma festa? Afinal… O que estava acontecendo ali?!

Continuei a caminhar e acredito que deveria estar com a aparência de um fantasma, pálida, olhos arregalados e boca aberta. Apesar disso, infelizmente, não era difícil acreditar, e nem tão pouco era uma novidade tudo aquilo que podia observar, por mais que eu quisesse que aquela situação pudesse ser considerada uma “exceção”.

Já no primeiro contato com a “civilização”, pude ser testemunha de um incrível modo de comunicação que envolvia apenas algumas vogais e muito pouco uso de massa encefálica: em cima de uma pedra, um grupo de cerca de seis homo sapiens (?) gritavam para um outro grupo, da mesma espécie, que estava em outra pedra, situada a menos de cinqüenta metros. O rico vocabulário usado para que eles pudessem se comunicar incluía as seguintes “palavras”: u, uhu, ô, ê. Confesso que fiquei intrigada com os diversos significados que cada uma daquelas “palavras” deveria ter, pois aqueles exemplares continuaram a se comunicar daquela maneira por muitas horas!

Quando os grupos em questão notaram minha presença, eles se silenciaram. Talvez tivesse interrompido algum ritual secreto. Tentei disfarçar e continuei meu caminho, afinal, nunca se sabe qual pode ser a reação desse povo civilizado. Mas, depois de mais alguns passos, deparei-me com outros exemplares, talvez da mesma espécie, mas divididos em sub-grupos. O grupo situado no ponto mais alto estava abrigado em objetos que se assemelhavam bastante com as barracas que nós usamos. Havia também um grande tecido com o desenho característico, semelhante a uma bandeira, colocado sobre uma pedra e era avistado por todos os demais sub-grupos.

Desta mesma maneira, mais três grupos situados abaixo também tinham estes tecidos, porém com outros desenhos e em tamanho menor, os quais foram hasteados através de troncos de árvores finos, extraídos da vegetação local, os quais permitiam que todos os demais grupos avistassem os mesmos. Será que os civilizados se dividem em clãs? Facções?

Mesmo que exista essa divisão, foi fácil observar outro ponto comum a todos os sub-grupos, além do extenso vocabulário e dos abrigos: as substâncias consumidas por todos se resumiam em um líquido transparente, as vezes amarelado, e uma planta (talvez nativa da região). Aliás, cabe aqui ressaltar a forte e densa neblina localizada na região habitada pelos civilizados, assim como a constante alegria e salivação dos mesmos.
Enfim…

De repente, escutei um som que se assemelhava com música, vindo de um aparelho igual aos nossos rádios, com um ritmo constante e refrão repetitivo, que tentava contextualizar aquelas “palavras” utilizadas pelos civilizados. Ainda neste sentido, um dos membros do grupo situado no ponto mais alto retirou de dentro do seu abrigo um instrumento musical, talvez possa ser chamado de tambor, e começou a produzir um som através da batida das suas mãos na superfície do tambor, ao mesmo tempo em que cantarolava as seguintes palavras: “Pararararaparara…”.

Cabe aqui também ressaltar o instinto de sobrevivência destes civilizados, que os levou a procurar maneiras para se aquecer, alimentar-se e acender o: eles tentavam fazer fogo! Era surpreendente ver alguns espécimes do gênero masculino que adentravam meio metro na densa floresta de altitude, e munidos de facas sem fio, passavam meia hora cortando a vegetação, antes intacta, para retirar a preciosa lenha verde e úmida, a qual facilmente secaria depois de vários dias e poderia servir de combustível para a produção do fogo.

Mas a capacidade produtiva dos civilizados vai ainda mais além: sábios da importância das suas existências nesse planetinha, eles procuraram de todos os jeitos deixar vestígios arqueológicos para estudos posteriores: um deles, por exemplo, fez questão de comer uma caixa de bombom inteira durante a subida até o local de acampamento, deixando todos as embalagens pelo caminho. Isso sem falar na solidariedade entre eles, pois em determinados pontos do caminho, eles deixaram bonés, chapéus, calças, sapatos, meias…

Poderia me alongar aqui por mais algumas dezenas de páginas, descrevendo ironicamente os absurdos que presenciei naquele ambiente tão frágil e precioso, vítima de inconseqüentes desastrados portadores de déficit mental, que não têm consciência de que cada passo dado produz um determinado impacto, o qual pode ser reduzido através da utilização de condutas redutoras que permitam a co-existência de ser humano e o local em questão.

Não é possível nem alegar falta de informação, uma vez que alguns integrantes da associação de montanhismo local estavam realizando um trabalho de orientação com todos os freqüentadores do Monte Crista. Além do que, mesmo que esse trabalho não estivesse acontecendo, qualquer pessoa que não seja alienada dos meios de comunicação contemporâneos, recebe diariamente uma gama de informações sobre as urgências ambientais da atualidade, maneiras de colaborar com a “sustentabilidade” do planeta, ou simplesmente como ter boas condutas frente aos diversos problemas que o meio ambiente enfrenta.

Ou seja: toda e qualquer atitude prejudicial ao meio ambiente local em questão neste texto, deve ser considerada proposital e como tal deveria ser enquadrada na legislação ambiental do país, com suas respectivas repreensões. Mas será que alguém acha que estes criminosos (considerados por seus atos, uma vez que assim são enquadrados na legislação ambiental brasileira), estão preocupados com qualquer discurso eco-chato, ou qualquer outra eco-coisa, se o estado brasileiro, sendo detentor da função de elaboração, manutenção e cumprimento desta mesma legislação ambiental, também considera qualquer assunto na área ambiental um empecilho para o desenvolvimento?

Enfim…o que podemos fazer para evitar que quadros tão desastrosos como este não se repitam neste e em outros lugares, carentes da proteção ambiental que deveria ser fornecida pelo estado?

Por Bárbara Pereira

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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