Pico Paraná

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Após muitos dias de planejamento (muito mesmo, quase um ano), disponibilidade para comprar equipamentos, e claro, muita ansiedade, chegou o dia 24 de outubro de 2009. Nossa missão é conquistar o Pico Paraná, com quase 2.000 metros de altura, localizado entre os municípios de Campina grande do Sul e Antonina, 120 km de Curitiba.


Sete horas da manhã iniciamos a concentração na casa do Valdemir (meu Pai), e a equipe foi chegando: Adriano (Gavião), Rodrigo (Barba), Felipe (Macaquinho) e Raphael (sargento Pincel). Infelizmente o Edinho não pode participar, ficou trabalhando para pagar o nosso equipamento (da próxima você não escapa).

Nosso primeiro desafio foi distribuir o material entre as mochilas, estava cada vez mais pesadas, água, barraca, comida, pão, fogareiro, lanterna, panela… não sei como, mas tudo foi guardado. Após uma hora de organização, partimos. Do Atuba ate o posto tio doca levou 45 minutos, paramos para pedir informação, descobrimos que deveríamos passar uma ponte (sobre o rio Manuel José) e antes de passar a segunda (sobre o rio Tucum) entraríamos na estrada a direita na cabeceira da ponte, não deu outra, passamos reto a estrada, a segunda ponte é bem depois de uma curva, termina a curva e já é a ponte, conseqüentemente a estrada só da para ver depois que já passou. Mas calma, passamos a ponte, paramos no acostamento e confirmamos com um morador local se realmente era aquela entrada, e era mesmo, não sei quem teve a idéia de voltar de ré pela BR 116, o movimento era pouco e daria para sinalizar do outro lado da ponte, por sua vez uma segunda pessoa&nbsp, avisaria o motorista para iniciar a manobra, foi ai que surgiu uma nova idéia (do Sargento Pincel), a sinalização continuava a mesma, mas o carro iria de frente, assim teria mais agilidade… de todas as idéias, venceu a do morador local, vendo que só tinha louco no carro, falou que o retorno era logo na frente e ao passar a ponte no sentido contrario teria uma rua que passa por baixo da ponte. Salve o morador local, se dependesse da minha equipe já estava procurando montanhas no céu.

Pois bem, saindo da BR e entrando na estrada de chão, logo encontramos uma placa, Fazenda Pico Paraná =&gt, , opa, só alegria. Não demorou muito chegamos à fazenda, cumprimos com a parte administrativa, pagamos R$ 10,00 percapita, fizemos um cadastro, tomamos o nosso delicioso café com sanduíche preparado pelo Chefe Valdemir, que inclusive patrocinou nossa alimentação, se alguém quiser contratá-lo fale comigo, no cardápio tivemos sanduíche aventura com azeitona e tomate seco como destaque, o sanduíche PP com sardinha, maionese, cenoura e bacon, e nossa alimentação principal, macacão ao molho sugo, carne seca e essas coisas de chefe, que eu não entendo. Essa foi uma aventura para não passar fome.

Após algumas orientações do guia local, que frisou muito bem que o pessoal esta jogando lixo pelo parque, partimos, nove e meia, o clima começava a esquentar. A primeira parte já é uma montanha e a trilha é toda com degraus, todos empolgados, soltamos a perna e quase matamos o pai, a mochila dela estava muito pesada. Sabemos que não é assim que se começa uma trilha, com o gás todo, ainda mais essa que o tempo médio de caminhada é de&nbsp, sete horas. Esta primeira pegada é chamada de morro do aquecimento. O Sargento pincel trocou a mala com pai, e assim melhorou o rendimento da equipe. Após duas horas de caminhada encontramos uma bica, essa é a entrada para a ferradura, trilha entre montanhas (Itapiroca e Caratuva), mata fechada com bastante arvores, raízes e pedras. Após duas horas de caminhada pela ferradura, chegamos na encosta de uma pequena montanha com vegetação rasteira onde se via o acampamento 1 (A1), mais uma hora de caminhada chegamos no A1 e preparamos nosso almoço, nessa parte já estamos no lombo da montanha, batizada de montanha do boné, pois o vento levou o boné do Gavião para o vale. Além do morro do boné, batizamos um outro como morro do caixote, que depois descobrimos ser o Siririca, tem duas estruturas no alto que parece duas caixas.

Do nosso local de almoço consegue-se ver o pessoal escalando o paredão entre A1 e A2, que é a pior parte da caminhada, perigosa e mal equipada, sem cordas e ou correntes suficientes. Formou-se um engarrafamento de montanhistas, com esse dia lindo sem nuvens propicio a belas fotos, o pessoal não pensou duas vezes para cair no mato, no estacionamento da fazenda tinha uns 10 carros e uma van, que depois descobrimos que era um grupo de londrina. No percurso encontramos gente de Curitiba, São Jose dos Pinhais, Santa Catarina e Londrina. De frente para o paredão, fica difícil acreditar que é por ali o caminho, e pior, esse era só o primeiro, tem o segundo paredão onde aguarei nas pedras e arrastei pelas fendas, não sei como foi possível, mas foi bem assim. Nesse trecho o macaquinho achou um cajado, bem bacana com verniz e tudo, como ninguém quis, eu fiquei com ele, que me foi muito útil, na volta eu fiquei com uma dor forte no joelho e ele me apoiou, depois eu repassei para o Felipe novamente, pois o joelho dele tava pior que o meu, pena que o meu cajado teve um final triste, na volta ao passar pelo A1 um rapaz o identificou e pediu de volta, mas como ele viu que eu estava mal do joelho, deixou-me caminhar com ele e depois abandonar para que ele reencontrasse, um dia vou fazer uma pra mim.

Nosso ponto de almoço foi estratégico, pois sem uma boa alimentação não seria a mesma coisa para enfrentar o paredão (vendo a foto do conjunto, essa é a parte direita iniciando o conjunto), com muita garra e coragem conseguimos subir rumo ao A2, do A1 ate o A2 demorou mais 2 horas, chegando no A2 decidimos garantir um bom lugar de acampamento, pois já sabíamos que o cume estava sem vagas, e não tinha nem lista para fazer reserva. Dividimos o grupo, o Sargento Pincel e Eu ficamos no A2 montando as barracas e cuidando das mochilas, enquanto o restante da equipe fez os últimos 40 minutos para conquistar o PP, nisso já era quatro horas da tarde, às cinco horas já estávamos com tudo montado e iniciamos a nossa caminhada de encontro ao restante da Equipe, não demorou muito para encontramos o pessoal, chegamos às seis horas da tarde no cume, maravilhados, tudo muito lindo, muito alto, fazendo um giro de 360 graus vendo o fim de cada cantinho do mundo, quero dizer, do Paraná, montanhas e mais montanhas, de fronte a essa imensidão sinto que sou insignificantes, Deus sabe o que faz. Ficamos uns 40 minutos refletindo sobre o futuro com o olhar viajando pelas montanhas, mar, nuvens, abismos… são momentos como este que percebemos como a vida é simples. Para mim ficou tudo tão simples que depois de descer 20 minutos lembrei que tinha esquecido meu boné lá em cima, que maravilha, tive que voltar tudo, meu joelho já estava rateando do esforço, mas como a vida esta simples…rss lá fui eu. Por sorte tinha levado lanterna, voltei sozinho para o A2 no escuro, tropeçando nos galhos, pisando nas lamas e tentando ver alguma coisa com a lanterna, mas como a vida é simples nem me abalei.

O acampamento foi show de bola, comemos nosso macarrão, fizemos uma sala com lanternas, ligamos paras as patroas, brindamos com um whisky, com direito a pedra de gelo e caneca de plástico, tudo muito lindo maravilhoso, ate que… começou a ventar, e ventava forte, muito forte, pingos, e mais pingos, correria, pânico, o macaquinho já tava arrancando os cabelos e ligando para a força verde. Guardamos tudo e pulamos para dentro da barraca, choveu ate umas dez horas da noite, parou um pouquinho, descansou um pouquinho e mais chuva, vento e sapo pulando na perna do Macaquinho.. rs o cara tem medo de sapo. Não sei como a barraca agüentou aquele vento, ela entortava, a lona fazia barulho o tempo todo, a chuva caindo, pior ficou para o Macaquinho que molhou o saco de dormir, esse pagou os pecados, e precisava mesmo, ele subiu a montanha com uma garrafa fazia, a sorte dele é que não faltou água.

Acordamos sete horas, e tava frio, com muita serração, fizemos o café, levantamos acampamento e com as mochilas mais leves, partimos. A volta foi bem tranqüila, apenas alguns detalhes, como, a minha dor no joelho, a dor no joelho do Macaquinho, o gavião se perdeu num caminho após o paredão rumo ao A1, o Macaquinho caiu um tombo, o Sargento pincel não parava de cantar a musica que ele inventou… (um dia qualquer, em meio a neblina, estávamos caminhando, … quem disse que somos normais ….. (sei lá o que) … vou conseguir … ) alguma coisa assim…

Voltamos em quatro horas e meia, foi muito rápido, tudo muito divertido, já dizia o Raul, “aventura como essa eu nunca experimentei”. Estávamos morrendo de fome, ate então apenas com o café da manhã e algumas barras de cereais, colocamos as coisas no carro a corremos para o Costelão do Pedro, chegamos no Atuba duas horas, famintos e sujos, porem com um sentimento de conquista.Três horas da tarde já estava na minha casa, meditando uma nova aventura com minha gaita no bolso e mochila no lombo.

Por: Rodrigo de Jesus Souza

Mais fotos: rodrigodejesussouza.blogspot.com &nbsp,

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