Recuperação da via Mar de Caratuvas

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O ano de 1987 foi marcante na evolução da escalada paranaense, novas técnicas apareceram, a escalada livre começava a ensaiar seus primeiros passos com equipamentos leves e seguros que nos criava a expectativa de novos tempos e grandes conquistas.

O Clube Paranaense de Montanhismo, CPM, na época era formado por jovens entusiasmados e ávidos por novas escaladas, alguns deles eram filhos de grandes Montanhistas dos tempos áureos vividos entre os anos 1930-1970 no Marumby no período das grandes conquistas, conhecido como Marumbinismo.

Pico do Ibitirati, foto de Leandro Cechinel.

O Ibitirati é o nome da montanha junto ao Pico Paraná, com desnível superior a 1000 metros em relação à Planície litorânea onde está localizada sua base, o Discoporto, de lá partem os deslocamentos para as Bases das vias, na época em que o CPM abriu a Via Mar de Caratuvas ela foi a primeira via na região, com o tempo foram conquistadas outras vias: “Três Chapas”, “Musgos Eternos nas Mentes Delirantes”, “Toca Toca o Pau na Mula”, “Ecoxiitas”, “Infarto Neurológico”, “Seg de Corpo (União)”, “A Pressa é inimiga da Proteção”, “Pra que dar corda então” e “Mantenha seu Medo” também no União agora também são escaladas na região.

Na época da conquista participaram diversos montanhistas, alguns visitantes do Rio de Janeiro também ajudaram nos trabalhos de Base e apesar não terem seus nomes mencionados no croqui da conquista da parede, certamente contribuíram para que a conquista na época se tornasse realidade.

A colocação de proteções era feito manualmente com o uso de um mandril com broca e martelo para furar a pedra, isto nos tomava até uma hora de trabalho para colocarmos cada proteção e depois de três a cinco o braço estava cansado, por isso havia um revezamento entre quem ia na ponta da corda colocando novas proteções o que gerava um relativa lentidão nos trabalhos.

Todo o esforço dispendido pelos jovens escaladores da época foi compensado no dia 18 de julho de 1987 as 16:10 horas quando foi concluída a conquista da Via “Mar de Caratuvas”, a única via paranaense conquistada coletivamente, sob coordenação do Clube Paranaense de Montanhismo – CPM.

Esforços para recuperação da Mar de Caratuvas.

Passados 32 anos da sua Conquista. na Gestão do Presidente Taylor Ekstein 2017/2019, relançou o projeto para recuperação da Via Mar de Caratuvas no Ibitirati, Serra do Ibitiraquire, Paraná, Brasil.

As dificuldades técnicas para acesso à base e ascensão da parede nos levaram a reunir todos os escaladores do corpo técnico do clube que estivessem interessados nos trabalhos para recuperação da via, a previsão era de que necessitaríamos de apoio do pessoal para reabertura de trilhas e transporte de equipamentos de escalada, o que no final evidenciou-se desnecessário.

Algumas ferramentas destes tempos modernos mostraram-se úteis para agilidade nos trabalhos de recuperação da via, a começar pelo Whatsapp onde foi criado o grupo do Projeto 07 – CPM MAR DE CARATUVAS, nele foram inseridos todos os associados interessados em participar dos trabalhos, como também os conquistadores e apoiadores do projeto com escaladores de notável desempenho técnico atualmente.

Fábio, Ermínio, Bonga, Irivan, William, Valdesir e Ed na ponte quebrada.

A princípio contamos com a participação de 37 integrantes, alguns que não participariam ativamente, mas deram apoio mesmo que distantes como é o caso do Dálio Zipin, Dino Camargo, Domingos Alvares, Arruda Tozóide, Ivan Veríssimo e Antonio Carlos Schmall Moreira (Maninho) estiveram conosco nas atividades. O Grupo foi subdivido em dois, o de Base coordenado por Nelson Junior e o de Parede sob coordenação de Irivan Burda, ambos com atividades distintas e objetivo comum.

Com o grupo criado e reunido em ambiente virtual começaram as conversas para definição de métodos e logística apropriada para a recuperação da via, no final a proposta apresentada pelo Irivan com o complemento sugerido pelo Nelson resumiram à fusão dos dois grupos num só reduzido a 16 participantes que dividiram os pesos entre si e se deslocaram juntos até a Base na data planejada.

Irivan Burda, escreveu o Relatório da recuperação da Via mar de Caratuvas – Ibitirati:

“No dia 14 pela tarde a primeira equipe abriu caminho através da estrada da Conceição que tinha diversas árvores caídas no caminho até a ponte quebrada onde começa a trilha. Chegaram no Disco Porto as 18:30. A segunda equipe chegou em torno das 20 h e uma terceira equipe chegou por volta da 1 da manhã.

Trecho da via Mar de Caratuvas. Foto de Leandro Cechinel.

A alvorada foi as 4 da manhã, tomamos um café e iniciamos a subida da trilha com as 4 equipes de parede e mais alguns da equipe de apoio. As 7 da manhã foi iniciada a escalada pela primeira equipe (Edmilson Padilha, Valdesir Machado e Willian Lacerda) que estavam responsáveis pelas últimas cordadas da via (12, 13 e 14). Logo em seguida saiu a segunda equipe (Bonga, Irivan Burda e Ezequiel) que ficou responsável pelas cordadas anteriores (8, 9, 10 e 11). Na ordem cronológica, saiu a terceira equipe (Fabio, Ermínio e Murilo) que estavam responsáveis pelas cordadas a partir do platô Jean Claude (4, 5, 6 e 7). Por fim a última equipe (Marcio, David e Leandro) que estava responsável da base da via até o platô do Jean Claude (1, 2 e 3). Cada equipe tinha equipamento de escalada com 10 costuras e rack do 0,5 ao 4, além de furadeira e kit para colocação de chapeletas. Cada equipe iniciou os trabalhos no momento em que atingiu seu trecho da via. A cordada superior atingiu o cume ao meio dia e iniciou os trabalhos durante a descida.

Regrampeação de um dos trechos das via Mar de Caratuvas. Foto de Leandro Cechinel.

Todas as paradas da via foram substituídas por 2 chapeletas duplas e foram sinalizadas com fitas refletivas para facilitar a localização durante a noite ou na descida de rapel da via.

Foto de Leandro Cechinel.

Não podemos chamar de grampeação, pois a via teve várias proteções adicionadas as proteções originais, com a finalidade de tornar a via mais segura e frequentada pelas novas gerações.

As equipes que foram finalizando seu trecho do trabalho foram iniciando a descida que ao longo da via foi encontrando as outras equipes que levou a um esquema de rapel em 9 pessoas e 3 pares de cordas. Ao chegar no Jean Claude fez-se noite e o restante da via foi descida no escuro.

Platô Jean Claude. Foto de Leandro Cechinel.

Além de sinalização nas paradas também foram colocadas algumas fitas nos trechos de mato para reforçar a marcação da trilha. As equipes retornaram ao Disco Porto as 21:40 com o sucesso da missão.

Foram colocadas 24 chapeletas duplas e 45 chapeletas PinGo no total ao longo da via. O croqui está sendo atualizado e deve ser divulgado para toda comunidade em breve. A exposição foi reduzida e o novo grau sugerido deve passar de E4 para E3.

As cordas fixas deixadas pelo Nativo em investidas anteriores foram retiradas e baixadas da via.

No dia 16.06 uma nova equipe (Camarão e Wellington) escalou a via até o Jean Claude e reforçou a sinalização com fitas. ”Assim concluímos com isso que a via recebeu melhores proteções, no entanto continua exposta e oferecendo oportunidades de risco aos escaladores, principalmente aos menos experientes em atividades de Montanha, portanto sugerimos primeiro que se faça algumas escaladas grandes no Marumby ou por aí Brasil afora, antes de entrar naquelas paredes.

No momento ainda temos pequenos trabalhos a serem executados por lá e esperamos que esta recuperação tenha oportunizado a todos os Montanhistas sérios, repetirem a via Mar de Caratuvas.”

Curitiba, 17 de Julho 2019

Júlio Nogueira – Montanhista e Geógrafo

Coordenador Conquista 1987 e Recuperação 2019

Clube Paranaense de Montanhismo – CPM

Gestão 2018/19

  • Presidente CPM Taylor Eikstein
  • Vice Pres. Julio Cesar Nogueira da Luz
  • Tesoureiro Rogero Spila
  • Secretário Biracy Lutz
  • Comunicação Social Ederson Brommelstroet

COORDENAÇÃO

  • Julio Cesar Nogueira da Luz – Coordenador Geral do Projeto
  • Irivan Burda – Coordenador convidado para as Atividades Parede
  • Nelson da Silva Junior – Coordenador das Atividades de Base

Equipe De Recuperação

Irivan Burda, Marcelo Santos, Edemilson Padilha, Valdecir Machado, Willian Lacerda, Fabio Szezesniak, Ermínio Gianatti, Marcio Hoepers, David Rocha, Murilo Benvenutti, Ezequiel Mocelinn, Leandro Cechinel, Nelson da Silva Junior, Alex Kosiak Pereira

Equipe de Apoio

Wellington Pereira, Anderson Bulcov, Gabriel Tompzik, Vanessa Janesko – AMC – Associação Montanhistas de Cristo, Otávio Ovatsug – AMC – Associação Montanhistas de Cristo, Antonio Carlos Schmall Moreira (Mano), Dálio Zippim Neto

Croquis Elaborado por Gustavo Castanharo “Tavinho”,  após a primeira repetição da escalada com a via Recuperada. Arte Roniel Fonseca:

 

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Sobre o autor

Julio Nogueira, Geógrafo, Montanhista, prática suas aventuras na Serra do Mar Paranaense desde 1975. Proprietário do Estacionamento Baitacão do Anhangava, tem se dedicado ao apoio dos Esportes de Aventura em Montanhas e Conservação da Natureza. Atualmente exerce a função de coordenador técnico de Escaladas no Clube Paranaense de Montanhismo na Levitar Escola de Montanha e Guia da Agencia Levitar Turismo que atua em parceria com outras agencias de aventuras locais, nacionais e sul-americanas.

4 Comentários

  1. Julio Nogueira em

    Grato pela Publicação e reitero meus agradecimentos aos amigos que confiaram no projeto e demonstraram sua perícia e técnica 32 anos após a conquista da Via Mar de Caratuvas, espero que o texto agrade os leitores, Valeu!

  2. Eduardo Prestes em

    Sensacional o trabalho, parabens ! Tentei uma vez subir esta via, fomos um pouco além do platô Jean Claude, e abortamos (clima, horários, discussões por comida, falta de água, bivaque não programado e coisas afins, rsrs). Deu muita vontade de tentar novamente, muito legal o esforço do pessoal. A parede é linda e merece toda a atenção dispensada.

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