O edema cerebral e o pulmonar
O edema cerebral e o pulmonar são duas formas graves da hipoxia de altitude. Saiba como os esportistas podem reconhecer os primeiros sintomas para descer rapidamente a vítima, e porque este é o melhor tratamento que se pode aplicar.
A falta de oxigênio provocada pela altitude, ou hipoxia, produz em alguns alpinistas o mal agudo de montanha. Existem duas formas graves desta patologia tão peculiar que ameaça a vida e que “qualquer montanhista tem que saber reconhecer a tempo”: o edema pulmonar de altitude e o edema cerebral. O prognóstico e o curso das patologias diferem dependendo de se foram produzidas em alta ou baixa altitude.
Se em poucas horas a pessoa não descer pode morrer, segundo explicou Javier Botella de Maglia, médico especialista em cuidados intensivos e presidente da Sociedade Espanhola de Medicina e Auxílio de Montanha no curso Exercício físico em condições ambientais especiais que foi organizado pela Escola de Enfermagem da Universidade de Castilla-La Mancha, em Albacete, Espanha. “O edema cerebral é uma inchação do cérebro causado pela falta de oxigênio, enquanto que o pulmonar é um encharcamento dos pulmões. A diferença do que vemos em baixa altitude, este último não se deve a um fator cardíaco mas sim a uma forma especial de resposta das artérias pulmonares“, e se relaciona com uma vasoconstricção destes vasos em resposta à hipoxia provocada pela altitude. “Em algumas pessoas se produz de forma normal e em outras não. Estas últimas, que têm uma vasoconstricção heterogênea e muito intensa, estão mais expostas a sofrer um edema pulmonar“.
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Sem medicamentos
Nestes casos o tratamento não deve ser farmacológico “como faríamos a baixa altitude“. Botella recomenda que o montanhista suba sem medicamento algum. O tratamento de melhor escolha é descer. “Se conhecem alguns medicamentos que são eficazes, e seriam coadjuvantes do tratamento, mas o procedimento seria reconhecer a tempo como se manifestam essas enfermidades e descer imediatamente sem esperar que melhore o tempo ou que venha socorro”.
Para evitar estas formas graves de patologia, nada melhor que conhecer o quê as provoca. “O mal agudo de montanha se favorece ao subir demasiado. As pessoas mais jovens e vigorosas podem alcançar maior altitude de forma mais rápida, e estão mais expostas aos efeitos. Pelo contrário, as de mais idade, ao subir mais devagar, estão menos expostas“.
O edema pulmonar é mais individual. “As que o sofreram na altitude estão mais predispostas a tê-lo de novo porque têm peculiaridades anatômicas em seus vasos sanguíneos pulmonares que fazem que tenham essa propensão especial“.
Apesar do melhor remédio ser sempre descer, há drogas que ajudam a amenizar os sintomas e outras que podem ser receitadas para quadros graves. Porém é importante ficar claro que a auto medicação é algo perigoso e não recomendável.
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Prevenção
O melhor modo de se prevenir a doença da altitude elevada consiste em realizar a ascensão lentamente, levando 2 dias para atingir a altitude de 2.400 metros e um dia a mais para cada 300 a 600 metros adicionais. A ascensão em um ritmo em que a pessoa sente-se confortável é melhor que seguir um programa pré-estabelecido rígido. Pernoitar no meio do caminho também contribui para diminuir os riscos. O condicionamento físico pode ajudar, mas não garante que uma pessoa irá sentir-se bem em altitudes elevadas. É aconselhável que sejam evitados esforços vigorosos durante 1 ou 2 dias após a chegada ao local de destino. Ingerir líquidos adicionais e evitar o sal ou alimentos salgados também pode ser útil, embora essas medidas não tenham sido comprovadas. O consumo de álcool em altitudes elevadas deve ser feito com cautela. Uma bebida alcoólica consumida em um local muito elevado parece ter o dobro do efeito que ao nível do mar e os efeitos do uso abusivo de álcool são semelhantes a algumas formas da doença da altitude elevada.
O médico pode prescrever a nifedipina para as pessoas que apresentarem vários episódios de edema pulmonar em altitudes elevadas. O ibuprofeno é mais eficaz que outras drogas no alívio da cefaléia causada pela altitude elevada. O consumo freqüente de pequenas refeições ao invés de refeições volumosas também é benéfico.
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Tratamento
Geralmente, os casos leves da doença da altitude aguda desaparecem em 1 a 2 dias sem outro tratamento que a ingestão de uma maior quantidade de líquido para repor a perda líquida por meio da sudorese e da respiração rápida de ar seco. O uso de ibuprofeno e a ingestão de líquidos adicionais ajudam a aliviar a cefaléia. Quando o problema é mais grave, a acetazolamida e/ou a dexametasona geralmente são úteis.
Como em alguns casos o edema pulmonar da altitude elevada pode ser fatal, a pessoa afetada deve ser observada rigorosamente. Freqüentemente, o repouso ao leito e a administração de oxigênio são eficazes. Contudo, quando essas medidas não surtem efeito, a pessoa deve ser transportada para uma altitude mais baixa imediatamente. A nifedipina tem ação imediata, mas seus efeitos duram apenas algumas horas e ela não substitui o transporte da pessoa gravemente afetada para uma altitude mais baixa.
O edema cerebral da altitude elevada, que também pode ser fatal, é tratado com um corticosteróide (p.ex., dexametasona). No entanto, em casos graves, esta medicação somente é administrada enquanto são realizados os preparativos para transportar a pessoa para uma altitude mais baixa. Quando o edema pulmonar ou cerebral da altitude elevada piora, qualquer retardo da descida pode ser fatal.
Após a descida, as pessoas que apresentarem qualquer forma da doença da altitude elevada melhoram rapidamente. Quando isto não ocorre, uma outra causa do distúrbio deve ser investigada. Quando a descida imediata não é possível, um dispositivo que aumenta a pressão, simulando uma descida de várias centenas de metros, pode ser utilizado para tratar uma pessoa gravemente doente. Este dispositivo (saco hiperbárico) consiste em uma tenda ou em um saco de tecido leve e uma bomba manual. A pessoa é colocada no saco. Após este ser hermeticamente fechado, a pressão em seu interior é aumentada com a bomba. A pessoa permanece no saco de 2 a 3 horas. Este procedimento é uma medida temporária valiosa, sendo tão benéfica quanto a administração de oxigênio suplementar, que freqüentemente não está disponível durante uma escalada de montanha.
Outros riscos da altitude
Outras enfermidades relacionadas com a altitude são as hemorragias retinianas de altitude, os fenômenos tromboembólicos e o síncope de grande altitude que pode ser frequente nos países montanhosos por alguma relação com a altitude.
Hemorragia retiniana de altitude
A hemorragia da retina em altitude elevada (pequenos focos de sangramento da retina na parte posterior do olho) pode ocorrer após a ascensão, inclusive até uma altitude moderada. Esta condição raramente produz sintomas e desaparece espontaneamente, exceto nos raros casos em que a hemorragia ocorre na parte do olho responsável pela visão central (a mácula). Neste caso, um pequeno ponto cego é perceptível. Raramente, ocorre borramento da visão ou inclusive cegueira em um ou em ambos os olhos. Aparentemente, esses episódios são uma forma de enxaqueca e desaparecem imediatamente após a descida.
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Doença crônica da montanha (doença de Monge)
A doença crônica da montanha (doença de Monge) desenvolve-se gradualmente em alguns habitantes de locais de altitude elevada após muitos meses ou anos. Os sintomas incluem a falta de ar, a letargia e muitas dores e desconfortos. Pode ocorrer a formação de coágulos sanguíneos nos membros inferiores e nos pulmões e insuficiência cardíaca. A doença da altitude elevada crônica se desenvolve quando o organismo supercompensa a falta de oxigênio através da produção excessiva de eritrócitos. A pessoa torna- se incapacitada e pode morrer se não for levada a uma altitude mais baixa.
Coagulação
Na altitude a produção de glóbulos vermelhos aumenta devido à falta de oxigênio, provoca no sangue um espessamento que pode causar coágulos sanguíneos.
Ataxia
Ataxia é uma perda de coordenação e equilíbrio causada pela falta de oxigênio em altitudes.
Lesões pelo Frio
A pele e os tecidos subcutâneos são mantidos em uma temperatura constante pelo sangue circulante. A temperatura do sangue se deve ao calor proveniente da energia liberada pelas células quando estas queimam o alimento (um processo que requer um suprimento constante de alimento e oxigênio).
A temperatura corpórea cai quando a pele é exposta a ambientes mais frios, o que aumenta a perda de calor, quando o fluxo sanguíneo é impedido, ou quando o suprimento de alimentos e oxigênio diminui. O risco de ocorrência de lesões causadas pelo frio aumenta quando a nutrição é inadequada ou a quantidade de oxigênio é insuficiente (em altitudes elevadas).
As lesões causadas pelo frio não ocorrem, mesmo em um clima extremamente frio, quando a pele, os dedos das mãos e dos pés, as orelhas e o nariz estão bem protegidos e somente são expostos durante um breve período. Quando a exposição é mais prolongada, o organismo automaticamente contrai os vasos sangüíneos da pele, dos dedos das mãos e dos pés, das orelhas e do nariz para enviar mais sangue para os órgãos vitais (p.ex., coração e cérebro). Entretanto, esta medida de autoproteção tem um preço. Como menos sangue aquecido chega a essas partes do corpo, elas resfriam mais rapidamente.
Prevenir uma lesão causada pelo frio é simples: deve-se saber onde está o perigo e preparar-se. Muitas camadas de roupas (de preferência roupas de frio de montanha) ou jaquetas com capuz almofadadas com duvet, ou fibra sintética, juntamente com uma capa leve à prova de vento (anorak), protegerão as pessoas nas condições mais inclementes. Como uma grande quantidade de calor é perdida pela cabeça, um chapéu ou gorro quente é essencial. O consumo de alimentos e líquidos suficientes também é útil.
As lesões causadas pelo frio incluem a hipotermia, na qual todo o corpo esfria até uma temperatura potencialmente perigosa, a geladura, na qual partes do corpo sofrem lesões superficiais, e o congelamento, no qual alguns tecidos do corpo são realmente destruídos. As frieiras e o pé de imersão também são causados por uma exposição excessiva ao frio.
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Hipotermia
A hipotermia ocorre quando o corpo perde calor mais rapidamente do que ele demora para queimar energia para repô-lo. O ar frio, freqüentemente o vento, pode retirar calor do corpo por convecção. Permanecer sentado e imóvel durante algum tempo sobre o chão frio ou uma superfície metálica ou com roupas molhadas faz com que o calor do corpo passe para a superfície mais fria por condução. O calor pode ser perdido pela pele exposta, especialmente da cabeça, por meio da radiação e da evaporação do suor.
A hipotermia freqüentemente ocorre quando uma pessoa é imersa em água fria. Quanto mais fria a água, mais rápido o desenvolvimento da hipotermia. O início da hipotermia passa facilmente desapercebido durante um longo período de imersão na água que não parece estar muito fria, mas que retira calor do corpo. Os perigos da imersão por mesmo poucos minutos em água gelada ou durante um maior período em água temperada devem ser reconhecidos, especialmente porque a vítima muitas vezes apresenta desorientação.
Depois que a temperatura corporal cai abaixo de 35°C começa a sentir calafrios e o corpo trabalha para manter a sua temperatura central onde estão localizados os órgãos vitais. Isto é conseguido através do estabelecimento da circulação sanguínea afastado de suas extremidades, como braços e pernas. O início da hipotermia é tão gradual e sutil que nem a vítima nem outras pessoas percebem o que está ocorrendo.
Os sintomas de hipotermia são: o movimento torna-se lento e desajeitado, o tempo de reação é mais longo, a mente torna-se confusa, o julgamento é comprometido e ocorrem alucinações, fala arrastada, fraqueza progressiva e psíquica grave. Uma pessoa com hipotermia pode cair, caminhar sem destino ou simplesmente deitar-se para repousar, e talvez morrer. Quando a pessoa encontra-se dentro da água, ela move-se com dificuldade, se entrega e, finalmente, se afoga. Se deixada sem tratamento deste levará a disfunção cardíaca, perda de consciência e, por fim, a morte.
Tratamento
Nos estágios iniciais, vestir roupas secas e quentes, ingerir bebidas quentes ou se agasalhar em um saco de dormir junto com um companheiro são medidas que podem contribuir para a recuperação da pessoa. Quando a vítima é encontrada inconsciente, uma maior perda de calor pode ser evitada, envolvendo-a com um cobertor seco e quente e, quando possível, colocando a vítima em um local quente enquanto são tomadas providências para transferi-la imediatamente para um hospital. Freqüentemente, os pulsos e os batimentos não podem ser detectados. A vítima deve ser manipulada delicadamente, pois um golpe brusco pode desencadear uma arritmia cardíaca (batimentos cardíacos irregulares) potencialmente fatal. Por essa razão, a ressuscitação cardiopulmonar não é recomendável fora do ambiente hospitalar, exceto quando a vítima permaneceu imersa na água gelada e está inconsciente. Como o risco de morte da vítima inconsciente é grande, essas pessoas devem ser tratadas e controladas em um hospital para que tenham uma chance de sobreviver. As pessoas com hipotermia só devem ser consideradas mortas após serem aquecidas e mesmo assim não apresentarem sinais de vida.