Selo comemorativo dos 100 anos de Montanhismo no Brasil

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Antes de dar meu ponto de vista para esta desconfortável e desnecessária disputa, e escrevo por mim somente, gostaria de abrir o texto com as palavras do escritor Steven Sadleir:

– Desconfie dos escritores, inclusive de mim, que fazem grandes generalizações sobre o pensamento… (Procurando por Deus – 2011, Ediouro).

O que quero dizer com esta frase do escritor? Neste momento, os teclados estão chiando de tantos argumentos de quem veio primeiro ou quem foi o primeiro a subir uma montanha. Ego ou orgulho, o saber e sabor se misturam na plataforma do racional humano e faz aflorar disputas tolas, como as de meninos que disputam quem cospe mais longe.

Como diria o personagem de Francisco Anysio de Oliveira, Pantaleão: – Senta que lá vem história. Ou então siga para o fim do texto.

O desejo te der a montanha para si, ou em seu habitat como religiosa é antiga.
Melhor dizendo, se pudéssemos pôr um ao lado do outro, como que num mapa orográfico, todos os nomes conhecidos dos montes da Sagrada Escritura e, por conseguinte, ligá-los a todos os seus “padroeiros” ideais, ou seja, àqueles personagens bíblicos que, de qualquer maneira, estão vinculadas aos respectivos cumes, teríamos a ocasião de realizar uma peregrinação, singular e mais significativa do que nunca, pelas várias fases da história da salvação.

Embora não possamos realizar tal operação, a sua simples exposição já nos faz ver que o “mapa” daqui resultante não é exclusivamente “físico”, mas torna-se espiritual, teológico e até mesmo escatológico, isto é, predispõe-nos a pensar noutros cumes que nos conduzem ao céu do eterno e do infinito. Troque a religião pelo esporte, e tenha a crença em um titulo.

Desde o berço da humanidade o papel da montanha tem seu espaço místico entre o abstrato e o real. A reverência à moradia dos deuses e o temor de sua ira fez da montanha algo mais do que uma divindade ou altar para adoração. A montanha se tornara sinônimo de desafio, o Deus a ser conquistado.  
A quantidade de civilizações que adotaram a montanha como símbolo religioso se perdem em empoeirados livros nas bibliotecas, Fenícios, Celtas, Gregos, Nórdicos, Hebreus e Andinos são apenas as pontas desta enorme lista.

O medo das altas montanhas era tido pelo desconhecimento de fenômenos naturais. Deslizamentos de rocha e gelo que ocorriam durante a primavera geravam ruídos estrondosos, levando a crer que criaturas gigantescas habitavam as sombras das encostas e enfurecidas geravam tais sons. Efeitos sonoros estes que criaram lendárias criaturas como Trolls, Ogros e Dragões, o medo do desconhecido fazia da montanha um celeiro de criativas histórias.
É neste momento que entram nossos bravos e destemidos primeiros habitantes das terras de Vera Cruz.
Não seriam os índios os primeiros montanhistas? E logo depois deles os bandeirantes, estes atrás do ouro e jóias que tais aborígenes retiravam das montanhas?

Como diria Machado de Assis: – Olhando por cima do jornal alheio no bonde, lembremos que a Serra do Lenheiro, esta localizada a noroeste da cidade de São João del-Rei, Minas Gerais, conhecida por toda comunidade escaladora, e esta repleta de pinturas rupestres. É também marco histórico da exploração de ouro no Brasil.

Esta descoberta ocorreu em 1704, quando um paulista chamado Lourenço Costa descobre ouro no ribeirão de São Francisco Xavier. Alguns anos depois próximo a 1713, mas ouro foi descoberto pelo português Manoel José de Barcelos, ele encontrou ouro na encosta sul da Serra do Lenheiro, num local chamado Tijuco.

Todo morador de São João conhece esta historia, já pensaram se Minas Gerais entra na disputa e elege seus primeiros moradores como “primeiros conquistadores de montanha”? Seria uma disputa dura, já que a cidade de Ouro Preto, também Minas Gerais entraria na briga.

Longe de puxar a sardinha para minha brasa, mas o norte e Minas também entrariam forte na disputa.

Continuando, no Brasil, o trabalho dos bandeirantes iniciado no século XVII, que em busca por ampliar suas fronteiras, acabaram conquistando montanhas durante suas expedições. Durante século XIX, registraram-se as primeiras conquistas com caráter de pesquisa, pioneirismo e levantamento topográfico em território Tupiniquim.

Em 1828 iniciam-se as primeiras subidas a Pedra da Gávea 842m, 1856 José Franklin da Silva escala o Pico das Agulhas Negras, 1871 Uma senhora inglesa acompanhada de mais duas pessoas hasteia a bandeira da Inglaterra no Pico do Pão de Açúcar. A história conta que os alunos da antiga Escola Militar da Praia Vermelha ficaram com o orgulho nacional ferido e após cinco horas de subida, cravaram o pavilhão nacional em sinal de patriotismo.

Em 1879 Joaquim Olímpio de Miranda, que liderava um grupo de paranaenses conquista a principal Montanha da Serra do Marumbi, com mais de 1.500 m. pelo prazer da aventura e com o intuito de apreciar as belezas da região.

Em 1912 Um grupo de montanhistas alemães chega ao Brasil para realizar a conquista do Dedo de Deus (1692 m.), conquista ainda inédita naquela data. O grupo contrata Raul de Sá Carneiro, um caçador que conhecia bem a região. Não conseguem a façanha e declaram que a conquista é impossível, pois se eles “profissionais” não chegaram ao cume, “ninguém mais o faria”.

Raul, com o orgulho ferido pela arrogância do grupo, convida o ferreiro José Teixeira Guimarães e os irmãos Acácio, Alexandre e Américo Oliveira, de Teresópolis para realizar a conquista.

Paremos por aqui. Já temos dados suficientes para apaziguar a disputa.
O titulo de primeiro montanhista ou montanha conquistada no Brasil que da ao ganhador o direito de datar a historia do montanhismo nacional vai para:

“O premio vai para a moradora de Sete Lagoas, Minas Gerais; “Luzia”, que com seus aproximados 50 mil anos, com certeza deve ter subido alguma montanha em busca de alimento e abrigo.”

Tolices aparte, não existem ganhador ou perdedor, o selo comemorativo dos 100 anos de Montanhismo no Brasil é uma homenagem ao esporte de montanha e deve ser visto com orgulho por todos, não importando fronteiras territoriais. A conquista do Dedo de Deus é só um marco no desafio do homem em superar os limites impostos pela natureza e por sua mente, neste caso, o sabor da conquista e de contrariar o que se dizia impossível em 1912.

Não me entendam mal paranaenses, mineiros, paulistas e cariocas, estamos juntos nessa pelo esporte e esta disputa é desnecessária.

Então, minha resposta é “SIM”, devemos considerar e comemorar o marco da conquista do Dedo de Deus, apoiar a criação do selo comemorativo dos 100 anos de Montanhismo no Brasil é um grande passo para nosso esporte.

Força sempre e boas escaladas.
Atila Barros

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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