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Uma história de sexo, (muita) droga e traição (mas sem RockandRoll).


O site estava indo muito bem, obrigado, até que alguém sugeriu uma maior interação com o leitor.
– Porque não abrimos um campo para comentários depois de cada matéria?

Grande idéia! Nascerá um fórum de cada assunto, só “papo-cabeça”, pessoas civilizadas e esclarecidas trocarão idéias e farão novos contatos. Criaremos o canal de integração do montanhismo brasileiro. Grande idéia!
O ovo de Colombo!!!

O Alceu, este personagem com múltiplos sotaques, nasceu de uma brincadeira para zoar dos textos do Pedro. Parece pouco, mas o Pedro ficava indignado com suas acusações de fascismo, sempre com o sentido de autoritarismo, o que é uma enorme injustiça para com suas idéias e isto nos divertia bastante, era o próprio marido traído.
– Este cara é louco! O sujeito não entende nada, não sabe interpretar um texto, leiam aqui. Eu fascista? Não pode ser, onde já se viu? É engano, só pode!!!

Depois apareceu um “hermano” nos oferecendo planos grandiosos, patrocínios mirabolantes, aventuras grátis e na calada da noite desapareceu sem deixar rastros. Para trás ficou apenas as contas do aluguel atrasado e taxas de condomínio a serem quitadas, então parimos o Carlos, um personagem interrogativo, fazia muitas perguntas, dando oportunidade aos colaboradores de esclarecer algum assunto.

E o fórum seguia de vento em popa com os civilizados montanhistas brasileiros discutindo os aspectos mais importantes do fundamentalismo religioso no último jogo entre o Parmera e o Chicago Bulls pelo campeonato paraíbano de F1. Quando das trevas surge a “Barraqueira do Leblon” com seu método característico de abordagem. Primeiro envia um e-mail muito simpático, até melado, com uma pergunta idiota ou alguma observação amena.
    – Oieee Maximo, sei que esta na Argentina, mas seria possível vc tirar uma dúvida de algumas pessoas????? Já sabemos que quem opera a vista e vai para altitude pode ter problemas, mas qual seria e se existe algum problema para quem usa lente de contato na altitude? Beijosss
Note-se que a pergunta já esta respondida no corpo da matéria anteriormente publicada, mas para não ser deselegante o trouxa responde novamente. Pronto, ela já é tua amiga de infância e lhe cadastra no Orkut, manda mensagens descontraídas, risadas enlatadas, convida pra escalar no Pão de Açúcar e para se hospedar em sua cobertura de frente para o mar, despede-se com beijossss pegajosos.
– Eca! Que baranga grudenta! Deixa pra lá a Maria Sapatilha. É fria sôo!

– Quem vai peitar esta chata?

Sobrou pra mim, sempre eu. Começou com aquele livro que comprei por cinco reais no cesto de oferta. Oh livrinho ruim! Desandou pela favela no Bonfim – comunidade é mais elegante – e nativo de pele escura virou xingamento racista. Relâmpagos iluminaram a noite nas encostas da Babilônia, a praia ficou vermelha de raiva, raios ecoaram por entre paredes de pedra e uma coluna de fumaça se elevou por detrás do cume no Pão de Açúcar.
No epicentro do abalo, no clarão da fornalha, por detrás do caldeirão foi proferida uma maldição.
    – Minha vingança será maligna! Esta cidade não tem bêbado, não tem boteco nem cachorro. Muito menos côco de cachorrrrrrro, você não sabe com quem está lidando! Lamento sua ignorância, mas continuarei a fazer o que me der vontade, pq sou mimadinha. Voilá.

Sai do meu pé, jacaré!

Mas que nada, a baranga é psicopata e passou a me destratar no campo dos comentários. Travestiu-se em Luis, Marina, Mariana a jornalista e convocou a legião das trevas para sua santa inquisição. Insatisfeita com o fraco desempenho, espalhou farpas pelas matérias e colunas do site, afagando com o nome verdadeiro e mordendo com os inventados. Poucos se salvaram das dentadas venenosas e nem erro de digitação passou em brancas nuvens. Então os amigos Alceu e Carlos passaram a atuar como combatentes deste front, desarmando com bom humor as minas instaladas por inúmeros “fakes” que não cessavam de surgir para logo em seguida evaporar-se. O cadastro minimizou o problema por um curto período, mas internamente já estávamos incubando o ovo da serpente.

Com a rebelião dos “fakes” e a invasão no site do CPM começamos a suspeitar de rackers e se iniciou uma dança de senhas que nunca surtiu o efeito desejado e o ar se contaminou com o cheiro da traição. O velho jogo do gato na caça do rato em que ninguém sabe quem é o rato e muito menos quem é o gato, mas rato que se preze não resiste ao cheiro de queijo. O roedor saiu das sombras depois de levar uma chave de pernas no Rio de Janeiro e voltou macho pra chuchu, apaixonado pela garota de Ipanema. Consta no orkut que escalaram nas pedras do Pão de Açúcar, na Babilônia e na Gávea. Passaram-se na corda e no mosquetão enquanto meu capacete vermelho – de vergonha – a tudo assistiu indefeso. Que nojo!

É o amor do programador com a psicopata, apresentados pelo e-mail, expandido no orkut e que do messenger se transmutou para o celular antes de se concretizar sobre uma pedra e parir um traíra deslumbrado.
    – Gosto de uma viagem de 1ª classe para a Europa, hotel 5 estrelas, lojas em Paris, Milão, Nova York e Los Angeles. Minhas mochilas são Louis Vuitton, meus casacos Channel. Vc já viu a vista do Plaza Atenne em Paris? DESLUMBRANTE.
Agora sem as máscaras, o clima esfriou mais ainda e a guerra política esquentou de vez.

Por e-mail, messenger ou fone, alguns ouviram argumentos decorados, outros tiveram acenos sinceros, afagos e até proposta indecorosa para nova aliança metendo o pé-na-bunda de alguém. Manobras tão ineficientes quanto previsíveis na tentativa de desagregar e dividir, plantando intrigas e mesquinharias.

Decidiu-se então pelo fim da publicação dos comentários, após conclusão de que além de nada agregar ainda serviam para desestimular colunistas e colaboradores que dedicavam uma parcela considerável de seu precioso tempo na elaboração de matérias que eram impiedosamente subvertidas para propósitos obscuros e difamatórios. Em seguida teve início a rebelião do Orfeu apaixonado e os campos de comentários desapareceram e ressurgiram inúmeras vezes num mesmo dia, programas suspeitos foram implantados, outros deletados e muitos conteúdos editados. O site foi invadido, saqueado e minado no intervalo entre os dias 15 e 22 de maio quando foi dado o basta final na situação. O criador subvertia a criatura e abria as portas para que fosse invadida de fora do sistema, mas na internet nada passa sem deixar rastros e estes ainda estão sendo seguidos e desarmados com paciência de monge.  

Livre da membrana, o verme ataca o hospedeiro que conhece por dentro e neste movimento desperta o apetite da legião de vermes que nos rodeiam na ânsia de um banquete fácil. Nativos das sombras deixam por instantes a zona cinza e até o Chico Trevas ressurge do desterro. O mundo dá voltas e as situações se repetem em ciclos reunindo, depois de algum tempo, os mesmos personagens em novo triângulo amoroso onde só a Barraqueira mudou. Cuidado Orfeu, já vi este filme antes e depois de armado o barraco, o garanhão das Trevas come a dona do circo. A história sempre se repete.

E as drogas? Chega de drogas, esta história já é em si uma overdose.

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Sobre o autor

Julio Cesar Fiori é Arquiteto e Urbanista formado pela PUC-PR em 1982 e pratica montanhismo desde 1980. Autor do livro "Caminhos Coloniais da Serra do Mar", é grande conhecedor das histórias e das montanhas do Paraná.

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