Serra do Roncador, uma descoberta

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Descobri esse destino procurando viagens no fim do ano passado, para aproveitar o recesso do trabalho. Não deu certo de ir naquele período. Então, já me programei para o primeiro feriado do ano…fugir da zoeira do carnaval! Como esse não é um destino muito conhecido, preferi fechar com uma agência grande de ecoturismo para garantir um grupo. Foi ótimo, porque além de conhecer um lugar maravilhoso, fiz novas amigas de aventura!

A Serra do Roncador é uma cadeia de montanhas que se origina em Barra do Graças e vai até o sul do Pará (Serra do Cachimbo). Sua extensão é de cerca de 800Km! É um divisor de águas, tendo a leste o Rio das Mortes e o Rio Araguaia e a oeste os Rios Xingu e Kuluene. Existem algumas versões para o nome da Serra, como o encontro do vento forte da região com os imensos paredões rochosos que lembra o ronco de uma pessoa dormindo. Para chegar lá fui para Cuiabá e depois para Barra do Garças voando. Se tivesse companhia daria para ir de carro (mais ou menos 560Km de Brasília). E, se tivesse muito tempo e dormisse num ônibus, também teria essa opção. Enfim, foi mais divertido voar no turbo-hélice cor-de-rosa da Azul…
 
Eu esperava um super-calor, mas tivemos sorte e os dias mais quentes foram os de chegada e retorno. Só pra variar, eu peguei um piriri logo no primeiro jantar…tive aquela noite de rainha!! Afff, ninguém merece! Mas, deu para sobreviver e aproveitar os passeios, apenas marcando território de vez em quando.
 
Por sorte, o primeiro dia foi bem tranquilo, choveu, e os passeios eram mais de contemplação. O roteiro foi conhecer o Bico da Serra, que é o cartão postal de lá (tivemos de voltar depois, porque a chuva não ajudou). Quando a chuva deu um tempo visitamos um arco de pedra, formado pelo encontro de duas pedras no alto do platô, e a gruta da estrela azul. Um local com desenhos rupestres, alguns coloridos, com destaque para uma grande estrela azul. Passamos também pelos restos de construções de uma sociedade alternativa que viveu na região. Depois do ‘almoço’ visitamos cachoeiras nos paredões vermelhos. Eles me lembram muito a região da Chapada dos Guimarães. Aliás, acho que só vi araras vermelhas e vermelhas e azuis nos paredões do Mato Grosso! Coisa linda!!
 
Apesar de não termos acesso às cachoeiras, pedimos um banho e conseguimos nos molhar no riacho que segue perto de onde estacionamos. Osmair disse que nesse mato tem todos os animais silvestres e selvagens da região…também pudera, pois tudo foi desmatado para plantar. Somente as áreas que cercam os paredões foram preservadas pelos fazendeiros. É um absurdo, mas não temos parques/áreas de preservação na região, que tem tanto amazônia quanto cerrado.
 
Os deslocamentos são enormes. Andamos em média 100Km todos os dias para chegar aos destinos. Quase tudo em estrada de terra, cruzando enormes fazendas com plantações de soja e de picanha (ops, criação de gado). Já no primeiro dia de passeio cansamos de tanto jipe e pedimos mais trilhas. Nosso guia, o Osmair, deu um jeito de atender nosso pleito. E, graças a Deus eu estava melhor no segundo dia de atrativos!
 
Nosso grupo era de 5 ‘minas’, como dizem minhas novas amigas de SP! Porém, nos informaram que nos juntaríamos a outro grupo a partir do terceiro dia (domingo, 26). Ora, adivinhem?! Mais 4 minas de Brasília!!! 
 
Cadê os homens desse planeta??? Bom, os 2 grupos não ficaram juntos o tempo todo, o que aumentou bastante a independência de cada um. Além disso, não encontramos outros visitantes nos locais, ficamos com os paraísos só para nós! Adorei esse privilégio!
 
Bom, vamos ao programa! No segundo dia de passeios conseguimos fazer uns 10Km de trilhas pelo aplicativo da nossa amiga Cris! Conhecemos o complexo de cachoeiras do Bateia. Como o nome já diz, são várias cachoeiras…cada uma mais linda que a outra. Logo no começo já entramos na água para lavar a alma! O lugar é maravilhoso. O rio/riacho que dá origem às quedas e poços é o Funil, e uma das maiores quedas tem 80m. Visitamos o Poço dos Duendes (mas não encontrei nenhum!) e o Caldeirão das Bruxas. As trilhas seguem as corredeiras e paramos para aproveitar os poços e hidromassagens. No final temos uma vista linda do vale onde o rio segue. Como o lugar tem alguns cânions, não visitamos o Poço Esmeralda, por causa do risco de tromba d’agua sem escape. Não choveu por lá, mas nem sempre sabemos como estão as cabeceiras.
 
No terceiro dia de passeios fizemos o Córrego do Ouro pela manhã. Um lugar com formações rochosas que lembram o Vale da Lua da Chapada dos Veadeiros, em proporções bem menores. O córrego deságua formando um poço maravilhoso, e depois segue pelo vale! Gostamos tanto do paraíso que preferimos ficar por lá um bom tempo e não explorar as corredeiras. Fizemos nosso lanche de trilha e seguimos pelo Vale dos Sonhos para a Cachoeira São Francisco. Nesse dia eu já não aguentava mais ficar sentada no jipe!! Muuuito longe mesmo! Mas, compensa!
  
A Cachoeira São Francisco é visitada de baixo, mas sem chances de tomar banho. A queda é muito forte e com muitas pedras enormes. O banho fica por conta dos respingos d’água! É possível ver a cachoeira de trás dela, pois tem uma ‘caverninha’ com uma vista fantástica da queda e do vale! Depois subimos e tomamos banho, já no entardecer, em cima da queda. A região é linda, cerrado preservado, muitas flores.
 
Pegamos o pôr-do-sol na estrada e chegamos já à noite em Barra para o nosso último jantar na cidade. Ainda sobre a fauna e flora da região, eu vi meu primeiro tamanduá!!!! Nem acreditei! Já andei tanto atrás desse bicho, e nada…quando voltamos do Bateia vimos um tatá no meio de um campo de cupinzeiros e saímos atrás do bicho para fotografar. Foi o MÁXIMO!!! Nas estradas vimos muitas pegadas de queixadas, antas, e outros bichos menores. Muitas aves, gaviões, tucanos e araras. Nenhum incidente, nada de onças L, e de um bando de porcos correndo atrás da gente! Sussa…
 
A companhia das minas fez os passeios ficarem mais animados e divertidos. Sem falar nas histórias do nosso guia Osmair, um ex-mateiro que se formou em turismo e conhece tudo na região! Mesmo com os lanchinhos preparados pelo Ralph e sua esposa o assunto da volta era sempre encontrar uma comida confortante na cidade (essa fala era da Cris, e foi adotada por todas!). Não demos muita sorte nesse quesito. Nem mesmo com as picanhas que cansamos de ver nos pastos! Voltamos pra casa sonhando com uma comida confortante, mas felizes da vida com uma viagem maravilhosa!
 
 
DICAS:
 
– Os passeios são leves, embora com algumas áreas mais acidentadas próximas às cachoeiras. Pedimos bastante por mais trilhas e caminhadas, e esperamos que eles explorem melhor os destinos para esse público. Como os trechos de jipe são muito longos, talvez ficar mais tempo em um único atrativo, explorando mais a própria região, ou criando algumas opções de travessias.
– Gostei muito do Restaurante Bicudo, apesar de eu ter passado mal com as linguiças de peixe e de jacaré. Os pratos de peixe são deliciosos e eles têm um rodízio de todos eles. Eu fui a única que passou mal no grupo! Então, relevem! Apesar de muitas plantações de picanha (essa fala é da Val!), não gostamos das carnes que comemos. Como tudo no Brasil, parece que o melhor é exportado, mas no quesito de preparação eles também não sabem o que é uma carne ao ponto. Então, explique bem o que você quer!
– Barra do Garças não está acostumada com o turismo de aventura, a maioria deve visitar a cidade por causa do encontro das águas do rio Garças com o rio Araguaia. Uma ponte separa Barra – MT de Aragarças – GO. Na época da seca, da baixa do Araguaia, o povo deve aparecer para aproveitar o rio. Agora, com as chuvas, o rio está bem cheio e marrom. A vista do voo é muito legal, tanto dos rios quanto da serra.
 
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Sobre o autor

Angela santos é trekker e montanhista de Brasilía.

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