Travessia Alpha Crucis por Ander Paz

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Sinalização da Travessia Alpha Crucis

A Alpha Crucis é uma união de três Serras que percorre os cumes dos três principais blocos montanhosos da Serra do Mar do Paraná, ela foi realizada pela primeira vez no ano de 2012 por Élcio Douglas e Jurandir Constantino na época percorreram 44 montanhas em 10 dias.

No começo do ano resolvi realizar a travessia Alpha Crucis no início de agosto, entrei em contato com alguns amigos e logicamente sem surpresa o Jorge Nentwig aceitou o convite sem pensar duas vezes, tendo ele a mesma disponibilidade nesta data. A partir daí começamos a dedicação em iniciar o planejamento de toda logística, equipamentos, preparo físico, comida e mapeamento da região que iriamos percorrer. No final de julho tínhamos toda a logística pronta e cronograma diário com o que iriamos comer, montanhas, cumes que iriamos percorrer, percursos e a estimativa de tempo e distância para cada dia.

Planejamento

Alocamos 4 pontos que seriam nosso reabastecimento de comida (checkpoints), sendo um no Ciririca, onde o Jorge Iria levar e os outros eu levaria no A1, Marco 22 e Estação Marumbi. Teríamos 5 refeições durante o dia distribuídas da seguinte forma, café da manhã, lanche, almoço, lanche e janta. Não utilizaríamos nada de comida militar ou liofilizadas. Alguns exemplos do que levamos: macarrão, granola, sardinha, café, calabresa, linguiça defumada, feijão Vapza, barra de cereal, tapioca, pasta de amendoim, molho, milho, batata palha, amendoim. Iriamos percorrer 61 cumes, sendo a sua grande maioria realizada de ataque, pelo motivo de que foge do trajeto original da travessia.

Cumes

Serra do Ibitiraquire (27): Guaricana, Ferreiro, Ferraria, Taipabuçu, Caratuva, Pico Paraná, Tupipiá, União, Ibitirati, Camelos, Itapiroca, Taquaripoca, Cerro Verde, Tucum, Camapuã, Camacuã, Pico Luar, Siri, Baixo Siri, Ciririca, Colina Verde, Agudo da Lontra, Agudo da Cotia, Agudo da Cuíca, Cotoxós, Arapongas, Tangará.
Serra da Farinha Seca (12): Mãe Catira, Morro do Sete, Polegar, Casfrei, Esporão do Vita, Tapapuí, Farinha Seca, Morro dos Macacos, Mojuel, Jurapê Açu, Jurapê Mirim, Balança.
Serra do Marumbi (22): Rochedinho, Abrolhos, Esfinge, Ponta do Tigre, Gigante, Olimpo, Boa Vista, Leão, ngelo, Bandeirantes, Pelado, Espinhento, Alvorada 2, Alvorada 3, Alvorada 4, Mesa, Sem Nome, Carvalho, Ferradura, Torre Amarela, Torre do Vigia, Morro do Canal.

Primeiro dia – Sábado

Guaricana

Por volta das 7:40h da manhã do dia 04 de Agosto de 2018 a Ana Paula Rocha nos deixou na fazenda rio das pedras, sem muita demora nos despedimos dela e iniciamos nossa empreitada sentido ao Guaricana e para nossa surpresa já começamos com emoção, no portãozinho que sai para os pinos levamos um baita corridão de alguns cavalos que estavam comendo por lá e não gostaram muito de ser incomodados. Depois de uma corridinha para aquecer (rsrs), chegamos ao início da trilha e sem muita demora estávamos na base do Guaricana, largamos as cargueiras e tocamos para o cume que levamos 40 minutos para alcançar, o tempo estava colaborando com um belo visual, assinamos o livro e logo descemos, novamente com as cargueira partimos sentido ao Ferreiro. Primeira subida com a cargueira de muitas que viriam nos próximos dias. No cume aproveitamos para um almoço rápido, o Jorge assinou o caderno e partimos para a próxima montanha que seria o Ferraria. Nesse momento já estávamos começando a sentir que os próximos dias seriam com grande intensidade. Ficamos apenas alguns minutos no cume e partimos para o Taipa, a subida do Taipa nunca é fácil para mim, seria a mais difícil do dia, só que quando dei conta já estávamos com a vegetação baixa e chegando ao cume, uma rápida assinatura, um lanche e partimos para o Caratuva. Já no final da tarde chegamos ao Caratuva, como esperávamos foi um dia muito puxado pela altimetria e por ser o primeiro da nossa jornada, conversamos com 3 amigos que estavam acampando no cume e pedimos para tirar uma foto nossa e nos divertimos com o espanto deles quando falamos que estávamos indo para o Canal (hehehe). Nos despedimos deles, nos desejaram boa sorte e partimos para o A1 pela trilha da conquista, chegamos no local de acampamento e onde estava nosso primeiro checkpoint, montamos as barracas com os últimos raios de luz. Durante nossa janta o tempo começou a fechar e uma nuvem densa e preta se aproximava em direção ao Camelos, primeira de algumas noites que tive receio de acordar com chuva.
Cumes: Guaricana, Ferreiro, Ferraria, Taipabuçu, Caratuva.

No cume do Caratuva com o Pico Paraná ao fundo.

Segundo dia – Domingo

Amanheceu nublado mais sem indício de chuva, tomamos um café, arrumamos os equipamentos e deixamos as cargueiras no A1 partindo empolgados em direção ao Conjunto Ibiteruçu, em 1h estávamos no Pico Paraná onde passamos reto sentido ao Tupipiá, assinamos o caderno, algumas fotos e tocamos novamente para o Pico Paraná, 5 minutos para descansar e saímos sentido ao União e Ibitirati, nesse momento já se aproximava das 10h, o tempo começou abrir chegando no Cume, fizemos um lanche e descemos para o A2 onde iriamos iniciar a subida ao Camelos. Nesse trajeto encontramos alguns amigos da montanhas onde contamos que estávamos fazendo o AC e novamente caras de espanto e palavras de incentivo. Chegando no cume do camelos registramos nossa passagem e logo descemos para buscar as mochilas e seguir para a próxima montanha. Antes de chegar ao cruzo do Itapiroca, paramos para fazer o almoço e tomar um
Tang, a montanha estava bem vazia nesse dia, não encontramos ninguém no Itapiroca, onde apenas fizemos o nosso registro e descemos sentido ao Cerro Verde. Chegando no Cerro Verde por volta das 17h resolvemos fazer um ataque ao Taquaripoca e adiantar uma das montanhas do dia seguinte, ataque que fizemos bem rápido e novamente chegamos com os últimos raios de luz e bem cansados ao cume Cerro Verde onde passamos a noite.
Cumes: Pico Paraná, Tupipiá, União, Ibitirati, Camelos, Itapiroca, Taquaripoca, Cerro Verde.

Ander Paz no Taquaripoca.

No cume do Tupipiá.

Terceiro dia – Segunda Feira

Esse dia amanheceu bem nublado, vegetação toda molhada e com alguns minutos de caminha até o cruzo do Luar já estávamos completamente encharcados pela vegetação, chegando no cruzo deixamos as cargueiras e partimos sentido as próximas três montanhas. Esse dia estava frio e para ajudar estávamos bem molhados, paramos para pegar um pouco de água em um pequeno fio que escorria no riacho do Vale do Perdidos, já sabíamos que teríamos alguns problemas com água, pelo motivo das Serras da região estarem bem secas. Chegamos na encosta do Tucum e iniciamos a subida bem cadenciada apesar de estarmos de ataque, mas até o corpo acordar e começar a esquentar não é fácil. Chegando no Tucum, tocamos para o Camapuã onde não paramos e seguimos para o Camacuã, chegamos bem cansados no cume, onde decidimos fazer um lanche e descansar pois a volta é realizada pelo mesmo caminho e se a rampa do Camapuã que vem da Fazenda do Bolinha já é cansativa, a que iriamos enfrentar é de travar as panturrilhas, subida lenta, respiração controlada, algumas assopradas e toca para cima novamente para o Camapuã. Chegamos no cume, mais alguns minutinhos para descansar e partimos assinar o caderno do Tucum, descemos para o cruzo buscar nossas cargueiras e seguir para nossa quarta montanha do dia. Pegamos as cargueiras e seguimos para o Luar, nesse trajeto sabíamos que seria complicadinho até chegar ao local que iriamos acampar, sem contar que teríamos uma vegetação mais fechada para enroscar a cargueira e dificultar ainda mais a caminhada. Chegamos ao Luar, assinamos o caderno, fizemos um lanche rápido e partimos para o Siri e o riacho que recebe o nome de ”Última Chance”, onde iriamos almoçar. Almoçamos macarrão, sardinha, Tang e logo partimos para o Baixo Siri, trajeto fechado depois que sai do rio, nos enroscávamos muito e chegamos bem cansados ao cume, enquanto descansávamos e olhávamos para o próximo destino que seria o pior do dia, a subida para o Ciririca pelo Baixo Siri. Subida complicada, cansei bastante, a cada vale que passávamos tínhamos a esperança de ver as placas e de forma engraçada essas placas nunca chegavam, mas assim que avistamos uma das placas, já estávamos bem próximos do local de acampamento. Assim que chegamos no cume já buscamos o balde com as comidas e começamos a montar as barracas, tivemos a contemplação de um belo pôr do sol e uma noite bem fria. Nesse dia jantamos polenta com frango e tivemos uma bela barra de chocolate para saborear, cada checkpoint tinha uma barra para nossa felicidade.
Cumes: Tucum, Camapuã, Camacuã, Siri, Luar, Baixo Siri, Ciririca.

Ander e Jorge no BaixoSiri

Acampando no Ciririca.

Quarto dia – Terça Feira

Acordamos com um belo nascer do Sol, aquela noite foi muito fria e o Jorge me contou que dormiu até com algumas sacolas no pé para esquentar e com toda roupa que ele levou, um baita vento que até agradeci pois secou minha bota e meia que havia deixado do lado da placa, tomamos o café e partimos sentido o Colina Verde. Descemos com muita cautela o Ciririca. O início de toda manhã é complicado, pois até o corpo esquentar e se acostumar com o peso, ainda mais em uma baita descida como a encosta do Ciririca.
A descida foi mais rápida que imaginei, chegamos no cruzo do Agudo da Lontra, soltamos as cargueiras e partimos de ataque logo estávamos no cume assinando o caderno e voltando sem muita demora para colocar as cargueiras e seguir para o próximo cruzo, novamente de ataque partimos para o Agudo da Cotia. Chegando no cume fizemos um lanche e seguimos para o Agudo da Cuíca. Essa montanha eu não conhecia ainda e o trajeto seria uma surpresa, imaginei que seria complicado sua ascensão, mas logo encontramos uma rota e seguimos sem muitos problemas para o cume, esse Agudo praticamente não é muito visitado e seu caderno esta lá a anos com poucas assinaturas. Novamente com as cargueiras nas costas partimos sentido a 235, local que iriamos acampar, rios e mais rios, até que chegamos ao Rio Forquilha, em 40 minutos estávamos no cruzo para sair dele e seguir em direção a Garganta 235. Tinha em mente a ideia de adiantar o Tangara para fechar a serra do Ibitiraquire em 5 dias e pegar o quiosque da graciosa com a certeza de que estaria aberto. Então o Jorge como quem não quer nada pergunta o que iriamos fazer, então logo percebi que ele queria ficar mais um tempo no rio. Estava um dia quente, não tão quente para entrar na água, mas bem, para quem estava 4 dias sem, nada como um banho energizante naquele lugar magnífico que estávamos. Cada um vai para um lado do rio, ficamos lá durante 1h aproveitando o Sol, para lavar as meias, tomar um Tang e logicamente aproveitando as águas congelantes do Forquilha (hehe). As 17h começamos a caminhar novamente sentido a Garganta e em 15 minutos estávamos no ponto que iriamos passar a noite. Lugar sensacional para acampar em completo silêncio e escuridão, mais uma bela janta com macarrão, molho, linguiça defumada e milho.

Cumes: Colina Verde, Agudo da Lontra, Agudo da Cotia, Agudo da Cuíca.

No cume do Ciririca com os Agudos no fundo.

Jorge e Ander no Agudo da Cuíca. Ciririca ao fundo.

Quinto dia – Quarta Feira

A noite os orvalhos das árvores junto com o vento davam a impressão de que estava chovendo, acordei algumas vezes com receio de iniciar o dia com chuva. Ao acordar e abrir a barraca, observei que o vale estava todo coberto em nevoeiro e sem pista de como seria o tempo naquele dia, repeti os cuidados com os pés, que fazia todos os dias e fiz até o último dia de travessia, pois cada dia era um calo, uma bolha ou alguma parte do pé que ficava no vivo, era um ritual que se repetia todos os dias antes de sairmos de nossas barracas. Deixamos o acampamento montado na esperança de secar os equipamentos e partimos sentido o Arapongas, mas primeiro teríamos que chegar ao Cotoxós. Começamos a andar mais cedo naquele dia, depois de um belo café para despertar, logo estávamos no Cotoxós. O Sol começava a dar sua graça em meio as nuvens, sem parar no cume partimos para o Arapongas. Outra trilha que seria nova para nós e sendo o último cume que eu buscava conhecer da Serra do Ibitiraquire. Depois de algum tempo chegamos ao seu Wilson com seu chapéu e charuto, um ícone do Arapongas e vigia da caixa do Cume. Na volta do Arapongas vem um susto, trilha fechada em frente, seguindo nossos passos da ida. Quando chegamos nas regiões de umas gretas, desviamos de algumas, quando dou um passo a direita em um mato rasteiro, que parecia ser sólido, mas que para minha surpresa não era, caio na greta até sumir toda a minha cabeça, mas que por muita sorte a greta era estreita, fazendo com que eu conseguisse travar de uma forma automática, na posição de quem vai realizar uma escalada de uma chaminé, eu cai uns dois metros e quando olho para baixo tinha mais uns 2 ou 3 metros de queda, que sem dúvida nenhuma, se eu não travasse, teria me machucado com toda certeza. Grito para o Jorge, que responde com o aquele tom de “Ferrou, se matou”, e eu já com um certo rizo e aliviado, peço para ele me olhar pagando uma chaminé, ele olha, mas achando que eu ia cair ainda, já foi logo falando “Como vou tirar você daí doido”, mais uma risadinha de alívio e eu saio da greta na posição de chaminé, agora mais aliviados que nunca damos mais umas boas risadas e com certeza, mais aliviados que nunca. Foi como um aviso pois logo passamos mais algumas gretas e uma delas com o mato cobrindo, mas dessa vez não teria sorte porque a greta já não era estreita para travar. Descemos para a garganta e logo subimos o Tangara, o caderno do cume estava todo ensopado, então assinamos em uma sacola que tínhamos e deixamos junto da caixa, logo descemos e sem demora já estávamos arrumando os equipamento que não secaram e estavam encharcados. Saímos da Garganta 235 em um ritmo mais forte para o Marco 22, para tentar chegar até as 17h e pegar o quiosque aberto. Chegamos 20 minutos antes do previsto, mas tivemos a infelicidade em pegar fechado, “Quarta Feira é dia de folga, eles não abrem”. Cara de frustação, partimos buscar o próximo checkpoint e seguir para o Garbers local do próximo acampamento. Quando chegamos para desenterrar o terceiro balde, tivemos a supressa de que as árvores tinham sido cortadas no local que enterrei, nesse momento perco um pouco a referência, e com a vegetação toda mexida, veio aquele receio de terem achado e não estar mais lá. Mas depois de algumas procuras, eu já estressado achei o local embaixo de muitos galhos caídos e para nossa felicidade estava intacto.
Cumes: Cotoxós, Arapongas, Tangara.

Acampamento na Garganta.

Cume do Arapongas

Jorge e Ander no marco 22.

Sexto dia – Quinta Feira

A noite toda choveu, novamente aquele medo de acordarmos com chuva e para assustar, ao abrir a barraca o tempo estava completamente fechado, o Marcel morador da fazenda do Garbers falava “Acho que vai chover”, e nós com muita fé e confiantes “Vai não, já vai abrir”. Nesse dia saímos um pouco mais tarde, começamos a subir sentido a Mãe Catira para o Cruzo do Polegar, onde deixaríamos a cargueira e faríamos o ataque para o Morro do Sete. Chegando ao Morro do Sete, para nossa felicidade novamente o tempo começou a abrir, estava um vento bem forte no cume, assinamos o caderno e descemos para o cruzo do Polegar, onde colocamos as cargueiras pesadas, pois estávamos abastecidos com as comida para os próximos dias. Iniciamos a travessia da Farinha Seca, nosso acampamento seria no Morro dos Macacos, um dos poucos cumes com vegetação baixa da região da Farinha. Passamos o Polegar, Casfrei, Esporão do Vita e paramos para um lanche, nesse dia não almoçamos e tocamos sentido ao cruzo do Tapapuí, onde deixamos as cargueiras e fizemos um rápido ataque, o cume é muito próximo e na sequência seguimos para o morro do farinha seca. Chegamos no morro dos macacos por volta das 17h com um forte vento, foi um dia de muitos vales e uma caminhada que se dificulta por conta da vegetação que tem, que faz com que se enrosque em muitos cipós, taquaras, bambus e fora as caraguatás que te espetam a todo momento.
Cumes: Mãe Catira, Morro do Sete, Polegar, Casfrei, Esporão do Vita, Tapapuí, Farinha Seca, Morro dos Macacos.

Vista para o Sul da Farinha Seca e Marumbi do cume do Tapapuí.

Serra da Farinha Seca.

Morro dos Macacos, onde fica a nascente da famosa cachoeira de mesmo nome.

Sétimo dia – Sexta Feira

A noite toda ventou muito forte, onde a minha barraca a todo momento ficou praticamente envergada, pois não tive como montar de forma que a lateral não ficasse para o vento, amarrei bem as laterais e reforcei as estacas com alguns pedaços de pau, e apesar da noite barulhenta por causa do vento dormi tranquilo. O Jorge teve problema com sua barraca, ela quebrou a vareta em dois locais e por conta disso ele acabou dormindo bivacado e não muito bem. Acordamos e estava muito frio com o mesmo vento forte, apesar do tempo aberto, guardamos as coisas rápido e da maneira que o vento deixou, partimos para o vale tomar um café e se esquentar naquela manhã bem fria. Na sequência seguimos sentido o Mojuel, depois passamos pelo Jurapê Açu e Jurapê Mirim, paramos para um lanche e tocamos sentido ao Balança, onde deixamos a cargueira e atacamos o seu cume, admiramos a vista do Conjunto Marumbi, tiramos algumas fotos e voltamos buscar as cargueiras e começar a descer para a Estação Marumbi, onde seria a nossa próxima noite acampados. A decida do balança não acaba nunca, você perde uma grande altimetria e percorre algumas pirambeiras, onde requer um bom cuidado, ainda mais de cargueira. No início da tarde chegamos no Rio Ipiranga, onde almoçamos e logo em seguida seguimos para o camping do Marumbi, chegando na estação pegamos nosso último checkpoint onde teria suprimento para mais 3 dias de pernada. O camping não estava muito cheio, logo montamos nossas barracas e atacamos o Rochedinho para adiantar nossa pernada do próximo dia. Conversando com o pessoal, era sempre a mesma afeição quando contávamos nossa jornada, todos nos deram muito apoio para a sequência da nossa jornada. Tomamos nosso primeiro banho de água quente depois de 7 dias, como é bom um banho quente (hehehe), jantamos e fomos descansar para encarar com a cargueira carregada o imponente Marumbi no dia seguinte.
Cumes: Mojuel, Jurapê Açu, Jurapê Mirim, Balança, Rochedinho.

No cume do Balança com o Marumbi ao fundo.

Oitavo dia – Sábado

Acordamos com um belo tempo, nos despedimos do pessoal e iniciamos nossa subida sentido o cume do Boa Vista, onde seria nosso acampamento, nesse momento já tinha a sensação que estávamos chegando ao fim de nossa jornada e agradecido por até o momento ter ocorrido tudo dentro do planejado. A subida foi daquele jeito, sem parar e com passos cadenciados, estávamos bem pesados com suprimento para 3 dias e com 3,5 litros de água, pois tínhamos a certeza que a probabilidade de achar água no primeiro dia era muito baixa e para ajudar estava um calor de rachar, mas com um belo Sol de contra partida. Mantendo o ritmo e sem parar, logo chegamos ao Parque do Lineu, uma parada de 30 segundos para respirar e bora para o cruzo do Abrolhos, onde deixamos a cargueira para realizar o ataque ao cume, não perdemos muito tempo no cume já descemos e seguimos sentido a Esfinge, novamente cargueiras ao chão e tocamos sentido ao cume, uma montanha bem menos visitada do conjunto Marumbi. Depois de pegar as cargueiras, fizemos um lanche e seguimos para a Ponta do Tigre, sem perder muito tempo tocamos para o Gigante, onde nem paramos e logo estávamos no Olimpo ,onde descansamos um tempo considerado e o Jorge tirou um cochilo, almoçamos e seguimos para o Boa Vista onde chegamos por volta das 15h. Em uma breve conversa resolvemos seguir para o Leão e apostar que teria água no vale, nessas alturas apesar de economizarmos água, já não tínhamos uma grande quantia. Por sorte achamos um pouco de água no meio do vale e conseguimos abastecer para nossas jantas, montamos acampamento no cume do Leão e tivemos um belo pôr do sol para apreciar.
Cumes: Abrolhos, Esfinge, Ponta do Tigre, Gigante, Olimpo, Boa Vista, Leão.

Vista do Leão

Nono dia – Domingo

Acordamos com um magnifico nascer do Sol, tomamos um belo café e logo iniciamos nossa caminhada sentido a primeira montanha do dia, o angelo, logo em seguida seguimos para o vale, onde deixamos as cargueiras e fizemos um rápido ataque ao cume do Bandeirantes. O dia estava lindo, não muito quente e logo já estávamos com as cargueiras nas costas e seguimos para o cume do Pelado, chegando na asa do avião que caiu na década de 90, comemos um lanche e apreciamos alguns minutos as montanhas todas abertas. Seguimos para a base do Espinhento, onde seria nosso próximo ataque, montanha bem pouco frequentada, acabei escolhendo uma rota um pouco ruim e tivemos que praticamente pagar alguns lances de escalada para chegar ao seu cume, resolvemos descer por onde viemos e economizar tempo em achar uma rota melhor. Com as cargueiras nas costas tocamos para o Alvorado 2, onde chegamos um pouco cedo e resolvemos acampar no alvorado 3, por volta das 16h já estávamos no cume com os equipamentos estendidos para secar da noite anterior que molhou com a grande quantidade de orvalho. Nossa última noite e com a sensação forte que nossa jornada estava no final, preparamos nossa última janta com macarrão, linguiça defumada, molho, batata palha e Tang, o céu estava todo estrelado e a lua minguante embelezava ainda mais esse visual. Essa noite demorei para dormir, fui dormir já era mais de 3h da manhã, pensando em todo o planejamento, tudo que vivenciamos nesses dias intensos e uma gratidão imensa.
Cumes: Angelo, Bandeirantes, Pelado, Espinhento, Alvorada 2, Alvorada 3.

Décimo dia – Segunda Feira

Acordamos para nossa surpresa com um tempo fechado e muito vento, novamente guardamos como deu as coisas e partimos tomar um café no vale entre os Alvoradas. Logo em seguida partimos sentido ao Alvorada 4, que alcançamos rapidamente e logo em seguida já estávamos iniciando a subida para o cume do Mesa, no fundo do vale paramos para um lanche e tocamos sentido ao Sem Nome e depois Carvalho onde também existe alguns destroços de um avião que caiu na década de 60, essa trilha já está sendo muito mais frequentada, com muito sinal de erosão e sem contar com a quantidade de caminhos de ratos. Nosso próximo destino era o cume de Ferradura, onde já escutávamos barulho da cidade, o cansaço começava a chegar de uma maneira engraçada, pois o corpo já interpretava que estava no final da nossa jornada, passamos o cume do Ferradura e chegamos sem muita demora ao Morro do Vigia onde deixamos as cargueiras e atacamos o cume do Torre Amarela, trajeto esses bem frequentados e logo estávamos de volta com as cargueiras nas costas e indo sentido a nossa última montanha, o Morro do Canal. Era uma segunda feira, mesmo assim quando chegamos ao cume tinha um grupo de 4 amigos, onde explicamos o que fizemos e eles sem entender muito ficaram abismados, nos deram parabéns e falaram que éramos loucos (rsrsrs), batemos algumas fotos e eu avisei o Carlos Baraus “Amigo que iria fazer nosso resgate“ que estávamos chegando. Chegamos na fazenda, trocamos de roupa e esperamos nosso resgate. Aquele sentimento de gratidão por todos esses dias intensos que vivenciamos, por todo o cronograma, navegação, planejamento terem saído de forma perfeita e sem contar o tempo que colaborou e não pegamos chuva.
Cumes: Alvorada 4, Mesa, Sem Nome, Carvalho, Ferradura, Morro do Vigia, Torre Amarela, Morro do Canal.

Morro do Vigia

Percurso

61 cumes, 122 quilômetros, 13.371m de aclive e 13.123m de declive aproximadamente.

Fim da Travessia

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17 Comentários

    • hahahaha BEM ISSO, UM ALPHA CRUCIS COM ESTE NUMERO DE CUMES ATINGIDOS, TEM QUE TER ALGUNS PARAFUSOS A MENOS HAHAHAHA, zueira, foi muito planejamento, sinergia, entrosamento, organização e principalmente espirito e mente livres para qualquer circunstancia a ocorrer, FOI IRADO!! Somente agradecer a DEUS por esta trip ALUCINANTE !!

  1. hahahaha BEM ISSO, UM ALPHA CRUCIS COM ESTE NUMERO DE CUMES ATINGIDOS, TEM QUE TER ALGUNS PARAFUSOS A MENOS HAHAHAHA, zueira, foi muito planejamento, sinergia, entrosamento, organização e principalmente espirito e mente livres para qualquer circunstancia a ocorrer, FOI IRADO!! Somente agradecer a DEUS por esta trip ALUCINANTE !!

  2. Irapuã de Oliveira Pires em

    Parabéns guerreiros! Não conheços vcs, mas já está gravado seus nomes no panteão dos valentes desbravadores das serras do Paraná!
    Se eu soubesse antes, teria colado na loucura pra gravar um documentário!

  3. Parabéns Jorge e Ander 👏👏 feito para ficar na história e para poucos executarem. Obg por compartilhar esta experiência 😉

  4. Leandro Sant'Ana em

    TRIP INSANA!!! Parabéns Ander e Jorge, seus Doidos! Legal ter presenciado a passagem de vocês pelo Marumbi. Além do privilégio de ouvir vocês narrarem a historia, lá no camping, de quebra, pude presenciar uma verdadeira lição de espírito e garra. Valeu!!!!

  5. Parabéns aos dois guerreiros pelo feito!
    Salvo engano, por enquanto é a repetição mais “vitaminada” da AC, com 61 cumes em 10 dias, o que torna a incursão de vocês digna de destaque ainda maior.
    É uma travessia que envolve planejamento e determinação, além de experiência nos meandros das trilhas da nossa Serra do Mar. Esse é o tipo de desafio inspirador, que consolida e eleva a cada dia o nível do nosso montanhismo de travessias.
    Grande abraço!

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