Arrumei um tempo livre no final do ano passado pra chinelar mas não podia ir demasiado longe, até porque era o período entre festas. Optei então pelo tradicional ferrotrekking Águas da Prata-Cascata por já ter familiaridade com a região, que despertara meu interesse meados do ano passado noutro rolê com a Lau. Mas como a travessia por trilhos demandava apenas um dia, resolvi emendar alguns atrativos naturebas bem próximos de modo a otimizar três dias bem cheios, de preferência com altos visus e banhos refrescantes.
Uma vez com roteiro decidido fui atrás de transporte mas os ônibus praquela região já estavam todos lotados por conta da alta demanda no Reveillon. E agora, José? Aí fiz então uso duma plataforma virtual de caronas que me fora recomendada. E não é que o troço funciona mesmo? É uma rede virtual que junta condutores com lugares livres em seu carro com passageiros indo pro mesmo destino, rachando gastos. Basta se cadastrar no site (https://www.blablacar.com.br/) e procurar alguém indo pra onde você for. Pronto. Não deixa de ser uma forma alternativa, prática e barata de viajar, pois pra mim acabou saindo pela metade do preço que se tivesse viajado de busão. Só não viaja agora quem não quer.
Pois bem, minha viagem terminou sendo na cia da simpática Júlia, que ia pra Poços de Caldas e me buscou na frente do Metrô São Judas ás 8hr na cia dos demais caronas, todos jovens universitários. A viagem passou rápido em meio a muita conversa e assim a horizontalidade de Campinas, Mogi Mirim, Mogi Guaçu e São João da Boa Vista passaram quase despercebidas. Só atentei ao trajeto depois de passar por Águas da Prata, onde os recortes escarpados da respeitável Serra do Paiol e Serra do Monte Belo destoam da paisagem anterior, a minha direita.
Saltei as 11:30hr bem no limite dos estados de SP e MG, num bairro chamado oportunamente de Marco Divisório. Ali, pouco antes do portal que dá as boas-vindas a Poços de Caldas, tem algumas casas espalhadas e um posto de gasolina de bandeira Ale. Me despedi da Júlia e iniciei minha chinelada descendo quase 2kms ligeiramente inclinados no asfalto em direção ao bairro da Cascata, onde cheguei 15min depois. O lugarejo é minúsculo e logo de cara é cortado pela linha férrea, onde a velha estação desponta com sua arquitetura reformada, mas dela falarei com mais propriedade mais tarde.
Corto a linha do trem e me mantenho sempre pelo asfalto, acompanhando o emplacamento indicando “Faz. Chapadão”. Cruzo a minúscula área residencial (onde faço uma rápida parada pra clicar a capela local) e logo me vejo palmilhando uma estrada de chão, na direção sul. Sempre nela, os horizontes se ampliam logo após a tal Faz. Chapadão, onde uma bela elevação desponta a sudoeste. É a abaulada Serra do Monte Belo, que viemos acompanhando pelo outro lado, de carro. Seu ponto culminante é conhecido como Morro do Almeida Lopes, embora pelas cartas antigas ele leve o nome de Alto da Divisa, que julgo mais apropriado.
Pois bem, me mantenho pela estrada avaliando o melhor acesso á serra, que é logo encontrado. Abandono a via de chão na entrada da Faz. Pinhalzinho onde salto uma porteira azul ao lado, onde nasce uma precária estrada que vai se encontro os reflorestamentos que cobrem a base da serra, subindo suavemente. Mais adiante, num cruzamento, toco o ramo da esquerda que é o único que vai de encontro o morro. Uma nova cerca é transposta onde nasce uma trilha óbvia que inclusive está repleta de marcações de plástico e até setas amarelas pintadas, normalmente oriundas de corridas de aventura. Pronto, uma vez nesta picada não tem mais erro.
A ascensão inicialmente se dá de forma suave, em meio a uma bonita floresta generosa em sombra, acompanhando de longe um precário cercado. Mas não demora pra subida apertar e empinar de vez, onde alguns trechos mais íngremes no pasto demandam íngreme escalaminhada. Foi aqui que decidi me livrar da cargueira (escondendo-a no mato) pra agilizar a subida, puma vez que bastou abandonar a mata e cair nas descampadas campinas no primeiro ombro serrano pra sentir o peso do calor daquele inicio de tarde. Não havia sol e sim aquela nebulosidade clara com mormaço, que bastou pra deixar meu rosto ensopado num piscar de olhos. Ganhei então mais um cocoruto pirambeiro, onde fui forçado a descer um suave colo serrano pra dar continuidade aos finalmentes da ascensão. Mas foi este último trecho empinado que realmente me fez quase arrastar a língua no chão. Não bastasse o calor e ausência total de brisa e sombra, a trilha era composta por terra e pedras soltas exigindo esforço e cautela redobrada.
Mas firme e forte consegui ganhar antes das 13hrs os quase 1400m do Alto da Divisa, onde sentei num rochedo afim de descansar, beliscar um sanduíche e apreciar a bela panorâmica a minha volta. A paisagem de mar de morros descortinada tinha muita similaridade com os Altos da Bocaina apreciados do Alto da Boa Vista. O quadrante norte prestigia a pequenina Cascata encaixotada no fundo dum vale enquanto a Serra de Poços de Caldas e a de São Domingos destoam do panorama; o setor sul por sua vez privilegia as corcovas descendentes do resto da crista da Serra do Monte Belo, onde destoam, menores, no final o Morro da Bandeira da Revolução (ou Morro do Sobradinho) e o Morro dos Ventos, enquanto Águas da Prata se esparrama, minúscula, a seus pés. Pra oeste temos o sinuoso asfalto da SP-342 no sopé de morros menores, a medida que a leste sobressai o abaulado domo esverdeado do Morro do Serrote, lugar da continuidade da minha jornada até o resto do dia.
A descida naturalmente foi bem mais rápida e menos desgastante que a subida, e após pegar minha cargueira refiz exatamente o mesmo caminho no sentido contrário até o pacato bairro da Cascata. Dali tomei outra estrada (a única, aliás) de chão que vai na direção leste e que vai de encontro ao Morro do Serrote. Estradinha poeirenta e sinuosa esta que cruza o pontilhão sobre o Córrego dos Metais, passa por uma minúscula subestação da Sabesp e ignora a entrada da única fazendinha á esquerda. Caminhada tranquila no aberto com baixo ou sem nenhum desnível, felizmente, quando o Sol finalmente resolve dar as caras através de frestas no céu.
Mas não demora a abandonar a via de chão por outra menor, e mais precária, que surge á minha direita. Um portão de madeira de propriedade da Votorantim escancarando “Proibido entrar” assinalam a nova rota, que agora tende apontar sempre pra sudeste. A estrada ascende suavemente ao largo da colina, mas logo depois se estreita de modo a restar um vestígio de trilha bem evidente. A paisagem ao redor, que alterna campinas e vegetação arbustiva, imediatamente me recorda o cerrado que permeia o Parque Juquery, em SP, assim como o formato de domo do Morro do Serrote emula facilmente o Ovo da Pata. No caminho, pequenas pegadas e sujeirinha de aves são indícios da vida silvestre local.
A vereda se mantém naquele ritmo compassado até que estabiliza na encosta serrana, pra depois começar a descer forte em direção ao vale seguinte, passando inclusive pelo lado duma antiga cava de mineração. No fundo do vale adentro novamente no frescor da mata fechada e meus ouvidos se inundam com som inconfundível de água. Num piscar de olhos tropeço com um belo riozinho que pela carta deve ser um afluente do Córrego dos Pimenta ou Olhos Dágua. Daqui a vereda se bifurca sendo que uma de suas ramificações prossegue pra leste, provavelmente indo de encontro aos reflorestamentos avistados do cume anterior, enquanto a outra picada foge do vale subindo novamente pras encostas opostas do Morro do Serrote.
Minha intenção de chegar ali era buscar um bom local de pernoite, pois já passava de meados de tarde. Feito. Entretanto, umas marcações de plástico na mata, subindo o supracitado riozinho, despertam minha atenção. Curioso como sou, resolvo investigar rio acima, chapinhando com água até o joelho e cercado de farta mata ao redor. Escondo novamente a mochila e lá me mando, naquele aquatrekking imprevisto praquele dia. Como recompensa da minha breve exploração, após cerca de 300m rio acima me deparo com uma bela cachu de 10m com feições similares á cachu do Rio Vermelho (ou dos Grampos), em Paranapiacaba. Logicamente que ali mesmo, as 16hr, me brindo com meu primeiro tchibum no refrescante poço na base da queda.
Retorno á mochila em coisa de 10min e dali monto meu acampamento numa clareira próxima da água e rente a um vasto reflorestamento de eucaliptos. Devia ser coisa de 18hr quando me recolhi, logo após engolir minha deliciosa marmita, exausto daquele dia que emendou viagem e andança. O sol estava pra se debruçar sobre as serras a oeste, mas os braços de Morpheus me agarraram com força antes disso, pra largar somente altas horas da noite. Ventou bastante pela madrugada e chegou até fazer um certo frio. Mas felizmente nenhum sinal da tão alardeada chuva prevista praqueles dias. Ainda bem.
Na manhã seguinte levanto cedo, ás 6:30hr, afim de tornar produtivo aquele dia com promessas de bom tempo. Arrumo as tralhas na mochila e começo minha jornada meia hora depois, ao mesmo tempo em que mastigava um delicioso sanduba como desjejum. Bem disposto, subi rapidamente ao alto do Morro do Serrote pela continuidade da vereda no ribeirão, cume que situado bem nos limites SP/MG me dá outra perspectiva das serras, do Alto da Divisa, Cascata e vales ao redor, e imediatamente desço pra retornar pelo mesmo caminho ao supracitado bairro rural.
Chego no bairro da Cascata por volta das 8hr, no exato momento em que abre um minúsculo barzinho do lado da antiga estação, e onde rebato o desjejum com um delicioso pingado. Na rua os cascatenses iniciam aquele dia de semana ignorando a jararaca atropelada durante a noite, enquanto converso rapidamente com o jovem que me atendeu. Contou que a estação foi aberta junto com o ramal da Mogiana até Poços de Caldas, em 1886, e que foi desativada em 1976. O prédio foi restaurado e agora se encontra bem conservado, embora permanentemente fechado. Falou inclusive que pra sudeste da estação se chega na cachoeira que deu nome ao bairro, mas por estar já com tempo apertado deixei de conhecer. Fica a dica pra você ir lá visitar então.
Começo efetivamente minha pernada pelos trilhos ás 8:30hr e, diferentemente do dia anterior, o sol desponta com força por cima da morraria. Dou as costas ao pacato bairro deixando o borburinho pra trás e num piscar de olhos me vejo cercado de íngremes encostas e muita mata, serpenteando a via na direção sul. Caminhada agradável envolta no frescor matinal proporcionado pela sombra da serra debruçando-se sobre a ferrovia a minha esquerda, e pelos altos visuais proporcionados nas grandes aberturas ao margear os abismos despencando a minha direita. O primeiro trecho alterna resquícios de reflorestamentos mas logo depois a mata natural impera pelo resto do dia. E os sentidos se avivam tanto na audição, pelo rumorejo de água correndo nalgum lugar serra abaixo; seja no olhar, que se encanta ao avistar o Alto da Boa Vista elevando-se sob outra perspectiva e sendo contornado agora pela sua base esquerda.
A caminhada se mantem tranquila e compassada até que por volta das 9:50hr a paisagem se abre e os trilhos desviam abruptamente pra esquerda, adentrando num enorme vale formado pelas dobras serranas. Não bastasse, eis que surge uma enorme viaduto, a “Ponte de Tajá”, que fatalmente é preciso cruzar. Com cerca de 200m de comprimento, quase 50 de altura e totalmente exposta, avanço cuidadosamente pelos dormentes (que felizmente se encontram em boas condições) de modo a evitar os grandes vãos entre eles. No entanto, o problema aqui não é a estrutura nem altura, da qual se tem uma linda vista tanto do vale como do riozinho que corre sob nossos pés; o risco eram os marimbondos, dos quais já tinha sido alertado em Cascata pois tem várias colméias grudadas nas pilastras da ponte. Por conta disso cruzei a ponte em silêncio e sem muito alarde, mas eis que bem no meio do trajeto me aparecem três destes maleditos insetos que começam a orbitar ao meu redor. Paraliso imediatamente, feito estátua, mas por sorte os bichos desistem de me importunar. Fico ali o tempo suficiente prumas fotos e me pirulito dali, antes que os marimbondos mudem de idéia ou tragam cia pra me visitar.
Após aquela cênica ponte começo a abandonar o vale, saindo daquela estreita dobra serrana. No caminho existe um terreno relativamente plano a esquerda onde é possível acampar e encontrar uma nascente perto da ponte. Já a direita, observando atentamente rente a beirada do penhasco, estão soterrados vestígios da antiga Estação Tajá, que aliás empresta seu nome á ponte. Inaugurada em 1930 como posto telegráfico ela teve vida curta, servindo depois como parada com apenas uma casinha. Hoje só é possível, com esforço, encontrar ruínas da plataforma sob o farto capim rente aos trilhos.
O ferrotrekking torna então volta a seu rumo anterior, ou seja, mantem seu curso sinuoso pro sul rente á íngreme encosta. Sempre no aberto e cercado de vegetação arbustiva e ressequida, o sol começa a bater com força naquele contraforte aumentando a sensação de calor. Mas não demora outra vez pra adentrar noutra grande reentrância serrana onde um verdejante vale desce daquele miolo onde a Serra do Monte Belo se encontra com a Serra do Paiol. Uma oportuna cascatinha despenca dos paredões verticais a esquerda, onde tanto é possível molhar a cabeça como molhar a goela. E uma bela vista daquele contraforte verdejante que contrasta com os tons ocres de minutos antes.
As 11:40 hr e com sol de torrar miolos me vejo no vértice daquela dobra serrana, bem na entrada dum simpático túnel. Daqui partem duas trilhas em direções opostas que vou descrever bem, pois aqui fiz um pit-stop pra descanso e exploração. A picada da direita passeia pela encosta cheia de capim e se pirulita serra acima, indo pro topo do Morro da Bandeira da Revolução, rolê que dispensei pois já conhecia aquele cume. Já a outra vereda (da esquerda) mergulha na mata através duma íngreme piramba até cair nas margens dum borbulhante afluente do Córrego do Quartel. Aqui eu subi o riozinho (cautelosamente por cima das lisas pedras) por cerca de 1º minutos, passando por vários poços e quedas. E claro que foi num deles que estacionei afim de me refrescar, descansar e mastigar um lanche.
Revigorado, ás 12:30hrs encarei o tal túnel, que pelo que constatei tem menos de 100m, tem trajeto curvo e embora seja parcialmente escuro dispensou lanterna. A luminosidade natural dos extremos é suficiente pra permitir uma passagem bem tranquila. Logo então me vi saindo do outro lado, pra encarar o calor escaldante daquele inicio de tarde de mormaço e sol a pino. Sim, o trecho a seguir foi o mais desgastante pois, mesmo sem desnível algum e com chapéu, o terreno era plenamente exposto e o forte calor que irradiava do chão, conservado pela brita e cascalho, cozinhava a gente de baixo pra cima. Um inferno onde tive que fazer várias paradas pra hidratar e molhar a cabeça na escassa sombra a margem da via.
E assim, depois de andar novamente tocando pro sul sob forte sol, as 14hrs me deparo com noutro vale ao qual adentro suavemente. O lugar me é conhecido está na base do “Morro dos Ventos”, de onde partem duas picadas: uma sobe ao topo deste morro, programa que dispensei devido ao forte calor; e outra bem mais convidativa, que mergulha vale adentro prestigiando cachus e piscinas naturebas. Claro que foi esta que não pensei em pegar e lá fui eu, palmilhando aquela evidente vereda que costura as margens daquele borbulhante ribeirão, passando por vários lugares de acampamento. Em tempo, este vale é conhecido como “Sete Cachoeiras”, onde eu praticamente estacionei na “Terceira Queda”, pouco antes das 15hrs. Sim, fim de pernada por aquele dia e começo da curtição naquele balneário natureba do qual era dono absoluto.
Após muita diversão e até cansado de tanto tchibum, arrumei um lugar decente pra pernoitar e lá montei minha barraca. Os mosquitos endoideceram quando o sol começou a cair por trás das montanhas e imediatamente procurei me encasular afim de rebolar o queixo, pois a fome já apertava. E assim, a semelhança do dia anterior, caí no sono pouco depois das 19hr abatido pela caminhada daquele caloroso e extenuante dia. Só levantei de madrugada afim de “regar a moita”, apenas pra constatar uma efêmera garoa, mas logo depois tornei ao meu berço embalado pelo som hipnótico das cachus nas proximidades.
Na manhã seguinte levantei novamente cedo, coisa das 6:30hr, afim de terminar o restante do trajeto pelos trilhos, que pela minha estimativa não ultrapassaria 2hrs. A mochila engoliu rapidamente meu equipamento, enquanto engolia meu delicioso desjejum. O dia começava agradável, fresquinho e ligeiramente nublado, tal qual o anterior. Era bom começar a andar naquelas condições propícias antes que o calor infernal das 11hrs me surpreendesse ainda nos trilhos.
Parti do meu acampamento meia hora pouco depois das 7hr, refiz o trajeto rio abaixo e logo me vi outra vez pisando nos trilhos da Mogiana. Dando as costas ao “Vale das Cachoeiras” retomei então meu sinuoso curso rente ao sopé das ultimas corcovas da Serra do Paiol (ou da Prata), sempre na direção sul. Mas em menos de meia hora a rota desvia abruptamente pra leste, no mesmo instante em que é preciso transpôr a segunda ponte do trajeto. Menor que a anterior, ela tem cerca de 20m e dista quase 15m das águas calmas do Córrego da Platina. Seus dormentes estão em muito bom estado e sua travessia é bem fácil, sem nenhum problema.
Na sequência a paisagem muda consideravelmente e se torna basicamente rural, com abundância de capim-colonhão elevando-se nas margens da via. O vislumbre de fazendas salpicando aqui e ali, do pedágio na SP-342 não muito longe e do latido estridente de cachorros reforça estarmos já cada vez mais perto do nosso destino. Tanto é que neste trecho tropecei com dois grupos de trilheiros na direção contrária a quem acenei cordialmente, decerto indo se refrescar nas cachoeiras onde havia pernoitado.
Mas eis que ao cruzar um foco de farta vegetação antes do estirão final, ás 8:30hr, o rugido de muita água correndo nalgum canto desperta minha atenção. Uma picada terrivelmente íngreme a margem da ferrovia indica dali ser o acesso ideal pra tal queda. Escondo a mochila no mato e lá vou eu outra vez, literalmente desescalando um barranco quase na vertical, me firmando no mato ao redor até finalmente dar as margens dum enorme lago. Perto dali, uma enorme cachoeira despeja as águas do Córrego da Platina, represando as águas no lago a meus pés. Pausa pra relax e muitas fotos. Depois soube que ali era uma tal de Cascatinha, atrativo da cidade.
Voltando aos trilhos e já nos finalmentes, a direção novamente retoma pro norte (virando lentamente pra leste e sul) ao mesmo tempo em que emparelha com o Córrego do Quartel e a rodovia. Sim, o desnível de quase 400m desde a Estação Cascata foi imperceptível. Dali em diante a rota bordeja um belo paredão pela direita até que as primeiras residências começam a surgir, e em mais 10min me vejo pisando finalmente na bonita e bem conservada Estação Águas da Prata, situada bem do lado da pequena rodoviária da cidade. Inaugurada em 1886 e fechada nos anos 90, esta estação chamava-se “Prata” mas era mais conhecida como “Raiz da Serra” por ser a ultima estação antes da subida de serra mais acentuada. A cidade, por sua vez entupida de ciclobikers, nasceu da estação mas desenvolveu-se como estância hidromineral, de onde veio seu nome atual.
Era bem antes das 10hr quando me prostei na rodoviária, a espera do meu carona previamente agendado (no mesmo esquema da ida). Mas como vi que ainda era cedo fui comer algo, passear pela simpática cidade e depois bebericar uma deliciosa cerveja em frente á bonita Igreja Matriz. O Claudio passou por volta do meio-dia vindo de Poços de Caldas, e me pegou conforme combinado na cia de mais duas jovens. O resto da viagem até Sampa transcorreu sem maiores intercedências e no maior cochilo, a tempo suficiente de pisar no conforto do lar bem no final da tarde e pronto pra mais uma rodada de cerveja.
A travessia por trilhos de Águas da Prata até Cascata é bem sussa e tradicionalmente feita por andarilhos das cidades vizinhas, mas é totalmente desconhecida fora deste perímetro. Sim, decidi começar a pernada em Cascata por motivos logísticos e pra esticar aos atrativos extras já citados. Mas nada impede fazer unicamente o ferrotrekking (seja ele qual for o sentido) num dia apenas, pois a extensão total do trajeto é relativamente pequena. Pequena, porém desgastante pros paulistanos. Minha sugestão é dividir esta pernada em dois dias, num final de semana com camping selvagem, afim de aproveitar melhor as quedas da ferrovia, sem correria. Por exemplo, saindo 7hr de SP já se começa a andar ao meio-dia, em Águas da Prata. As 15hr se alcança com folga o “Vale das Cachoeiras” e permaneça ali o resto do dia, curtindo as quedas, acampado. No dia sgte termine a chinelada até Cascata, de onde se anda até o Marco Divisório e pega o busão que sai de Poços de Caldas, latão que passa de hora em hora. Simples. Mas e o trem, oferece algum risco? Olha, em todos os dias em que lá estive o trem só se manifestou na forma dum apito, ouvido bem de longe, no primeiro dia. O restante do rolê não vi sequer a cor dele, sinal de que tem baixa circulação. Mas fica o alerta unicamente do forte calor, dos marimbondos e das farpas nos trilhos, pepinos fáceis de contornar com bom planejamento e precaução. Agora é sua vez de ir lá e curtir esta simpática pernada pelos históricos trilhos da Mogiana, um ferrotreking que resgata um pouco da história daquela região da melhor forma imaginável: com altos visuais e banhos refrescantes.
4 Comentários
Belo relato! Conheço muito bem a região. Sempre estou lá e vou desde moleque pois a minha avó mora em Águas da Prata. Há muitas cachoeiras silvestres escondidas que só os locais vão. Quando for novamente dê um toque.
Obrigado por compartilhar!
Salve Ricardo, blza? você continua indo lá? Assim que amenizar essa situação quero voltar em Cascata, vc tem algum contato para passar, assim qdo eu voltar lá te dou um toque tbm.
Viajei no seu relato, muito legal, parabéns. Iremos amanhã com as crinaças mas até a ponte, sem atravessar
Olá quais os horários do trem?