Travessia Lagarto – Urubu

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Pto de partida de inúmeras aventuras pela região do Alto Tietê, Mogi das Cruzes completou neste último domingo 453 anos. Pra celebrar data tão importante pra cidade nada melhor q uma caminhada palmilhando o alto do seu guardião, a imponente Serra do Itapety. Caminhada sussa q, se valendo da emenda sucessiva de antigas veredas extrativistas, partiu da Pedra do Lagarto e findou no Pico do Urubu. Nada desafiante e sem pioneirismo algum, esta curta travessia foi apenas pretexto pra data tão especial não passar desapercebida. E proporcionar novos vislumbres de Mogi (“Rio das Cobras”, em tupi) do alto de escarpas q tb abrigam o Pq Natural Municipal da Serra do Itapety.

O sol brilhava forte no firmamento qdo nos encontramos em frente a Est. Estudantes da CPTM. Eu, Renata, Carol, sua filhota Sossô e a já figurinha carimbada Chiara saltamos do veiculo por volta das 9:20hrs. Lá encontramos o resto da trupe, composta pelo Bruno e a Lore, além da Luzita e o Lúcio. Após um rápido desjejum no tradicional tiozinho q fica prostrado ao lado do terminal – onde mandamos ver pingado e alguns sandubas – ajeitamos as coisas pra dar inicio á pernada daquele dia. A cidade, por sua vez, não escondia sua vocação de aniversariante. Cartazes e carros de som anunciavam constantemente os festejos espalhados por td Mogi, em especial no Centro Civico. Q logicamente seria nosso cobiçado destino pós-trip, visando as tradicionais barraquinhas de quitutes.
 
De estômago forrado, nos pirulitamos então rumo a serra por volta das 9:40hrs. O Itapey, por sua vez, desenhava-se elegantemente ao norte, espichando suas escarpas verdejantes por td aquele quadrante, recortando o horizonte do firmamento de tons azulados impares. Da estação cruzamos a linha férrea e nos embrenhamos pelas ruas situadas entre o Shopping Mogi e o terminal rodoviário, indo em direção ao extremo leste da almejada serra. Em caso de duvidas, basta seguir a sinalização sentido Bairro do Rodeio. Ao tomar uma larga avenida nessa direção, cruzamos com um raro e ainda límpido Rio Tiete, cujas águas ainda servem de refresco pruma família de patinhos, pra alegria da Sossô.
 
Após um tempão andando pelo asfalto com sol martelando forte nossas cacholas, as 10:30hrs pisamos enfim no chão de terra batida da Estrada Velha do Lambari, antiga via de conexão da cidade com o outro lado da serra. Na suave subida q se seguiu mergulhamos felizmente no frescor da mata mais fechada, pra alegria da Sossô, q já exibia sinais de desgaste devido ao forte sol. E após uma breve pausa de descanso – sim, afinal a pernada sempre vai no ritmo do menos condicionado – a subida tem continuidade, desta vez pra alegria da Chiara, q como sempre dispara na dianteira como q se auto-nominando guia da empreitada. No caminho, foi preciso segura-la pra não ser atropelada pelos infames motoqueiros off-road, q não raramente detonam mais a vereda provocando mais erosão do q já tem.
 
Mas a subida tem continuidade agora com declividade cada vez maior, e numa bifurcação logo adiante há a possibilidade de subir de forma porreta ou suave, como sinalizam duas pequenas e pitorescas placas “duro” e “mole”, respectivamente. São 11:10hrs qdo optamos pelo trecho moleza e tocamos pela direita, contrariando a sinalização de setas amarelas desenhadas no arvoredo. Estas nada mais são marcas de sinalização dos enduros e competições de mountain bike q costumam ocorrer na serra, assim como algumas fitas isolantes deixadas pelos organizadores, infelizmente, como lixo.
 
Pois bem, indo pela opção “moleza” logo de cara vem uma piramba íngreme com pedras roladas chamada de “Paredão Boliviano”, onde a caminhada embica quase em 40 graus de aclive e nos separa uns dos outros, deixando nossas línguas já arrastando pelo chão. “Caraca, se aqui é a via moleza imagina a pirambeira ´dura´ da esquerda!”, foi o q td mundo se perguntou naquele trecho onde ganhamos altitude num piscar de olhos. De fato, onhando por sobre o ombro víamos pelo verde arvoredo Mogi, cada vez mais e mais pequenina e distante, destacando-se ao sul.
 
Mas felizmente a piramba arrefece e quase q nivela, ao mesmo tempo em q uma brisa fresca sopra nosso rosto já mostrando suor farto escorrendo pela pta do nariz. E assim, as 11:30hrs, temos mais um breve pit-stop numa pequena saída pela direita q nos leva ao único (e último) pto dágua confiável do trajeto, onde molhamos nossa goela e abastecemos tds os cantis conforme nossa demanda do precioso liquido. Na sequencia, voltando a trilha a rota é mais do q clara, tocar sempre reto pro norte, bordejando a encosta serrana e ignorando qq saída pela esquerda. A caminhada é agradavel e suavemente em aclive, mas a sombra proporcionada pela mata em volta, um misto de mata secundaria e reflorestamento de eucaliptos, é mais do q bem-vinda da mesma forma q a brisa q eventualmente sopra atraves das frestas na vegetação. A estrada já Haia se estreitado o sificiente pra agora estarmos palmilhando uma legitima trilha.
E assim, as 11:45hrs, pisamos enfim na aderência porosa do granito da Pedra do Lagarto, uma enorme pedra q serve de mirante natural q repousa num dos colos serranos do extremo oeste do Itapety. Sua posição privilegiada, no meio da serra, permite vislumbre de ambos lados da serra: de Mogi, pequenina, ao sul; das corcovas florestadas do resto da crista, a oeste; e a horizontalidade de Sta Isabel e Igaratá quebrada pela Serra de Piracaia, ao norte. Donos absolutos dos 1090m do topo do Lagarto, ficamos literalmente lagarteando no lugar; enqto uns descansavam ou clicavam os arredores, outros beliscavam alguma coisa. E havia os q ficaram constantemente comendo algo, e buscando mais o q comer, inclusive na mochila alheia. “Tira o focinho da minha mochila, Chiara!”, era a exclamação mais comum ali. Tb pudera, a pulguenta parecia um saco-sem-fundo de tanto q comia sem parar!
 
O descanso e bem-bom do povo teve q ser interrompido por volta das 13:15hrs, horário q julguei prudente ao decidir “democraticamente” dar continuidade a pernada. À contragosto de alguns integrantes (mirins, principalmente) lá fomos  outra vez, retrocendendo a trilha até o ultimo gde cruzamento no caminho, q se dá num selado de ligação com o restante da crista. Aqui basta tocar pela picada q vá no sentido da crista, ou seja, rumo oeste. E la nos pirulitamos, inicialmente subindo forte pra depois descer no mesmo ritmo, visivelmente galgando mais uma corcova serrana. A minuscula Chiara, pra variar, despirocou na dianteira se achando a legitima cadelinha farejadora labradora.
 
Após andar um tanto ladeando o contraforte norte da encosta seguinte e de descansar (mais uma vez) num bem-vindo tronco do trajeto (pro Lucio se recuperar dum tombo “misterioso”), desembocamos noutra encruzilhada significativa do próximo selado no caminho, as 13:30hrs. Com as varias opções se desdobrando a nossa frente, algumas eram facilmente descartadas por não tomar rumo desejado, ou seja, a crista. Já a única opção viável tocando pela crista é a q menos parece provável, uma vez q era a menos pisada e havia inclusive uma fita isolante (dos downhill da galera MTB) barrando acesso. Azimutei a bússola pra oeste, respirei fundo, fiz o sinal da cruz e pedi pra galera me seguir. E la fomos nós.
 
A pernada pela crista se dá realmente por uma vereda bem menos (ou nada) pisada, com algum mato espesso obstruindo o caminho, mas bastante obvia e evidente pra quem tem farejo de trilha e sabe distinguir uma picada dum rastro qq. Em caso de dúvidas, bastava acompanhar os marcos de concreto onipresentes o tempo td. Claro q eu e o Bruno fomos na dianteira desobstruindo o caminho pro resto, utilizando tocos de madeira como facões nos trechos mais nervosos. Capim alto ornava a crista, assim como arvoredo de médio porte e td sorte de mata ressequida, espinhenta ou agreste, q eventualmetne se debruçava no meio do caminho. O pior era o maledito “capim-velcro”, q grudava na pele ao menor contato deixando marcas em braços e pernas deste q vos fala. Com ritmo mais lento o avanço progrediu sem interrupções, constante, pelo menos. Resumindo, no geral dava pra andar de boa, salvo alguns trechos onde havia q agachar, desviar ou simplesmente avançar na raça.
 
Foi ai q minha batata começou lentamente a assar ao ouvir o choramingo de alguem logo atrás. “Não vou mais acreditar nas suas promessas!” , resmungava a pequena Sossô. “Vc disse q não haveria vara-mato, e to me arranhando agora!”, completou, fazendo bico. “Vara-mato é ausência de trilha! Aqui tem trilha, so q com mato por cima!”, respondi pra ela, curto e grosso. Buscando abstrair os resmungos da pequena infante, procurei me focar mais nas condições do caminho na crista, q a cada avanço pareciam piorar cada vez mais. A sucessão dos abaulados selados e da sequencia de marcos de concreto ao menos indicava estarmos na rota correta, logo não havia o q se preocupar. No caminho, destaque pros onipresentes matacões, enormes blocos rochosos coroando a crista e forrados por td sorte de bromélias, alguns formando autenticas tocas onde decerto algum bicho deve se refugiar.
 
Pois bem, após andar hora e meia pela crista naquelas condições alcançamos o alto dum morro, mais precisamente 1135m, onde o rastro sumiu por completo. E agora, Jose? Como retornar td tava fora de cogitação decidi outra vez “democraticamente” q simplesmente tocaríamos pra oeste, descendo a encosta na raça, rasgando mato…ops, avançando como desse nesse sentido. Foi aí q a Sossô me fitou fizamente com um olhar q intimidaria o mais valente dos mortais, mas q no final teve q se resignar a sua condiçãozinha de agregada do rolê.
 
E lá fomos nos avançando, rasgando mato no peito ede modo a perder lentamente altitude. O inicio foi tenso pois havia q transpôr emaranhados de arbustos onde so foi possivel seguir em frente deitando sobre os mesmos. Passado esse trecho a encosta mostrou-se menos hostil, abstando desviar dos obstáculos no trajeto. Tentamos ate acompanhar uma vala ou curso dágua seco, mas o abandonamos assim q ele embicou no sentido contrario ao nosso destino. Teve ate um vrebe trecho de escalaminhada, onde vencemos uma boa metragem da encosta atraves de blocos de pedra empilhados.Desnecessario dizer q ate ali, alem de ralados, estavamos imundos de td sorte de mato imaginável e inimaginável.
 
Mas felizmente emergimos no aberto dum descampado duma fazenda por volta das 16hrs, onde foi so descer pelo capim alto pra delírio dos estridentes cãezinhos locais. Por sorte a Chiara já estava a um bom tempo na “garupa” da Carol, enfurnada dentro da mochila, invisível aos demais pulguentos. Foi ai q vi q ainda havia um pequeno e significativo obstáculo pra sair dali: um bravo pit-bull de singelo nome Lacraia q rosnou ameaçadoramente na nossa direção. Mas por sorte o Emilio, caseiro local, estava ali pra conter o feroz animal. Recomendação: evite adentrar ou sair pela fazenda pois nem sempre o caseiro esta ali e visivelmente percebe-se q estranhos não são bem-vindos.
 
Nos pirulitamos rapidinho da fazenda e tocamos o resto da caminhada pela Estrada Municipal, bordejando o morrote das Torres da Embratel (guardado tb por ferozes cães) até o Pico do Urubu. No caminho tropeçamos com dois caras vestidos como se fossem pra Lua, de tão equipados q estavam. Eram funcionários de Furnas fazendo monitoramento ambiental naquele setor do Itapety. Colocando armadilhas pra fotografar a fauna local coletavam dados pra medir o impacto ambiental q irá resultar da instalação duma nova rede de energia q irá rasgar a serra em breve. Comentou tb q td aquela vestimenta era pra se precaver das jararacas, q havia aos montes na mata. Claro q nesse comentário nos entreolhamos em silencio. Ah, se eles soubessem o q nos tínhamos acabado de fazer, uma vez q eles não faziam idéia de onde ficava a Pedra do Lagarto…
 
Chegamos enfim ao Pico do Urubu por volta das 17hrs, mas a impressão era a de q estavamos no estacionamento dum shopping Center tanta era a gente q havia lá. Diferente da Pda do Lagarto, os 1140m do pto culminante da Serra do Itapety estava totalmente tomado pela muvuca e farofa. O aniversário da cidade havia concentrado boa parte dos turistas ali, pois rolavam vôos de parapente e paraglider naquela hora. Indiferentes a muvuca, nos acomudamos num lugar menos movimentado enqto descansávamos e apreciávamos a bela paisagem q a panorâmica de 360 graus revela: longe, ao norte, a Serra da Mantiqueira; a oeste, as cidades de Suzano, Poá e Itaquaquecetuba; a leste, a extensão da Serra do Itapety; e ao sul vemos td  a cidade deMogi das Cruzes com a Serra do Mar ao fundo, de onde destoa o espelho dágua da represa de Taiaçupeba.
 
O descanso durou pouco pois afinal ainda tínhamos q descer os quase 400m de desnível pra chegar na cidade. Ainda havia um longo caminho pela frente e em breve o Sol iria se debruçar a oeste, no horizonte. Pra agilizar e vencer rapidamente esse desnível decidi (sempre “democraticamente”) descer não pela Estrada Municipal e sim pela “Trilha da Onça”, uma picada utilizada pela galera mogiana de downhill. E coloca dowhill nisso! A vereda já começa embicndo na vertical, e a descida foi bem mais demorada por conta disso. Devido a trechos escorregadios e bastante íngremes o q era pra ser rápido demorou pois havia q ajudar uma temerosa Sossô, q não bastasse o vara-mato agora era agraciada com uma sequencia inipterrupta de “sky-bundas”. Desnecessario dizer q áquela altura do campeonato minha batata já não tava mais assada e sim fritando em óleo fervente!
 
A la fomos nos, descendo cuidadosamente aquela íngreme picada nos firmando no mata ao redor e degraus arenosos q se mostravam mais confiáveis. A Chiara logicametne q foi na mochila, e a Sossô teve assistência necessária pra vencer os trechos mais pirambeiros. Quem penou aqui foi a Renata, cujo joelho já dava sinais de forcação de barra durante a crista, mas devagar e sempre conseguiu seguir em frente conforme seu ritmo ditava. Como td q ta ruim pode piorar, o tempo passou e a escuridão nos surpreendeu no meio da mata, mas felizmente havia dois fachos de headlamps pra guiar nossa íngreme rota e desviar dos abismos á direita. Dessa forma, devagar e sempre, perdíamos altitude enqto as luzes de Mogi cintilavam bem na nossa frente.
 
As 19hrs a picada desembocou no comecinho do asfalto da sinuosa Estrada Municipal, onde a Luzita e o Lucio nos aguardavam preocupados. Juntos, descemos o restante q faltava ate o sopé do morro pra, enfim, buscar os veiculos. Contudo, o joelho da Renata realmente a impossibilitava de seguir em frente, tanto é q encostamos no primeiro bar do caminho e a Carol solicitou a um senhor q, bastante solícito e prestativo, buscou um carro pra gente poder resgatar os veículos e recolher a galera no bar. Com a Carol e o Bruno indo buscar os veículos, o restante ficou a espera bebemorando a primeira rodada de refri e breja naquele boteco meio esquisito, onde rolava uma festa e nãos e sabia quem era “menina” e quem era “menino”. Foi ai q a Lore perguntou do paradeiro da pulguenta, q por sinal havia sido trancafiada  e esquecida na mochila pela insensivel dona.. Óh, dó!
 
Qdo os veículos chegaram zarpamos imediatamente pros festejos programados p/ cidade, na “ExpoMogi”, onde mandamos ver a segunda rodada de bebemorações e, principalmente, uma incursão por tds as barraquinhas repletas de deliciosos quitutes. Isso sem falar na trilha sonora q embalou td aquele catártico fuzuê, ao som do show do Cauby Peixoto (& Orquestra! Live!), q embalou um “New York, New York” meio comedido, mas q causou comoção geral nos visitantes septuagenários ao cantarolar seu maior hit, “Conceição”. Até lá já badalava além das 22hrs e meia hora depois vazávamos rumo a Terra da Garoa, cientes do dever mais do q cumprido. E finalizado com garbo e elegância nestas belas bandas do Alto Tietê. Parabéns, Mogi das Cruzes!
 
Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos
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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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