Travessia Torre Amarela – Vigia – Canal

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Qdo se fala em Marumbi imediatamente vêem a mente um conjunto de vários picos, dos quais se destacam o Gigante, Pta do Tigre e o Olimpo, em Morretes (PR). Entretanto, o maciço do Marumbi avança planalto adentro revelando vários outras montanhas selvagens nada visitadas em virtude das proibições do Parna homônimo. Contudo, o extremo oeste desta majestosa serra finda em três respeitáveis maciços isentos de qq restrição de acesso. São eles, o Vigia, a Torre Amarela e o Canal, onde é possível realizar uma travessia radical de crista ideal prum domingo de tempo bom. Uma pernada q exige mta escalaminhada, senso de direção, suor e bastante adrenalina, porém recompensada com visus privilegiados tanto de td conjunto do Marumbi como da região q a acolhe.


Enqto rodávamos pela BR-277, rumo Botiatuva ouvia o mp3 do radio tocar pela enésima vez a voz fanha da Joan Baez cantando “Blowin in the Wind”, do tb bem anasalado Bob Dylan, mas quiçá pelo contexto e expectativa da pernada q teríamos naquele dia a musica não soava nem um pouco enjoativa. Pelo contrario, já nos colocava no clima do q viria:

“…How many years can a mountain exist,
Before it´s washed to the sea …..
The answer, my friend, is blowin´ in the wind
The answer is blowin´ in the wind…”

E não era pra menos, já do próprio asfalto sentido litoral, bem próximo ao pedágio, podíamos avistar o Morro do Canal, a Torre Amarela e o largo domo rochoso do Morro do Canal elevando-se elegantemente da Serra do Marumbi, porem no extremo oposto do conjunto tradicionalmente conhecido. Estamos em Piraquara, a pouco mais de 30km da região metropolitana de Curitiba. E quem dirigia o veiculo era meu velho amigo paranaense de pernadas locais, o Julio Fiori, q sugerira sabiamente o bate-volta praquele dia. Tem pouca coisa q o veterano montanhista já não tenha feito pelas serras do sul e a travessia Vigia – Canal era um destes programas sempre adiados por um ou outro motivo. Isso dava à empreitada o gostinho de verdadeira exploração dado nosso desconhecimento total do q encontraríamos pela frente.

Pois bem, após abandonar o asfalto e circular um tanto pela tortuosa Estrada dos Mananciais nas nascentes do Rio Iguaçu, passar por vários sítios e haras, alem do simpático vilarejo-presépio de Santa Maria do Novo Tirol da Boca da Serra – do qual se destaca a bela Igreja Nossa Sra da Assunção – e bordejar boa parte da Represa do Cayuguava (ou Sanepar), eis q finalmente damos na Chácara do Zezinho, as 9:50hrs. Uma placa indica estarmos na cota dos 950m de altitude e limita-se a duas casas sendo uma delas uma lanchonete improvisada com alguma infra de apoio a montanhistas. Estava td fechado e não vimos sinal do tal Zezinho, espécie de “Dilson” local que não cobra por acesso.

O sol timidamente abria espaço entre as nuvens e dava aparente sinal de mais um lindo dia, q ficou só na aparência mesmo. Mochilas de ataque nas costas, imediatamente tomamos direção da placa apontando a batida e manjada trilha do Morro do Canal. No entanto, um pouco antes dela adentramos em meio ao arvoredo à esquerda onde se encontra a discreta picada pro Vigia, precariamente sinalizada. Depois soube q o próprio Zezinho preferia q ninguém soubesse do acesso à esta montanha dado o gde numero de pessoas q nela se perde, dando preferência à facilidade óbvia do Canal. Contudo, como nossa intenção era justamente começar pelo Vigia e terminar no Canal fomos assim mesmo, nos valendo de nossa experiência serrana.

Uma vez no rumo certo não tem mais erro, basta acompanhar essa agradável trilha natural em meio à espessa mata, subindo e descendo suavemente, chapinhando algum brejo ou cruzando algum pequeno riacho. Mas não demora pra subida apertar de vez, nos obrigando a galgar na base da escalaminhada a íngreme encosta montanhosa através de pirambas verticais, emaranhados de raízes q servem de escada ou enormes blocos desmoronados de pedras! Diferente de muitas montanhas no Paraná, o caminho passa por entre diversas grotas formadas pelo encaixe destas pedras gigantes, uma delas chamada carinhosamente de “Refrigerador”. Em alguns pontos é possível ouvir o barulho da água em meio ao breu lá no fundo.&nbsp, No caminho a densa e espessa vegetação diminui de tamanho, dando lugar a voçorocas de taquarais e bambuzinhos ladeando um chão forrado de enormes bromélias.

O auto-imposto ritmo pesado faz com q ganhemos altitude num piscar de olhos, e as 10:40 emergimos no aberto já com visu das três montanhas a serem conquistadas! Visivelmente andando numa pré-crista contornamos em espiral a pedra final q dá acesso à Torre Amarela pra esbarrar com a bifurcação q leva ao Vigia, pra esquerda. Tomamos então à direita ladeando uma enorme muralha pra depois, com auxilio de uma corda providencial, ganhar mais um patamar. Neste trecho é recomendável nem olhar pra baixo, pois é bem exposto!

O ultimo trecho é feito na escalada pura e simples e as 11:20hrs nos vemos no privilegiado cume rochoso da Torre Amarela, q mais lembra um dedo de pedra apontando pro céu! Pausa prolongada básica pra descanso e contemplação sem pressa da bela paisagem q se descortina á nossa volta, com destaque pro enorme espelho d´água da Barragem de Piraquara refletindo um céu alvo encoberto de nuvens. Pois é, o tempo q começara tão promissor não tava correspondendo agora, ameaçando inclusive fechar com direito a fina garoa fustigando nosso rosto.

Retomamos então nossa jornada as 12:30 voltando pra bifurcação pro Vigia, enqto as nuvens encobriam td quadrante leste da Serra do Marumbi. A picada envereda então através de uma crista coberta de bambuzinhos e aqui não é tão obvia como antes, pois há necessidade de farejá-la em mais de uma ocasião. Após um tempo bordejando a crista pela sua encosta direita emergimos no aberto em meio a pequenos cocorutos rochosos. Com visibilidade do nosso destino evidente bastou azimutar e tocar fundo sem maior dificuldade rumo os vários rochedos q assinalam o alto dos 1.319m do Vigia, as 14hrs, dos quais se destaca uma pedra pontuda q o Fiori fez questão de escalar.

O tempo agora parecia mais generoso, abrindo razoavelmente revelando o porquê da razão deste nome, Vigia. A montanha tem uma vista privilegiada da Torre Amarela e do Canal, erguendo-se altivamente sobre estas tais qual um sentinela. Do alto a paisagem tb descortinava estendendo-se à leste td a verdejante cadeia do Marumbi com destaque pro Ferradura, Carvalho, Sem Nome, Mesa, Alvoradas, Espinhento, Chapéu, Chapeuzinho, Pelado, Bandeirante, Ângelo, Leão, e finalmente os ilustres e agora minúsculos Boa Vista, Facãozinho, Olimpo, Gigante, Torre dos Sinos e Abrolhos, seguidos de outros cumes menos significativos.

Após um breve lanche seguido de um descanso básico, retomamos nossa pernada agora pra oeste, isto é, rumo o Morro do Canal, de onde perfeitamente avistávamos vários pontinhos indo e vindo em seu cume, num frenesi de formigas coléricas. Pois bem, era aqui q a porca torcia o rabo, pois havia varias picadas entre os rochedos e lajes q marcam o cume do Vigia. Tentávamos uma e outra, mas q fatalmente ou não levavam a lugar nenhum, perdiam-se na mata ou simplesmente dava a volta através de fundas grotas. Pensando bem, a preocupação do Zezinho tinha mesmo fundamento. Após andar em círculos, entre um farejo e outro terminamos descobrindo uma picada q ia no sentido desejado, discretamente pisada entre duas enormes rochas. Ufaaa! Estávamos finalmente na crista do Vigia rumo o Canal.

Pois bem, a picada deu uma espécie de volta enorme no alto pra somente depois mergulhar outra vez na mata fechada, perdendo altitude suavemente ao ir de encontro ao fundo vale q nos separava do Canal. Uma vez no selado e chapinhar através de um extenso brejo q alternava raízes de tds os tamanhos, tropeçamos com uma enorme e larga muralha de pedra de quase uns 15m verticais!!! Pois bem, é este trecho q separa o joio do trigo, ou seja, quem conclui a travessia ou não. Enqto o Fiori subia o paredão com a desenvoltura natural de um calango profissional por uma corda ali disposta pra essa finalidade, eu busquei inutilmente alguma outra opção de subida por ambos os flancos, dadas minhas experiências desastrosas com escalada semi-profissa e a bela recordação no meu combalido “derrière”. Não tinha jeito mesmo, ia ter q subir no braço aqueles 15m verticais de 90 graus! Respirei fundo, segurei a corda firme e lá fui eu. A medida q ganhava altura aos poucos, parei em mais de uma ocasião ancorando o corpo nas fissuras/agarras da rocha de modo a descansar os braços, q aqui se empenhavam herculeamente em carregar os 70kg deste q vos aqui escreve. E sem olhar pra baixo em nenhum momento, diga-se de passagem.

Uma vez transposto este obstáculo bem significativo, prosseguimos a travessia sem mais nenhum obstáculo. Após ziguezaguear arbustos em suave aclive e contornar a base do morro pela esquerda, as 15:30 damos no alto dos 1.280m do largo e abaulado cume do Morro do Canal, onde haviam alguns turistas e montanhistas. Forrado de capim e com varias clareiras a disposição, a vista daqui tb não deve nada aos demais morros, de onde pudemos observar td o trajeto feito desde o inicio do dia sob outra perspectiva! Como tb imagens belíssimas das represas Cayuguava, Curitiba, Piraquara, da Baia de Antonina e de outras montanhas distantes da Serra do Mar.

Mas aqui o tempo de visita foi abreviado em virtude de um negrume ameaçador q tomou conta subitamente do céu, trazendo tanto um forte vento frio como uma fina e úmida garoa. Dessa forma, tanto nos qto os turistas da ocasião resolvemos descer em fila indiana através de uma trilha fácil, pra lá de obvia e evidente! O primeiro trecho de aderências íngremes tem auxilio de correntes e escadas fixas na rocha, mas uma vez q o terreno suaviza segue-se um ziguezague interminável q mergulha na mata sem dificuldade nenhuma, tanto q no caminho encontramos famílias inteiras com as crianças.

As 16:20 estávamos de volta ao veiculo, mas claro q antes de pegar estrada fizemos um breve pit-stop no “Bar do Canal”, onde mandamos ver uma cerveja gelada acompanhado de uma suculenta coxinha pra comemorar a breve, porem árdua e maravilhosa pernada. O tempo novamente abria apenas pra nos pregar nova peça, mas e daí? A travessia afinal havia sido concluída, neste rincão privilegiado e pouco conhecido da notória e majestosa Serra do Marumbi. Contudo, é de se esperar q um dia seja liberado o acesso responsável e consciente do restante do maciço, detentor de outros picos selvagens q não devem em nada em beleza e imponência ao Vigia e o Canal. Bem, a resposta à essa indagação fica no oportuno refrão da musica do Bob Dylan:
&nbsp,
“The answer, my friend, is blowin´ in the wind
The answer is blowin´ in the wind..”

Fotos e Texto de Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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