A neve brasileira – Entre sessões de quimioterapia – parte 2

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Um detalhe que deixei passar na primeira parte do relato foi algo no mínimo engraçado. Comprei todo tipo de suprimentos para esta viagem e acabei constituindo uma verdadeira UTI móvel no meu kit de primeiros socorros que, antigamente, se resumia a 2 cartelinhas de dorflex. Agora, é possível fazer um curativo de grande porte com tudo que eu levo e, além disso, manter uma assepsia relativamente confiável. Até um oxímetro carrego comigo que serve para verificar frequência cardíaca e saturação de oxigênio. Pois bem, comprei máscaras novas para usar dentro da barraca, e acabei esquecendo em casa. Problema…Quando chegamos na rodoviária antes de ir fui a farmácia comprar novas, daquelas fininhas que duram um dia de uso só. Adivinhem o nome da marca? “Neve”. Ainda tinha no logotipo um pico desenhado. Ah!

Estávamos, como eu dizia na primeira parte do relato, sendo meio que a “sensação do momento” no Morro das Torres. Dei a entrevista pra TV local (vide vídeo abaixo) e fotografamos o máximo que deu tomando o cuidado de não detonar com as câmeras é claro.
(apareço a 3’17” de vídeo)
Daí o frio começou a apertar, foi a chegada com força da massa de ar polar. Amanheceu a zero grau, durante a manhã inteira a temperatura se manteve em -0,5°C ou similar e sem vento, quando deu meio dia começou a ventar bastante e a temperatura começou a cair. Após uma hora e quarenta minutos de nevasca, parou de nevar. Um negativo, dois negativos, três negativos…Até que deu uma da tarde e a temperatura estabilizou em -4,1°C negativos. Daí, associado ao vento de pelo menos 50 km/h (podia ser mais forte facilmente, chuto esta medição), a sensação térmica era de -23°C. Frio. O frio mais forte que senti em uma montanha brasileira sem dúvida. Mais frio do que o que sentimos em 2011 no Morro da Igreja, quando pegamos temperatura real de -2°C e sensação térmica de -15°C.
A saúde sanguínea também tem como função o aquecimento do corpo, então eu sinto mais o frio agora do que ha três anos, meus pés doíam um pouco e minhas mãos não conseguia deixar de fora para duas fotos consecutivas. Tirava uma e aquecia as mãos por quatro ou cinco minutos. Paulo sentiu muito frio nos pés, mas o tranquilizei sobre a possibilidade de congelamento, ali, àquela temperatura, quase nula. Então ele continuou a fotografar e se embrenhou pela vegetação rasteira rumando para a encosta que tinha vista para a cidade de Urupema propriamente dita. Eu continuei sempre próximo à barraca caso alguma emergência acontecesse, então, meu ângulo de fotografias era para montanhas próximas e visão em direção a próxima vila que, por direito, deveria ser a verdadeira dona do Morro das Torres, cidade de Rio Rufino, por pura proximidade. De Urupema são quase oito quilômetros até o topo do Morro das Torres e, de Rio Rufino, apenas seis.
Em um determinado momento dei voz a meu corpo, os sinais eram de muito frio e por isso, desgaste nas tentativas frustradas de me aquecer nas pernas e pés, daí a decisão foi rápida, entrar no carro. Conseguimos abrir o carro pela mala, que não recebeu incidência dos ventos e portanto não tinha sincelo cobrindo a fechadura, sorte. Entramos no carro e com dificuldade abrimos as portas congeladas, pegamos a comida e almoçamos dentro da barraca, onde decidimos de imediato descer já que o objetivo já fora concluído, registrar a neve brasileira. Estávamos bem, sorridentes, de barriga cheia, mas preocupados com a situação de nossos sacos de dormir, com diversos pontos molhados, abundantemente. A bota do Paulo estava bastante molhada ainda, até a bolsa de minha câmera estava um pouco molhada. A situação era tranquila, sob total controle, já que não choveria mais e as chances de nevasca eram baixíssimas, mas, com a minha condição, era arriscar demais a toa.
Isso era um problema sério pra mim, muito arriscado ficar ali e me sujeitar a dormir em um saco molhado na próxima noite que seria mais fria. Sou ousado, mas nem tanto. Após almoçar começamos gradativamente a guardar as coisas no carro como dava, nem nos preocupávamos em organizar tudo dentro da mochila, poderíamos fazer isso na cidade.
Neste momento o frio era intenso e ficou complicado pra mim. Meus batimentos estavam a 135 só pro meu corpo tentar me aquecer, mesmo com camiseta, fleece e pluma de ganso, e parado sem me mover, o que me deixava confortável tronco, mas sentia bastante frio nas pernas. Não adiantava, o esforço era em vão. Ligamos o aquecimento do carro e fiquei dentro por uns minutos, melhorei e os batimentos baixaram pra 95.
Daí a rotina foi esta, liberei o Paulo pra caminhar mais um pouco e me encarreguei de colocar tudo dentro do carro na velocidade possível, então eu ia até a barraca, buscava alguma coisa, colocava dentro do carro, repetia, daí o frio pegava e me aquecia por mais dois minutos. A rotina foi rolando e depois de umas três repetições destas o Paulo terminou suas fotos e veio pra acabarmos juntos de recolher tudo.
O problema foi a finalização, a barraca. Estava coberta por uma camada de 2 cms de gelo de um lado inteiro, que se formou com a chuva noturna, a chuva congelada das seis às dez da manhã, e a neve que acumulou sobre o que já havia. Creio que dava uns cinco a sete quilos de gelo sobre só um lado da barraca já que o outro não teve incidência de ventos e precipitação. O resultado foi inevitável, eu não conseguia soltar um dos specks. Estava congelado envolto em 1cm de gelo. A solução foi fácil, o primeiro que tivesse vontade de descarregar a bexiga o faria ali pra derreter o gelo. O premiado foi o Paulo. Aí o gelo derreteu, se soltou a amarra, e conseguimos terminar de colocar tudo dentro do carro.
(video de Paulo Fabre)
Quando fizemos este vídeo já havia parado praticamente o vento.
O horário avançara rapidamente, e já era três da tarde, então queríamos descer logo e comemorar em São Joaquim com um jantar. Tirar o carro também deu um certo trabalho, porque derrapava no gelo acumulado no chão. Colocamos o que sobrou do papel que forramos sob a barraca (que o Zani nos deu, a princípio parecia que iria ajudar bastante como uma lona já que ele era meio que plastificado, mas na verdade não funcionou e se desfez quase todo diante da força da natureza) junto do pneu e fazendo uma pequena trilha de um metro, deu certo, o carro saiu. Aliás, o carro não teve nenhum problema sequer para pegar, mesmo coberto por 2 cms de gelo quase que completo.
Iniciamos a descida por volta de três e meia da tarde e, como não poderia deixar de ser, aumentamos o número de interessados pelo nosso carro, que mesmo estando livre do segundo para-brisa de gelo que conseguimos remover com a ajuda do aquecedor do carro e a porradas com as mãos protegidas com luvas, ainda assim tinha as portas, teto, e frente completamente congeladas. Resultado, causamos mais engarrafamento na estrada lamacenta que dá acesso ao morro. Todo mundo que passava queria fotografar o carro, e a grande maioria ainda comentava conosco sobre o estado do carro.
Trânsito se formou, e descíamos devagar, e por um momento quando chegarmos à altitude de 1.550 metros, onde há um “Y” na estrada e uma construção, pensamos que seria por causa da “Cachoeira que Congela” que fica logo à frente, mas, na verdade, ela não estava congelada. Show que ficou reservado ao próximo dia pela manhã e que perdemos por estar já no conforto gélido da casa da tia do Paulo. Depois explico a expressão “conforto gélido” (risos). Na verdade o frenesi da subida era pra conseguir que fosse uma foto ao lado de algum acúmulo de neve antes que derretesse, e o acúmulo já foi pouco. Dúzias de carros por subir, praticamente nenhum descendo.
Seguimos perdendo altitude e após bons trinta minutos que poderiam ser resumidos a cinco sem trânsito, atingimos os 1.340 metros da vila de Urupema novamente. Sequer paramos, fomos embora, fazendo um caminho diferenciado pois o Paulo queria atravessar uma estradinha de terra que leva a outra vila próxima de São Joaquim, onde seu avô se estabeleceu e foi dono de um mercadinho. A curiosidade bateu e ele queria ver como estava a vila depois de tantos anos. No caminho, pegamos uma curtíssima nevasca na estrada a só 1.000 metros de altitude, que durou três ou quatro minutos.
A vilinha se chama Santa Izabel, e se resume a duas ruas principais, e uma adicional que sai da pracinha. Deve ter provavelmente quinhentos moradores só, se chegar a isso. Paramos, estacionamos o carro na porta do mercadinho que era do avô Paulo Fabre (mesmo nome), e entramos. Paulo começou a conversar com três locais e acabamos ficando ali por quinze minutos bebendo um café quente e escutando os “causos” que os “caipiras sulinos” nos contavam do avô do Paulo e do tio dele, que conheci no dia anterior. Depois do papo nos despedimos e lá pelas cinco da tarde retomamos o caminho a São Joaquim, onde novamente, por dois ou três minutos, nevou na estrada.
Chegamos na casa da avó dele, entramos, largamos nossas coisas, e  imediatamente saímos pra dar uma volta e ver como estava a cidade, deixamos pra organizar o carro na manhã seguinte.
Uma festa generalizada, a cidade estava lotada, muitos turistas vieram com a previsão de neve e, quem chegou na noite anterior, deu sorte, pois pelo que escutamos nevou em São Joaquim mais do que no próprio Morro das Torres, infelizmente tudo derreteu rápido e não pudemos ver como ficou. Voltamos pra casa e tomamos um café com a avó do Paulo, café com rosca é claro, depois saímos pra jantar fora e comemorar o sucesso da viagem.
Andando pela cidade constatamos que ainda estava lotada, e que não dá conta da demanda de tanta gente que encara uma longa viagem até lá quando há previsão de neve. Tudo lotado, até a pracinha estava completamente repleta de gente fazendo fila pra fotos perto da árvore cheia de cristais de gelo (a prefeitura molha ela propositalmente para que congele no frio, trabalho colaborativo homem x natureza), muita gente meio que “perdida” andando pra lá e pra cá. Os restaurantes? Lotados, todos. Nossa intenção era de jantar fora, portanto começamos a bater de porta em porta por uma mesa, eu, Paulo e Fabrício, um primo dele.
Só conseguimos um local pra comer depois de uma hora buscando, o único local em que não nos deram tempo aproximado de espera de duas horas. Mesmo assim, aguardamos meia hora até sentar e fazer o pedido. Bem, valeu a pena, a comida era boa, o atendimento cordial…Valeu.
Em casa de novo, entramos em contato com a tia dele, Gica, onde passaríamos a noite para depois de descansar, fotografar pela manhã, já que trata-se de uma pequena chácara com ampla área, araucárias, campos de altitude…Belo demais!
Fomos até lá, nos acomodamos, e as coisas continuavam largadas dentro do carro! Na casa da Tia Gica ainda havia alguma neve acumulada pelo mato, pela cerca, no jardim, já que lá nevou com maior intensidade. A única diferença da casa dela pra casa da avó do Paulo se resume a cerca de 4 kms de distância, fora dos limites da cidade e, além disso, em média dois graus mais frio. A casa dela fica a exatos 1.400 metros de altitude.
Chegamos lá já a noite, fazia muito frio, nos aquecemos na cozinha conversando enquanto ela trabalhava nos seus doces, fomos presenteados com um delicioso chá de maça…Ahh…anos que eu não bebia esse chá da fruta…
Conversamos um pouco contando nossa aventura, e depois ainda cedo, creio que era nove e meia da noite, nos recolhemos pra dormir. Ficamos em um quarto de hóspedes que não parecia ser muito gelado, mas…risos…
Rapidamente apaguei, estava cansado, sangue pobre drena minha energia que já é pouca por causa da doença e da saída da aplasia. Só levantei no meio da madrugada para aliviar a bexiga e voltei correndo pra debaixo das cobertas, estava frio. Quando o celular do Paulo despertou, resolvemos ficar mais uma hora para deixa o sol nascer, olhei o meu relógio e dentro do quarto, a temperatura era de somente 3°C. Diabos! Ahahahah
Dormimos mais uma hora, que obviamente voou. No despertar do seu celular pela segunda vez, não aguentamos de curiosidade (havia previsão de neve também para esta manhã) e vestimos tudo que tínhamos, olhei o relógio antes de prender o apetrecho na mochila pra medir a externa também, e marcava 2°C. Mas que quarto gélido! Saímos imediatamente para fotografar levando as câmeras e meu tripé. Não nevou, mas o frio estava de “renguiar o cusco”, -4°C, era oito da manhã.
Começamos a caminhar, quem fica parado sofre com o frio, e fomos clicando à gosto. Depois de algum tempo chegamos ao limite do terreno da sua tia onde há um vizinho e uma plantação de maça, um pequeno produtor local. Fotografamos, e ali, naquela linha de araucárias e pinheiros, havia ainda alguma neve acumulada no chão. Fotografei e começamos a mudar o rumo em direção a uma colina próxima.
Neste momento decidi não arriscar e não exigir demais de meu adoecido corpo, Paulo seguiu para subir a colina e eu fiquei onde estava buscando texturas legais ou outras coisas para fotografar. Insetos nem pensar, os que não congelaram estavam se aquecendo em seus buracos com cobertas e lenha em brasa. Então fiquei vagando lentamente no meio de um enorme charco semi congelado, que me oferecia o conforto de pisar sem molhar os pés.
Em cinco minutos o Paulo chegou no topo da colina e fotografou bastante de lá, e seguiu a crista retornando. Eu segui onde estava e comecei a retornar em direção a casa, já distante quase um quilômetro.
Nesse momento, Paulo desceu e nos encontramos na porta da garagem da casa, e decidimos de imediato contornar a propriedade pra fotografar em um bosque de Araucárias que fica dentro do terreno do caseiro de sua tia, então não perdemos tempo, parar demais dá frio! Seguimos pra lá.
Chegando na casinha fomos recebidos por uma verdadeira gangue canina. Dois adultos grandes sendo um pastor, um sem raça definida cego de uma vista, e diversos menores, creio que uns cinco ou seis mais. Dentre estes dois filhotes, um muito pequeno com no máximo uns dois meses de nascido, se isso, tremia feito gelatina,e mostrava-se pronto para brincar e por um novo lar.
O coitado parecia uma pequena vaquinha malhada, e tremia muito de frio. Nesse momento, a temperatura era de -4,7°C, e ventava bastante já. Nas colinas, o vento era de no mínimo 80 km/h. As Araucárias bem altas, algumas certamente com 25 metros de altura, balançavam em uma dança de acasalamento diante dos fortes sopros argentinos. Onde estávamos, o vento se regrava a cerca de 60 km/h.
Associando temperatura e vento, chegamos a uma sensação térmica de -24.5°C. Frio forte e brasileiro sem dúvidas, novo record batido, no dia seguinte só (se tivéssemos ficado no Morro das Torres ou mesmo em Urubici, no Morro da Igreja, passaríamos por sensação térmica de -33°C, noticiada pelo site que recebe informações diretas da subestação da sindacta que fica no Morro da cidade vizinha). Pensei comigo mesmo “ainda bem que resolvi não subir aquela colina, por mais que meu corpo produzisse algum calor durante a subida, rapidamente isso iria pro saco…”
Fazia muito frio e minhas mãos doíam só de tirar da pluma onde se sentiam confortáveis e aquecidas. Mesmo assim, fotografamos mais ali dentro depois de fazermos amizade com toda trupe canina.
O sol conseguiu furar o bloqueio das nuvens carregadas, o que dizimou definitivamente com as chances de nevar novamente neste dia, e quando os raios de sol batiam no rosto e corpo, uma forte onda de calor confortava tudo por um curto período de tempo, uma sensação muito boa, em um lugar realmente bonito. Mais uma vez, me senti vivo.
Algumas fotos e começamos a voltar, já estava bom de exposição de frio pra mim e pro Paulo, além do mais, nem havíamos tomado café da manhã. Chegamos de volta na casa da Gica dez horas e foi quando comemos algo, já que quando saímos ninguém havia levantado ainda. Comemos rápido e começamos a organizar as mochilas e pertences antes de sair de lá mesmo, já que tínhamos para este dia uma van agendada para às 13:00h até a cidade de Lages, de onde partiria nosso ônibus de volta a São Paulo.
Ah, que beleza, a barraca continuava congelada, com enormes pedaços de gelo. Deixamos a barraca de fora da mochila, ainda na mala do carro, e voltamos pra casa da avó dele, onde no almoço teríamos arroz carreteiro, elaborado pelo próprio PC. Chegou todo mundo, almoçamos meio dia em ponto um verdadeiro banquete, daí ficou fácil de todos conseguirem aquecer suas barrigas.
Um primo distante do Paulo, Toninho, nos ofereceu carona até Lages, já que é onde ele mesmo mora, e aceitamos. O transporte de van foi cancelado porque com ele ficaríamos de bobeira em Lages por aproximadamente cinco horas até a saída do ônibus, e decidimos partir com a carona, às cinco da tarde. Nosso ônibus deixaria Lages às 18:45h.
Diante da nova programação, teríamos tempo pra organizar tudo nas mochilas mais adequadamente e tentar dar uma arrumada na barraca. Então, a coloquei no sol. Fazendo isso, notei que ainda havia pelo menos meio quilo de gelo dentro dela meio que embrulhado. Tirei e com a temperatura da cidade de só 1°C, havia sol, então tive pouca esperança de que secaria…e a esperança é a última que morre, mesmo que seja de congelamento! 😉
Viemos papeando no carro, bem, Paulo e Toninho conversaram bastante, eu ainda estava maravilhado admirando as paisagens ao nosso redor…A viagem foi super rápida e logo estávamos em Lages, às seis em ponto. Deu tempo ainda de organizar as mochilas e procurar pelo meu fone de ouvido, que constatei ter de fato esquecido na casa da Gica. Droga, Lili acabou de comprar pra mim este! :/
A viagem começou, suave, rápida e sem impedimentos. Por volta de nove da noite notei que estávamos cercados de neve! A cidade era Papanduva e, lendo esta semana sobre a neve por lá, descobri que foi um dos municípios onde mais nevou no Brasil junto de alguns Paranaenses. Dentro de Santa Catarina, provavelmente foi um dos que mais nevou. A beira da estrada estava pintada de branco com vários pontos em verde onde a neve já havia derretido e sobrara o gramado. Era bastante neve, não parecia ser Brasil…
Eu queria que aquilo fosse pela manhã e que o motorista nos deixasse descer para fotografar algo, mas era noite muito escura. Bem, paramos por ali mesmo, em um restaurante de estrada, por meia hora para jantar. Fiz um prato e jantei, Paulo só fez um lanche. No posto de gasolina ao lado, um monte de neve ainda se acumulava no chão, fotografei com o celular mesmo.
Ao voltar pro ônibus me concentrei em dormir pois a viagem era bem longa até São Paulo, na Tietê, e esta era a segunda etapa, ainda faltava o metrô e o táxi até chegar em casa…Longe!
Quando acordei, já estava a só meia hora da rodoviária. Chegamos logo, e pegamos o metrô. No Paraíso nos separamos já que Paulo estaria em casa por ali, e eu segui até o Conceição. Táxi! Ahhhh que beleza…gosto muito de táxi.
Em casa, tomei café da manhã com a Primeira Dama que foi trabalhar logo em seguida. Estava cansado, preguiçoso, precisava de um banho, então deixei pra fazer um exame de sangue no próximo dia, que seria quinta-feira dia 25 de julho. E o fiz, com o resultado saindo no mesmo dia a noite, e com a belezura de 45.400 plaquetas no sangue periférico. Ah! Sou ou não sou o guru do sangue? Eu estava certo.
Não para por aí, fiz um novo exame de sangue na segunda-feira dia 29 de julho e o resultado foi de 63.000 plaquetas no sangue. Subida média. Que bom…Melhor que a medula não tenha mesmo pressa pra trabalhar, isso pode significar um estado meio arriscado de hiperplasia, o que não quero. Que a velocidade se mantenha! Ando preguiçoso e curtindo ao máximo estar em casa com a Lili e com a Mussarela, que semana retrasada completou um ano. Como o tempo voa…
Na mesma segunda-feira fui até a Dra. P para consulta e solicitação ao plano de saúde pela autorização da quimioterapia que, teoricamente, é a última etapa de meu tratamento de preparação, de remissão. Para carimbar de vez o passaporte da cura (mesmo que subjetiva, já que a doença volta em 45% dos casos mesmo após transplante) precisaria de uma medula nova, o que não aconteceu. Paciência, ganha-se umas, perde-se outras. Estou aqui, vivo, bem, isso que importa.
Enfim, a autorização andou e foi liberada dia 2 de agosto, e vim para o hospital dia 3 de agosto, voltando a este local que se tornou minha residência predominante este ano, para a quinta rodada de quimioterapia. Na entrada fiz de cara um exame de sangue completo (analisando também glicose, fígado e rins) e as contagens estão excelentes, 102.000 de plaquetas, 3440 de leucócitos, 8,3 de hemoglobina. Fígado e rins também estão dentro da normalidade, que é o que mais preocupa em termos de efeitos colaterais sob uso de quimioterápicos.
Já agradeci abertamente no facebook, mas gostaria de deixar mais uma vez aqui na minha coluna um enorme OBRIGADO a toda família do xará Paulo, por todo carinho, por toda receptividade que tiveram comigo, cada gentileza, e cada convite de voltar e levar a Lili comigo. Intenção não falta, basta tempo! A Primeira Dama trabalha muito, por dois, e ir a São Joaquim significa um dia só pra estar dentro de transporte…Mas, agendamos com certeza algo, quem sabe ainda neste inverno?
Um grande beijo a todos. Pais, avó, tios, tias, primos, primas, todos!
Tenho pela frente agora a minha nona internação que deverá durar mais ou menos oito dias e, em seguida, a décima internação, esta por aplasia, que deverá durar entre vinte e vinte e cinco dias. Sorte pra mim.
Bom, não acredito somente no final da aplasia para tudo ter dado tão bem nesta viagem. Afinal de contas, por muito menos, com 25.000 de plaquetas dentro de casa sem fazer nada e antes do inverno, tive algumas hemorragias localizadas nas mãos e pernas por plaquetopenia. Desta vez, com só 19.200, em patamar de transfusão, eu curti a estrada longa e não tive absolutamente nada, nem uma gota de sangue perdida nem com escovação de dentes.
Como sempre o psicológico prova que, fazer o que se gosta libera N endofinas que me deixaram feliz, em harmonia com meu corpo, saudável psicologicamente, mascarando minha doença enquanto eu curtia o frio, a nevasca, e a montanha do sul do Brasil.
Grande abraço a todos, viva à Neve Brasileira!
OBS: O exame do segundo dia de internação mostrou:
9,5 de hemoglobina
107.000 de plaquetas
4500 de leucócitos
Ah!
FOTOS:

Trabalho em conjunto Prefeitura x Natureza. A prefeitura molha a árvore e a natureza congela. – Autor: Parofes

O fotógrafo e as enormes Araucárias. – Autor: Parofes

Vamos ali fotografar este bosque de Araucárias altas! – Autor: Parofes

A Araucária e o fotógrafo – Autor: Parofes

Paulo subindo a colina – Autor: Parofes

O frio fortalece a vegetação local! – Autor: Parofes

Na varanda da Tia Gica, uma beldade resiste a neve e ao frio – Autor: Parofes

Congelamento – Autor: Parofes

Textura de neve brasileira – Autor: Parofes

Maçieiras durante inverno catarinense – Autor: Parofes

Paulo e Paulo – Autor: Paulo Fabre

Iniciando a manhã de fotografia na casa da Tia Gica – Autor: Parofes

Descendo, a cachoeira que congela não congelou – Autor: Parofes

Não esquece a barraca aberta no sul do Brasil senão neva dentro – Autor: Parofes

Lanche e almoço, tudo junto – Autor: Parofes

Mais uma de minha barraca no Morro das Torres – Autor: Parofes

E mais sincelo – Autor: Parofes

Sincelo, que belo. – Autor: Parofes

Sincelo e neve juntos na mesma fotografia – Autor: Parofes

Carro congelado no inverno Catarinense. Autor: Parofes

Carro congelado no inverno catarinense. Autor: Parofes

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Sobre o autor

Parofes, Paulo Roberto Felipe Schmidt (In Memorian) era nascido no Rio, mas morava em São Paulo desde 2007, Historiador por formação. Praticava montanhismo há 8 anos e sua predileção é por montanhas nacionais e montanhas de altitude pouco visitadas, remotas e de difícil acesso. A maior experiência é em montanhas de 5000 metros a 6000 metros nos andes atacameños, norte do Chile, cuja ascensão é realizada por trekking de altitude. Dentre as conquistas pessoais se destaca a primeira escalada brasileira ao vulcão Aucanquilcha de 6.176 metros e a primeira escalada brasileira em solitário do vulcão ativo San Pedro de 6.145 metros, próximo a vila de Ollague. Também se destaca a escalada do vulcão Licancabur de 5.920 metros e vulcão Sairecabur de 6000 metros. Parofes nos deixou no dia 10 de maio de 2014.

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