De trem para a montanha

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Um outro dia desses estava fazendo uma ascensão em solitário ao cume de um dos picos que compõem o conjunto Marumbi, um expressivo maciço montanhoso localizado na serra do mar paranaense.


Ao chegar lá me sentei para descansar e observar com calma aquele magnífico conjunto de montanhas, estava um belo dia, não estava muito calor, como costuma ser nesta época do ano naquela região. Clima agradável, trilha descongestionada e visibilidade excelente, enquanto olhava para os outros cumes me veio a lembrança de quando era criança e meu pai me contava suas histórias vividas no Marumbi, lá na década de 50.

Ele contava que naquela época o trem, principal meio de acesso até o Marumbi, (normalmente hoje o acesso ao Marumbi é feito por trem, que parte de Curitiba, ou pela estrada que sai do distrito de Porto de Cima em Morretes até a antiga estação de Engenheiro Lange, para depois seguir pela trilha do seu Antoninho até a estação Marumbi) era o meio de transporte de ligação com as cidades de Curitiba, Morretes e Paranaguá mais utilizado. Pois veículos automotores ainda eram escassos e nem todos podiam adquiri-los.

Histórico da Estação do Marumbi
A estação de Marumbi, aberta com a linha em 1885, era inicialmente de madeira e provisória. Depois foi construída a estação que durou até os anos 40, também de madeira. O local teria se chamado anteriormente Taquaral e em seguida Quilômetro 60.

O prédio anterior ao atual era de madeira de imbuia, próximo a pedreira explorada pela firma Moscalewski e fora inaugurado no ano de 1913, à direita da linha para quem vinha de Paranaguá. A construção e locação do atual, de alvenaria, prendem-se a um episódio curioso.

Ponto de apoio para os escaladores da Serra do Mar, os chamados marumbinistas, ao saberem estes que pretendia o Cel. Durival de Britto levantar um novo edifício na mesma posição do anterior, dirigiram-lhe um requerimento em que solicitaram que fosse feita a construção aludida, em Marumbi, ao lado esquerdo de quem desce a linha, por ser fachada sul, afim de que a respectiva plataforma não ficasse exposta às freqüentes chuvas e ventos e também para que se pudesse apreciar o panorama mais lindo desse trecho e o majestoso conjunto granítico de Marumbi, e que também fosse transferido o bar da estação de Eng. Lange para a de Marumbi, tendo-se em vista o maior número de excursionistas, e consequentemente, maior movimento, além de ser ali o cruzamento dos trens M-1 e P-2 e o carro motriz, fato que se afigura de recíproca vantagem, tanto à ferrovia como aos passageiros.

Finalmente, pediram-lhe que fosse agregada na construção um pequeno reservado com fogão e chuveiro, destinado unicamente para descanso, abrigo e mudança de roupa, para o número cada vez mais crescente de excursionistas, ficando a cargo destes o zelo, asseio e ordem dessa dependência, de vez que se comprometem também a não perturbar a tranqüilidade dessa estação.

O Cel. Durival de Britto, administrador rigoroso e inflexível, não teve dúvidas e atendeu aos marumbinistas: a estação foi construída do lado esquerdo de quem desce a serra. No ano de 1935, Marumbi passou de parada a estação de terceira classe. Nos anos 40 foi construída a estação atual, de alvenaria, do outro lado da linha em relação à antiga – hoje está do lado esquerdo da linha, para quem desce a serra. As antigas casas de turma são hoje do pessoal do IAP.

É onde ficam os responsáveis pelo cuidado do local, segurança, além de locais para guardar mochilas e barracas. É basicamente hoje a única parada do trem turístico na serra, usado para desembarcar e embarcar montanhistas que passeiam pela serra. Tanto a estação como as casas estão em razoável estado de conservação.

(Fontes: Dirceu Cavalcanti; relatórios da RVPSC; arquivo de estações ferroviárias de Ralph Mennucci Giesbrecht)






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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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