Amadurecer para a montanha

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Corria 1989. De volta no Oriente, nos convocava o Xixapangma, montanha tibetana de 8.046 metros.


Por Mauricio Purto

Corria 1989. De volta no Oriente, nos convocava o Xixapangma, montanha tibetana de 8.046 metros.
Junto a Rodrigo Mujica, Ítalo Valle e Alejandro Izquierdo, incluímos na expedição Gino Casassa. Assim como Valle é meu eterno companheiro de cordada, Izquierdo e Casassa haviam revivido na história do andinismo
chileno a ânsia pelas grandes paredes. Juntos escalaram nessa época o “impossível”. Era justo e inteligente uni-los novamente no Himalaya.

Mas surgiu a primeira de uma série de mudanças: Alejandro renunciava uma semana antes de partir. Um mal agouro, um duro golpe, desencanto e desilusão. Seria seu afastamento definitivo da “Rota Lógica” como escalador, embora como estrategista sempre estivesse ao nosso lado.

Porém o novo cenário não se apresentava mal. Gino e Rodrigo se conheciam muito. Além de que, sem pretensões de se colocar no lugar de Alejandro, chegava Giorgio Cattoni, conciliador presidente do Club Alpino Italiano.

Já no Nepal, outra alteração: desistia Rodrigo Mujica, devido de uma deterioração geral, aparentemente por mononucleosis.

Através do território sherpa, havíamos ido aos pés da grande montanha. Queríamos reconhecer este acesso do Everest, e aclimatarmos, já que ao Acampamento Base do Xixapangma, elevado a 5.000 metros, se sobe bruscamente em um caminhão.

Foi também nesses dias que nos mudaram a montanha, a mudança mais inesperada de todas. O governo da
República Popular da China cancelava nossa permissão para escalar o Xixapangma. Devido a revoltas no Tibet, região invadida e anexada pela força do exército chinês durante este século, o governo de Beijing fechou suas fronteiras a todos os estrangeiros. Eram os dias de Tiananmen…

Nossa situação, tão difícil como insólita, se resumia sob a palavra “afundando”. Por duas semanas e por todos os meios lutamos em Katmandu tentando revogar o ultimato chinês. Cada dia estávamos mais perto das chuvas, da estação monçônica. Que fazer? Voltamos ao Chile? Seguimos esperando?

Então recebemos a oferta de escalar no Nepal o monte Dhaulagiri. Devíamos decidir de imediato.

Escolhemos a ação e a nova experiência. Em 22 de abril montamos acampamento aos pés de uma montanha de 8.167 metros, estranho e imprevisto cenário. Os sherpas desinteressados, após uma série de desencontros com um Gino brilhante… Giorgio nostálgico… nevando no Dhaulagiri.

Ke Garne? Como diriam os locais, “que fazer?”… Optamos pelo Monte Tukche, cujo cume norte de 6.920 metros foi escalado em 1969 durante a expedição suiça de Hartmann.

Embora se aceita como uma montanha tecnicamente não muito complexa, ainda vimos nela mais fracassos que
êxitos… No pré-monção de 1989, escalamos com Gino o Tukche, logrando o que seria a segunda ascensão de seu cume sul (6.700 m), como se recorda no diário de expedição:

“15 de maio. Uma ponta que não alcança os dois metros quadrados nos indica o final. É o fim de uma
crista estreita muito cheia de cornijas, aonde seus quebrados precipícios querem segurar-nos. Com uma queda de duzentos metros em 65 graus na parede da esquerda e cerca de dois mil metros na direita, o
Tukche nos dá as boas vindas…”.

Fomos para o Xixapangma, passamos pelo Dhaulagiri, e depois a energia deu para o Tukche, belo cume de 6.680 metros, que escalamos com Gino enquanto Ítalo conseguia equipar com o sherpa Ang Phurba os acampamentos altos do Dhaulagiri.

Apesar dos desencontros e dificuldades quem sabe se aprende mais… Aprendemos o crucial que é amadurecer para a montanha, que antes de subi-la tem que apaixonar-se por ela, sentir seu chamado. Valorizamos a importância de um grupo equilibrado, enfim, aprendemos que quando a mão é má vem o mal.

Texto Por Mauricio Purto – El Mercurio Online (Chile)

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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