Puno – Peru, sítios arqueológicos ao alcance de todos!

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Depois de muita conversa e pouco tempo para planejamento, era chegada à hora de colocar o equipo nas mochilas e o pé na estrada para Bolívia. Uma jornada a um dos lugares mais lindos da América do Sul. Estávamos partindo para o Parque Nacional Sajama.


Antes de partir para as montanhas e tentar os nevados Parinacota e Sajama, eu e Raman Reis, tomamos rumo para Copacabana, a fim de aclimatar longe da poluição do centro de La Paz. Cidade tranqüila e com um clima super legal. Aproveitamos o Lago Titicaca para remar um pouco e colocar a respiração em ordem.

Alugar um caiaque na beira do lago é muito fácil e barato, por cinco bolivianos você pode ficar 30 minutos no lago. Logo, um bom exercício para quem pretende trabalhar seu lado aeróbico.

Saindo de Copacabana partimos para uma temporada em Puno (Peru), a fim de aclimatar melhor e aproveitar para visitar sítios arqueológicos que estavam em minha lista de dividas.

Puno é porta de entrada para a maioria dos mochileiros, turistas e aventureiros, que buscam cidades como Cuzco e Arequipa, vindo da Bolívia por Copacabana, porém a maioria destes não sabe a quantidade de riquezas arqueológicas que esta cidade possui.

Antes de sair correndo para rodoviária, desesperado por um ônibus que te leve a Cuzco, Lima ou Arequipa, pare um pouco e tente ver o que esta cidade tem para oferecer.

Para contar um pouco sobre o potencial arqueológico desta cidade, escolhi três atrações de fácil acesso para conhecer melhor a história Pré-inca que corre por entre as planícies e montanhas desta cidade.

Os Uros

A atração principal da cidade são as Ilhas flutuantes, ou Uros. Os Uros são ilhotas artificiais feitas por habitantes do lago Titicaca em Puno, Peru. A construção e habitação destas ilhotas remontam ao período pré-inca, quando estas ilhas eram habitadas por um povo homônimo, os Uros. Esse povo escolheu viver nos Uros por uma questão de segurança: as ilhotas flutuando nas águas do Lago Titicaca facilitavam a fuga em caso de ameaças em terra firme. Por este motivo na maior parte das ilhas dos Uros era construída uma torre de observação.

Os Uros são feitos de Totora (Schoenoplectus californicus), uma subespécie de planta que também deu origem ao papiro. A Totora também era usada para construções de embarcações, além de fazer parte da culinária e da medicina dos Uros. Essa planta é muito comum no lago Titicaca e na Costa Leste do Pacífico. A Totora é usada devido a sua alta densidade, capaz de suportar o peso da ilha.

As ilhas flutuantes são construídas com grande quantidade de Totora, amontoadas e amarradas por cordas e madeira, formando um grande e extenso bloco único que depois é fixado no fundo do lado. Estas armações podem ser deslocadas como uma grande plataforma flutuante. Esta teria sido a técnica utilizada para mover o povo em tempos de conflitos com os povos vizinhos. Os residentes dos Uros conseguiam sobreviver nas ilhas através da pesca e da caça de aves. O alimento era preparado em fogões de pedra na própria ilha, o que fazia deste povo nômade e com pouca necessidade de estar em terra firme. Em média um Uro dura 30 anos se este receber manutenção esporadicamente.

Atualmente, existe cerca de três mil Uros no Lago Titicaca. Destes, apenas algumas centenas ainda vivem nas ilhas, a maior parte se estabeleceu em terra firme. Mesmo os Uros que vivem nas ilhotas são receptivos às inovações tecnológicas, como motores e rádios. Além disso, os Uros conseguem recursos através dos turistas que visitam as ilhotas todos os anos.

Sillustani

Saindo do grande lago, é hora de conhecer um lugar alem da imaginação, Sillustani. Trata-se da zona arqueológica localizada exatamente a 34 quilômetros da capital, catalogada como uma das necrópoles mais importante do mundo. Define-se como uma grande explanada rodeada pela lagoa de Umayo.

Ali se pode apreciar um cemitério de impressionantes tumbas pertencentes à cultura Kolla (1200-1450), desenvolvida na parte norte da lagoa, na localidade conhecida como Hatuncolla. A forma particular das tumbas, troncos de cone invertidos, chamados chullpas, são construções que se localizam, embora em um número menor, em outros vários locais do altiplano, como Acora ou Ilave (chegam a atingir 12 metros de altura). Estas torres circulares de pedra foram erguidas para guardar os restos mortais das principais autoridades do antigo povo Colla.

O culto ao parentesco ancestral era parte integrante da cultura aymara, e as chullpas foram construídas para enfatizar a ligação entre a vida e a morte. O interior dos túmulos foi moldado como o útero de uma mulher, logo os cadáveres foram mumificados em posição fetal para recriar o ciclo do nascimento.

Algumas das tumbas possuem lagartos esculpidos na pedra, isso porque eles podiam perder sua calda e logo as recuperar. Esses animais se tornaram símbolo da vida para o povo Colla. As chullpas possuem uma única abertura o leste, onde se acreditava iniciar o ciclo da vida dada pela mãe terra a cada dia.

A arquitetura do local é muitas vezes considerada mais complexa do que as forma de construir dos povos incaicos. Em contraste com os incas que usaram pedras de diferentes formas para construir, os Colla poliam as rochas em forma retangular e podiam dar formas arredondadas a bordas dos blocos. Especula-se que durante a conquista Inca, a tecnologia Colla tenha sido introduzida no conceito arquitetônico Incaico, já que estes se tornaram escravos dos Incas.

Embora as chullpas não sejam exclusivas de Sillustani podendo ser encontrada em todo o Altiplano, Sillustani é considerado o melhor e mais preservado exemplo delas.
Como Sillustani esta bem afastada de Puno, é necessário entrar em contato com uma agência e pagar por um passeio completo as ruínas.

Templo da Fertilidade

A 18 km da cidade de Puno fica o distrito Chucuito, localizado numa região de grande beleza às margens do lago Titicaca, onde está localizado o Templo da Fertilidade. Um sitio arqueológico pequeno, porém repleto de curiosidades e obras bem conservadas.

O sitio conta com um templo dedicado a fertilidade, e a adivinhação do sexo dos bebes durante a gestação. Também pertencente à cultura Colla, esta construção esta adornada com inúmeros falos de pedra, que simbolizam a virilidade masculina. A preferência por filhos homens levaram os Colla a construção do templo e criação do culto, onde só poderiam participar mulheres. Neste templo durante as cerimônias as mulheres tomavam acentos em bancos de rocha de formato fálico e tiravam a sorte de sues futuros filhos por intermédio das sacerdotisas. No centro do templo existe um grande falo de pedra, onde possivelmente a mulher grávida era examinada, e dada à sorte de ter um filho homem.

O templo foi quase todo destruído durante a conquista espanhola a pedido da igreja e os falos foram desmontados, e quase esquecidos.  Porém para azar da igreja, um deles ainda adorna o topo da torre da igreja que está na praça principal de Chucuito servido como pára-raios.

O sitio arqueológico do Templo da Fertilidade, mesmo que reconstituído, ainda está em ótimas condições, e pode ser visitado pagando-se uma pequena taxa de entrada.

Em Chucuito além do sitio arqueológico, pode se comer uma ótima truta com batatas (A melhor que Já comi as margens do lago Titicaca!) em uma das inúmeras tendas-restaurantes do vilarejo. Não é necessário comprar um passeio para se visitar o templo, tome um táxi no centro de Puno, e por algumas moedas você ira conhecer um dos mais inusitados sítios arqueológicos do Peru.

A história pré-inca nesta cidade é riquíssima, e sua cultura é de fácil acesso a todos os turistas. Há também, o complexo arqueológico de Cutimbo, um cemitério pré-hispânico das culturas Colla e Lupaca, onde existem pinturas rupestres de 8000 anos, que estão dispostas bem na estrada, na altura do km 22, no sentido Puno-Moquegua. Para todos os lados que se olha, se descobre algo.

Aproveite melhor sua viagem buscando conhecimento por onde estiver passando. Consulte livros e internet antes de escolher seu destino, ou você vai acabar como a maioria dos turistas que só olham para Machu Picchu, e esquece o mundo de belezas que estão no caminho até Cuzco.

Quanto ao resultado final da trip Parinacota e Sajama, este ano foi de sorte. Os relatos da viagem estão no site www.rochaegelo.com.br

Força sempre e boas escaladas!

Atila Barros

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Sobre o autor

Atila Barros nasceu no Rio de Janeiro, e vive em Minas Gerais, cidade que adotou como sua casa. Escalador (Montanhista) há 12 anos, é apaixonado pelo esporte outdoor. Ele mantem o portal Rocha e Gelo (www.montanha.bio.br)

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