O lago verde a lagoa da represa

0

Situada a 100km da capital de São Paulo, a Estrada de Casa Grande (SP-92) é destino certo de bikers mogianos por várias razões aventureiras. Tb chamada de “Estrada do Carapicó” por interligar os municípios de Biritiba-Mirim e Salesópolis, a precária via de chão é tb destino de trekkeiros dispostos a explorações neste sertão intocado q forra o setor sul da Barragem de Ponte Nova. A “Gruta do Disco Voador”, Pedra da Boracéia, o Rio Claro e a antiga Estação Sabesp são apenas alguns atrativos já visitados. E foi o q rolou neste último domingo, além de razões mais q óbvias: aproveitando a onda de calor infernal fomos atrás dos refrescantes banhos nos enormes lagos que praticamente bordejam a estrada. Desconhecidos, desertos e de facílimo acesso, o Lago Verde e Lago da Represa são apenas duas das gdes “piscinas olímpicas” naturebas q podem ser pto de partida pra outras aventuras mais perrengosas pela região.

A manhã começara envolta em certa opacidade,  mas no decorrer foi se dispersando aos poucos revelando uma atmosfera estupidamente transparente no alto, qdo o Ricardo e a Elaine me pegaram em frente à Estação de Mogi das Cruzes, por volta das 8:30hrs. Imediatamente tomamos a SP-88 sentido Biritiba-Mirim, afim de otimizar ao máximo aquele domingo calorento, uma vez q a meteorologia previa pancadas a partir de meados da tarde. É, o verão começara com td dando adeus em definitivo a temporada montanhosa. Logo, a idéia era fazer alguma breve exploração (com o mínimo de esforço possível, diga-se de passagem) e depois emendar um tchibum nos lagos da região. Bem, não necessariamente nessa ordem.

Muita conversa furada embalou a viagem, enqto as janelas do veículo emolduravam plantações e baixa morraria, paisagens recorrentes do “Cinturão Verde” mogiano. Mas foi qdo o asfalto deu lugar a uma estrada de chão q a aventura dava sinais de, enfim, ter começado. Cercada de verdejante mata de ambos os lados, a SP-92, a “Estrada de Casa Grande” ou “Estrada do Carapicó” não prima muito pelas boas condições, de onde deduzimos a pouca freqüência de transporte público. Larga, esburacada e irregular, a Elaine pôs em prática sua habilidade no volante o suficiente pra ser aprovada no “Paris-Dakar”. Mas entre uma chacoalhada e outra, havia raros momentos em q a via parecia amansar em trechos largos e planos, nos quais era possível apreciar melhor a paisagem q se descortinava a cada curva da via.

Mas após serpentear a morraria florestada e embicar um retão no aberto após a Faz. Itapanhaú, encostamos o veículo num cruzamento um pouco antes do pacato Bairro da Terceira, por volta das 9:20hrs. Como referência desta encruzilhada existe uma profusão de placas de sítios/chácaras apontando pro sul, com destaque pra Fazenda Florismar. Tocando então pro outro lado da estrada é possível observar uma estrutura metálica enferrujada em meio ao arvoredo, e é pra lá q logicamente a gente segue. Imediatamente caímos numa enorme clareira arenosa onde um envelhecido e oxidado porto de areia eleva-se sobre os pinheiros ao redor, reinando soberano no local. A presença inclusive de mato bem crescido no alto da estrutura é sinal de quão antigo este artefato abandonado deve ser.

Pois bem, dali é possível avistar um caminho bem evidente tocando pro norte em meio a um simpático bosque de pinnus, onde em menos de 5minutos (ou até menos!) desembocamos as margens dum enorme e maravilhoso lago cercado de exuberante vegetação! Vale mencionar q a paisagem a minha frente guardava muita semelhança com a de algum lago nórdico ou patagônico pela forte tonalidade esmeralda da água.  Era o tal Lago Verde, q realmente fazia jus ao nome por conta da composição de areia e calcário do fundo. Na verdade aquele era um lago artificial resultante da antiga extração de areia q antigamente funcionou no lugar, já a tempos desativada. O local é lindo, isento de lixo e com alguns sinais de fogueira e acampamento. Uma trilha bem batida contorna o lago por td sua extensão e existe uma corda disposta num galho sobre um barranco, possibilitando um belo mergulho de altura considerável. Olhando atentamente o lago é possível avistar peixes, desde pequenos lambarizinhos até enormes bagres, sinal da pureza da água. Realmente, um ótimo recanto pra ficar de boa, acampado um fds.

Após descansar um pouco e clicar o lagão, retornamos ao veículo, dando continuidade ao simplório e descompromissado rolezito da vez. Passamos então pelo pacato Bairro da Terceira, q se resume a um punhado de casas e chácaras ao largo da estrada, e prosseguimos em frente, estrada acima. Serpenteando a morraria sgte percebemos começar a adentrar nos domínios de fazendas de reflorestamento da Suzano, salpicado de alguns trechos forrados de mata secundaria. Aqui a estrada deu uma trégua no quesito precariedade e ficou até melhorzinha, e desse jeito seguimos chegar na Estação Casa Grande da Sabesp, na verdade a Estação de Tratamento Rio Claro, um curso dágua q já nos acompanhava a algum tempo com o som borbulhante de corredeiras encachoeiradas pela esquerda.

Ignorando a entrada em propriedade particular da Sabesp, tocamos ainda pela estrada principal, q pelo emplacamento termina em Salesópolis, alguns bons kms ao norte. As vezes o veículo parece mergulhar de cabeça nas poças escuras ou ser engolido por voçorocas de lírios-do-brejo no caminho, mas aqui essa emoção era recorrente e até normal de quem resolve tomar estas quebradas pra Salesopolis. De preferência de moto ou bike, claro. Mas após cruzar uma ponte de concreto sobre o Ribeirão do Campo  (q depois a carta confirmou ser o Rio Grande) , passar por um improvável e minúsculo povoado no meio de nada e lugar nenhum, e ignorar a Estrada do Repiado, nos enfiamos num emaranhado de estradas secundarias de reflorestamento (de eucaliptos), sempre sentido sul, q se não tiver conhecimento prévio do lugar é pedir decerto pra se perder na certa.

E assim após muito remelexo, encostamos o carro numa clareira nos cafundós de Casa Grande as 10:15hrs. Como referência do lugar haviam uns caixotes de colméia relativamente próximos, q deixaram a Elaine meio ressabiada. Esticamos o corpo prontos pruma breve explorada noutro poção-piscinão-lagão-ou-seja-la-o-q-for, desta vez situado mais afastado da estrada e na direção sul, de acordo as infos (meio imprecisas) coletadas e algumas xeretadas aleatórias pelo Google Earth.

Pois bem, começamos a pernada tocando por uma larga vereda de reflorestamento no aberto, q foi de encontro o sopé da morraria sgte q bastou ladear pela direita. Nos cruzamentos q surgiram ignoramos as picadas laterais, dando preferências aquelas q fossem na direção desejada, ou seja, sempre sul. Não tardou pra picada findar num largo aceiro e uma encosta florestada a nossa frente. Bem, como havia q tocar pro sul assim foi, mergulhamos na tal encosta e fomos avançando como dava no q julgamos ser uma picada, mas q não era. Na verdade já havíamos começado a exploração com varação de mato clássica.

Na sequência fomos obrigados a descer pro vale a nosso lado, onde o riozinho q era audível a um tempo teve de ser cruzado através de um tronco atravessado no leito. Na outra margem prosseguimos galgando a encosta sgte, sempre pro sul, desviando do mato mais espesso do caminho. Cruzamos um suave selado e tocamos pro morro sgte, cuja cumieira foi difícil de transpor por conta das voçorocas de fina taquarinha e croquejantes touceiras de bambus maiores secos. Claro q contornamos esse obstáculo pela lateral e assim passamos pro outro lado do morro, onde descemos de forma bem íngreme até dar no selado sgte, onde tivemos uma breve parada pra bebericar a deliciosa agua q vertia por uma nascente lajotada.

A encosta sgte foi vencida desviando do monte de mata tombada no caminho, onde bastava uma gde arvore cair q trazia metade da floresta junto. Mais obstáculos, claro. Trilha q é bom, nada. Apenas alguns vestígios de caminhos de anta q logo se perdiam na mata mais espessa. De qq maneira nossa rota não devia desviar demasiado do sul, e foi assim q fizemos..tocando sempre nessa direção. Mas após acompanhar um rio e galgar a morraria sgte, percebemos q eram já quase 13hrs, q nosso avanço era demasiado lento e não havíamos chegado sequer na metade do trajeto em tese proposto. E levando em consideração q estávamos sem lanterna (burro!burro!burro!), brumas começavam a cobrir o vale, a Elaine já demonstrava cansaço (e não estava habituada a este tipo de perrengue), decidimos abortar a investida ao tal suposto poço perdido ao sul. Fica pruma próxima, de preferência bem mais preparados.

Dessa forma retornamos pelo mesmo caminho, de certa maneira mais rápido pelo mato q já havíamos baixado no trajeto. Mas por volta das 13:30hrs fomos realmente obrigados a fazer uma pausa pra descanso e, principalmente, lanche no topo do segundo morro do caminho. Pães, bolachas e salgados foram mastigados com vontade, ao mesmo tempo q nossos cantis se esvaziaram rapidamente por conta do esforço q o fato de estar ali demandava. Foi ali q vimos o q pareceu um vestígio de picada q resolvemos acompanhar e q através dele o avanço (no caso, a volta) foi bem mais ágil e rápido q a ida. No caminho vale destacar os tocos de palmito cortado  – sinal q somente extrativistas perambulam por ali – a inusitada casca azulada de um ovo, um lindo ninho e a gde variedade de insetos, principalmente de mutucas e pernilongos, q não permitiam q nossas paradas se estendessem por mais tempo.

E assim, as 15:45hrs, findava nossa breve e infrutífera exploraçãozinha ao lado do veículo mas q ao menos nos dava a cota semanal de suor, mato e carrapatos no pelo corpo. Claro q merecíamos um banho q lavasse a alma, e esse foi nosso presente logo ali do lado, bem pertinho, no Lago da Represa. Em coisa de uns 100m de onde havíamos deixado o veículo bastava cruzar por outro lado da estrada. Ali é possível avistar uma simplória e rústica porteira barrando a entrada. Mas contornando-a é possível andarilhar pela larga vereda q esconde após ela e, em coisa de menos de outros 100m, desemboca as margens de outro enorme espelho d’água q mesmeriza o olhar ansioso por um banho revigorante.
O enorme terreno q abriga a Lagoa da Represa pertencia  a antiga Faz. Nossa Sra da Conceição (pelas indicações da carta de Salesópolis) e o lago é nada mais q onde as águas do Rio Grande e os afluentes do entorno são represadas pra depois sem despejadas numa sequência de cascatas concretadas duma mini-barragem, pra depois tomar rumo a supracitada Estação da Sabesp. Claro q ali nos brindamos com um demorado e refrescante tchibum, pra na sequencia zarpar em direção a Mogi das Cruzes. Mas não sem antes ter uma merecida parada no rústico botequinho do bairro da Terceira afim de molhar a goela e mastigar algum salgado feito na hora.
 
E assim foi  nosso rolezinho dominical sussa (ou quase) com direito a exploração e banho, pré-requisito essencial e obrigatório pras próximas trips. O verão realmente começara com td, dando adeus em definitivo a temporada montanhosa. Sendo assim, nossas atenções agora se direcionam pra fundos vales, onde nem sequer as mutucas ou irregularidade do terreno são capazes de nos privar do alivio do calor nalgum  rio borbulhante, plácido lago ou simpática cachu. Portanto não estranhe se os próximos relatos – ou pelo menos até o Carnaval  – não fizerem menção aos largos horizontes descortinados por cumes montanhosos; e sim jornadas envoltas por espessa mata e recompensada por refrescantes banhos. Trips como  por exemplo, aquela em direção ao tal “Poço Perdido”, já devidamente engatilhada. Ou tantas outras mais pelos arredores da Estrada de Casa Grande.
 

Compartilhar

Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

Deixe seu comentário