A Cordilheira separa a Bolívia em duas metades. A leste estão as terras amazônicas, baixas, quentes e úmidas, com um visual semelhante ao brasileiro. E a oeste, o árido e seco altiplano boliviano, muito alto e muito frio, com enormes extensões às vezes apenas habitadas pelas alpacas e lhamas.
Embora não seja tão elevado, com pouco além de 5.600m, o Condoriri é uma das mais procuradas montanhas da Cordilheira. Possui um desenho único, que simula uma ave pétrea alçando um voo impossível. Seu acampamento base é lindo, às margens de um lago de degelo, cuja coloração pastel combina com a aridez sempre pálida das encostas.
Numa bela alvorada, saí daquele acampamento com Sebastián, um venezuelano de Mérida, dispostos a fazer o pico e retornar no mesmo dia. Como a trilha não seria longa, eu calçava botas duplas para gelo, que não eram naturalmente as mais seguras para atravessar o terreno desagregado da encosta.
Agora, era ele quem se sentia encabulado, depois que a ressaca passara. E, de alguma forma, isto quebrou o encanto. Resolvi caminhar por outras paradas, acho que fui fazer o Cerro Ilusión. Nunca mais voltei ao Condoriri, apesar de muitas outras idas à Bolívia. Se ele ainda não alçou voo, pode ainda estar me esperando.