O assombrado Salto do Tamanduá

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Terra Nova é um bairro rural situado num cafundó sul de São Jerônimo da Serra (PR), formado a partir do desmembramento da fazenda do mesmo nome. É perto desse vilarejo, cercado de um assentamento e uma reserva indígena, que o Ribeirão Tamanduá despenca por altos desfiladeiros em direção ao vale do Rio Tibagi, num trajeto pródigo em quedas que figuram entre as maiores do estado. E foi duas destas grandes cachus que fomos conhecer neste último feriado, o Salto e a Queda do Tamanduá, num árduo rolê com pernoite selvagem. Sim, puxado mas recompensado com banhos refrescantes em “chuveiros” de 100m de altura, num cenário emoldurado por altos paredões de arenito e pitorescos causos fantasmagóricos..

“Vocês vão na Tamanduá, a assombrada?”, comentou uma amiga londrinense ao saber que acamparíamos no salto do mesmo nome. “A gente quase foi lá a muitos anos, mas o cara que nos guiaria desistiu no meio do caminho pois não ia dormir lá de jeito nenhum! Dizia que era assombrada!”, emendou. Como sou curiosamente fã no que se refere a essas coisas, perguntei mais a respeito e ela respondeu: “O pessoal dizia que havia um tesouro ou caixa de dinheiro por lá, algo assim. E que o cara que tomava conta dessa fortuna foi morto no lugar! Daí se fala que por lá se ouve barulhos estranhos a noite!”

Bem, pra mim era novidade essa fama maldita da cachu pois o principal motivo de conhecê-la mesmo era a imponência do seu salto de quase 100m de queda livre, que vi nas poucas fotos disponíveis na internet. Mas não era apenas uma, eram duas enormes quedas separados por menos de 4kms pelo leito acidentado do rio, coisa que imaginei puxado pras meninas percorrer num dia só. Daí veio a decisão de fazer o rolê em dois dias menos desgastantes, com direito a pernoite selvagem a meio caminho. Fiz um rascunho grosseiro do trajeto de ataque pra primeira queda, enquanto o resto do rolê até a outra cachu estava em aberto e seria decidido no segundo dia. Pronto, simples assim. A fama da cachu de assombrada seria mais um tempero pitoresco aquela aventurinha despretensiosa de meados de feriado.

Assim, após sair de Londrina pouco depois das 9hr e rodar os quase 90kms de asfalto da PR-090, eu, a Lau e a motora Elenice chegamos no simpático portal que dá as boas-vindas á pacata São Jerônimo da Serra. Sim, chegar naquele vilarejo era dar adeus a paisagem monocromática e horizontal, permeada de plantios e silos de perder a vista, pois do vilarejo em diante era ser abraçado por uma topografia bem mais acidentada e permeada de verdejantes vales. Cruzamos a cidade num piscar de olhos por sua via principal, tocando na direção sul, pra depois tomar a poeirenta “Estrada do Tigre”, acompanhando a sinalização no sentido de Terra Nova, sempre pro sul.

E lá fomos nós por aqueles quase 18 kms tão poeirentos quanto trepidantes, ladeando enormes áreas de reflorestamentos, a entrada de grandes fazendas e uma reserva indígena. Quase na metade do trajeto, após cruzar as ribanceiras dos vales do Rio Pilões e do Água do Capim, a direção toca pra oeste, margeando uma larga encosta de serra. Ali a vista se expande de tal modo que é possível apreciar o risco claro da Cachu do Tigre (ou Salto João Nogueira), despencando dum distante perau á noroeste, linda queda visitada meses atrás. O chão de terra então dá lugar a um calçamento bem preservado e logo nos vemos no vilarejo rural de Terra Nova, que não passa de um punhado de ruas precárias que se cruzam, onde existem algumas residências dividindo espaço com comércio bem simples.

Dali tomamos a larga via de chão que deixa o bairro ainda na direção oeste, seguindo a sinalização indicando “Gabiroba”. Sempre nesse sentido e nos mantendo na principal, terminamos caindo nas proximidades do Assentamento Palmares, onde é preciso deixar o veiculo em algum lugar. Ali, a exato meio-dia, me dirijo a simpática e simplória casa do assentamento onde converso com sua proprietária, a jovem Maristela que, acompanhada por seu filho adolescente, mostrou-se muito amável em deixar que pudéssemos estacionar o veiculo em seu quintal. Não bastasse toda sua gentileza, ainda nos presenteou deliciosas bananas e chamou pra almoçar em sua casa, convite tentador que tivemos que declinar pra dar prioridade á pernada. Afinal, trilhar de barriga cheia não dá! Seu filho, Gabriel, foi igualmente prestativo em nos dar muita info pertinente á queda, que complementou nosso material. “Tá cheio de bicho no vale, cuidado!”, avisou ele. Dane-se, a gente tava mais que disposto em seguir em diante com nosso rolê, a despeito das advertências de fantasmas ou animais selvagens.

Ajeitamos as mochilas nas costas e começamos nossa chinelada meia hora após ter ali chegado. Ganhamos então a precária via de chão ao lado da casa e seguimos na direção dum reflorestamento após uma bifurcação. Aqui demos um perdido logo de cara, ao subir uma plantação de café, que foi logo sanado ao perceber que desviávamos consideravelmente da beirada do desfiladeiro do vale. Em tempo, o calor daquele inicio de tarde dava continuidade aquele belo dia, que iniciara limpo e radiante, fazendo verter as primeiras gotas de suor que escorriam pela testa, nariz abaixo.

Trilha descendo pelo cânion

Retrocedemos então até a bifurcação e tomamos a estrada de chão que bordeja um laguinho nos fundos do assentamento, na direção sul, pra logo alcançar a beirada do amplo perau do vale. Dali começou efetivamente a descida, em largos ziguezagues, através do que presumi ser uma antiga e rústica estrada de extração. Isto se deve ao fato da vegetação ao redor ser composta basicamente por mata secundária e grandes focos de reflorestamento, no caso, de pinheiros e eucaliptos. De repente, numa das frestas da floresta tivemos o primeiro contato visual de nosso objetivo, sob a forma dum majestuoso véu alvo despencando no vértice do cânion, ao longe.

Depois de descer um tantão pela encosta reparei que havia que abandonar aquela via pois começava a se afastar da direção desejada, mas logo encontrei uma vereda nascendo da principal que ia rumo a queda. Na verdade bastava cair no rio, que estava no fundo do vale, ao sul, e subi-lo até a cachu, mas como havia vários caminhos abreviando o trecho do rio, indo na diagonal pra sudeste, optei seguir por estas opções que levassem rapidamente á queda. A trilha então se manteve pela encosta do vale, agora em meio a farta mata atlântica, indo de encontro ao som ruidoso do rio correndo cada vez mais próximo, som este que só era quebrantado pela batucada dum pica-pau nalgum canto da floresta. Foi aí que cruzamos um pequeno afluente do rio principal despencando por lajotas sobrepostas. Este riacho foi muito bem-vindo pois nos garantiu o precioso liquido que faltava pro rolê.

Agora é pelo leito do ribeirão Tamanduá

Mas logo depois do riacho a vereda sumiu por completo, nos obrigando agora a adentrar na mata pra vencer o breve trecho de chão que nos separava do rio. Apesar do chão se mostrar relativamente pisado e com marcas de facão, fui deixando marcações que nos auxiliassem na volta, por precaução. E assim, perdendo o resto de altitude desviando de árvores caídas, arbustos, cupinzeiros e alguns rochedos, eis que finalmente chegamos as margens do leito pedregoso do tal Ribeirão Tamanduá. Novamente deixamos marcações e um totem de pedras pra marcar o lugar exato de saída do rio, pra ajudar na volta.

Pronto, uma vez no rio não teve como já começar enfiando a bota na água pra cruzar á outra margem, menos assoreada e onde era possível caminhar e avançar com mais desenvoltura. Eu fui na dianteira, claro, avaliando o terreno com cautela deixando pras meninas a única preocupação de seguir meus passos, sem maiores distrações de percurso. Poços cristalinos, piscinas naturebas e pequenas cascatinhas se sucediam continuamente e naquela tarde calorenta eu estaria mentindo se afirmasse que não passou por nossas cacholas a idéia de parar e nos refrescar nelas. No entanto, a prioridade era alcançar a queda o quanto antes e assim seguimos a risca o roteiro estipulado.

Escalaminhando obstáculos do acidentado rio

Assim, fomos avançando devagar porém de forma compassada pelas curvas tortuosas do rio, ganhando altitude de forma imperceptível. Ao mesmo tempo reparei o vale se fechando aos poucos, de modo que éramos gradativamente sendo emparedados por altas muralhas de arenito, sinal que estávamos cada vez mais próximos do nosso destino. O terreno tornou-se mais acidentado na mesma medida com mais pedras roladas, de todos os tamanhos, barrando o caminho. E tome escalaminhada aqui, desvio de piscina acolá, segura em tronco, pisar em raiz firme e todo aquele processo convencional que é intrínseco a toda subida de rio. E em mais de um momento tive que pegar as pesadas cargueiras das meninas pra elas conseguirem ganhar patamares rochosos sucessivos.

Desviando de poços e cascatinhas

De repente, numa curva do rio, eis que ela surge. Sim, o risco alvo reluzindo ao sol, parcialmente encoberto pelo arvoredo, despencava quase bem a nossa frente; indicio de que a pernada estava nos finalmente como desculpa pras primeiras fotos da grande queda. O desgaste e cansaço visível das gurias ganhou fôlego revigorado e assim conseguimos galgar os últimos grandes rochedos que se interpunham sucessivamente. Sim, a cada barreira superada a cachu parecia maior e mais bela. O último e derradeiro obstáculo, impossível de escalaminhar, foi vencido rasgando o mato através da encosta o que nos deixou sujos de vegetação, com galhos e folhas agarrados vigorosamente á nossas mochilas.

E assim, sendo pouco antes das 15hrs, com o corpo moído pela chinelada jogamos as cargueiras no chão pra ter uma visão que recompensava toda aquela provação: um majestuoso véu dágua escorrendo de um paredão de arenito, de quase 100m de altura, pra finalmente repousar numa generosa piscina natural. Ficamos ali apenas contemplando a queda, num misto de cansaço e satisfação, com largo e estranho sorriso estampado no rosto. O cenário em volta da queda não era menos impressionante, uma vez que as águas do Tamanduá despencavam no interior de um gigantesco anfiteatro de pura rocha, mato e terra. Pausa pra fotos, muitas.

Último trecho é rasgando mato pela encosta

Na sequência, mesmo com o calor daquela tarde sendo abrandado pelo constante borrifo da queda, fizemos questão de mergulhar nas águas refrescantes do enorme (e fundo) lago na base da cachu. Donos absolutos daquele paraíso, ficamos pasmos com a ausência total de lixo – a exceção de sujeirinhas deixadas por bichos silvestres – e de visitantes em pleno feriado. Foi ai que lembrei do Gabriel ter comentado que a queda é visitada esporadicamente apenas por locais, pois gente de fora não tem a disposição de encarar todo aquele perrengue até lá. Ainda bem, assim a queda se mantém preservada.

Como todo tchibum depois abre o apetite, na sequência nos regateamos com todo lanche nas mochilas, inclusive deliciosas empanadas chilenas feitas pela Lau no dia anterior. O resto da tarde foi reservado unicamente pra curtição daquele resort natureba ou simplesmente lagarteando nas pedras tendo como paisagem a bela queda em primeiro plano. O tempo passou assim rapidamente e logo fui atrás de lugar pra acampar, que felizmente foi encontrado num estreito trecho da margem esquerda.

Finalmente no Salto do Tamanduá

Relax num anfiteatro natureba do perau

Cercado de pedras, arbustos agrestes, algum arvoredo baixo e com chão forrado por um misto de areia a capim baixo, o lugar comportou perfeitamente duas barracas espremidas. No entanto, contávamos com a boa previsão do tempo uma vez que, quase do lado da margem, estávamos sujeitos a inundar caso chovesse forte pela noite. “Vamos ficar aqui mesmo, a previsão do tempo tá favorável e vamos torcer pra que se mantenha assim!”, falei pras meninas. “Do contrário estejam preparadas pra sair no meio da noite e buscar abrigo no alto das pedras pra que alguma eventual tromba d’água não carregue a gente até o Rio Tibagi!”, avisei brincando.

A chegada das andorinhas ás frestas da queda anunciava o fim do dia no vale, e enquanto a penumbra tomava conta de todo desfiladeiro nos vestimos afim de proteger do frio e dos sanguessugas alados, que endoidecem nesse horário. Na sequência fogareiros ronronaram sobre a superfície plana e porosa de um rochedo, cozinhando um delicioso macarrão com nacos de calabresa. Cigarras e toda sorte de insetos, atraídos pela luminosidade das headlamps, teimavam em temperar inconvenientemente nossa refeição, pra desespero das meninas. Mas o relaxo veio mesmo após a farta comilança, quando nos encasulamos a nossas respectivas tendas e apagamos completamente inebriados pelos sons da mata mesclados ao urro onipresente da cachu. Enquanto isso, o manto negro da noite se debruçava sobre o vale do Tamanduá deixando a mostra apenas as trilhões de estrelas cintilando no céu. Nuvem ou sinal de chuva? Nenhum.

Acampamento próximo da queda

Levantamos na manhã seguinte quando os primeiros raios difusos da alvorada tocaram o alto dos penhascos e, na indistinta claridade, a cachoeira surge na entrada da barraca. Diferente do dia anterior, o céu se encontrava permeado por uma nebulosidade clara, onde vestígios do Sol penetravam por janelas esparsas aqui e acolá. Felizmente a noite transcorrera tranquila e sem intercedências, e sentia o corpo reenergizado pra completar a trip daquele feriado. Entretanto, a Elenice revelara que custara a dormir pensando estar escutando sons estranhos madrugada adentro, todos oriundos da mata. Seria algum bicho, o tal fantasminha do tesouro ou apenas invenção da imaginação dela? Mistério…

Agora é seguindo rio abaixo

Após mordiscar nosso desjejum e as mochilas engolirem nosso equipamento, pusemos-nos a andar mas não sem dar um dolorido adeus aquela bela cachoeira. Ou quem sabe isso signifique um “até breve”, vai saber. Refizemos o caminho rio abaixo lá pelas 8hrs e, por incrível que pareça, em menos tempo e muito mais desenvoltura que na ida. E em coisa de pouco mais de meia hora pisávamos outra vez nos lajedos marcados pelo totem, onde abandonámos as águas do ribeirão Tamanduá e nos pirulitamos encosta acima pra cair na vereda principal.

Voltamos pelo mesmo caminho do reflorestamento, mas não sem antes reabastecer as garrafas com o precioso liquido no oportuno afluente da ida. Retrocedemos então um pouco pela precária via, tangenciando algumas toras recém empilhadas, e dali abandonamos a mata fechada pra cair nos descampados a sudoeste do desfiladeiro. Minha lógica pra aceder a outra queda era a mesma que pro primeiro salto; ao invés de acompanhar o Tamanduá, 3kms rio abaixo, decidi cortar caminho pela diagonal e ir direto ao salto, abreviando o trajeto. Bem, pelo menos a imagem aérea previamente estudada permitia isso.

Antes de descer o vale, porém, deixamos as cargueiras escondidas na mata e aí sim começamos a descer a vasta pradaria, indo de encontro ao foco de mata em formato de “V”, a sudoeste, onde o rio despencava furiosamente. Cruzamos um decrépito coxo, alguns arbustos e dali nos guiamos por trilhos de boi que ia na direção desejada, ignorando as escarpas dos vales dos pequenos afluentes que correm em sua direção. Sem grandes dificuldades, cruzamos voçorocas de arbustos floridos e alguns boizinhos bastante curiosos com nossa presença, enquanto a cada passo dado o som trovejante de muita água inundava nossos ouvidos cada vez mais. E isso era sinal que estávamos no caminho certo.

Trilha em meio a mata

A vereda finalmente nos deixou outra vez na margem do ribeirão Tamanduá, onde cruzamos um pequeno foco de mata e finalmente pisávamos no segundo Salto (ou Queda) do Tamanduá. Se a primeira cachu tinha sido conhecida pela base, desta vez estávamos no topo da outra, e a visão descortinada a nossa frente justifica que este salto também seja conhecido como “Mirante do Tamanduá”. O espelho dágua daquele patamar era lindamente emoldurado ao fundo pelos paredões e desfiladeiros verdejantes do Rio Tibagi, destino final do Tamanduá depois de despencar daquela altura que era superior aos 100m da queda anterior e rasgar o vale abaixo. Pausa pra fotos e mais contemplação, claro.

Chapinhando pelas pedras chegamos á outra margem lajotada do riacho, com vista não menos impressionante, e foi ali que jogamos as coisas afim de curtir aquele novo recanto natureba. O sol, que até então estava escondido em meio a farta camada fina de nuvens, agora brilhava num céu que se abria cada vez mais. Com o calor aumentando rapidamente não nos fizemos de rogados pra mais um refrescante tchibum nos poços formados no alto da queda, um deles com direito até a “hidromassagem” natureba. Pães, biscoitos e chocolates foram mastigados na sequência, onde o relaxo e sossego deu o tom da permanência naquele paraíso. Horário? Pouco antes das 11hrs da manhã.

Descendo descampado em direção á borda do desfiladeiro

Queda ou Mirante do Tamanduá, com visu do vale do Rio Tibagi

Mais uma cachu com hidro natureba

Curtimos o lugar por quase uma hora quando percebemos que era hora de colocar pé na trilha e voltar. Sim, a contragosto arrumamos nossas tralhas e então damos as costas aquele magnifico e refrescante mirante natureba. Refizemos todo caminho sem pressa daquela manhã no sentido contrário, dando adeus ao vale do Tamanduá e suas fantásticas quedas. A subida em ziguezagues da encosta da serra transcorreu lenta e morosa, pra não dizer devagar-quase-parando, não apenas pela declividade mas pelo forte calor daquele inicio de tarde, que não demorou em nos deixar totalmente ensopados.

Maristela e seu filho, do Assentamento Palmares

Pisamos novamente no assentamento pouco depois das 14hrs, e desta vez não cometemos a desfeita de recusar banho e almoço oferecido pela cordial Maristela. Enquanto nos fartávamos com sua comida simples, porém muito saborosa, ouvíamos sua história, que por sinal daria um filme por ser retrato da brava gente que trabalha no campo. O relato da jovem curitibana Maristela é parecido com a de muitas mulheres brasileiras que acabam tornando-se chefe da família devido ao abandono dos maridos. No caso dela, o envolvimento dele com bebidas e drogas a levou a pedir separação. Ela juntamente com sete filhos administram a terra no Assentamento Palmares. Produzem para subsistência e plantam café e eucalipto tendo ajuda de uma cooperativa. Viveu por quase 10 anos em barracos de lona em acampamentos do MST até serem assentados. No começo não conseguiam produzir nada, enquanto os vizinhos conseguiam, aí ela foi em busca de conhecimento. Fez cursos na cooperativa e através do seu trabalho que foi desde a plantação das mudas até a primeira produção do cafezal, além da plantação de eucaliptos. A luta diária ela divide com os filhos. Segundo ela, já pagou o empréstimo conseguido no Banco para a primeira plantação. Os filhos estudam em escola agrícola, o que descortina a possibilidade deles continuarem trabalhando na terra tendo mais conhecimentos teóricos. Logicamente que saímos de lá com a sensação de que o Mundo pode ser melhor se dermos oportunidade para as pessoas.

Nos despedimos da simpática Maristela e começamos a longa e poeirenta jornada de volta pra Londrina. Em Terra Nova demos carona prum casal que se dirigia a São Jerônimo da Serra e a quem contamos da nossa aventurinha no vale. “Vocês são doido em passar a noite naquele lugar! Ali é território duma onça que já comeu uns bezerros das fazendas vizinhas!”, diz o tiozinho com ar surpreso. Pois é, pra quem se dispõe a conhecer lugares menos explorados os arredores de Terra Nova reservam belezas naturebas e momentos pitorescamente inesquecíveis. E uma certeza: com tantas dificuldades de acesso, onças e assombrações, aqui a paz e o encanto do vale do Tamanduá estarão sempre preservados.

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

1 comentário

  1. Margarida Ribeiro em

    Tudo conversa fiada aquelas terra são minhas nunca ouvimos falar de assombração naquele lugar. E olha que faz anos que meu pai comprou aquela propriedade. Agora onças sim a gente já viu rastro delas ali!!!!

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