Minha mochila, minhas botas de trekking e bastões, as roupas impermeáveis, a barraca são coisas úteis. Ajudam a melhorar meu desempenho, me dão mais segurança e conforto quando estou na montanha.
Mas qual a utilidade de subir a montanha? Essa é uma das perguntas mais feitas pelos que não as sobem.
Nenhuma! Não existe utilidade alguma em subir a montanha.
Coisas úteis são descartáveis, têm validade, são efêmeras. Se a mochila, a bota, as roupas ou a barraca estragarem, comprarei outras, se meu bastão quebrar, o troco também.
Mas como é que posso descartar, substituir, tudo o que vivo em cada montanha que eu subo?
Cada montanha é única! É muito difícil colocar em palavras o que sinto quando caminho por uma mata selvagem ouvindo o som do vento e de pequenos animais que vivem ali, o que sinto quando chego no cume, quando assisto o nascer e o por do sol dali de cima vendo o céu azul ficar amarelo, laranja, vermelho e depois preto, quando levanto no meio da madrugada e saio da barraca sem luz alguma e ao olhar pra cima e vejo aquele céu imenso, cheio de estrelas.
Me pergunto como posso atribuir utilidades a um sentimento que não sei sequer descrever?
E é em função desses sentimento sem nome e sem utilidade que muitas pessoas se embrenham no meio do mato para subir montanhas!
Agradeço muito a existência das coisas úteis que me permitem desfrutar do inútil que a vida me oferece!
3 Comentários
“Escrever um livro inútil, que não conduzisse a nenhum caminho e não encerrasse nenhuma experiência; livro sem direção como sem motivação; livro disfarçado entre mil, e tão vazio e tão cheio de coisas (as quais ninguém jamais classificaria, falto de critério) que pudesse ser considerado, ao mesmo tempo, escrito e não escrito, sempre foi um dos meus secretos desejos.” (Carlos Drummond de Andrade). Então, Suba “tuas” montanhas, beije “tuas” plantas, ame “tuas” estrelas. O resto é sombra de inutilidades alheias.
Parabéns pela simplicidade da explicação, mas de uma assertividade e profundidade fantásticas.
👏👏👏👏
” Me pergunto como posso atribuir utilidades a um sentimento que não sei sequer descrever ” esse é o detalhe dos sentimentos que as Montanhas nos proporciona, parabéns Marise pelo belo texto, e obrigado por poder refletir sempre sobre estas ” inutilidades ” e nunca parar de desfrutar das Montanhas.