Acho que estas colunas ficariam incompletas sem referência ao nosso humilde satélite. Os ciclos lunares foram a origem da astronomia. A fronteira lunar foi o território que nos separava das estrelas. A Lua serviu de inspiração para o primeiro planetário. A poesia viu nela uma atração romântica e a imaginação, uma influência nefasta. E foi nela que o homem inaugurou sua aventura rumo ao espaço.
A Lua é um satélite um tanto peculiar: proporcionalmente à Terra, é o maior do sistema solar. Tem mais de um décimo da massa da Terra e é um objeto bastante denso. Seu raio de 1.700 km é mais de um quarto do nosso. Está relativamente próxima, a menos de 400 mil km de distância.
É o único corpo celeste ao qual o homem chegou – via as sondas soviéticas do Programa Luna (1959-76) e as viagens tripuladas do Projeto Apollo (1969-72).
Existe uma estreita relação entre os dois astros: a rotação da Lua é sincronizada com a da Terra, mostrando sempre a mesma face visível: planícies vulcânicas, montanhas cristalinas e crateras de impacto. Na face oculta, ao contrário, as planícies são raras e as montanhas são bastante presentes.
É por isso que a face oculta parece muito mais homogênea, enquanto a visível é marcada pelas manchas escuras das planícies ou mares lunares, na realidade formados por lava e não por água (ver fotos).
A gravidade da Lua influencia as marés terrestres, especialmente quando há o alinhamento com o Sol, cuja interferência é metade da dela (ver fases da Lua). O acoplamento gravitacional da Lua com a Terra diminuiu a rotação da Lua, bem como o momento angular da Terra.
Ou seja, a Lua está acelerando para uma órbita cada vez mais distante – embora o aumento seja de apenas 40 mm por ano. Por sua vez, a atração gravitacional terrestre causa a oscilação ou balanço lunar, num movimento chamado de libração.
A Lua tem um efeito benéfico sobre a Terra, ao estabilizar sua inclinação e permitir mudanças moderadas de estações. Num certo sentido, ela trava a rotação da Terra, imobilizando a água dos oceanos, ajudando a aquecê-los e a transferir o calor do equador para os polos, amenizando nosso clima.
Quando a Lua era próxima, sua atração provocava marés gigantescas por centenas de km. É possível que a mistura e o revolvimento dos materiais terrestres e marinhos assim promovidos tenham facilitado a combinação dos componentes da vida.
Embora não seja unânime, a teoria mais aceita para a formação da Lua é a de um impacto de um corpo celeste. A vilã Teia teria o tamanho de Marte, com metade do diâmetro terrestre. Isto teria ocorrido há 4.5 bilhões de anos, praticamente quando o sistema solar havia se formado e os impactos entre astros eram comuns. Esta Terra primitiva era um inferno de lava, com uma fina atmosfera de metano e amônia, sem água e sem vida.
Enquanto se formava, Teia orbitava em harmonia a 150 milhões de km de distância. Porém seu aumento de massa deflagrou forças gravitacionais que a aceleraram na direção da Terra, tornando inevitável o colapso (ver figura).
A colisão ejetou material para o espaço, metade do qual se juntou num anel próximo ao equador terrestre. Como lá a rotação era mais alta, a aglutinação criou a Lua em apenas um século. No início, ela orbitava a 25 mil km da Terra, mas hoje como você viu seu percurso é muito mais distante.
O impacto criou um oceano de magma na Lua, e também na Terra – nesta ocasião, formou as montanhas da face oculta. As crateras da face visível são também de magma basáltico, porém geradas muito depois, 3.5 bilhões de anos atrás.
A divisão interna da Lua entre crosta, manto e núcleo é a mesma da Terra, apenas com a crosta mais espessa e o núcleo mais compacto (sugiro ler as colunas anteriores sobre o magma e a terra).
Entretanto, os estudos mais recentes mostram que a composição da Lua é muito parecida com a da Terra, sem aparente influência de um outro corpo (ver tabela). As duas crostas são compostas principalmente por sílica, alumínio e cálcio. Mas é bom lembrar que os interiores dos dois corpos divergem, devido à presença muito maior de oxigênio na Terra e maior concentração de ferro na Lua.
Porém a Terra abriga uma vida exuberante e a Lua é um deserto. Porque? A primeira resposta óbvia é a ausência de atmosfera lunar. A gravidade lá é muito menor que a nossa: a aceleração na superfície é de um sexto dos 9.8 m/seg² da Terra. Da mesma forma, o campo magnético da Lua é apenas um centésimo do nosso, não existindo o geodínamo protetor entre seus polos.
Qual a consequência disto? A fraca gravidade não permitiu à Lua reter os gases atmosféricos e criar uma meteorologia protetora. Sua temperatura mostra uma variação inviável de -150°C à noite a +130°C de dia.
Sem o campo magnético, a superfície lunar ficou exposta ao bombardeamento dos meteoritos, das partículas do vento solar e dos raios cósmicos nocivos à vida. É um planeta sem vento ou tectonismo, com sismos limitados, sem erosão e sem estações, com pouca história e nenhuma vida.
Não é possível a existência de água líquida na Lua. Devido à sua exposição à radiação, a água teria se decomposto, perdendo-se no espaço. Porém, existem suspeitas de que a Lua abrigaria quantidades interessantes de gelo. Ele teria sobrevivido nas crateras frias e escuras dos polos lunares (ver figura).
Assim, o gelo existente poderia permitir a colonização da Lua: a água não precisaria ser transportada da Terra (inviável devido ao peso) e, mais, o oxigênio e o hidrogênio liquefeitos poderiam ser combinados para propelir foguetes espaciais.
E a Lua é um local excelente para a instalação de telescópios, com presença de baixas temperaturas, sem influência da atmosfera e, no lado oculto, protegida das ondas de rádio terrestres. De lá, poderíamos melhor observar o cosmo.
Nós não habitaríamos seu mundo estéril, mas o usaríamos na aventura de conhecer e talvez habitar o universo.