140 anos da conquista do Marumbi, uma marco para o montanhismo brasileiro

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O Maciço do Marumbi e seus vários cumes.

Era quase final do inverno do ano de 1879, quando no dia 21 de agosto, uma comitiva de desbravadores chegou ao cume de uma montanha ainda desconhecida. Liderados por Joaquim Olímpio Carmeliano de Miranda, quatro homens pisaram pela primeira vez no ponto mais alto do Conjunto Marumbi (1.539m de altitude) no Paraná e entraram para a história do montanhismo brasileiro.

Recorte de jornal da época da conquista.

A montanha que eles conquistaram passou a ser chamada de Olimpo em homenagem ao seu conquistador e ainda uma alusão ao monte homônimo na Grécia, a morada dos Deuses.  Junto do líder estavam Bento Manoel de Leão, Antônio Silva e Antônio Messias. Todos eram moradores de Morretes ou Porto de Cima, duas vilas próximas a essa montanha.

No final do século XIX, o montanhismo ainda não era uma atividade conhecida no Brasil. Por isso, Carmeliano e seus companheiros são considerados a primeira equipe de montanhistas do país a subir uma montanha com fins meramente esportivos.

Joaquim Olímpio Carmeliano de Miranda

Foram longos anos de namoro entre Carmeliano e a montanha. Muitos julgavam ser impossível vencer as paredes íngremes de rocha e os perigos escondidos na Mata Atlântica. Registros históricos apontam que o conquistador levou quase uma década para sonhando com esse feito antes de realizá-lo.

Durante a construção da estrada de ferro que liga Curitiba a Morretes, esse sonho se tornou mais viável, uma vez que a ferrovia passava aos pés dessa montanha e tornava a aproximação mais fácil.

Em 17 de agosto eles saíram em mais uma tentativa de escalar essa montanha. Partiram da vila de Porto de Cima carregando em suas costas pesados e desengonçados sacos com as provisões para sobreviver na selva. Nessa época não existiam mochilas e nem barracas, eles usavam apenas tecidos grossos para se proteger do frio da noite e água era coletada em riachos e bromélias.

Carmeliano e sua equipe decidiram subir por uma rota a partir do Vale do Rio São João. Outra equipe liderada por Joaquim Antonio Coelho escolheu subir pela rota oposta. Após três dias, abrindo uma picada em meio a floresta, Carmeliano e seus amigos chegaram ao cume do Boa Vista onde se depararam com uma gigantesca muralha de pedra. Mas sem desanimar, eles montaram pouso próximo a esse lugar e concluíram a escalada no dia seguinte.

Flores selvagens que encantam os visitantes.

Descanso merecido após chegar ao topo da montanha.

Na comemoração no cume eles soltaram fogos de artifício e puderam ver pela primeira vez a vila onde moravam lá do alto. Com os fogos, a população da cidadela também os viu e comemorou junto. Eles ainda conseguiram ver a equipe de Joaquim Antonio Coelho, que havia chegado a um cume na serra vizinha, o Morro do Leão. E estava registrado oficialmente o nascimento do montanhismo brasileiro.

Muitos anos se passaram e o Conjunto Marumbi foi o cenário de inúmeras histórias. Foi lá também que ocorreu a primeira escalada feita por uma mulher montanhista, Hercília Pinheiro Lima, no ano de 1901.

Atualmente o Marumbi é um ícone do montanhismo brasileiro. Mesmo com trilhas consolidadas e a fundação de um Parque Estadual, estas montanhas ainda são um grande desafio para os montanhistas. Sua escalada é exigente, mas a sua beleza natural e a sua magia encantam a todos que o visitam.

Estrutura do Parque estadual do Marumbi atualmente.

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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