Há algum tempo escaladores do mundo todo tem observado um efeito climático assustador. A neve está diminuindo nas montanhas. Um estudo do Instituto de Observação da Terra Eurac Research aponta em números essa percepção. Segundo a pesquisa, cerca de 78% das montanhas do mundo tiveram a neve em suas superfícies reduzida.
Em 2019, o escalador Brasileiro Waldemar Niclevicz não pode terminar o seu projeto de escalar todas as montanhas com mais de quatro mil metros nos Alpes por falta de neve. O gelo contribui para as escaladas fixando blocos de pedras e cobrindo gretas em alguns percursos, por exemplo. Entretanto, com o derretimento mais rápido na temporada de 2019, muitas rotas foram prejudicadas e algumas montanhas foram fechadas para evitar acidentes com escaladores.
A equipe do Gente de Montanha também observou uma montanha diferente durante a temporada do Aconcágua no início desse ano. O topo das Américas estava seco, com pouquíssimas áreas com gelo. Isso fez com que os guias da expedição precisassem carregar água para os acampamentos altos. Visto que normalmente a água utilizada pelos escaladores é obtida através do derretimento de neve.
O montanhista Pedro Hauck também já constatou a visível diminuição de neve em montanhas. Com o passar dos anos, ele retornou a alguns picos já escalados anteriormente, e registrou através de fotos tiradas no mesmo local com datas diferentes esse fenômeno.
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A pesquisa
O Instituto de Observação da Terra Eurac Research, localizado em Bolzano na Itália, realizou um estudo das montanhas através de imagens em alta resolução captadas por satélite. Assim, ele apontou que 78% das áreas observadas tiveram redução no volume de neve entre os anos de 2000 e 2018.
Ainda de acordo com o estudo, atualmente há um atraso no início das nevascas e a antecipação do derretimento da neve. Esta nevando cerca de 43 dias a menos nas áreas montanhosas. Isso acontece devido ao aumento da temperatura do ar e faz com que a neve não se acumule.
A diretora do instituto, Claudia Notarnicola revelou que foram observadas várias mudanças durante o período estudado. “Acima de 4 mil metros de altitude, a maior parte dos parâmetros observados piorou: aumentou a temperatura, diminuiu a extensão da superfície nevada, diminuíram as precipitações e a neve derrete antes”, disse.
Ela também aponta uma exceção, a Rússia, onde mesmo com as temperaturas tendo aumentado, ainda continuam a baixo de zero grau. Todavia a umidade também aumentou no país, favorecendo o aumento de nevascas.
Infelizmente, o derretimento de neve nas montanhas não afeta apenas os montanhistas e escaladores. O maior impacto desse fenômeno é a diminuição de recursos hídricos disponíveis para uso na agricultura, água potável e produção de energia. E também na vegetação e na população da vida selvagem revelou a pesquisadora.
Confira a pesquisa a íntegra aqui.