Há 10 anos dois renomados montanhistas brasileiros uniam forças e experiência em uma grande expedição de exploração nos Andes: o Projeto Mundo Andino. Em uma só viagem, Pedro Hauck e Waldemar Niclevicz escalaram 10 montanhas no Chile e na Argentina. Foram longos dias de aventura que eles compartilharam com o Portal Alta Montanha para inspirar outros montanhistas a planejarem e realizarem seus sonhos.
Rumo ao topo do Ojos del Salado. Foto Waldemar Niclewicz
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Depois de 45 dias de escalada e de passar o Natal e o Ano Novo nas montanhas, o alpinista brasileiro Waldemar Niclevicz retorna ao país após a expedição Topo das Américas, que marcou a retomada de seu Projeto Mundo Andino. A etapa teve início em 16 de dezembro e o trajeto percorrido ultrapassou 12.500 quilômetros, quase metade por estradas de terra, areia, barro e neve. No total, 10 montanhas dos Andes Centrais da Argentina e do Chile foram escaladas.
Essa foi a primeira expedição de Niclevicz após a retomada do Projeto Mundo Andino, iniciado em 2004, mas que foi interrompido pela falta de patrocínio. Com recursos de palestras, o alpinista conseguiu dar continuidade ao seu sonho, com uma estrutura reduzida, porém com o mesmo objetivo: escalar as 100 principais montanhas da Cordilheira dos Andes, levando a bandeira brasileira e, sobretudo, desenvolvendo um trabalho socioeducacional nas comunidades andinas. Ao todo, serão 12 expedições pelos 7.500 quilômetros de extensão da Cordilheira dos Andes, percorrendo a Argentina, Chile, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia e Venezuela até 2015. Ao final do projeto, a experiência de Niclevicz será contada em dois livros, um com fotos e outro com texto, traçando o perfil físico e humano da cordilheira mais extensa da Terra.
A expedição Topo das Américas contemplou a região mais alta da Cordilheira dos Andes, desértica e inabitada, na qual raros símbolos da fauna, como vicunhas, guanacos e condores vivem em seu estado selvagem. Das dez montanhas escaladas, merecem destaque: o Ojos del Salado (6.893m), Chile/Argentina; o Pissis (6.882m), Argentina; o Mercedário (6.770m), Argentina e o Tres Cruces (6.748m), Chile; respectivamente a segunda, terceira, quarta e quinta maiores montanhas das Américas.
As outras montanhas escaladas foram: o Incahuasi (6.621m), Chile/Argentina; o Tuzgle (5.350m), Argentina; o Nevado de Cachi (6.380m), Argentina; o Antofalla (6.470m), Argentina; o El Peinado (5.871m), Argentina; e o Las Tórtolas (6.160m), Chile.
Niclevicz viajou acompanhado de sua namorada Silvia Bonora e do alpinista Pedro Hauck, em uma camionete 4×4 batizada de Andina, cuidadosamente preparada para encarar as piores condições, que enfrentou sem problemas altitudes de até 5.280 metros e temperaturas de 18 graus negativos, além de muitas estradas precárias, pedras afiadas, areia e neve.
Outro fator determinante da expedição foi o bom condicionamento físico do grupo e a excelente adaptação do organismo à altitude, possibilitando a escalada de cada uma das maiores montanhas das Américas em apenas dois dias, uma verdadeira proeza, levando-se em conta o tempo normal, que é de duas semanas. “As poucas pessoas que encontrávamos ficavam impressionadas com o nosso estilo de escalar. Nossa estratégia era carregar o menor peso possível e ir bem rápido, caminhando até 15 horas por dia.”, explica. Isso foi essencial para o grupo vencer o mal tempo que foi predominante na temporada. Rápidos, eles conseguiram aproveitar pequenas janelas de tempo cumprir com o objetivo.
Niclevicz destaca, ainda, que esse desafio só foi possível devido a um rigoroso planejamento do itinerário. “Tudo estava programado em nosso GPS. Por meio de pontos georreferenciados, criamos trilhas onde não havia estrada”, detalha. Segundo Waldemar, os maiores riscos da viagem foram os momentos em que a camionete seguia com inclinação lateral pelas dunas, podendo tombar e o fato de ter atolado o veículo num areal de dois mil metros de extensão em uma subida. “Precisamos murchar os pneus e usar todos os equipamentos disponíveis para desencalhar”.
De acordo com o alpinista, parte da expedição foi realizada com o tempo bom, no entanto, depois do Ano Novo, eles enfrentaram tempestades elétricas, seguidas de nevascas, mudando completamente a paisagem. “Com o mau tempo, vieram muitos problemas. Os rios encheram e inundaram as estradas e o caminho na montanha ficou escondido embaixo da neve. Entretanto, esses obstáculos foram um privilégio para nós, pois encontramos uma paisagem rara para a região”, lembra Niclevicz.
Para ele, o momento mais desafiador e surpreendente da expedição foi a travessia de 800 quilômetros entre Antofagasta de La Sierra, ao norte da Argentina, até Fiambala, ao sul. “Passamos por regiões completamente desabitadas e simplesmente lindíssimas, onde a hostilidade da paisagem era quebrada por lagunas com flamingos e termas que brotavam da areia e do sal. Durante essa travessia, que valeu por toda a viagem, nos deparamos com uma natureza selvagem e aparentemente estéril, como o imponente e solitário vulcão El Peinado, com 5.871 metros de altitude, onde pudemos encontrar restos de um altar deixado pelos Incas há mais de 500 anos”.
De todas as montanhas desbravadas, o alpinista conta que havia estado apenas no Vulcão Ojos del Salado, com 6.893 metros, em 1989, quando se tornou o primeiro brasileiro a escalar esta que é a maior montanha do Chile e o vulcão ativo mais alto do mundo. “Estou com 46 anos e 24 anos depois, fiquei muito feliz em escalar novamente essa bela montanha e perceber, que mesmo depois de tanto tempo, estou com saúde e disposição para fazer o que mais gosto na vida”, comenta.
Planos
Waldemar Niclevicz irá permanecer no Brasil até maio e, nesse período, irá se dedicar a conclusão de seu novo livro, uma autobiografia fotográfica que contará com o prefácio do Pelé, prevista para ser lançada em setembro, e às palestras que ministra para as empresas, sua única fonte de renda para viabilizar as escaladas.
Depois, ele partirá para mais uma etapa do Projeto Mundo Andido, a expedição Império do Sol, no Peru, que será realizada nas cordilheiras que se desenvolvem desde Cusco até o Lago Titicaca, com ênfase para a região de Machu Picchu e Choquequirao (outro importante centro arqueológico).
“Minha expectativa é imensa para essa expedição justamente por acontecer nos arredores de Cusco, a antiga capital do Império Inca, onde se encontra a essência do que eu defino como Mundo Andino: o homem com seus costumes e tradições intimamente ligados às montanhas da Cordilheira dos Andes.”
Waldemar já esteve em Machu Picchu quinze vezes. A primeira foi em 1985, quando despertou a sua paixão pelo Mundo Andino, mas ainda nunca escalou nenhuma montanha em seus arredores. “Sou apaixonado pela cultura local, trabalhei como guia durante oito anos levando grupos para conhecer a região. Escalar as montanhas que escolhi como desafio na Expedição Império do Sol é uma dos maiores sonhos da minha vida”, diz.
Veja mais:
Site de Waldemar Niclevicz
Site de Pedro Hauck
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