Tiago Korb, um montanhista gaúcho radicado em Curitiba, alcançou a impressionante marca de 51 montanhas com mais de 6 mil metros nos Andes. Com isso, ele se tornou a sexta pessoa na história a atingir tal feito.

Tiago Korb.
Até recentemente, era incomum ver brasileiros nas montanhas mais altas da Cordilheira dos Andes, exceto nas mais famosas, como Aconcagua (Argentina), Cotopaxi (Equador) ou Huayna Potosi (Bolívia). Os Andes, apesar de próximos, pareciam distantes da realidade do montanhismo brasileiro.
Na minha opinião, isso não se devia a questões econômicas ou à distância do Brasil, já que na mesma época havia brasileiros se dedicando ao projeto dos Sete Cumes, que é muito mais caro e envolve montanhas mais distantes. Acredito que a falta de divulgação era o principal fator; o conhecimento se limitava às montanhas mais clássicas e renomadas. Por essa razão, “inventei” o “Clube dos 6 Mil”, utilizando o portal AltaMontanha para promover essas montanhas.
Os Andes ainda são tão pouco explorados e conhecidos que não há consenso sobre o número exato de montanhas de 6 mil metros em nosso continente. O escocês J. Biggar estima 100, usando uma proeminência de 400 metros. Já a inglesa S. Imber aponta 105, pelo índice de dominância. No entanto, dependendo de medições mais precisas, o total pode chegar a 110.
Novos membros
O Clube recebeu novos membros recentemente, incluindo Jean Louis Depocas, de Curitiba, e Silvana Lopes, de São Paulo. Silvana, que completou seu décimo cume ao lado de Korb e sua esposa, Luciana, agora segue com a dupla para a Puna do Atacama, uma região andina conhecida por concentrar a maior parte das montanhas de 6 mil metros, com o objetivo de expandir ainda mais sua lista de conquistas.
Um projeto que “pegou”
A iniciativa de escalar montanhas de 6 mil metros prosperou e ganhou vida própria. Comecei como o grande incentivador e hoje vejo diversos discípulos continuando e alcançando um grande número de conquistas, com a dedicação se estendendo até mesmo a pessoas que eu nem sequer conheço. Sinto-me feliz por ter dado o pontapé inicial e motivado pessoas a buscarem algo além do “normal”, explorando montanhas que nem eu mesmo escalei.
Projetos dentro do Projeto
Dentro deste projeto principal, existem vários subprojetos. O mais direto deles é o desafio de escalar as 10 montanhas mais altas dos Andes, que incluem:
- Aconcágua
- Ojos del Salado
- Pissis
- Bonete Chico
- Tres Cruces Sul
- Huascarán Sul
- Llullallaico
- Mercedário
- Walther Penck
- Huascarán Norte
Até o momento, nenhum brasileiro completou este desafio. Estou prestes a finalizá-lo, restando apenas a ascensão da última montanha. Montanhistas de países vizinhos se dedicaram a este feito, mas, culturalmente no Peru, o Huascarán Norte não é considerado uma montanha independente, apesar de atender a todos os critérios. Por isso, muitos o realizaram considerando o Incahuasi como a décima montanha.
O argentino Guillermo Almaraz se dedicou a catalogar os montanhistas que completaram este feito. Em seu site, Estilo Andino (que pode não estar atualizado), descobri informações interessantes, como o fato de eu ter sido o primeiro brasileiro a escalar os top 6500+ da Argentina e Chile, as 10 montanhas mais altas da Argentina e também os 11 vulcões mais altos do mundo. Usei esses feitos para me autoindicar ao Mosquetão de Ouro, mas sequer fui selecionado. Cito isso apenas para alfinetar os “chorões” da internet que acham que eu tenho algum tipo de privilégio ou “xunxo” com a premiação. O que de fato não tenho!
Andes 6500+
Este projeto era considerado o maior desafio no montanhismo antes de propormos a escalada de todos os 6 mil. É uma meta de alta dificuldade devido a uma única montanha: o Yerupajá, no Peru, carinhosamente apelidado de “Carnicero” (Carniceiro). Acho que isso diz tudo!
Concluir a escalada de todos os picos dos Andes acima de 6500 metros é algo tão extremo que, até hoje, apenas três alpinistas italianos o fizeram. Isso mesmo: apenas os irmãos Tomas e Silvestri Franchini, juntamente com Franco Nicolini, completaram o projeto, por volta de 2016.

Yerupaja. Foto Pedro Hauck
Andes 6k +
Como se pode observar, escalar as montanhas dos Andes com mais de 6 mil metros de altitude é um desafio esportivo extremamente interessante e ainda pouco explorado, mas de grande valor. Este projeto, que teve origem no Brasil, tem ganhado notoriedade também na Argentina e no Chile, com vários montanhistas desses países aderindo ao objetivo, conforme pode ser verificado no site de John Biggar. Lá, fica evidente que os brasileiros estão se destacando e engrossando a lista de pioneiros mundiais neste feito.
VEJA MAIS: OS MONTANHISTAS NO MUNDO COM MAIS MONTANHAS DE 6K NOS ANDES – JOHN BIGGAR
O que muitos não perceberam é que completar a escalada de todas as montanhas andinas com mais de 6 mil metros constitui um dos projetos mais audaciosos e difíceis do montanhismo da atualidade. Enquanto mais de 70 pessoas já escalaram todos os “oito mil” do Himalaia e dezenas já conquistaram todos os “quatro mil” dos Alpes, a totalidade dos “seis mil” dos Andes permanece um feito inédito, aguardando por um montanhista corajoso e dedicado.
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