Elizabeth Hawley, a primeira dama do Himalaia

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Não há montanhista que escale no Nepal que não conheça esta pessoa. Ela é quem decide se você fez ou não fez cume ou mesmo se foi à montanha. Mesmo jamais tendo escalado uma montanha em sua vida ela é quem cataloga e procura por contradições em todas as expedições no Nepal e algumas do Tibet.

Elizabeth Hawley

Elizabeth Hawley nasceu nos EUA em 1923 e se formou como historiadora, mas trabalhou como jornalista por muitos anos. Há quem diga que ela já foi agente da CIA e atuou na Guerra Fria tentando achar informações sobre espiões comunistas na região do Himalaia. Sabe-se que ela é correspondente para a Reuters, ela ainda escreve artigos e manda informações para revistas e jornais de 10 países: American Alpine Journal, a Desnivel, a revista Climber, a revista Alp, Time, entre outras.

Miss Hawley, como é conhecida pelos himalaistas, faz seus arquivos entrevistando cada expedição antes e depois. Começou a arquivar informações em 1963 com a primeira escalada norte-americana ao Everest. Hoje ela cobre mais de 300 picos no lado nepalês do Himalaia, além dos dois lados do Everest, Cho Oyu, Kangchenjunga e outras.

Depois de 47 anos arquivando todas essas informações ela compôs um único, porém completo banco de dados da história da escalada no Himalaia e já chegou a negar que várias pessoas tenham feito cume através de suas investigações. Muitas expedições baseam a estratégia de sua escalada nos dados de Miss Hawley. Hoje o Himalayan Database conta com registros às montanhas desde 1905!

Geralmente ela telefona ou aparece pessoalmente algumas horas após a chegada das expedições em Kathmandu. Não importa em que buraco em Kathmandu a expedição está. Um fusca azul parado na porta de seu hotel é geralmente o sinal. Ela sempre pergunta sobre os planos, a rota e funcionários da expedição. Ela tem uma lista com nome, data de nascimento, cidade e para que expedições cada sherpa e tibetano já trabalhou. Muita gente sempre quis colocar mãos nestes arquivos, mas ela alega que isso é só de interesse dela.

A pequena senhora chega a intimidar quando começa com sua série de perguntas como: “O que tinha no cume?” ou “Quem você encontrou no caminho?”. Pelo fato dela ser a única pessoa capaz de encontrar possíveis mentirosos, todos a tratam como entidade consular e respondem com exatidão a tudo o que ela pergunta mesmo seu banco de dados sendo não oficial ou obrigatório. Portanto qualquer pessoa que queira ser reconhecida por ter escalado um pico no Himalaia vai ter que se voluntariar ao interrogatório.

Eu no encontro com a dama do Himalaia

Na última vez que participei de seu interrogatório, lembro que ela me perguntou quem estava no acampamento e a que horas eu saí para o cume. Me esforcei e lembrei de uma pessoa de jaqueta azul que também tinha acordado naquela madrugada. Minutos depois ela me perguntou a que horas eu tinha encontrado com Andrea. Sem entender nada perguntei: “Andrea?”, ao que ela continuou “Sim, a pessoa de jaqueta azul”. Acontece que ela sabia de algum jeito o nome do tal alpinista italiano, pois já tinha entrevistado ele. Quando perguntei como ela sabia, ela me olhou de lado com um sorriso discreto e continuou com as perguntas. Mesmo com 86 anos de idade, ela tem uma memória incrível.

Em sua próxima escalada no Nepal, lembre-se: NÃO MINTA!

Texto: Maximo Kausch

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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