Como Escolher uma Mochila?

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A escolha de um tipo, de um modelo ou até de uma marca de mochila será em função do modelo de atividade que se pretende realizar e, ainda, do tempo que se permanecerá utilizando a mochila. Neste artigo trataremos de explicar as várias funções de uma mochila para montanhismo e trekking de modo que auxilie o usuário a escolher uma que melhor e adapte a seu uso.

Mais importante que uma marca ou preço de uma mochila, é a definição pessoal do que se deseja deste equipamento, de seu uso, suas aspirações e etc.

A primeira das exigências será seu tamanho, regularmente expressada em litros, que te dará uma ideia aproximada de sua capacidade, enquanto a segunda característica principal trata-se dos detalhes técnicos que deverá incorporar a mochila, como zíperes, compartimentos, fitas, sistemas de transporte de acessórios e claro a forma.

Pedro Hauck carregando duas mochilas e equipamentos de escalada no Huascarán, Peru. Foto Maria T. Ulbrich.

A respeito do tamanho, o mais razoável é que uma mochila de fim de semana, para uma atividade como o excursionismo em média ou baixa montanha, tenha um tamanho que oscile entre os 45 até 65 litros.

Capacidades inferiores acabarão limitando o montanhista ou o escalador, que acabará sendo obrigado a transportar bens pelo lado de fora da mochila, o que muitas vezes acaba se transformando num transtorno, principalmente nas montanhas brasileiras, que são sempre, ou quase sempre, em meio a densa vegetação.

Por sua vez, as mochilas de volumes superiores farão que se possa transportar muitas coisas, inclusive as extremamente desnecessárias, ao que resultará em desequilíbrio e fadiga do usuário, além de que, dado seu tamanho, acabará se tornando literalmente um fardo para desviar da, como já citada, vegetação brasileira. Além disso, mochilas muita grandes tendem a desequilibrar seu usuário, o que pode ajudar a causar um acidente. No entanto mochilas grandes são necessárias em expedições a grandes montanhas, como AconcaguaCerro PlataHuayna Potosi, etc.

A norma geral demanda que se deve realizar uma previsão correta do volume e peso a transportar e, uma vez estudado o que vai se colocar na mochila, escolher uma com capacidade justa, ou inclusive menor, para acostumar-se a levar só o imprescindível, descartando carregar uma grande quantidade de roupa para trocar ou aqueles acessórios que nunca se usam.

Sobre o tamanho, divide-se as mochilas em três categorias:

Mochilas de Ataque: São mochilas pequenas, geralmente sem uma estrutura rígida que servem para fazer um hiking mais curto. Nelas carrega-se apenas o essencial para uma atividade de poucas horas, como água, comida e um abrigo.

Mochilas pequenas são chamadas de “Mochila de ataque!”. Na foto duas Guide Lite da Deuter 24 lts.

Mochilas semi cargueiras: São mochilas de tamanho médio, entre 40 e 60 litros. São mochilas ideais para uma atividade de final de semana, onde é necessário levar equipamento de camping, mas não precisa carregar muita comida e roupa. Também é uma mochila boa para pessoas que estão em expedição, mas carregam apenas seus equipamentos pessoais, deixando equipamentos mais volumosos com carregadores ou animais de carga.

Mochilas semi-cargueiras tem entre 40 até 60 litros. Na foto Pedro Hauck com uma Air Trek lite da Deuter no acampamento base do Everest.

Mochilas cargueiras: São mochilas de grande capacidade, acima de 60 litros, desenhadas para transportar grande volume de coisas.

As cargueiras de Maria T. Ulbrich e Pedro Hauck carregadíssimas.

Tipos de Encostos (Acolchoamento)

Segundo sua concepção, materiais e fabricante, cada mochila incorpora um tipo de encosto. O mais habitual em mochilas de tamanho médio é a anatômica, pré formada e canalizada nas regiões mais comprimidas para facilitar sua ventilação, ao que também ajudarão os materiais reticulados que recubram o acolchoado em regiões de contato com o corpo.

Outra característica importante, sobretudo em mochilas de grande capacidade, é o sistema de encosto aerado, onde a única parte a ficar em contato com o corpo são as regiões escapulares (ombros) e lombares, restando na zona central do encosto um grande canal por onde circula o ar, facilitando a transpiração, o que incomodará menos quem a estiver portando.

Tipos de costado de mochilas. Na esquerda um costado de tela e outro acolchoado

A distância entre alças e a região lombar, que devem ser corretamente acolchoados, poderá ser fixa ou regulável. Quando fixa, os fabricantes oferecem vários tamanhos para adequá-las ao usuário. Se é regulável, sendo esse hoje em dia a mais popular, já não se precisa essa oferta de diferentes tamanhos, pois somente com o deslizar de algumas fitas por fivelas, ou até mesmo acionando sistemas automáticos, se consegue adaptar a separação da cintura e alças aos usuários mais diferentes anatomicamente ou para as atividades e cargas mais variadas.

Não devemos deixar de recordar, também nesse caso, de que a comodidade de uma mochila depende, em grande parte, da correta escolha de seu tamanho e correta regulagem. Há fabricantes que vendem mochilas P, M e G e outros que fazem sistemas de regulagem que faz que as mochilas se adaptem ao corpo de qualquer pessoa. A vantagem das mochilas com tamanho fixo é que elas ficam mais leves, a desvantagem é ela fica pouco versátil.

Maria T. Ulbrich escalando em Petrópolis com uma Guide Lite.

Existem inclusive mochilas especialmente desenvolvidas para mulheres, com distância entre as alças e região lombar diferentes das projetadas para os homens. Além disso, as alças e o cinto abdominal, são desenvolvidos em formatos mais anatômico ao seu uso. A marca Deuter é pioneira em fazer este tipo de mochila e elas são distinguidas das demais por terem a letra “SL” no final de seu nome.

Nunca é demais lembrar que mochilas para escalada ou montanhismo devem sempre possuir o cinto abdominal, as chamadas barrigueiras, pois essa peça torna-se indispensável para repartir a carga entre as regiões mais fortes do corpo. Sem ela, seus ombros possivelmente incomodarão muito ao longo da jornada, podendo chegar, inclusive, a ocorrerem lesões graves.

Há também as mochilas especiais para uso em escalada em rocha e alpina. Elas têm uma base mais estreita para não atrapalhar o uso da cadeirinha e o topo também deve ser desenhado para não atrapalhar o capacete, permitindo melhor movimentação. Além disso elas precisar ser bem leves e ter compartimentos especiais para levar equipamentos e cordas. A Deuter tinha uma série de mochila de escalada, mas infelizmente não vem mais para o Brasil. Entretanto eu tenho usado dois modelos que tem todas as características citadas e que atendem muito bem a escalada, a Guide Lite 24, para vias mais curtas e a Trail Pro 34 para vias mais longas.

Bolsos

Para atividades muito técnicas, como escaladas, ascensões ou caminhadas por terreno escarpado ou caminhos estreitos, os bolsos frontais ou laterais que sobressaiam em excesso da mochila poderão impedir que a pessoa se mova livremente, como já dito anteriormente, principalmente à densa vegetação presente na maior parte das montanhas brasileiras.

Porém, quando suas medidas forem “comportadas”, ou a intenção seja a de atividades com pouca técnica, os bolsos serão de grande utilidade para transportar equipamentos, como a lanterna, o combustível e a garrafa de água, sem contaminar (em caso de vazamento) alimentos ou roupas.

Já o bolso localizado na tampa superior da mochila é considerado item básico e de grande valia, sendo que podem ser inclusive dois, um com abertura na parte exterior da mochila, e outro com abertura interna, próprio para guardar documentos, chaves, dinheiro e etc. Normalmente neste compartimento os fabricantes colocam ganchinhos para que as chaves não se percam entre os demais equipamentos.

As mochilas da marca sueca Thule tem um interessante sistema de transformar a tampa de suas mochilas carguerias, da série Guidepost em mochilas de ataque. Este equipamento é interessante para expedição onde chegamos em um acampamento com bastante carga e de lá partimos rumo ao cume de uma montanha somente como o essencial para ir e voltar.

Os bolsos de uma mochila e seu uso; 1: Uso da tampa para levar um isolante térmico; 2: Mochila comprimida com as alças laterais; 3: Uso do saia lateral para levar garrafas; 4: Tampa com objetos de uso urgente e coisas pequenas.

Compartimentos de uma mochila. Exemplo de uma Thule Capstone 50.

Compartimento com Zíper para a Parte Inferior da Mochila

As melhores mochilas do mercado possuem um item que muitas vezes ajuda muito o excursionista: Mais de uma forma de acesso ao seu interior.

Quando se necessita de um acesso rápido ao local onde está um fogareiro, ou uma barraca, é muito mais interessante que esse acesso seja direto, ao invés de obrigar ao montanhista a retirar todos seus equipamentos da mochila. Pensando nisso, muitos fabricantes já adicionaram aberturas inferiores, e alguns até abertura total da mochila. É um item que soma muito pouco peso final à mochila, porém acaba tornam-se substancial para um melhor uso desse equipamento.

Tenha certeza de que as mochilas com divisão para o fundo e acesso com zíper são incrivelmente práticas, pois nos permitem acessar o interior sem desfazer ou desorganizar a mochila.

Pedro Hauck com uma Deuter Aircontact Pro carregada. Foto Gabriel Tarso.

Marcas de mochilas

Existem diversas marcas de mochilas. Abaixo iremos listar algumas das mais famosas e algumas peculiaridades:

Ferrino: Uma das mais antigas marcas de mochila do mundo, trazendo a qualidade de fabricação italiana para os produtos de aventura. Seus produtos tem se modernizado cada vez mais, trazendo algumas soluções práticas e inovadoras para o montanhismo moderno. O modelo Instinct da Ferrino é a primeira mochila feita em Dyneema trazida para o Brasil.

Deuter: Uma das características das mochilas Deuter é o conforto e a resistência. No entanto elas costumam ser pesadas. Uma nova linha, a ACT lite, muda um pouco este aspecto, mas mesmo assim não consegue ser tão leve quanto outras marcas que se especializaram em produzir mochilas deste tipo.

Osprey: A marca americana domina o mercado de lá, mas ainda é pouco conhecida no Brasil. Ela é conhecida por fazer mochila extremamente sofisticadas, as mais leves do mundo. No entanto para isso ela utiliza o sistema de tamanhos, que podem ser P, M, G ou GG.

Thule: Marca sueca que faz racks de carro, bagageiros etc e que recentemente começou a fazer mochilas também. Eles uniram as caracteristicas da Deuter e Osprey e faz uma mochila meio terma entre as duas, um produto com muita tecnologia, design que é mais leve que uma Deuter e mais resistente que uma Osprey, mas mais pesada que esta ultima e menor durável que a outra.

Black Diamond: Fabricante americano de equipamentos de escalada e montanhismo, se especializou em mochilas mais técnicas, usadas em alpinismo e escaladas em rocha.

The North Face: Marca americana que faz muitas roupas técnicas e de frio, também tem sua linha de mochilas que segue os ideais da marca de fazer produtos top, com designs interessantes, porém preços um pouco mais altos.

Curtlo: Fabricante nacional que agrada bastante os consumidores brasileiros faz todos os tipos de mochilas. São duráveis e tem garantia eterna de fábrica.

Conquista: Fabricante paranaense é conhecido por fazer mochilas mais simples, porém duráveis com ótimo custo.

Trilhas e Rumos: Marca brasileira tem duas linhas de produtos, uma fabricada no Brasil com produtos mais simples e preços populares e outra fabricada na China que mantém o custo baixo, mas o produto tem melhor design e resistência.

Outras particularidades importantes:

Mochila cargueira de Pedro Hauck no Aconcágua

– Fitas de compressão lateral (1). Nunca são em excesso, sobretudo quando transporta a mochila meio vazia e pretenda reduzir volume. Além disso, podem ser um bom lugar para colocar um colchonete isolante térmico, transportar um bastão de trekking, etc. Essencial para mochilas cargueiras, pois nem sempre a utilizamos em sua capacidade máxima

– Porta-piolets e porta-crampons (3). Se a intenção é a de uma viagem para uma região nevada ou escalada em gelo são importantes as fitas que a maioria das mochilas possui para colocar o piolet, crampons ou inclusive no caso de travessias sobre a neve as pranchas de esqui.

– Cinto peitoral. Tem mochilas que incorporam uma fita com regulagem na altura do peito para evitar seu balanço excessivo. mas não se esqueça de afrouxá-lo na subida, quando pode ocorrer falta de oxigênio e força. Mulheres com prótese nos seios devem tomar muito cuidado.

– Fitas de tensão para a parte superior (4). Regulam a mochila para que esteja mais próxima do pescoço e não te desequilibre.

– Compartimento de hidratação. São destinados a guardar as bolsas de hidratação. Geralmente ficam próximo às costas das mochilas. Na maioria das vezes são acessados pelo compartimento principal, no entanto alguns modelos tem acesso por fora, o que facilita o reabastecimento sem precisar de tirar a carga.

– E lembre: por mais impermeável que seja o material em que seja fabricada uma mochila, é recomendável cobri-la com uma capa protetora em caso de chuva (e talvez proteger o material de seu interior com sacolas de plástico). Isto te evitará a desagradável surpresa de constatar que, pelas costuras, entra muita água.

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Sobre o autor

Pedro Hauck natural de Itatiba-SP, desde 2007 vive em Curitiba-PR onde se tornou um ilustre conhecido. É formado em Geografia pela Unesp Rio Claro, possui mestrado em Geografia Física pela UFPR. Atualmente é sócio da Loja AltaMontanha, uma das mais conhecidas lojas especializadas em montanhismo no Brasil. É sócio da Soul Outdoor, agência especializada em ascensão em montanhas, trekking e cursos na área de montanhismo. Ele também é guia de montanha profissional e instrutor de escalada pela AGUIPERJ, única associação de guias de escalada profissional do Brasil. Ao longo de mais de 25 anos dedicados ao montanhismo, já escalou mais 140 montanhas com mais de 4 mil metros, destas, mais da metade com 6 mil metros e um 8 mil do Himalaia. Siga ele no Instagram @pehauck

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