A Garganta do Diabo

0

Os rios q serpenteiam os contrafortes serranos dos arredores de Paranapiacaba oferecem gdes atrativos q se traduzem seja na forma de respeitáveis cachus e poços translúcidos como tb outro gde tipo de acidente geológico q dá um espetáculo a parte: imponentes cânions q, independente da forma e tamanho, emparedam td ao seu redor por meio de grandiosas muralhas rochosas verticais. Destes, o mais conhecido é o q atende pelo sugestivo nome de “Garganta do Diabo”, magnífico desfiladeiro de rocha pura formado pelas águas inquietas do Rio da Onça em seu acidentado trajeto serra abaixo antes de desembocar mansamente no Rio Mogi.

De relativo “fácil” acesso, este domingo lá retornei pra explorá-lo melhor de modo a ganhar intimidade maior com o referido gargalo pedregoso. O saldo do dia foi a “descoberta” de novos achados q passaram desapercebidos das ocasiões anteriores em q lá estive: uma rede de trilhas bem batida com acesso tanto ao outro extremo/base do desfiladeiro como a uma ótima e  oportuna área de acampamento; além de mais uma enorme cachoeira q apenas engrossa as trocentas q esta maravilhosa região oferece, e introduz seus andarilhos ao chamado “Vale da Morte”.

Relativamente debilitado por uma inconveniente gripe adquirida uma semana antes, abri mão do perrengue pauleira e exigente fisicamente q tinha em mente pro domingo agora. Mas claro q estar resfriado não é sinônimo de permanecer mofando em casa, ainda mais com um sol sorrindo pra vc num céu estupidamente azul. Basta saber procurar um programa adequado à suas condições. Dessa forma decidi voltar à “Garganta do Diabo” (q eu e mtos conhecidos preferimos chamar carinhosamente de “Gogó do Tinhoso”), cânion q já visitei em mais de uma ocasião já a algum tempo, porém de forma breve e passageira. Pois bem, essa foi a deixa pra lá voltar de modo a explorá-lo mais minuciosamente de forma sussa e descompromissada.

Assim, as 8:15hrs eu e a pau-pra-td-obra Lucilene saltamos do busão em frente da fumegante industria q destoa da paisagem esmeralda nos limites de Rio Gde da Serra e Sto André. Ignorando a conhecida trilha da Cachu da Fumaça, optamos por seguir ao nosso destino via Rio da Solvay (ou Rio do Meio), embora no fundo tds as trilhas aqui de uma forma ou de outra convergem pro “Vale da Morte”, até pq tds são paralelas entre si. Retrocedemos um tanto pelo asfalto ate q finalmente nos embrenhamos mata adentro, chapinhando pela tradicional e inevitável trilha enlameada e fétida, assustando até uma galinha-do-mato q por ali transitava pra se pirulitar nos arbustos.

A passos ligeiros passamos sob o zunido eletrostático das torres de alta tensão ate finalmente mergulharmos no frescor da mata fechada e chegar nas manilhas q cruzam o Rio Vermelho. A partir daí o caminho já foi cantado em verso e prosa em mais de uma ocasião e não precisa de gdes descrições. O fato é q não tardou a alcançar o Rio do Meio, onde bastou acompanhar a indefectível picada q o costura por ambas margens. O sol filtrado pela mata iluminava maravilhosamente a paisagem ao redor, embalado pelos sons da mata, eventualmente rompidos por espirros e tossidas secas oriundas das entranhas da minha garganta dilatada e repleta de catarro.

O som de vozes mas principalmente o odor característico de “cannabis” indica a proximidade do Lago Cristal. Dito e feito, bastou chegar á tradicional área da acampamento q bordeja o bucólico e esverdeado poço pra encontrar uma galerinha roqueira recém saída da balada e disposta pra curtir o enorme piscinão, alem de uma outra moçadinha q já tava ali “acampada” da forma mais rústica imaginável, improvisando apenas um pequeno toldo de plástico pra passar a noite. Pela proximidade com o mar, perguntamos se a noite fora fria ou chuvosa e pra nossa surpresa o tempo aqui tem se mostrado bem estável. Sorte deles.

Prosseguimos então nossa marcha agora descendo o rio, inicialmente desescalaminhando uma trilha q desaba piramba abaixo pra depois seguir pelo seu leito pedregoso, saltando de pedra em pedra. A pernada é favorecida pelo baixo volume de água do rio, q permite pisada segura e firme na maior parte do trajeto, mas ainda assim uma insegura Lu não se faz de rogada e enfia o pé inteiro na água nos trechos em q a bota ameaça patinar pelas rochas. Um pouco mais adiante e após fazer a curva de um morro os horizontes de ampliam e a paisagem se abre, revelando o visu da sequencia de alvas quedas do Rio das Pedras bem a nossa frente, despencando encachoeirado na encosta oposta.

A descida de rio segue tranqüila e sem nenhuma intercedência, alternando as margens conforme vamos desviando dos obstáculos q se apresentam á nossa frente, seja enormes poços, pequenas cachus ou paredões verticais. As 9:30hrs e antes de chegar no chamado “Portal”, isto é, a confluência dos rios (Solvay, Vermelho e das Pedras) por sua vez situada ao sopé de uma enorme rocha q serve de sentinela, esbarramos com um quarteto de escoteiros (ou bombeiros, sei la) q subia o rio no sentido contrário com quem trocamos algumas infos.

Mas uma vez no “Portal”, as 10:40hrs, q tive q arranhar os cafundós da minha memória pra lembrar o local exato por onde tem q se esgueirar  – através de quebra-corpos entre as rochas –  de modo a alcançar o patamar após a confluência dos rios, agora chamado de Rio da Onça. E la fomos nos espremendo entre as rochas, passando por baixo de outras e descer do lado de uma enorme cachu respingando parte de sua gelada água na gente. Realmente, pra passar daqui em diante na raça e sem equipo o rio deve estar relativamente seco, do contrario sem chance. Menos mal q São Pedro anda gentil conosco naquele belo domingo.

Uma vez no leito pedregoso do Rio da Onça (e prólogo do “Vale da Morte”) bastou seguir desimpedidamente da mesma forma, isto é, desescalando rochas e desviando dos obstáculos do caminho, cada vez mais surpreendentes. Isso se traduz na sequencia de enormes e esverdeados piscinões q fazem o farofado Lago Cristal parecer uma simplória poça. Diferentemente da parte alta, aqui vc não encontra ninguém justamente pela distancia e pelo terreno acidentado q não é qq um q se dispõe a encarar. Tanto q aqui so topamos com outra galera retornando justamente da Garganta e com quem conversei rapidamente pra saber das condições da mesma.

O pessoal era de uma agencia, a “DesafioAdventures”, q havia rapelado o cânion após pernoitar com clientes no alto do paredão direito. Pernoitado, como assim? Pois é, qdo estive a ultima vez ali (coisa de 3 anos atrás) não recordo de ter visto nenhum local decente de pernoite a não ser o tradicional “bivake em rede”, e isso despertou meu interesse pois vem a calhar no caso de explorações mais demoradas pela região. Bom saber disso ai.

Continua…
Texto e fotos de Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos
 

Compartilhar

Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

Deixe seu comentário