A notícia da nova altitude do Everest é propaganda: Afirmam geógrafos e alpinistas

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Ontem, a notícia de uma nova medição de altitude do Everest, agregando 86 centímetros a mais à montanha mais alta do planeta infestou as mídias sociais de maneira viral. Tal notícia, relata o fato de que o governo do Nepal e da China entraram em comum acordo com a definição da altitude da montanha mais famosa do mundo, compartilhada por ambos países, em uma medição feita em maio de 2020 pela China e outra realizada pelo Nepal um ano antes.

Apesar do comum acordo entre ambos países, não há mudança na altitude oficial do Everest, que desde 1955 é assumida como sendo 8848 metros acima do nível médio dos mares. A única confirmação que as pesquisas levadas a cabos pelos dois países asiáticos é que o grande terremoto de 2015 não afetou a altitude da montanha.

Eduardo Martínez de Pisón. Fonte Desnível.

Do ponto de vista científico e exploratório a notícia é pouco relevante. Pelo menos é o que afirma o geógrafo e alpinista espanhol Eduardo Martínez de Pisón. Em entrevista à conceituada revista Desnível. Pisón afirma:

Esta notícia é um pouco ridícula. Para ganhar uns poucos centímetros. É verdadeiramente um absurdo que dois países como China e Nepal precisem entrar em acordo quanto a altitude de uma montanha. O acordo é entre os topógrafos. Eles fazem as medidas técnicas, obtém o resultado e acabou”.

Pisón ainda completa: “Há uma diferença entre o conceito de altitude e de altura. O que foi dado é a altitude, ou seja, uma cota a partir do nível do mar, enquanto que a altitude é o desnível, também chamado de proeminência, que é a relação entre a base e o cume da montanha. Aliás, na Geografia, quando se uma cota, se dá a cota da totalidade do maciço pelo menos. Eu diria que há que se dar uma resposta de caráter local, se faz um mapa e se estabelecem as cotas referenciadas umas às outras: Rongbuk, Khumbu, Dingboche, o Ama Dablam, Lhotse, Nuptse Estas cotas variaram ou não? Isso é pura propaganda!  Em uma montanha desse tamanho, oitenta centímetros não é nada. É ridículo e também irrelevante. Se fosse que tivesse mudado 200 metros para baixo ou para cima, seria levar a sério, mas mudar a altitude de uma montanha daquela enormidade em alguns centímetros … Eu considero isso ridículo”.

O geógrafo e montanhista Pedro Hauck apontando para o cume do Everest desde o Lobuche East, Nepal.

O AltaMontanha buscou uma segunda opinião e conversou com Pedro Hauck, colunista do portal que também é geógrafo e montanhista, que afirmou: “Logo que vi a notícia, fiquei incomodado, pois estes 80 e poucos centímetros não nada num ambiente que de um dia para outro pode-se acumular ou derreter metros de neve. Aliás esta questão sobre medir o cume do Everest sobre a capa de neve ou no nível da rocha é tão batida que no está até no wikipedia em português” (copiamos abaixo)

Hauck completa: “Há discussões sobre os modelos a ser levados em consideração para determinação de altitude, pois o nível médio dos mares é um consenso, assim como a forma da terra também. Hoje há o consenso do geóide, que é um modelo matemático. Eu acho uma perda de tempo ficarem divulgando um dado que em nada muda o conhecimento geográfico e enquanto isso aqui nos Andes a gente nem sabe quantas montanhas acima de 6 mil metros existem pela falta de pesquisas neste assunto. Há grandes dúvidas se montanhas como Sairecabur, Alto Toroni, Tocclaraju e Artesoraju são ou não um 6 mil. Isso apenas para citar as mais conhecidas”.

A tempos. A seção que trata da altitude do Everest no Wikipedia em português (Acessado em 9 de dezembro de 2020) assim descreve:

A altitude de 8848 m, reconhecida pela China e pelo Nepal, foi estabelecida por uma pesquisa indiana de 1955 e posteriormente confirmada por uma pesquisa chinesa em 1975. Em 2005, a China recalculou a altitude da montanha e chegou ao resultado de 8844,43 m. Uma controvérsia entre China e Nepal a respeito do valor altimétrico da montanha durou 5 anos, de 2005 a 2010. A China argumentava que ela devia ser medida pela sua cota de rocha, que é 8844,43 m, mas o Nepal dizia que deveria ser medida pelo topo da camada de neve, que é de 8848 m. Em 2010, foi finalmente alcançado um acordo que a altitude do Everest é de 8848 m e o Nepal reconheceu a alegação da China de que a altitude do topo da rocha do Everest é de 8844,43 m. Em dezembro de 2020, os dois países deram uma conferência de imprensa onde apresentaram o valor altimétrico de 8848,86 m.

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Texto publicado pela própria redação do Portal.

1 comentário

  1. E nós aqui, parte da geografia tupiniquim ainda discutindo se no Brasil temos ou não montanhas, estados sem uma minima lista de seus cumes, o IBGE cada vez menos G e muito E…e da-lhe desconhecimento orográfico, hipsométricos, de ambientes de montanhas e nos apegamos ainda há teorias refutadas há tempos.
    Maack em 1941 e depois, fez “trabalho desnecessário” então…e vamos voltar com o mais alto, o Marumbi com 1810 m?
    Na Espanha, se procurar melhor, vai ver que esse Senhor não é unanimidade e há tempos leio, vejo, acompanho a Desnível.

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