As clássicas escaladas do Parque do Imbuí

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Aglomerado rochoso na área do PNMMT tem diversas vias e grande potencial para exploração

Instalação, pelo CET, de placa em homenagem ao lendário montanhista Mozart Catão – falecido no Aconcágua em 1998

Aglomerado rochoso que fica nos limites do Parque Natural Municipal Montanhas de Teresópolis e é pouco conhecido do visitante comum é o Parque do Imbuí, montanha que divide esse bairro do Caleme e cujo ponto mais alto se eleva a 1.517 metros em relação ao nível do mar. Suas grandes e íngremes paredes, porém, são bastante comuns aos escaladores de Teresópolis, que as frequentam há cerca de três décadas, desde a geração do lendário Mozart Catão – teresopolitano vítima fatal de avalanche no Aconcágua, na Argentina, em fevereiro de 1998. Ele morreu quando tentava escalar a Face Sul em companhia de Othon Leonardos e Alexandre “Ice Wall” Oliveira, sendo o último também nascido no município e responsável por vias de escalada na área do nosso hoje comemorado parque.

Parede do setor Caminho dos Loucos lotada, em uma das aulas do curso básico de escalada realizado pelo Centro Excursionista Teresopolitano

O Parque do Imbuí é dividido basicamente em três setores, todos acessados pela Estrada do Planalto. São eles o da Suave Veneno (3º IV sup E1, conquistada por Leonardo Dias e Marco Catão), via famosa pelos dois tetos e que deixou de ser frequentada assiduamente depois que um deles sinalizou risco de desabamento em meados dos anos 2000, e que tem ainda outros dois projetos em aberto bem próximo; o do Caminho dos Loucos (3º IV E1, aberta por Carlos Alberto “Bocão”, Cristiano Schütte e Alexandre Neves em 1996), este o mais frequentado por conta da via que dá nome ao setor e ainda as variantes Los Três Amigos (3º IIIsup E1, de Marcos André “Bocão”, Marco Catão e Leonardo Dias), Dedo Estourado (3º E1, Leandro Nobre e Marcos André “Bocão”) e Debi & Lóide (4º VIIa, Leandro Nobre e Marcos André “Bocão), além de existir bem ao lado do “Caminho” uma antiga e esquecida via de Catão, que já era pouco utilizada pela precariedade e distância das proteções e que ainda acabou bastante danificada após os escorregamentos de terra e pedras da Tragédia de 2011.

Mudanças no ambiente

Tal catástrofe, aliás, fez com que tal point de escalada deixasse de ser utilizado por muitos anos e, mesmo tanto tempo após os estragos feitos pelo temporal e nenhum registro de outros problemas do tipo, a região não voltou a ter o mesmo interesse que pela comunidade escaladora por conta da preocupação com novos escorregamentos de pedra e terra. Outro fator importante em relação ao setor dos Loucos é que tal parede, muito utilizada em cursos básicos de escalada por conta do nível técnico mais baixo, foi batizada pelo Centro Excursionista Teresopolitano (CET) como “Campo Escola Mozart Catão”, com a instalação em uma placa em homenagem ao mítico escalador que tanto frequentou essas paredes. Uma variante entre Loucos e a abandonada via de Mozart recebeu o nome de “Ice Wall”.

Escaladora na via Caminho do Céu, conquistada em 1993 por Mozat Catão, Luis Caminha e Paulinho Tapinha

Catão, aliás, é um dos autores de umas vias mais difíceis do último setor do Parque do Imbuí, a “Caminho do Céu” (5º VIIa E3). Essa via foi aberta em 1993, com ajuda de amigos de Mozart como Paulinho Tapinha e Luís Caminha. No lado esquerdo dela existe uma via que nunca foi batizada oficialmente, mas que por conta do traçado de Catão é conhecida no meio “Caminho do Inferno”. Foi conquistada por José Alberto “Zé Mulher” e Josimar Sechin “Mazinho”.

Nesse setor, as paredes têm inclinação mais alta do que as primeiras citadas. Todas as vias têm acesso pela Estrada do Planalto, sendo os setores Suave e Loucos logo no início, em um terreno baldio e ao lado a linha de um grande escorregamento de terra, e Caminho do Céu pelo número 545, quase no encontro com a Rua Vagalume.

A beleza da silhueta e o visual dos Três Picos em registro feito na base da via Caminho do Céu

Potencialidade

Resguardado o risco de novos deslizamentos de pedra da parte mais alta da montanha, o que parece não ocorrer mais diante do histórico dos anos recentes, é mais que necessário evidenciar e valorizar a potencialidade dessas paredes para a abertura de novas vias de escalada, a reforma de algumas antigas e o incentivo à prática desse esporte na área do PNMMT, que futuramente pode dar maior divulgação ao Parque do Imbuí como efetivamente um dos seus núcleos de visitação.

O famoso “crux” da via Caminho dos Loucos, conquistada em 1996. A “barriguinha” é a parte mais difícil dessa escalada

Dez anos!

No próximo 06 de Julho, quando se comemora o aniversário de emancipação político-administrativa de Teresópolis, quem nasceu ou escolheu o município para viver tem outro motivo para festejar: Nessa data o nosso Parque Municipal completa 10 anos de existência! Na primeira década do PNMMT, muitas conquistas foram realizadas, houve grandes mudanças principalmente no núcleo da Pedra da Tartaruga e a previsão é de ainda mais benefícios para a conservação da natureza e o desenvolvimento do município através do turismo ecológico! Parabéns a todos que dedicam esforços pela continuidade e ampliação do nosso parque e que venham mais 10 anos de muitas vitórias. Para cima, sempre!

Um dos tetos da Suave Veneno, bonita via de escalada que deixou de ser frequentada após um deslizamento de pedras

Capela de São Francisco de Assis, no Parque do Imbuí, tendo ao fundo o aglomerado rochoso onde estão as vias de escalada

Parede do setor Caminho dos Loucos lotada, em uma das aulas do curso básico de escalada realizado pelo Centro Excursionista Teresopolitano

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Sobre o autor

Marcello Medeiros é Biólogo e Jornalista, escrevendo sobre montanhismo e escalada desde 2003. Praticante de montanhismo desde 1998, foi Presidente do Centro Excursionista Teresopolitano (CET) entre 2007 e 2013.

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