Ascensão do Vulcão Llullaillaco 6752 metros – Argentina

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No ano de 1999 uma equipe liderada pelo arqueólogo americano Johan Reinhard e financiada pela National Geographic Society. Encontrou no cume do Llullaillaco, 3 múmias e dezenas de objetos ornamentais que fizeram parte do ritual. Descoberta que mudou a história do montanhismo.

As múmias encontradas em perfeito estado graças às temperaturas negativas, hipóxia e baixa umidade relativa do ar. Eram de uma adolescente com cerca de 15 anos chamada de “La Docelita”, um menino com cerca de 7 anos e uma menina com cerca de 6 anos chamada de “la Niña del Rayo”.

Em Salta na Argentina visitamos o Museu Arqueológico de Alta Montanha (MAAM) que foi criado para o estudo das múmias e artefatos encontrados. Segundo os argentinos é o melhor museu do país e com o conhecimento adquirido aumentou muito a nossa vontade de fazer cume no Llullaillaco.
Já estávamos na região realizando outras ascensões como ao cume do Aracar 6093 m e Quehuar 6158 m. No Quehuar também foi encontrada uma múmia, porém os saqueadores na década de 1970 explodiram o local onde ela estava em busca dos tesouros funerários. Ao todo, em 7 montanhas andinas foram encontradas múmias e isso fazia parte de seus rituais religiosos Capacocha.

Dormimos na base do Quehuar ao lado do carro após fazer o cume. Saímos mais tarde deste local que fica próximo de Santa Rosa de los Pastos Largos no dia 17/03/2022.

No caminho passamos pelo Salar de Pocitos e Desierto del Diablo até acampar próximo de Tolar Grande. Encontramos o local graças ao aplicativo IOverlander. Protegidos dos fortes ventos em uma antiga vila ao lado da ferrovia (Estação 6 do Trem de las Nubes). No total foram 117 km de estradas 4×4.
Foi uma noite bastante tranquila e fria a 4060 metros de altitude. O dia 18/03 prometia ser longo e belo. Fizemos mais 191 km de estradas e trilhas 4×4 até chegar no acampamento base do Lullaillaco. No caminho os atrativos mais interessantes: Ojo del Mar, Salar de Arizaro, Cuesta del Caipe e a Estação Caipe.
No acampamento base do Llullaillaco a 4850 metros nos instalamos com conforto tendo o carro, comida e água ao lado da barraca. Este local é o começo do trekking da rota arqueológica para o cume. Enquanto houve sol ficamos do lado de fora, mas foi só a noite cair e a temperatura despencou para -7 ºC.
A noite recebemos a previsão do tempo no Inreach para os próximos 2 dias. Clima estável, sem muito vento e temperaturas mínimas de até -22 ºC para o cume. Como estávamos bem aclimatados decidimos fazer o cume em estilo alpino e pular o acampamento intermediário a 5500 m. Então o desafio do próximo dia era subir diretamente ao acampamento a 5900 m com tudo nas cargueiras. Um total de 10,466 km a pé segundo o Garmin 66i e com 1050 metros de ganho de altimetria.
No trajeto da rota arqueológica encontramos um uma expedição comercial chilena que estava baixando. Fizeram cume e mencionaram que a rota estava com pouca neve e boa para ser feita. Também vimos no acampamento a 5500 metros ruínas incas.

Chegamos no acampamento avançado a 5900 metros por volta das 16:20 do dia 19/03. Um local protegido com algumas pedras bem grandes e manchas de neve. Montamos acampamento e já iniciamos o processo de derretimento da neve para obter água. Por volta das 19:30 fomos brindados com um belo pôr do sol.
Ao cair da noite a temperatura baixou para -8 ºC. Através do Inreach Garmin enviei uma mensagem para a minha mãe parabenizando pelo aniversário e disse que o cume no outro dia seria em homenagem a ela. Após o jantar traçamos a nossa estratégia de acordar às 03:30 e sair até às 04:30.

Contudo, ao acordar às 03:30 no dia 20/03 com temperatura batendo em -11 ºC. Ficamos com preguiça e combinamos de sair só com a luz do dia. Acordamos às 07:00 já com luz natural e às 08:02 iniciamos a caminhada para o cume.
O dia de cume tem um visual ímpar. Conseguimos ver várias montanhas com mais de 6000 metros em um raio de 180 quilômetros. Por exemplo o Aracar, Socompa, Antofalla, Pular e Pili.
A distância total a pé do dia é considerável com 10,098 km a pé segundo o Garmin 66i e com 860 metros de aclive acumulado. Portanto, uma montanha para chegar aclimatado.

 


A trilha no começo não é nítida e foi mais um acerto nosso. Pois fazê-la de madrugada seria de navegação mais difícil. Após a cota dos 6400 metros o caminho já era mais óbvio e por vezes bem marcado. Começamos a ver mais ruínas incas e bastante madeira deixada por eles. Perto do cume há 2 ruínas incaicas de pernoite e indica que estamos quase lá.

Após uma pequena rampa que neste caso tinha um pouco de neve. Enfim, eu e a Luciana Moro fizemos cume do Llullaillaco com 6752 metros* às 13:15.
Temperatura agradável pouco acima do zero grau e quase sem vento. Aproveitamos o cume por cerca de 50 minutos.
Quem diria que essa montanha só foi escalada modernamente pela primeira vez em 1952!
De quebra em 2020 a Luciana Moro já havia feito cume do Llullaillaco junto com o Pedro Abrão pela rota normal chilena via Parque Nacional Llullaillaco.
Naquela oportunidade eu tive que retornar guiando o restante do grupo a partir dos 6500 metros por motivo de cansaço devido a quantidade de neve. Estavam comigo neste retorno o Ediceu PereiraVinicius Vieira e Micaela Lopez. Na foto abaixo a equipe no refúgio da CONAF.
Nosso retorno até o acampamento avançado foi tranquilo e chegamos por volta das 16:40. Já com este horário bem avançado, não sobrou outra alternativa além de dormir no local. Na segunda foto aparece o local do acampamento avançado a 5900 metros e nossa barraca atrás de uma pedra.
Novamente a demorada rotina de coletar neve e descongelar. Ao cair da noite voltou a fazer bastante frio e após o jantar dormimos bem cedo.

Acordamos naturalmente no dia 21/03 somente às 07:30 e novamente com -11 ºC. Após o café da manhã desmontamos o acampamento e guardamos tudo. Nossa intenção neste dia era descer até o carro e seguir até o Paso Socompa para dormir.


Chegando na cota dos 5200 metros para nosso espanto avistamos um grupo grande:
– Ué, nesse cafundó. De onde saíram tantas pessoas?
Conversamos com eles, eram 3 guias homens e mais de 20 clientes mulheres. Mais uma surpresa boa!
Pedimos a um dos guias informações sobre o Socompa que desejaríamos fazer no próximo dia.

Ao chegar no acampamento base havia mais 2 mulheres que ficaram para trás com sintomas gripais (talvez COVID). Um pouco desesperadas para ir embora dali e até pediram carona para isso. Mas, informamos que iríamos ficar algum tempo pela Puna (sorte nossa). Depois fiquei pensando na questão da segurança deste grupo, pois eram mais de 20 pessoas em um local isolado e só havia 1 carro no local.
Já era por volta das 12:40 e almoçamos ao lado do carro. Guardamos nossas coisas e partimos rumo ao Paso Socompa. Foram mais 74 km entre trilhas e estradas 4×4 para chegar às 16:00 nesse paso desabilitado por conta do COVID.
Chegando lá conversamos com com os militares da Gendameria Nacional e pedimos autorização para fazer no outro dia o Socompa 6051 m. Contudo, a aproximação 4×4 era pelo lado chileno e por conta da pandemia o paso estava desabilitado.

Até pensamos em outras opções de rotas já que sabíamos que o guarda chileno não deixaria. Um dos militares nos ofereceu a senha do Wi-Fi, ao conferir a previsão do tempo tivemos que abortar a tentativa. Seriam mais 3 dias de tempo muito ventoso no cume. Bastante hospitaleiro, o encarregado do quartel ofereceu pernoite em um dos alojamentos e aceitamos sem demora. Apesar de não ter luz e banho, foi um excelente final de tarde e noite.
No dia 22/03/2022 acordamos e verificamos a previsão do tempo. Havia uma ótima janela de clima para tentar o Vulcão Antofalla 6464 m. Mas, isso eu conto no próximo relato!

*Observação. O Llullaillaco 6752 metros é a quinta mais alta montanha dos Andes segundo a lista do John Biggar. Fonte: https://clubetrekking.com.br/dicas-e-tecnicas/100-mais-andes/

Nosso trackloghttps://www.wikiloc.com/mountaineering-trails/llullaillaco-6752-metros-argentina-114910508

Próxima expedição que iremos conduzir neste localhttps://clubetrekking.com.br/travessias/quewar-llullaillaco/

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Sobre o autor

Tiago de Pellegrini Korb

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