Por que a Alfa Crucis é a maior e a mais difícil travessia do Brasil?
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Trocadilho proposital com o filme, mas sem intenções maliciosas, o título do texto visa compartilhar com os companheiros de plantão uma aventura sem perrengue, rápida, sem dificuldade, sem peso, sem litros e litros de água, sem neve, sem nevasca, sem gelo, sem greta, sem congelamentos, sem transporte 4×4, sem grande altitude (baixo até pra solo brasileiro), mas com MUITA beleza. Serra do Capivari, 69kms a norte de Curitiba, Paraná, em julho de 2012. Momento em que dois amigos montanhistas só buscam a beleza da montanha, e não a superação. Boa leitura, bom divertimento.
A melhor historia não começa com; Eu estava na Igreja quando… Ou; eu estava na farmácia quando de repente… Não, boas historias precisam de um ambiente propicio para o start, algo que consiga te tirar da condição de normalidade e mesmice e te colocar em um grande problema (rs). Trips de montanha, Pubs, botecos, férias de verão, escaladas perto de casa ou até uma visita a sua mãezinha lá no interior do estado.
O terreno acidentado extremamente diversificado de nosso planeta apresenta ao ser humano uma série de características: qualidade, vantagem, fertilidade, produtividade, umidade, aridez. Entretanto também o desafia com adversidades diversas. Estas dificuldades podem acontecer em qualquer tipo de terreno ou altitude. Pensemos de outra forma, se tivéssemos a possibilidade de configurar um solo com o clique de um mouse, poderíamos selecionar a dificuldade de um solo infértil como um solo desértico arenoso, só que ao invés de aplicá-lo onde naturalmente ocorre na África, em baixa altitude como o Sahara, apliquemos a uma altitude diferente, quilômetros acima do nível do mar. O resultado é obviamente uma vida muito difícil ao ser humano não só pela infertilidade do solo, mas pela altitude por si só e todas as limitações que ela impõe ao homo sapiens.
Existiu uma época, nem tão distante, em que descer de Borda do Campo até Porto de Cima pelo caminho do Itupava era uma verdadeira aventura e fonte segura de notícias trágicas para os jornais policialescos de Curitiba. Todos os finais de semana alimentavam as manchetes de segunda feira com brigas, assaltos e até assassinatos na velha trilha.
Quem me falou pela primeira vez das belezas pitorescas dos Campos dos Padres, localizado nos platôs da Serra Geral catarinense foi meu amigo Mario Gasparetti, com quem estive caminhando, junto com a Camila, no Reveillon de 2010/2011 no Monte Roraima e outras tantas pernadas pelo Sul e Sudeste. Desde aquela época, o Mario vinha tentando combinar uma investida por aqueles campos, mas nunca dava certo. Neste último feriado, meu plano era ficar em Curitiba e coletar rochas para minha pesquisa no Pico Paraná. Com uma previsão não muito favorável mudei de plano e eu, a Camila, junto com o Mario e a Andressa resolvemos, na última hora ir para Santa Catarina fazer esta prometida travessia.
Comecei na escalada esportiva nos anos 90, mas, pouco tempo depois, parei de escalar para me dedicar a uma das minhas paixões daquele período, o mountain biking. Naqueles velhos tempos havia uma grande dificuldade para se conseguir bons equipamentos importados e tive que escolher entre comprar uma bicicleta de qualidade ou adquirir meu material de escalada. Acabei optando pela magrela e só retornei à escalada, desta vez com força total, nos anos 2000.
A história desta via começou há muitos anos, ainda eu não era sequer um projecto…ou talvez já fosse na cabeça de um casal que ouvia os concertos do Zeca Afonso, Sérgio Godinho, entre outros, nos anfiteatros das universidades, na cabeça de um casal que de quando em vez era corrido das cantinas universitárias pela PIDE.
Pois bem, na primeira parte deste relato você leu que eu e Tácio Philip saímos de São Paulo no dia quatro de maio rumo ao Itatiaia, no primeiro dia ainda adiantamos a subida da Maromba quebrando o grande desnível em dois, bivacando na primeira noite a 1.950 metros de alitude. No segundo dia subimos a crista do Pico do Maromba, descendo pela crista oposta e, além disso, culminamos o Pico Cabeça de Leoa e o Pico Cara de Gorila, estabelecendo nosso segundo bivaque a 2.220 metros de altitude no vale que separa estas duas montanhas. Vamos seguir adiante daqui…
A última vez que fui a uma montanha e pisei em seu cume foi com o Pedro no Morro do Canal de 1.340 metros de altitude em Curitiba, em março deste ano, com só 380 metros de desnível, e foi duro pra mim em plena recuperação de pneumonia. Antes disso, dormir na montanha estava quase sendo classificada como uma memória longínqua, tendo sido esta a noite que passei bivacando na Pedra das Flores na Serra do Lopo, a 1.700 metros de altitude em novembro do ano passado! Sete meses se passaram e a nova empreitada não seria fácil.