Cerro Plata para iniciantes

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Realizamos um sonho de viajar de carro de Curitiba a Mendoza, dois mil e quinhentos quilômetros, com a ida pelas retas intermináveis da Argentina e retorno pela linda serra de Córdoba. Para quem gosta de dirigir é maravilhoso ter um limite de velocidade em alguns locais de 130km/h e retas de mais de trezentos quilômetros. Nosso objetivo também era escalar o Cerro Plata.

Equipe aclimatando no Cerro Adolfo Calle.

A última cidade grande próxima ao Parque Provincial Cordón del Plata para alugar equipamentos e se abastecer em supermercados é Mendoza, que está a 80 km da entrada.

Pode colocar no GPS Refúgio Mausy, enfrentará uma subida de estrada de chão que entre janeiro e março é para estar sem neve, a estrada sempre tem manutenção, mas carro baixo sofre. A sede do parque está em meio a subida e é necessário fazer o registro da entrada e dar baixa na saída. O rádio do Guarda Parque é na frequência VHF: 142.800 MHz.

O último ponto para comprar alguma coisa é em uma vila às margens do lago Potrerillos onde tem alguns restaurantes modestos e um mercado.

O Cordón del Plata é um complexo desafiador de montanhas acima de três mil metros, onde colocará à prova seus aprendizados sobre aclimatação, mal de altitude, orientação e  condicionamento físico.

Sobre a preparação física, basta subir inúmeras montanhas, com caminhadas de mais de duas horas, comece com uns seis meses antes no mínimo, o esforço físico exigido lá é de resistência, então treinar com mochila com peso moderado de acordo com sua estrutura física, ajuda muito, é aconselhável parar de fazer atividades intensas umas duas semanas antes da viagem para que seu corpo se recupere de possíveis micro lesões musculares.

Sobre a Aclimatação:

Na Altitude o corpo estará com a sensação de exaustão porque há menos oxigênio na atmosfera e o coração fica acelerado o tempo todo tentando compensar. Pesquise sobre edema pulmonar e cerebral em montanhas de altitude.

Descansando em um dos acampamentos.

Para aclimatar precisa tomar muita água, segundo o Pedro Hauck, na proporção de 50 ml por quilo corporal, se estiver fazendo xixi transparente, está ideal. Também observe as dores de cabeça e tome ibuprofeno para combatê-las.

Falta de apetite e dor de barriga são normais, mas não deixe de se alimentar precisa de muita energia, opte por comidas com muita proteína e carboidrato. Na altitude as inflamações se acentuam, o Ibuprofeno é amplamente usado, verifique com seu médico bem antes da viagem se pode consumi-lo.

Dica preciosa, durma com a cabeça mais alta, coloque a mochila por baixo do isolante para dormir mais elevado.

Sobre Água nos acampamentos:

Em Veguitas a água é boa, mas tem muitos cavalos e bichos melhor usar Clorin.

Em Veguitas Superior, precisa procurar onde as rochas estão manchadas de branco ou bem escuras, porque se estiverem vermelhas e amarelas a água tem muitos metais pesados.

No Acampamento Salto Superior, tem uma pedra quadrada e grande logo depois do rio, onde o pessoal cavou um pocinho e ele filtra a água a deixando potável.

Em La Hoyada pode-se conseguir água do degelo logo abaixo do último acampamento.

Nos ataques aos cumes não tem água.

Note que a Água do derretimento de neve tem muito pouco sais minerais e o organismo não aceita bem então sempre coloque suco ou chás na água, abuse dos chás, uma garrafa térmica inquebrável é super útil para levar os chás sem congelar para os cumes, os chás digestivos são muito bem vindos, já que na altitude seu organismo terá dificuldade de digestão por conta que a flora intestinal mudará pela falta de oxigênio. Suplementos que que garantam a reposição de eletrólitos são excelentes para a atividade física intensa que estará realizando todos os dias.

Observe se o suplemento tem: Carboidratos e Dextrose, Maltodextrina, Sacarose, Sódio (Cloreto de Sódio e Citrato de Sódio), Potássio (Fosfato de Potássio Monobásico)

Bala de Café, caramelos e doces, fáceis de mastigar dão um Up nas caminhadas.

Época ideal:

Janeiro a Março – está nevando menos e as janelas de tempo são maiores.

Locais de Acampamento:

Las Veguitas 3222m;

Veguitas Superior 3500m;

Piedra Grande 3565 m;

Salto 4200 m;

Salto Superior 4270m;

La Hoyada 4670 m.

Os Acampamentos no Cerro Plara já estão estabelecidos nesse locais.

Aclimatação e ascensão:

A aclimatação que eu utilizei para subir o Cerro Plata foi ensinada pela Soul Outdoor. Ela consiste  em fazer ataques a montanhas com altitude parecida a do próximo acampamento e dormir uma noite no mesmo acampamento.

Dessa última vez: Acampamos em Veguitas Superior 3500m, subimos o Adolfo Calle 4242m e o Stepanek 4180m e voltamos dormir em Veguitas Superior 3500m, Piedra Grande 3550m é uma opção de acampamento muito utilizada e tem muitos ratos. 

Outras opções de montanhas de aclimatação: São Bernardo 4150 m, Franke 4833 m

No dia seguinte seguimos acampar em Salto Superior 4270 porque a água estava melhor que o acampamento anterior de Salto D´Agua e a poucos minutos de diferença.

No quarto dia fizemos ataque a La Hoyada 4670m e subimos um pouco mais até o primeiro colo.

No quinto dia levamos o acampamento para La Hoyada, já optei em outra vez fazer o ataque ao Cume do Cerro Plata 5968m direto de Salto Superior, por La Hoyada ganha-se uma subida de aproximadas duas horas;

No sexto dia os ventos estavam muito fortes e fizemos o ataque ao cume do Cerro Plata 5962m em aproximadas 8 horas de subida a partir de La Hoyada.

Cume do Cerro Plata!

No sétimo dia fomos ao cume do Cerro Vallecitos 5470m, aproximadas 5 horas de La Hoyada e baixamos até o refúgio Mausy 2910 m, para descer tudo são aproximadamente 4h

Dicas:

Leve as trilhas do Cerro Plata baixadas em aplicativos de celular como o Maps.me e no GPS.

Peculiaridade da região: Para descer do Cume do Adolfo Calle e do Cerro Plata, existe uma trilha para subir e trilhas mais diretas para descer quase sem curva de nível (o acarreo). Preste muita atenção na subida para pegar a mais prática, porque com o solo todo em cascalho irá ter um desgaste muito grande se tentar subir pelas trilhas de descida.

O chip argentino que funciona lá em Cordon del Plata é da empresa Movistar. Ele irá funcionar nos cumes Adolfo Calle, Stepanek, perto da cachoeira de Salto Superior, no Portezuelo.

No refúgio Mausy tem Wi Fi. Mas se precisar de café da manhã, jantar ou pizza precisa encomendar com antecedência.

Equipamentos:

Bota dupla ou Rígida, Crampons (se estiver com muita neve) Luva segunda pele, luva de fleece, miton, meia de aquecimento, calça de segunda pele, calça de fleece, calça anorak, blusa segunda pele, blusa de fleece grosso, jaqueta de pluma leve,  jaqueta de cume, gorro, bandana ou balaclava (o vento é constante, não consegue respirar se não tiver), óculos categoria 3 ou 4, boné, protetor solar fator 50 no mínimo (a radiação é muito forte), manteiga de cacau para os lábios, dois bastões de caminhada, mochila cargueira, polaina ( o terreno é feito de pedras que entram constantemente em suas botas nas ascensões aos cumes), lanterna de cabeça, pilhas de lithium, garrafa térmica.

Equipamentos de acampamento: Barraca, isolante térmico, isolante inflável, saco de dormir conforto -15 graus,  gás, panela, talheres, prato, caneca.

Sobre o tempo:

Consulte as janelas de tempo no site: https://www.mountain-forecast.com/peaks/Plata/forecasts/5930

Um vento suportável é de até 50 km/h, o ideal é ir para o cume com ventos de até 30km/h.

O importante é verificar:  se vai nevar, ou terá rajadas de vento acima de 50 km/h, ou tempestade elétrica, também verifique a sensação térmica.

Considere que precisa estar no cume até umas 15 horas para retornar com luz do dia. Nessa época as noites são realmente muito frias, consegue avaliar a sensação térmica neste mesmo site, chegando facilmente em menos 20 graus, as tardes podem fechar com neblina e/ou nevar.

Eu já estive na região três vezes, e fiz o cume do Cerro Plata duas vezes, cada vez enfrentei condições diferentes de tempo, é muito importante que saiba avaliar o melhor dia e horário para fazer os ataques aos cumes.

Precisa de uma barraca que aguente ventos fortes e lembre de prender todos os pontos de amarração e esticadores em pedras grandes, as maiores que conseguir, porque enfrentará rajadas de vento inimagináveis, precisa estar com esticadores porque com eles se chegará a uma perfeita estabilidade e impermeabilidade em caso de chuva e neve. O chão é feito de cascalho então nem carregue os speks.

Fica a dica do guia boliviano Javier Carvalho, você chegará a qualquer cume, comendo bem, dormindo bem e caminhando devagar. 

Sobre o lixo:

Priorize comidas liofilizadas ou em caixas que fiquem leves e possam ser facilmente compactadas para gerar menos lixo;

Não deixe lixo fora da barraca, nem embaixo das pedras porque animais como o Zorro e Guanacos viram tudo e engolem os plásticos;

É importante levar seu Coco Tubo, não deixe os lenços umedecidos por lá, traga tudo de volta.

Uma empresa segura que vende este trekking: Soul Outdoor,  whatsapp 41 9 9596-8981 @souloutdooroficial do Pedro Hauck www.pedrohauck.com

O que mais tem para fazer por lá:

Se quiser que a família acompanhe sua expedição ou puder estender os dias vale a pena visitar as inúmeras vinícolas, que agendam as degustações, a uva mais tradicional da região é a Malbec.

Aguas Termas de Cacheuta, rafting, esportes náuticos sem motor no lago de Potrerillos, pode alugar equipamento e ter instruções dos mais variados esportes em suas margens.

Em Mendoza a rua para comprar souvenirs é a Las Heras fica próxima da Plaza de la Independencia, ou no calçadão da 

Contatos Úteis: 

Refúgio Mausy +54 261 454-3323

Aluguel de equipamentos de montanhismo: El Refugio https://elrefugioaconcagua.com/  +54 (0261) 4235615 / (+54 9) 2616108213

Curiosidade:

Uma placa logo no começo da trilha nos informa que Las Vegas de Altura são ambientes andinos com permanente umidade que gera um manto verde vegetal com solo fértil e orgânico, sendo o setor montanhoso alto andino de maior biodiversidade. São áreas de alimentação de uma grande quantidade de animais e fontes de águas.

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Sobre o autor

Formada em análise de sistema, tem o montanhismo como paixão desde 2004 Atenta ao futuro do esporte, foi Secretária da Confederação Brasileira de Montanhismo e Presidente da Federação Brasileira de Montanhismo e atualmente é sócia do Clube Paranaense de Motanhismo. Já esteve em várias montanhas nos Andes como: Illimani, Huayna Potosi, Parinacota, Cerro Plata. Já atuou como guia de montanhismo para agências renomadas no Brasil.

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