Circuito Light – Furada

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O final do ano passado havia deixado uma pendência no quesito pernada q devia ser urgentemente sanada. Pelas bandas do planalto mogiano, mais precisamente a região do Alto Sertãozinho, uma serie de trapalhadas e desencontros nos deixara apenas com aquele gostinho amargo de &ldquo,quero mais&ldquo, qto ao acesso mais curto à Cachu da Light. Pois bem, com infos mais precisas e agora num grupo tão animado qto determinado, retornamos lá pra completar o serviço. E ir além, claro. Não só chegamos na Cachu da Light como realizamos um circuito sussa e tranqüilo q contempla também a outra gde e pitoresca queda da região, a Cachu da Pedra Furada.


“Você não vale nada, mas eu gosto de você,
você não vale nada, mas eu gosto de você…
td que eu queria era saber pq,
td q eu queria era saber pq..”

O estridente forró tocava no ultimo volume qdo chegamos na Balança em 3 veículos, as 10hrs. A previsão de céu claro e sol forte pro fds enfim se concretizava, e nada melhor q curtir a grandiosa Serra do Mar num programa q integrasse alguma cachu pra refrescar. O boato da pernada se espalhou pelos quatro cantos da internet e o q era pra ser apenas um quarteto simplesmente dobrou o número de integrantes.

E lá estávamos eu , a escaladora Karina “Brasil Vertical” Filgueiras, o Fernando “T2 Aventura”, Vivi, Fabio, Danilo, Ana Paula, Simone e Edu Bisan tomando um rápido desjejum no balcão enqto dávamos os últimos acertos nas mochilas de ataque pra empreitada daquele dia. Pra adrenar a coisa o dono do bar nos informara q o IBAMA soltara um casal de pintadas recentemente na região. Isso num local onde a vida animal pulsa e não raramente se esbarra com enormes bugios ou ameaçadoras cobras, sem contar os inconvenientes carrapatos.

Pra agilizar a coisa, nos poupar enfadonhos kms de asfalto sob forte sol e ganhar tempo deixamos dois veículos na Balança enqto um levava parte da galera já ao inicio da pernada, onde tb seria deixado já pro resgate no final. Entretanto, ao chegar em seu destino o veiculo simplesmente entregou os ptos com a bateria arriando, sem chance de ir buscar o resto. Pior q nem sinal de celular havia pra avisar o povo, q nos aguardava na Balança. Momento de dúvida, pois colocava em cheque a realização da trilha daquele dia. Retornamos de carona apenas pra encontrar o resto da galera indo nos encontrar a pé, um tempo depois. Felizmente o Fabio já sabia das gambiarras do seu veiculo arriado, o q nos deixou mais aliviados. Ufa, a trip estava salva.

Apesar do atraso considerável, a pernada começou oficialmente as 10:30 na precária estrada de terra q leva pros reflorestamentos de eucaliptos do planalto mogiano. Mas após cruzar a casa do folclórico Seu Geraldo a estrada cede lugar a uma larga picada q se embrenha planalto adentro em meio a muita mata e brejo. Não bastasse o sol forte na cachola havia tb as inconvenientes mutucas, q estavam alucinadas diante da presença de sangue novo e fresco em abundância pelas redondezas. Contudo, esse detalhe era facilmente relevado pela animação do grupo.

As 11:17 abandonamos a picada em favor de outra menor (e menos óbvia) saindo pela direita, q mergulhava no frescor da mata fechada e bastou acompanhar sem dificuldades ate sermos barrados pelo manso e relativamente raso Rio do Lobisomem. Cruzamos o dito cujo com água ate o joelho e demos continuidade à pernada, agora na outra margem, serpenteando a mata ate dar noutra picada maior, onde tocamos logicamente pra esquerda, onde inclusive algumas enormes pegadas de anta davam o ar da graça. O silencio da mata era apenas&nbsp, quebrado não apenas pela nossa empolgada conversa mas tb pelo canto metálico das arapongas, q o Danilo jurava serem “aves ventríloquas” afirmando q o som do bicho e o dito cujo estavam em direções diametralmente opostas, contrariando as leis da física acústica.

A pernada seguiu nesse mesmo compasso sem intercedências, onde eventualmente desviávamos de arvores tombadas e cruzamos pequenos córregos q molhavam a nossa goela seca. Às 12:20 desembocamos no enorme charco q esconde uma discreta bifurcação q nos passou desapercebida da vez anterior, pelas dicas do Seu Geraldo. Tomando o ramo da direita nos embrenhamos em mata bem mais fechada, onde subíamos suavemente uma encosta e onde em mais de uma ocasião tivemos tanto q abrir caminho na raça por conta da gde quantidade de mato obstruindo o caminho.

As vezes surgiam duvidas qto a rota, mas estas desapareciam qdo reencontrávamos a picada bem mais marcada, logo adiante. O sol e o calor estão de fritar miolos e nessa hora nosso único pensamento é um: cachoeira já! Mas logo adiante uma trilha cruza a principal e logicamente é ignorada, nos mantendo sempre na qual estamos q agora palmilha o alto de um largo morro. Mas não demora&nbsp, a surgir uma nova bifurcação q gera dúvidas, mas q logo sanada qdo o Fernando ouve o rugido de alguma gde cachu vinda do ramo da direita, bem próxima.

Tomando esta direção indefinidamente, logo percebemos q vamos perdendo altitude através de uma suave encosta e num piscar de olhos nos vemos num gramado (onde havia vestígios de acampamento, provavelmente de caçadores) às margens do largo e manso Rio Sertãozinho, onde uma pequena represa de concreto despeja suas águas pro patamar superior de uma gde queda maior, q por sua vez lança seu conteúdo furiosamente de duas enormes e íngremes rampas de pedra de quase 30m num largo e gde poção. Do poção, o rio serpenteia planalto abaixo através de corredeiras menores ate amansar novamente 500m depois.

Havíamos enfim chegado na Represa e Cachu da Light a exatas 13hrs, e com o sol a pino não pensamos duas vezes em estacionar ali pra nos refrescar na água de seus vários remansos, alem de beliscar alguma coisa, descansar á sombra das lajotas na margem e remover alguns carrapatos, claro. Além do obrigatório e refrescante tchibum na parte de cima da cachu, o destaque foram os causos do nosso “Forrest” Danilo “Gump” q descontraíram a galera. E enqto a Karina e Simone se tostavam ao forte sol, a Ana, Fabio e Vivi faziam questão de fugir dele buscando proteção à sombra dos arbustos próximos.

A curtição tava boa mas havia q dar continuidade à trip, q previa descer o rio ate a outra queda através de terreno incerto. Arrumamos as coisas e as 14:30 retomamos a trilha pela qual havíamos chegado ali ate uma bifurcação, onde obviamente tomamos o ramo q aparentava acompanhar a encosta&nbsp, do morro da cachu. O mato seco logo deu lugar a uma floresta úmida forrada de bromélias e raízes brotando do chão, uma beleza de Mata Atlântica q deixaria qq gringo despirocado. Contornado o morro logo caímos novamente às margens do rio, mais adiante.

Mas este trecho eu já conhecia de uma exploração anterior e daqui em diante td dava conta de q teríamos q prosseguir rio abaixo mediante vara-mato e caminhada pela água. Ou seja, ralação garantida. Lembro q o próprio Seu Geraldo havia comentado de uma picada q unia as cachus, mas eu não vi sinal dela. Entretanto, um curioso Danilo (sim, sempre ele!) foi zanzar através dum areal próximo de um caminho dágua e acabou esbarrando com a tal trilha perdida!!! Noutras palavras, não haveria ralação alguma pra alivio geral! Este achado fez do Danilo ganhar merecidamente a alcunha de “Ícone do trekking paulista” por parte dele mesmo…

Uma vez na trilha bastou acompanhá-la sem erro, já q ela era bem nítida e obvia apesar da onipresente mata caída no caminho, principalmente arvores repletas de vasos de belas bromélias suspensas. Praticamente acompanhávamos o rio à distancia pois a medida q avançávamos íamos vencendo morrotes e pirambas q eventualmente se interpunham no mesmo, mas cujo rugido de suas águas era sempre audível ora longe ora próximo. Contudo, não demorou a chegar num trecho onde a trilha se perdia na mata, aparentemente oculta num “mar de bromélias e raízes”. Mas foi só este q vos escreve buscar no lugar certo e achar a continuidade da picada, logo adiante, q o manto do titulo de “ícone de trekking paulista” passou a repousar sob novos ombros, pra tristeza do nosso contador de historias oficial.

A pernada teve continuidade de forma desobstruída e sempre num mesmo compasso, agora envoltos por um calor abafado quase palpável q nos fez suar em bicas. A sorte é q aqui não falta água no caminho, pelo menos no verão. Não se anda um tanto sem cruzar com algum córrego cristalino, e cada um deles convida pra uma breve parada. Mas após esperar o Danilo voltar pra buscar (sem sucesso) sua garrafa d´água q deixara cair, tropeçamos com as ruínas do q parecia ser uma antiga construção local q imediatamente reconheci de uma exploração anterior. Ou seja, faltava pouco pra chegar ao nosso destino. E lá prosseguimos a passos firmes ora pela encosta – subindo e descendo sem gde declividade – ora pelo topo da serra, tendo sempre audível o som borbulhante de água em abundancia à nossa esquerda.

Após cruzar um pequeno e manso afluente do Sertãozinho q molhou nossa garganta, a picada acompanhou o pequeno curso d´água por pouco tempo ate esbarrar com uma&nbsp, bifurcação famosa e mais q conhecida, a da Cachu da Pedra Furada. Tomamos então a dita cuja q nos conduziu através inicialmente através de uma encosta, pra depois serpentear a crista de um morrote sem gde dificuldade. Qdo o caminho começa a descer indo de encontro a outro córrego, bastou acompanhar o mesmo em meio a um emaranhado de raízes e num piscar de olhos emergimos nos gdes e largos lajedos às margens do Sertãozinho, já quase as 16hrs. Pois é, a bendita picada nos poupou quase uma hora de vara-mato e camelação de rio desnecessários.

O manso rio aqui é represado por uma gde e enorme pedra q o atravessa perpendicularmente, onde a&nbsp, água é literalmente “cuspida” rio abaixo das entranhas da rocha, quase na metade de um gde paredão vertical de quase 20m! Esse é o diferencial cênico da Cachu da Pedra Furada! Desescalaminhamos com cuidado a rocha lisa do lado esquerdo da cachu pra ganhar os lajedos inferiores do enorme poção ao sopé da pitoresca queda d´água, tarefa esta onde tds tiveram ajuda na breve escalada, à exceção da Karina, claro. Uma vez lá embaixo nos prostramos mais uma vez apenas pra lagartear à toa, donos absolutos daquele pequeno paraíso natureba. Enqto uns declinaram desta vez de um banho, outros não se fizeram de rogados e mergulharam nas águas do gelado e refrescante poço, q ofereciam uma agradável massagem em virtude da força borbulhante da cachu.

Após muita conversa fiada, banho, descanso e muito mais cliques da cachu, retomamos o caminho de volta às 17:30 dando adeus aquele belo e bucólico local. Refizemos sem pressa td o caminho de volta até a bifurcação ao lado do córrego, e dali tomamos a picada principal sentido contrario, isto é, rumo sudoeste. A caminhada prosseguiu inipterrupta e sem nenhuma ocorrência, apenas atentando às bifurcações corretas na volta enqto percorríamos calmamente a mata, q por sua vez filtrava os raios solares provocando efeitos incríveis de iluminação naquele finzinho de tarde.

Desembocamos no calor do asfalto às 18:10, onde não nos restou opção de ir de encontro ao veiculo no inicio da trilha através de enfadonhos e escaldantes um km e meio com sol na cara! E de brinde ainda havia as buzinadas às meninas provenientes dos motoristas q passavam pela gente, retornando do litoral. Uma vez no veiculo ainda tivemos q empurrá-lo pra pegar no tranco pra depois nos espremermos feito sardinhas em seu interior pra voltar à Balança. Como não caberíamos tds no carro, o Edu, Fernando e Simone simplesmente voltaram a pé os quase 2,5km restantes, mostrando q ainda tinham fôlego e disposição de sobra pros preguiçosos no veiculo.

Assim q chegamos na Balança nos livramos dos grilhões impostos pelas botas afim de deixar os pés calejados respirarem livremente, alem de trocar as vestes imundas e úmidas por outras mais secas e aconchegantes. Tava utilizando uma bota nova da Snake q francamente posso afirmar passou no teste de impermeabilidade, conforto e aderência, razoável em rocha úmida. Falta agora apenas o de durabilidade..

Nesse meio-termo nos prostramos nas mesas&nbsp, à espera dos nossos colegas comendo coxinhas, salgados, sandubas e td sorte de tranqueira enqto molhávamos a goela com refri e cerveja gelada. Qdo eles finalmente chegaram demos continuidade à comilança regada a bebidas, desta vez prestando atenção às historias mirabolantes do Seu Geraldo, q ali tb se encontrava tomando sua sagrada cachacinha ameaçando a hegemonia por disputa de atenção com o Danilo, o ex “icone do trekking paulista”. O papo com o velho matuto tava tão animado q infelizmente acabei esquecendo de perguntar-lhe mais sobre a historia da Represa da Light, informações q fico devendo pra outra ocasião.

Começava a escurecer qdo finalmente zarpamos pra Sampa, nos despedindo mutuamente a medida q nos reorganizávamos nos veículos, prometendo novas aventuras pela região. E assim transcorreu nosso refrescante bate-volta sabatino por cachus pouco freqüentadas e nada conhecidas do gde publico, à disposição de quem quiser se embrenhar pelas matas do planalto mogiano. Esta é apenas uma pequena mostra do potencial “hídrico-trekkeiro” local, uma vez q vários outros respeitáveis rios rasgam a Serra do Mar q se espalha horizontalmente às margens da SP-98. Uma Serra do Mar menos acidentada e q não desce vertiginosamente pro litoral, e q ainda nos reserva muitas surpresas pra serem descobertas.

Texto e fotos: Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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