Corpos de Fabrício Amaral e Leandro Ianotta são encontrados no Fitz Roy

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Brasileiros estavam desaparecidos no Monte Fitz Roy desde o dia 19 de janeiro. Informações colhidas de celular que estava com Fabrício nos permitem recriar o cenário da tragédia.

Fabrício Amaral, na esquerda e Leandro Ianotta na direita com o maciço do Fitz Roy ao fundo.

Os corpos dos experientes escaladores Fabrício Amaral e Leandro Ianotta, mais conhecido como Mr. Bean foram encontrados no Fitz Roy, montanha emblemática da Patagônia argentina. Ambos foram dados como desaparecidos no dia 19 de janeiro após uma grande tempestade que também vitimou um escalador checo que faleceu de hipotermia no local.

A via que os brasileiros estavam escalando é a Franco Argentina. Fonte: Rolando Garibotti – pataclimb.com

Os dias que se seguiram após o desaparecimento dos brasileiros foram de muita angustia por parte da comunidade de escaladores no Brasil e também de muita informação desencontrada e especulações, fazendo que a notícia da trágica tentativa de escalar o Fitz Roy saísse do meio específico e ganhasse grande repercussão na mídia convencional.

Mesmo com o tempo ruim nos dias que se seguiram ao desaparecimento da dupla, houve duas tentativas de busca por quatro equipes diferentes. Dada as péssimas condições de tempo, em uma das tentativas, um dos voluntários sofreu um acidente e teve que ser resgatado em condições muito difíceis, estando ele até hoje hospitalizado.

Passado todo este tempo, o corpo de Leandro foi encontrado em uma rampa de neve na parte superior da Silla, que é um grande platô na face sudeste do Fitz Roy e de Fabrício mais embaixo, em um bivaque no topo da Brecha de los Italianos, já próximo onde há o ponto de rapel (ver foto abaixo). De acordo com o Blog de Escalada, a informação de foi divulgada no começo da semana, que os corpos estavam pendurados na parede eram falsas.

Foto de Waldemar Niclevicz mostra toda a aproximação até o Fitz Roy, a escalada pela Brecha dos Italianos que dá acesso à Silla e acima dela a rota Franco Argentina. Fonte: Extremos

Local onde foi deixado o corpo de Ianotta na Silla. Foto Roberto Pavani.

O site Aventura Chaltén publicou hoje uma entrevista com os brasileiros, Roberto Pavani que esteve na Silla no dia 2 de Fevereiro com e Renato Passos. De acordo com Pavani, ele conseguiu chegar até os corpos dos brasileiros, sendo que eles inclusive baixaram o corpo de Leandro Ianotta até a base da rampa de neve e colocou pedras sobre ele, fazendo um enterro simbólico.

Roberto disse na entrevista que o corpo de Fabrício estava 600 mais abaixo, dentro do saco de dormir com seus pertences organizados em um local de bivaque. Com ele foi encontrado o celular de Leandro, mostrando que ele coletara o mesmo após a fatalidade para entregar à família do amigo. Nele continham informações sobre o incidente que levou ao desfecho trágico.

No celular, de acordo com a entrevista dada ao site argentino, foi encontrado um relato escrito por Fabrício que dizia que eles haviam chego até a décima primeira parada da via e que desceram em meio à tempestade e que a corda da dupla ficou enroscada em um dos rapéis. Além deste incidente, os escaladores ainda perderam o único fogareiro que tinham e que seria de grande importância para sobreviverem à tempestade, derreter neve para beber, cozinhar e se aquecer. Tais fatos possibilitaram Roberto e Renato a desenhar o cenário da tragédia:

Mister e Fabrício saíram da cidade no dia 17 para o Fitz. Entraram na via Franco Argentina no dia 19. Chegaram ate a P11 da via Franco Argentina.
Desceram já de baixo de chuva e tempestade. A corda travou no último rapel da Franco, ficaram tentando soltar a corda e perderam os movimentos das mãos. Quando Fabrício conseguiu cortar a corda o mister já estava apagado. Após de algumas horas tentando reanimá-lo Fabrício acabou deixando o mister (Leandro Ianotta) na rampa de gelo e desceu sem corda.
Se manteve vivo por 3 dias esperando o resgate que não chegou a ele, foram 2 tentativas por 4 equipes diferentes, não tínhamos ideia se ele estava vivo ou não, porém tentamos. Um resgatista sofreu acidente e está hospitalizado.
Fabrício ficou sem fogareiro, pois haviam perdido durante a descida na tempestade, o que impossibilitou de beber água, ou tentar se esquentar.
Fabrício lutou e sobreviveu o quanto conseguiu, acredito que veio a falecer no dia 22.
Subimos eu (Beto Pavani) e Renato Passos, os encontramos e os enterramos no dia 2.
Estes fatos sobre o acidente foram relatados por Fabrício via mensagem deixada no celular que encontramos junto ao corpo.

Fabrício e Leandro eram grandes escaladores, tendo em seus curriculum de montanha inúmeras ascensões em vias tradicionais de grande complexidade e comprometimento. O acidente no Fitz Roy pegou toda a comunidade de escaladores de surpresa, causando enorme comoção no meio.

Fábricio (de vermelho) e Mr. Bean (de preto) escalando o Fitz Roy em janeiro de 2019. Esta foi a ultima foto da dupla em vida.

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

8 Comentários

  1. Muito triste…Grande perda! Meus sentimentos aos familiares, amigos e a todos que curtem trilhas e montanhismo. Descansem em paz.

  2. Vinícius Assis Lisboa em

    Fabricio Amaral foi meu vizinho quando ele morou em Vitória-Es e cursava faculdade de Ed. Física…Era uma pessoa muito especial, boas lembranças. Ele gostava muito de escalar a pedra da Ilha do Boi, morro do Moreno, Pedra dos Olhos, sempre acompanhava ele nessa época. Toda a rua onde ele morou aqui no Bairro Bonfim ficou muito triste. Descansem em paz…Vocês foram pessoas do bem, promoviam o esporte e a educação.

  3. Uma grande fatalidade!. Sinto-me honrado em ter tido a oportunidade em acompanhar Leandro Iannota em vias da Lapinha (Lagoa Santa MG) e na Serra do Cipó. Grande atleta e amigo, transparecendo sempre a simplicidade do grande escalador. Fica a lembrança da boa amizade e dos momentos de descontração.

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